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analisedesemiotica · 1 year
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Japan House - A Arte do Ramen
Para nossa análise semioticista, foi escolhida a casa de exposições “Japan House - São Paulo”, localizada na Avenida Paulista, próxima ao metrô Brigadeiro. Fala-se casa de exposições pois se fosse um museu, seria estático. Entretanto, as exposições da Japan House sempre estão em movimento, de meses em meses os temas vão se modificando, construindo sempre novos espaços sobre conteúdos referentes à cultura Japonesa.
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Apresenta, entre os dias 18 de outubro de 2022 e 5 de fevereiro de 2023, uma exposição dedicada às tigelas de ramen donburi, e busca, com detalhes técnicos e artísticos, da montagem até a finalização, trazer para o público as razões de seu sucesso apetitoso. Além das exposições temáticas, dentro da estrutura existe também uma área de leitura, com milhares de livros sobre a cultura, culinária e hábitos japoneses; uma vendinha com doces e salgados; e um restaurante no último andar.
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Ao adentrar o espaço, logo percebe-se a predominância de cores brancas e vermelhas, uma referência clara às cores da bandeira japonesa. O ambiente apresenta também murais contendo ilustrações da arte oriental moderna que tanto servem para ocupar as paredes e divisórias, de outro modo, vazias, quanto para informar os visitantes a respeito das tendências artísticas presentes no Japão na atualidade, visto que são menos conhecidas em comparação ao tradicionalismo da arte japonesa tão renomada mundialmente.
A escolha também contou com motivações artísticas devido ao olhar debruçado nas composições cromáticas, no design das tigelas, o qual envolve convenções ritualísticas plenamente simbólicas, na recriação e adaptação a partir das inspirações culturais de décadas, mescladas com contextos modernos de produção e, por fim, na capacidade expressiva da linguagem do Ramen.
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Acompanhar seu trajeto o torna mais do que um prato: uma obra de arte a ser contemplada e percebida nas dimensões físicas e intelectuais de sua existência; também contou com motivações técnicas, quando acompanhado seu esquema de ordenação significativa, arquitetado vertical e horizontalmente, com direcionamentos de cima para baixo, da esquerda para a direita.
Em relação ao Valor da Informação, podemos analisar essas estruturas com um olhar semiótico da seguinte maneira: começando da esquerda para a direita, são acrescidas informações novas, andando em zig-zag seguindo a numeração dos painéis verticais. Suas intruções “ideais” de como realizar cada etapa de uma tigela de ramen perfeita segue-se de cima à baixo, e de fato em baixo das instruções verticais, encontra-se o real, o material, a forma física da idealização do escrito.
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Nesta seção, é possível verificar na disposição dos elementos uma organização semelhante às encontradas em oficinas de culinária, onde são transmitidas instruções aos aprendizes para que se capacitem para o cozimento de um prato - o ramen, neste caso; em ordem numérica, são apresentadas as etapas na seguinte colocação: primeiro os ingredientes, seguidos da textura, forma e tamanho, como demonstrando o processo de preparo para o espectador; por último vem a parte do empratamento, onde se explica a estrutura, material e armazenamento das tigelas.
Ressalva-se aqui a ordem verossímil em que são expostas as etapas, tal qual numa cozinha: os ingredientes – macarrão, dashi, tarê, cobertura e gordura – são dispostos sobre planos brancos que evidenciam suas formas e tons, o cozimento, a louça, o empratamento e a apresentação.
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De modo a separar os ambientes, eleva-se uma porta semelhante a de restaurantes tipicamente japoneses, o que leva o visitante a inferir o que o espera na próxima sala: tal qual um salão para banquetes, estende-se no recinto uma longa mesa onde se veem expostos os mais variados tipos de tigelas em ambos os lados da bancada, quase convidando o visitante para sentar-se e apreciar a refeição que vinha estudando até então.
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Quanto ao Framming, pode-se dizer que estes painéis são uma espécie de moldura que faz o papel de divisória de informações. A estética é extremamente organizada e com um visual limpo, claro e fácil de seguir. Destaca-se também que, entre ditas placas informativas, o leitor pode deparar-se com outros visitantes, o que não deixa de ser um convite para a interação com demais espectadores. Outro exemplo de Framming é visto na parte onde se apresenta a cerâmica da região do Mino. Em uma pirâmide de base quadrangular (a moldura, neste caso), estão dispostos vários itens confeccionados a partir do material em questão e, no nível superior, está localizado o material bruto da cerâmica. Curiosa instalação, já que é costume, em qualquer sequência piramidal, colocar a matéria prima na base da estrutura ao invés do topo. Sendo assim, é possível inferir que o propósito dessa disposição de elementos é prestar homenagem à cerâmica, como uma ode.
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Quando Van Leeuwen conceitua a modalidade como a aproximação da semiótica social em relação às questões de verdade e de representação, podemos fazer uma relação de real versus artificial observando às exposições gráficas dos ramens que confundem o seu cérebro fazendo você acreditar que aqueles alimentos são reais e não artificiais.
Sendo assim, diante de todas essas observações, a demonstração do “hit” viralizado em São Paulo dispõe de estruturas organizadas numa ordem que transporta o espectador do início até o fim do processo. Dessa maneira, os materiais utilizados na confecção dos objetos representativos tornam-se detalhadamente progressivos e, combinados com os protótipos dos aromas, temperos e finalizações decorativas, estruturam o Ramen. A informatização é sobre/anteposta em relação à demonstração material para que o olhar do espectador seja guiado através da descrição inicialmente e, então, possa apresentar breve e sujeito entendimento a ser confirmado pela imaginação; esta passagem, de um estado ideal para outro concretizado, é quase imperceptível pelos mecanismos automáticos de associação cognitiva dos signos, mas pode ser definida quando analisada em etapas, como fora feito.
A palavra “estruturar” caí bem como coordenadora desta “linha de montagem”, pois a mostra se empenha em enfatizar cada “peça” essencial e sob medida para que o resultado tão almejado seja alcançado; é a arte de fazer Ramen que norteia seus cozinheiros em várias partes do mundo, com diferentes leituras e adaptações, mas que se baseiam no essencial. Todas as placas, legendas e artefatos são posicionados de maneira a arquitetar uma sequência, deixando-nos cercados por seus esquemas. Esta reunião de nacionalidades interpretantes de um mesmo objeto condiz exatamente com um dos pontos essenciais da Semiótica: os valores das informações variam de acordo com seus sentidos contextuais sócio-históricos; a apropriação de manifestações culturais por outras culturas permite releituras e pode veicular centenas de outros interesses próprios de seus autores, assim como fora feito na releitura de um prato tradicionalmente chinês, mas que, culturalmente falando, pode afastar-se parcialmente de sua origem. Alguns exemplos disso foram observados em cada um dos Designs a seguir, pois refletem experiências de vida pessoais e gastronômicas únicas, cada qual com seu sentido e sua significação.
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