Tumgik
leopoeta · 2 months
Text
Dilema
Tumblr media
Um dia percebi que amava
E que, amando, me afastei da poesia
Com o tempo questionei se era
de fato
poesia o que eu fazia ou
Se talvez nem fosse o meu Eu falando
Fosse apenas tristeza encarnada
Trato emocional de espasmos letrados
Puro ego infantil
Mera fisiologia
Por que, Deus meu, por que ela também não escreve?
Por que é tão e tão silenciosa
Essa minha alegria?
Será tal questão maldosa? Ó Deus, penso eu
Estaria, quem sabe, adubando
Outra nova ranhura,
Outro vaso no jardim de agonias?
Céus, Senhor, me livra
Semeei, outrora, nesse solo; não há saída!
Não desejo fertilizar tal flagelo
Seria escrever novamente preciso?
Ou é só o ego infantil
Planificando novamente o que quero?
Por que, Deus meu, por que não me contento com a felicidade?
Por que é tão e tão enraizada
Essa inconstância de ser, tão alheia, tão fria?
Será tal questão maldosa? Ó Deus, penso eu
É um dilema demasiado por demais
Mui pesado para uma só vida
0 notes
leopoeta · 7 months
Text
Com que frequência?
Tumblr media
Às vezes, antes de dormir
Eventualmente, durante o jantar
De vez em quando, ao saborear vitórias
Esporadicamente, ao chorar derrotas
De quando em quando, trabalhando
Uma vez ou outra, tomando banho
De tempos em tempos, lendo poesias
Ocasionalmente, no sinal da avenida
Por vezes, um cheiro, um vem-vai no ar
Casualmente, na areia fofa, no frescor do mar
Esparsamente, quando a playlist inicia e (céus!) relembra
Periodicamente, quando a saudade bate e (inferno!) esquenta
Sistematicamente; rermoso ou arrependimento ou incertezas
Amiúde; orgulho ou competência ou a minha (minha?) frieza
Com que frequência? Não!
Não ouse indagar: "Com que frequência?"
Quantas vezes tive que dizer?
Tantas quantas precisei escrever?
Independente da vez,
dos porquês, das escolhas, da distância,
do mês.
Permanente e sem exceção
Em todo tempo e a todo momento
Por tantas horas e a todo instante
Eu paro e cedo, penso e... aceito;
Que sempre foi você e que
Sempre será por você
Frequentemente? Hun
Eternamente.
0 notes
leopoeta · 9 months
Text
Ainda aqui
Tumblr media
Vou compactar aqui, bem aqui
Um certo ventinho gélido
que costuma escalar a minha espinha
disparando um sorriso involuntário
ou uma impureza, uma dor, uma fraqueza,
Da qual, por vezes sinto, nem mesmo é minha
Vou compactar aqui, bem aqui
Um aperto que o coração repele
A canção oculta entre o ruído do rádio
O baralhar das ideias em novas poesias;
Às vezes, quando vejo o quintal hidratado de orvalho
Às vezes, quando sinto o café aromando na cozinha
Vou compactar aqui, bem aqui
Um intento que enterrei na sombra da eternidade
O incômodo de ser (e não de estar) sozinho
Produto final das tantas indecisões e teimosias
Que me trouxeram dinheiro, pão e até vinho
Só não garantiram sossego, muito menos alegria
3 notes · View notes
leopoeta · 1 year
Text
Carissimae
Tumblr media
Eu havia acabado de perder um bom emprego e
ela tinha deixado um casamento de duas décadas e meia
além dos mesmos gostos pela cerveja, pizza barata
séries de TV, óculos escuros e tênis All Star
a depressão também unia nossos malditos corações
embora eu tenha a impressão de que boa parte dos
corações seguem no mesmo ritmo Brasil a fora.
Socialmente falando a diferença de idades deveria ser
o maior empecilho
só que também tínhamos em comum um princípio que
não dava muita bola para certidões de nascimento.
