Post 15 - Diário do Caminho de Santiago de Compostela - Etapa 5 - Parte 2
Dia 5 - Parte 2
Data 03/05/2017
Etapa: El Real de la Jara -> Monesterio, Espanha
Distância: 20,7 km
Tempo: sol -> sol
Os gritos agudos vinham por trás de algumas árvores do lado esquerdo deste caminho rural. Qualquer pensamento era paralisado por essa trilha sonora do inferno de Dante.
Após alguns segundos, recompus-me para entender do que se tratava esse evento. Obviamente, não se tratavam de crianças chorando e gritando, mas de porcos da fazenda local que se dirigiam ao prédio do matadouro ao fundo do terreno. Por ter sido criado em cidades, os sons da natureza sempre me foram distantes, junto com a falta de talento para nomear os pássaros e plantas que me rodeavam ao longo do caminho.
O grunhido agudo dos porcos é terrível, o que me fez ter uma sensação mórbida, pois não se tratavam apenas um porco cujo som seria cessado rapidamente, mas de dezenas que se dirigiam em fila ao matadouro gerando um som sem fim da morte.
Tirei alguns minutos para refletir sobre essa nossa indústria alimentícia sem fim e que jura ser não-cruel. Talvez seja quando estamos distantes de boa parte da cadeia produtiva e nos limitamos a comprar confortavelmente as bandejas embaladas e etiquetadas nas câmaras frias dos supermercados, não refletimos nisso. Também pensei no consumo excessivo que temos pela proteína animal, no entanto...
Tal reflexão era hipócrita da minha parte porque meu almoço não seria nada mais do que um sanduíche com jamón ibérico convenientemente embalado e etiquetado que comprei por alguns euros num mercadinho no dia anterior.
Segui a caminhada ainda impressionado pelos minutos vividos anteriormente, à minha frente, estavam os outros 2 senhores do meu grupeto que não eram fáceis de acompanhar pelo motivo por vocês, caros leitores hipotéticos, já bem conhecido, a tal tendinite.
Por sorte os bastões me ajudavam nesta missão ao me impulsionar para frente nos trechos planos que, até então, era o perfil da etapa.
Não levou muito tempo, chegamos numa espécie de recanto com uma igreja redonda (Ermita de San Isidro) e um espaço para piqueniques ao redor dela. Aproveitamos para descansar um pouco antes de continuar nossa peregrinação.
Comi uma barra de cereal e uma fruta e bebi água, mas, antes disso, tive o cuidado de não pisar nas fezes de cabras que passaram por ali recentemente. Estávamos num campo minado com as “bolinhas” espalhadas por todos os lados feito um campo gigantesco de bolinhas de gude escuras. Eu sei, eu estava com minha bota de caminhada, mas se der para evitar, que se evite carregar consigo tais “presentes” da natureza.
Depois de uns 15 minutos de descanso, com os pés respirando fora das botas (dica importante, quando o pé respira, ele esfria, quando ele esfria e a meia seca do suor, as chances de formar bolhas caem. O objetivo é evitar pontos quentes nos pés), decidimos partir.
Cadarços amarrados, mochila nas costas (pouco mais leve), bastões às mãos e pronto para o trecho final da etapa do dia, infelizmente, o pior deles com elevação de quase 200 metros. Respirei fundo e lembrei do meu mantra, um passo por vez, uma etapa por dia, mas que dia seria...
Seguimos pela rota das flechas amarelas quando chegamos numa fábrica de jamón que possuía um bebedouro e um banco no lado de fora para peregrinos (ou clientes). Aproveitava para encher minha garrafa de água quando reparei que os bancos estavam tomados por peregrinos, não quaisquer peregrinos, eram espanhóis. Seriam aqueles do rádio alto enquanto caminham e da mulher que me fez cara feia por usar o banheiro mais bem “equipado” (banheiro feminino) no bar de Almadén de la Plata dias atrás? Não sei, fiz cara de paisagem, soltei um “hola que tal?” e um “buen camino” para ser notado, ao mesmo sem ser marcado.
Meus colegas me aguardavam no final dessa estrada rural que dava numa rodovia de asfalto, asfalto que seria sem fim e meu fim. Cruzamos a rodovia que nos levaria para o trecho de subida forte até Monesterio. Nenhum carro passando.
Para chegar no lado esquerdo da via, tivemos que pular uma barreira (guard-rail). Ali o nosso fotógrafo oficial teve uma ótima ideia de bater uma foto nossa, não bastava estarmos cansados da etapa, repetimos o gesto para que tal ato atlético pudesse ser registrado.
Continuávamos cruzando este trevo de asfalto quando...
Diante de nós ocorreu o inesperado. Havíamos ouvido histórias aqui e ali de alguém se ferir devido à atropelamentos e tropeços, mas desta vez, fomos testemunhas oculares de um evento nesta estrada.
