¿Qué hay detrás de la ventana? Una estrella. Do livro detetives selvagens
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“You know I have benn thinking...”
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Princesa lagosta
pela manhãzinha, depois de tomar o café preto em um domingo nublado, meu dia de folga, vejo embaixo da mesa do meu quarto brilhar uma luz colorida, como aquela de quando esfregamos os olhos com força. me aproximo para olhar e vejo algo lá embaixo, me agacho para ver mais de perto e, entre alguns livros amontoados vejo, minúscula, a princesa lagosta. fico olhando em silêncio, esperando que algo se autoexplicasse, ela está sentada em uma pedra e penteia os cabelos com suas mãos vermelhas de garra. reparo num barulho e percebo que há algum tempo ele estava ali, é alguém me chamando, quebrando minha hipnose, viro a cabeça para ver o que querem, não escuto bem o que a pessoa diz, como se mesmo sem os olhos na princesa ainda a estivesse olhando. quando viro de volta para embaixo da mesa ela já sumiu.
nos dias que se seguiram fiquei me perguntando quando a veria de novo. sinto como se não tivesse feito nada nesses dias além de pensar nisso. as coisas ordinárias só parecem mais ordinárias, cada vez que procuro encontrá-la em algum canto da casa, embaixo de alguma mesa, estante, cadeira, me deparo com simples objetos, que agora parecem mais inanimados que nunca. tenho levantado no meio da noite com o corpo cansado e a mente ativa, os longos dias, os quais não me recordo como foram preenchidos, parecem menores comparados a essas curtas horas acordadas. uma meia luz, as roupas amassadas e o corpo insone cansado, como uma máquina funcionando além do que deveria, fazendo barulhos estranhos, gestos involuntários, falho em tomar ações lineares, buscar uma xícara na cozinha se torna uma longa jornada em que me perco pelo caminho olhando coisas, sendo arrastado por barulhos e pensamentos.
passo demoradamente as mãos pelas cobertas da cama, e pelos outros objetos do quarto, onde encontro a proliferação do caos, cinzas do furacão cotidiano, os excedentes da constante manutenção necessária do corpo e dos dias. tenho sido como um estátua de areia despejando migalhas por onde passa, já não compreendo o que digo e penso. procuro pistas, recados, no presente e na memória, buscando significados subjacentes, risco as paredes, a pele, cadernos, notas de mercado, e começo a me perguntar se tenho lembrança de como afinal passei tanto tempo existindo até agora.
em uma manhã chuvosa e nublada fico a olhar a bagunça do cansativo frenesi insone da noite anterior, as sujeiras de grafite e farelos de borracha espalhados são como um cadáver frio, cristalizado, ruínas de uma cidade antiga, passo os dedos nos riscos frios e leio um bilhete, que não sei se é meu, dizendo que quer me encontrar. penso que era dela, dividido sem saber se encontrei escondida uma realidade abismal ou se apenas caio em fantasias sem fim. mais dias se foram, porém, sem que eu encontrasse nada. fico apenas com o sentimento ambíguo, como uma alegria amarga ou uma tristeza alegre, de tê-la tocado ou sido tocado de alguma forma, a sensação da procura, e de ter achado sem ter achado.
é em uma tardinha infinita qualquer que uma sineta começa a tocar no corredor do banheiro. entro, mas não há nada, volto ao corredor e vejo que vem da caixa de luz, abro e nos canos ouço mais vívido o barulho da sineta. enfio a cabeça por entre o encanamento que pinga gotas em meus cabelos, e percebo, o que eu nunca havia notado, que posso entrar aqui dentro na brecha das curvas e curvas de ferro enferrujado. avanço por eles, cada vez mais enferrujados, tenho o rosto molhado, não sei se de agua ou suor e vejo crostas, como as de um navio velho, nas paredes, pequenos caramujos saem delas e se refugiam ao me verem. sigo adiante até finalmente chegar em uma saída. ela dá em uma gruta com um poço de água salgada dentro aonde as ondas batem fortes e barulhentas. avisto um feixe de luz que entra pelo teto da gruta e arquiteto uma trilha, por entre as pedras, que me leve até ele. subo pelas pedras escorregadias com a água das ondas respingando em minhas roupas. saindo pelo pelo buraco do teto tenho as vistas cegadas pelo clarão do sol, na claridade identifico sentada na beira das pedras uma silhueta olhando o mar e quando minhas vistas finalmente se adaptam a luz percebo que é a princesa lagosta.