Do bar para a minha casa foi fácil e rápido
Na minha cama, tudo se tornou longo e intenso
A noite foi maravilhosa, não posso deixar de frisar
o sexo foi quente, recheado de boas experiências
de um diálogo profundo, de uma sinceridade tangível
Vivi doze séculos num único fim de semana
Sinto falta daqueles dois dias feito um soldado carente
numa cama de campanha.
É o tipo de magia que ocorre uma vez na vida
Infelizmente sabíamos isso.
Deixei-a no aeroporto ciente que nunca mais voltaria a
beijar aqueles mesmos lábios
mergulhei no meu dia-dia e o calendário correu.
Meses mais tarde, li que ela se casou novamente
Um tipo esquisito e mais velho que tinha dotes; levou-a para Itália
Torço para que ela esteja bem.
Espero que as pizzas de lá sejam melhores que
os lanches horríveis que dividimos
Espero que o estranho rapaz dê a ela noites tão boas quanto
os séculos que compartilhamos no edredom
Mas ressalto que comigo rolou uma certa magia
que só ocorre uma vez na vida
Viver após ter percebido isso é a parte mais triste
Tomara que a Itália tenha remédio para esse mal
No Rio não há, nunca houve.
3 notes · View notes
leopoeta · 1 year
Text
Sampa a Dois
Tumblr media
Flui escondida na velha natureza musical
Num sorriso de dentes muito bem alinhados
No salto nada perfeito dos dedos nos acordes
Ou nas vozes que navegam pelas falhas do quarto
Flui como a adunca perfeição dos rios
A busca gravitacional pela monotonia do chão
No sincronismo das retinas que causam arrepios
Ignoro – por amor – os calos da mão
Flui até mesmo no rubor dos meus erros
No entupimento de versos sem a mínima rima
A viola emudece para expor outro beijo
Concatenando pedacinhos que borbulham nossa química
1 note · View note
leopoeta · 1 year
Text
Cinéreo
Tumblr media
As olheiras mais profundas São das noites que você dorme bem Os dias mais chuvosos São os que fazem o trabalho render mais A culinária menos valorizada É a que detém melhor tempero O mais incurável dos traumas É o cometido por um familiar A financeira que rouba o povo É a que oferece as melhores taxas O mais atemporal dos poemas É sempre lançado na lata de lixo A melhor aspirante a alma gêmea É aquela que mora em outro estado O mais sujo dos candidatos É o dito político mais honesto As frutas que nascem podres São das árvores mais amadas O grupo dos funcionários certinhos É justamente o menos valorizado A melhor das transas só ocorre Quando os cigarros já acabaram Os vencedores de grandes apostas São os que não vivem de apostar A amiga menosprezada É a que seria a melhor namorada O pior dos assassinos É dado como santo entre os homens A mais selvagem e amarga das ervas É a que ajuda a salvar mais vidas O mais leal dos amigos de infância É carregado pela vida para longe As cartas românticas sinceras São esteticamente ruins O amor mais intenso que você sentirá É aquele feito para nunca dar certo As que promovem fidelidade São as verdadeiras prostitutas Os que revendem sua coragem São covardes de mão cheia A vaga perfeita só está disponível No dia que você vai trabalhar a pé O que se ansiava para rolar no Natal Só acontecerá no Carnaval O que se esperava para a noite de sexta Só irá desabrochar na tarde da terça
E por essas e outras, meu amigo, Nunca se esqueça; Este é um mundo de indivíduos falhos De naturezas e sociedades destinadas Ao eterno ciclo de deslizes e erros. E se caso ainda duvidas de mim, Observe com carinho sua própria vida Tente encontrar meu exagero
1 note · View note
leopoeta · 1 year
Text
Como de Costume
Tumblr media
Ontem sonhei com um lago Em algum canto da Flórida Tenho agora esse incômodo Ora pressentimento Ora sentimento Duma deliciosa paz de espírito Com cheiro de lenha e Terra molhada Numa cabana de madeira Em algum canto da Flórida
