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andres caicedo
que eles fizeram, então, para não serem
desprezados ou retribuir o desprezo em um movimento de
vôlei? Opunham-se a esses espécimes solitários de
qualidade e lucidez, sua união, seu número, sua música
(que não era deles), os restos de sua beleza. Todo
mundo foi lá, o mundo passou. Os socialmente
conscientes tiveram que atravessar o setor olhando para
baixo, indo mergulhar em seus livros e dormir cedo.
Eles, naquela espécie de movimento doce e permanente
das moscas, embrulhavam e polarizavam qualquer ofensa.
Alguns, os mais inquietos, censuravam-lhes a falta de
talento para apreciar a noite, para aproveitá-la, como
dissemos, o que significava então que estavam velhos, e
outros, ainda inteligentes, não saíam da certeza de que
quando a hora de Para avaliar aquele tempo, iam ser
eles, os drogados, as testemunhas, aqueles com direito
à palavra, não os outros, aqueles que pensavam da mesma
forma e nada sabiam da vida, sem falar do intelectual
que permitia ele mesmo noites de álcool e cocaína até a
batata na boca, o vômito e a cor verde, como se fosse
uma licença poética, a sílaba não
gramatical, necessário para polir um verso. Não, éramos
impossíveis de ignorar, a última onda, a mais intensa,
a que carrega o fardo beirando a noite. Quando chegou
foi mágico. O fogo repentino dos carros, as montanhas
roxas, a música de palmas e pulos e guinchos que os
meninos cantavam, eu sorria e meus dentes e os de
Mariángela brilhavam na nova escuridão, com a força do marfim,
para nunca decair ou acabar: quer dizer, não é um
processo comum ter que se acostumar com uma noite que
sempre chega assim, sempre excepcional. Tal costume
deve implicar insanidade. Por isso somos como somos.
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quero encontrar você
o dia amanhecendo
num buteco
tomando média
olhos claros
translúcidos
– você, aqui?
de repente nós dois
e o resto.
a gente vai
andando andando
dando risada
falando bobagem
pisando a paisagem
viagem
de repente
numa esquina
de terno o tempo
vai passar
apertado apressado.
a gente pára o tempo.
diz a ele, calmamente,
como é a felicidade
e vai seguir seguir seguir…
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(...) Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
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só quando esse se estabeleceu.
no princípio era o agora.
isso demorou até que
tudo virou antes e depois.
então uma revolução peluda
o agora voltou ao trono.
antes e depois viraram
falta do que fazer.
e tanto fizeram
que o agora virou tudo
e o tudo, nada.
de volta ao princípio
o agora congelou.
o antes fica pra depois.
ANA C
gosto muito de olhar um poema
até não mais divisar o que é
respiração noite vírgula
eu ou você
gosto muito de olhar um poema
até restar apenas
voceu
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Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
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Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
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