pergunto se ela é realmente uma princesa e tenho uma confirmação. ela fala comigo em uma outra língua mas é como um filme legendado que posso entender. está usando uma capa de chuva com um gorro, e esconde umas das mãos por debaixo da capa, deixando amostra apenas uma das suas enormes garras. me pergunta se tenho tido dias felizes, digo que estava procurando-a. era seu o bilhete? você me procurou? ela acena com a cabeça. pergunto se a verei novamente, ela não responde. ela me diz algo sobre a vida, sobre como nosso dia-dia é uma joia do mar, e as vezes um grão de areia na praia, nos deixamos levar por um impulso de morte que urge pelo fim de cada dia até o fim de todos os dias e ainda nesse impulso sutilmente destrutivo esperamos quietos por uma revelação, por uma alegria esquecida. sempre estive esperando-a e é difícil pensar que aquele momento ali era pelo que estava esperando e que após ele talvez nada mais haja a esperar. com esse pensamento mórbido olho o chão e o mar enquanto me deixo levar pelo silencio e pela simples sensação de estar ali com ela.
estou em meu quarto novamente e olho em volta percebendo como tudo é como uma tela que não usei, esperando sempre pelo momento certo e a maneira certa de usá-la. abstraio do pensamento de que aquilo é um quarto e de que eu sou eu em um quarto e de que eu fui eu nas pedras olhando o mar com a princesa lagosta, e cada pedaço da parede se torna uma homenagem instantânea e eterna àqueles próprios centímetros de concreto. estou andando sobre um templo sagrado, de coisas que se vão, a continuidade não é senão uma ilusão, preciso viver, nunca quis tanto viver, a felicidade é minha absolutamente única opção. sinto o vento gelado vindo da janela e justo nesse momento tenho a maior consciência que já tive de que estou prestes a morrer, e isso é um motivo e não uma lástima. princesa lagosta, onde quer que você esteja espero que esteja em paz.
** Texto escrito ano passado, com inspiração nessa imagem que achei aleatoriamente no tumblr, recentemente me peguei re-editando ele e gostei de como ficou. A modelo da foto é Jun Togawa e não sei quem é o fotógrafo.
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bravura
mantenho passos de distância
não tenho muitos afetos
e algumas noites sou rabugento
é difícil as vezes pôr as coisas a andarem
mas quando estamos parados
elas ainda andam
paradas, elas andam
empurradas pelo tempo
e seus eternos braços
é difícil as vezes nos erguermos
e decidir que filme olhar
ou se erguer e fazer mingau
ou se morreremos juntos ou sozinhos
tudo isso as vezes é difícil
por mais que não pareça
e acreditar que nos levantemos todos os dias
crer que isso ocorra todos os dias, é um salto de fé
ou uma tradição antiga
eu sou rude
rude
e mesmo que você seja a mais carente
e que peça os abraços e beijos
eu sei que sou eu o necessitado
e sou eu a quem está sendo feito um bem
debaixo de nossos pés
toda nossa vida se desdobra
e agora mesmo, enquanto comemos mingau e temos sono
damos o aval para tudo que iremos ser
eu demoro tanto a decidir que filme olhar
e você diz que sou indeciso
quando na verdade tudo que faço é ficar decidindo
você dormiu no meio do filme
eu decidi terminar de ver esse
estava esperando tanto pra vê-lo
ainda há muitos outros filmes
ao terminar, sob o som dos créditos te olho um pouco dormindo
eu sei que aqui mesmo traçamos um caminho
e nada nesse mundo está parado
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ainda que eu possa multiplicar as possibilidades de ter sorte
eu não me consideraria um artista
no sentido forte da palavra
pelo fato de eu fotografar e escrever ao acaso
um tiro de sorte munido da bela confusão contextual
lapidado, na medida do possível, até a possível digestão e inteligibilidade