O sonho começou Quando vi a poeira no horizonte E meu coração disparava Eu pulei do barquinho de primeira Levando o almoço no anzol A poeira dava lugar a picape e A picape me presentava você Usando chapéu de palha E um longo vestido azul Com o sorriso mais forte Que a luz do sol de verão Em algum canto da Flórida
Nós ouvimos James Brown Enquanto o pescado cozinhava Brincamos, nadamos; fizemos amor E rimos com as notícias do Brasil Dançamos, pescamos; fizemos promessas E choramos com as notícias do Brasil O dia então se foi e você partiu Na sua picape, estrada, poeira Eu voltei a ficar só, naturalmente Acendi a fogueira e cantei e toquei Em algum canto da Flórida
Cerveja, saudade, violão, solidão Reunidos mais uma vez É indiferente acordar Há coisas que nunca mudam É indiferente sonhar Há coisas que não quero mudar No Rio, na Lua, ali, acolá ou Em algum canto da Flórida Onde eu estiver a poeira estará Ofuscando seu sorriso Camuflando seu vestido E roubando todo o seu brilho De mim
0 notes
leopoeta · 1 year
Text
Humaitá
Tumblr media
Tanta amargura Bela flor Tanto ódio e Desamor Veja os pássaros Do outro lado Entortam galhos por amor
Esquece ele Bela flor Finge que nunca Aconteceu Na estante tem Um quadro em baixo dele Um livro meu
É um presente Bela flor Em homenagem ou despedida Sinto falta dos Seus lábios O que há de errado Com nossas vidas?
Há esperança? Bela flor Pra começarmos Varrendo as desculpas? Estou livre As sete e meia De malas prontas Mas cheias de dúvidas
No quiosque Bela flor Da Lagoa Rodrigo de Freitas Há Charger prateado Te espero de Segunda a Sexta
1 note · View note
leopoeta · 1 year
Text
Ponto final
Tumblr media
Entre. Entre a textura do zíper E a palma da tua mão Entre o cheiro do quarto E o cair do meu cordão
Entre segredos guardados E o soluço na escuridão Entre um corpo suado E o aflar do coração
Entre a hortelã no hálito E o hiato da posição Entre a estática do rádio E a fluidez da conclusão
Entre? Entre as cartas e o entusiasmo Ou a tristeza da indecisão Entre a culpa do pecado Ou o peso de ter feito em vão
Entre Deus e o Diabo Ou a linha das nossas mãos Entre o calor dos meus braços Ou o fim da tua união
Entre a troca de Estados Ou insistir na depressão Entre um parto lado a lado Ou só palavras sem fundação
Entre! Entre ele e a mentira: Outro sim pintado de não Entre ela e a verdade: Outra nuvem que não saiu do chão
Entre as eternas entrelinhas Outro poema de ilusão Entre as grades virtualizadas Outra camuflagem de solidão
Entre sorrisos e consequências Outra mudança de estação Entre a vida nunca vivida Outro combate lutado em vão
1 note · View note
leopoeta · 1 year
Text
Rua dos Andradas
Tumblr media
Ouço a reza dos homens de tardinha Observo toda fé pelo vitral depois da praça Tiradentes As velas materializam o silêncio A santa está e não está ali Mas examinando com carinho Todos estamos e não estamos aqui. O trânsito do fim de tarde não abala Tamanha demonstração de amor Nem os trombadinhas na rua Nem o vendaval chegando Nem proximidade do feriado Nem a pane no metrô Pra quem ama o Mundo o mundo não importa tanto. Vejo carinho nos olhos do padre e embora não partilhe de sua fé Gostaria de mais olhares Por tantas outras tardes E de mais vitrais como aquele Para Em silêncio Também amar.
0 notes
leopoeta · 1 year
Text
Meio Aliterado
Tumblr media
Hoje sinto seus lábios.
Cismados, selados,
Alados, enrolados,
Adoçados e nivelados.
De tal modo,
Estatelados, acuados,
Avermelhados, titilados,
Encabulados e aveludados.
Num sentimento,
Afortunado, obstinado,
Predestinado, apaixonado,
Acalorado e calcificado.
E quem eu sou?
Favelado, dissimulado,
Bitolado, abestado,
Complicado e limitado.