Vimos uma mulher tropeçar sozinha no asfalto “plano”. Na verdade, o asfalto já estava pouco inclinado devido à subida até Monesterio, mesmo assim, não parecia ser para tanto, mas foi. Ela havia tropeçado no áspero asfalto e, talvez pela falta de equilíbrio devido à mochila e desespero momentâneo, a mulher caiu de cara no chão feito uma tábua. Os braços e mãos ela não os usou. Em plena estrada, não foi um carro que gerou o acidente, mas ela mesma num passo falso.
Felizmente, ela estava num grupo de alguns peregrinos que imediatamente a acudiram. O asfalto parecia ter um rio de sangue, será que teria tido um traumatismo? Ou somente um supercilio aberto gerando tal cena horrorosa do vermelho do sangue se misturando com o preto do asfalto?
Segundo felizmente. Um carro passou naquele momento, parou, colocaram a mulher no carro e subiram a estrada para buscar ajuda em Monesterio.
Estes últimos 4 parágrafos ocorreram em menos de 1 minuto. O susto foi muito grande e serviu para nos alertar para cuidados simples ao fazer o caminho. Creio que os bastões de caminhada a teriam ajudado para não perder o equilíbrio. Pelo menos, eu sentia uma confiança a mais em cada passo ao usá-los. No entanto, vai saber o que os bastões poderiam de fato ter ajudado neste acidente.
O sol estava forte, muito forte. Não havia nuvens no céu.
Depois da adrenalina de minutos atrás, seguíamos subindo a ladeira pelo lado esquerdo da carretera onde havia uma trilha no meio de um parco bosque que servia de guarda-sol deste sol imenso espanhol. Este bosque estava localizado entre a rodovia principal e uma estrada secundária à esquerda.
Não muito tempo depois, decidimos fazer uma longa pausa para almoço e descanso antes da investida final ao cume desta ladeira. Pela primeira, e única, vez, utilizei meu “tapete” isolante térmico para alguma coisa. Desenrolei-o para servir de assento para nossas bundas neste terreno de grama, terra e pedras. Um dos itens mais inúteis que vim a comprar cogitando que algum dia pudesse vir a dormir no lado de fora de albergues. Jamais!
Já comentei (acho que sim) que os aposentos de tais albergues de peregrinos são simples, modestos e até rudimentares, mas entre uma cama ruim e o solo pobremente acolchoado, a cama ruim ganha. Sei que poderia ter experiências espirituais em tal evento, bem como nada mais do que uma noite mal dormida ao relento e no sereno.
Enquanto eu comia meu sanduiche de jámon ouvindo os grunhidos em minha cabeça e tomava litros de água para recompor o corpo, sem antes tirar as botas para que os pés pudessem respirar, o holandês fotógrafo batia fotos formidáveis de gaviões que rodeavam nossas cabeças quentes do sol deste belo e infernal dia. Difícil de explicar, mas o sol europeu arde e queima.
Depois de uns bons 20 a 30 minutos descansando, decidimos partir. Enrolei meu isolante térmico e o ajeitei na mochila. Pus as botas. Preparei os bolsos com barras de cereais. Distribuí a água entre as garrafinhas que possuía comigo. Ajustei a mochila no corpo e ... fui as trancos e barrancos.
Começamos a caminhar e em breve cruzamos a rodovia secundária para que ficássemos à esquerda de qualquer via rodoviária.
Já não havia mais árvores para nos proteger do sol.
A ascensão era dura. Quase 200 metros de desnível positivo ao longo de 5 quilômetros com carros e caminhões servindo de trilha sonora a uma cabeça cheia de dores provenientes do pé direito. Ajustava como podia a pisada, o pé, a perna, o joelho, a forma de andar para minimizar o tendão travado pela fadiga. Se no plano já era difícil, na subida, a dor era ainda pior.
Com a possível primeira desistência do caminho ainda na mente, parecia que esse fantasma estava me rondando na subida sem fim até Monesterio. Quem diria que a peregrina iria tropeçar no asfalto plano e bater seu rosto no chão? Aquele rio vermelho no escuro asfalto ficou gravado na memória.
Bem, isso era passado, eu já tinha o suficiente para me preocupar. Uma tendinite no calcanhar em plena subida no asfalto duro e quente, e quase 30 graus Celsius espanhóis no lombo, sem contar os 15 quilômetros anteriores percorridos para aquecer o corpo.
Pela primeira vez pensei em alto e bom som: “chegou a hora de desistir”. Já não era mais divertido, ao contrário, era doloroso fazer o caminho e as montanhas não mudariam de lugar para me ajudar neste momento, nem em etapas futuras. Neste jogo de tudo ou nada, eu pendia para o nada.
A dor no pé era insuportável, uma dor dilacerante no tendão que fazia questão de me lembrar em pé sim, pé não, pé sim, pé não... apesar de meus bastões de caminhada silenciados.
O que fazer?
A dupla dinâmica (o senhor alemão e o fotógrafo holandês) seguia com certa dificuldade a minha frente...
Até onde iria esse suplício?
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