mas ainda fundamentalmente ligado ao acaso
antes que um artista, um sortudo
de ter visto o que vi
e por vezes, ter conseguido traduzir
por isto sempre agradecido
inexpressavelmente agradecido
pela irreprodutividade desses momentos
que legitimam tudo que aconteceu para que eles existissem
criar é um exercício de aceitação e exaltação do inalterável
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alta suposição
infindável linha da hipótese
livrai-me disso senhor
e me jogue ao chão
com sonhos cotidianos
das coisas em meu controle
traçar e caminhar
em direção alcançável
aconchegante afago
do que se pode fazer e estou fazendo
por favor, senhor, ensina-me a ser pequeno
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não aguento muito tempo aqui
parado
sob o sol que queima o chão
movo-me
ainda que o sol siga queimando
sem cessar
ao menos me movo
18-12-20
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gente de argila
com cabeça de tico e flores no crânio
benjamim button
encolhendo no banho
uma garrafa de gin
azul com cinza
uma bailarina enxadrista com
olhos de cetim
hoje sonhei assim
17-12-20
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acordei
o ventilador sopra quente
descolo do lençol
é tarde
descansei, dormi finalmente
desligo o vento
que trabalhou toda noite
sento à beira,
tomo força e levanto,
adentro o dia
em seu imparável andamento
16-12-20
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will i be hungry when i lie on my bed?
eu tive esse sonho
nessa casa de madeira
e o pai e a mãe tavam lá
numa cama
com um bebê
e eu peguei ele no colo
e esse bebê era eu
e ele era bonito e fofo e me deu vontade de chorar
as vezes escrever é só o esforço de registrar
um trabalho preguiçoso
mas trabalhoso também
o que é isso no feijão?
coisas brancas nos grãos
é royal, pra amaciar
hmm achei que era xariosso
xariosso?
é... é um temperinho pra
comer cú de curioso
the floor it's just dance
and we put our arms behind like we hold a bar
and jump and step like dancing
just dance
apenas dance
é dificil dançar com um chá
é fácil dançar com uma banana
já é tarde e eu deveria estar dormindo
as artes feitas com o que acontece numa noite
minha casa é feliz
as vezes
conversamos no quarto enquanto o grêmio joga ao fundo
o que seria dos artistas se da noite para o dia virassem gênios
we would lost
the internal struggle with ourselves
a insegurança nos move
e o desafio de provar para o mundo que posso fazer algo bonito
até lá, se é que há, escreverei coisas ruins
e vou gostar disso
li um tweet que dizia algo legal sobre isso que não vou repetir aqui
apenas sei como isso me animou
não existe isto de uma vida-cor de rosa
será tudo repleto de cores
e de sentimentos opostos
e isso é o que nós somos agora
amanhã pela manhã eu trabalho
amanhã pela manhã eu reclamo
amanhã pela manhã eu apenas danço
e antes de dormir como minha banana
eterno medo de deitar e ficar com fome
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my dear dear cocacola
i used to play with the boys when i was young
and now i drink coca-cola watching television and loving
we love coca-cola
we love with coca-cola
we love like we drink coca cola
i used to play softly
and exciting
now i kiss, softly, the lips and nose of people
i did touch myself in the bed this afternoon
and i did touch my lips and ass
i did had an orgasm
with the sun, softly, coming back from behind the clouds
and the light in my belly
the sun coming out me cummin out
above my belly
I cum light in my belly
my belly belly drum
my belly has memories inside it
memories floating in the liquids of my stomach
green liquids with gas and bubbles
like a coca cola
that i love
and love to love
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