Mas mesmo assim,
Desconsiderado, empolado,
Amarelado, assombrado,
Trollado e assolado.
Estou aqui,
Sou amado.
E sinto seus lábios.
3 notes · View notes
leopoeta · 1 year
Text
De outra dimensão
Tumblr media
Hoje cheguei a
Maldita conclusão
De que não temos
O mesmo time
Para o amor.
Tu gosta das minhas
palavras
Tu ama as minhas
piadas
E ao meu ver o nosso
Momento é agora
Podemos fazer funcionar
Mas ao saber disso
Você me ignora
Porque infelizmente nós
Não temos o mesmo time
para o amor
O seu momento será
Daqui a uns vinte anos
Numa tarde radioativa
Enquanto tu ministra
Uma de suas aulas de
literatura
Um aluno se levantará para
Ler um dos meus poemas
E dirá: “sim, ele é um cara
novo no mercado. Sim, todos nós
gostamos dele”.
Daí, você se lembrará de mim
Daí, você perguntará por mim
Sentirá minha falta e, enfim
Mandará uma mensagem
Eu te responderei e te darei
atenção
E você gostará das minhas
palavras
E você dará risadas das minhas
piadas
E irá, enfim, me convidar para sair.
Deixando claro que poderemos
Fazer funcionar.
Só que eu te darei um não
Porque já terei chegado a
Bendita conclusão
De que não temos
O mesmo time
Para o amor.
E minha maneira de superar
Não me permite voltar atrás,
infelizmente
Talvez por isso enrole tanto
Para colocar um ponto final
Talvez…
1 note · View note
leopoeta · 1 year
Text
Metade de Setembro
Tumblr media
Todas essas músicas
Todos os poemas
Todas essas vozes
Todos os esquemas
Todas as mentiras
Todas acumuladas
Todos os defeitos
Todas as cantadas

Todos os cursos feitos
Tudo quanto é lábia
Todas as entrevistas
Todas as madrugadas
Tudo de malícia
Todas as estações
Todo o meu carinho
Todas as manhãs

Tudo que te fiz
Todo ato acumulado
Todas as amizades
Todos os aniversários
Todas as viagens
Tudo computado
Todos os nossos amigos
Tudo condensado
Todas as expectativas
Todos aqueles votos
Tudo quanto é cisma
Todas aquelas fotos
Todos naquele metrô
Toda a linha dois
Tudo que abandonamos
Tudo que se foi
1 note · View note
leopoeta · 1 year
Text
Jaceruba
Tumblr media
Os cavalos selvagens trotam na trilha do amarelo descampado, As fadas espertas cochicham camufladas, ansiosas, encobertas nas membradas das tilápias nas asas do beija-flor. 
Sozinho não vim apenas para espairecer cotidianos sujos Vim para enterrar de vez o pouco do que ainda sinto um elo de lembranças mortas Tão ardilosas, tão perigosas quanto a passagem estreita por este riacho turvo.
Os cavalos se confundem e Saltitam entre as rochas Assustam-se, assustam-me, mergulham, dão meia volta. Calado, observo com o meu avô, Parado, observo como meu avô.
O riacho se estende serpenteando em neblina para além do horizonte Afastando minha descuidada isca de menino descalço no descampado, de adulto calejado da cidade.
Mas improviso algo novo para batalhar com pescado Enquanto o vovô, fumante, observa calado, Juntam-se as tilápias juntam-se os cavalos. Ousadia da cidade, Momentos de felicidade. Mosquitos na lenha brasas cintilantes O cozido está no prato.
A água doce que turva me marca de átimo em átimo do longo dia costuram na escuridão o que já há tanto perdi. O silêncio faz todo o resto Trabalho polido e milenar  Num coração metropolitano, Que há tempos esqueceu como amar.
Afora isso e o mais, A noite chega como desafogo Refrigério que peço mensalmente Resistindo aos trancos Contemplando o selvagem cavalgar. Enquanto existir o meu canto, Sei que as fadas me guiarão Para onde quer que ande Para onde quer que eu vá
0 notes