Tumgik
glauberliterario · 8 years
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Lá vai ele
Willians Glauber
Olha, lá vai ele. Não, não vou te contar, você vai ver. Sim, todo dia. Bom, quase todos os dias, quando está de mau humor prefere ir direto para casa. Mostra na cara dura assim mesmo. Ah, os caras meio que se tocam e sabem que naquele canto ali todos estão a fim disso.
O mais engraçado é quando chega algum hetero desavisado e todo mundo disfarça, fingem que estão só fazendo xixi. Depende, muitas vezes nem fica muito tempo, principalmente se algum trem chega na plataforma e o pessoal sobe para sair da estação.
Pois é, também não entendo. Porque ali não fazem nada, fica nisso que você está vendo, um olhando para o do outro, põem a mão, se acariciam, mas não passa disso. Hoje ele até que demorou mais que o normal, acordou carente.
                                                       * * *
É sempre assim, geralmente chega, pergunta como foi o dia dela e já vai tomar banho. Eu te disse que a vida dele não era muito emocionante. Nem estranhe, eles sequer conversam direito, o que já é comum. Que tadinho, que nada! Tadinha é dela! Ele é um homem frustrado, está totalmente infeliz, vive estressado, nervoso e na maior parte do tempo culpa a coitada por viver desse jeito. Claro que não verbaliza isso, só a trata mal, com desprezo até.
O cara é um frouxo. Frouxo e babaca. Ah, babaca sim! Ninguém apontou uma arma na cabeça dele e o obrigou a casar, apontou? Eu pelo menos não tive nada a ver com isso, você sabe muito bem que Ele abomina quando intervimos, o bendito livre arbítrio! Foi escolha dele, escolheu e portanto tem que arcar com as consequências.
Ah, já sussurrei isso nos ouvidos dele várias vezes. Disse, disse com essas palavras mesmo: “Não precisa ser desse jeito”; “Por que você continua vivendo assim?”. Mas adianta falar? Não adianta! Ele insiste em continuar nessa vida miserável. O pior de tudo é que está infeliz e torna a vida dela infeliz também. Ela?  Ela é uma amor. Você está vendo, tenta agradá-lo de todas as maneiras, até se culpa na maioria das vezes, acha que a falta de interesse tem alguma coisa a ver com ela.
Não, de jeito nenhum. Está fora da minha jurisdição alertá-la de qualquer maneira! Na verdade nem era para você estar aqui, só deixaram vir comigo porque sua prova final está chegando. Aquilo ali? Nem se empolgue, o que você está vendo se repete umas três vezes por semana: ele acaba fazendo porque precisa se satisfazer de algum jeito e ela porque acha que tem obrigação. Que trabalho de merda a Ângela faz com essa mulher, pelo amor do Divino! Vou até comentar isso na próxima reunião, ela não trabalha para tirar esses valores retrógrados da cabeça da coitada.
Bom, acabaram. Que nada, hoje até que demorou, tem dia que nem isso dura! Agora é esperar eles dormirem para começar a guarda da noite. Ainda bem que o RH mudou o esquema do sono e contratou os Vigilantes, afinal a gente precisa de descanso, né?
                                                      * * *
Os finais de semana são um por-re. Tenho vontade de dar uns pisões na cara dele, só para dar uma sacudida, sabe? É, eu sei, Ele não gosta de intervenções. Por falar nisso, deixa eu te contar... Ah, não se preocupe, é sempre a mesma coisa: ele faz umas piadinhas homofóbicas enquanto toma cerveja com os irmãos escrotos dela, zoando o sobrinho daquela de vermelho ali.  E elas reclamam dos maridos.  
Então, deixa eu te contar uma coisa, ontem eu não resisti e dei uma passada lá no prédio de Novos Destinos. Shh, eu sei que não pode, mas eu só fui dar uma olhadinha. E nem precisei procurar muito, encontrei a Outra Vida dele logo na quarta prateleira. Como eu já estava com ela nas mãos, esperei para ver o que aconteceria. Se ele deixasse de ser frouxo e um babaca escroto, pediria o divórcio. A ex-mulher conheceria um homem incrível anos depois, teriam três filhos.
Ele ficaria perdido por alguns meses, mas logo conseguiria se reestruturar e conheceria o Henrique, um cara lindo e que coincidentemente se mudaria para o mesmo prédio que o dele. Se esbarrariam na portaria algumas vezes. Como ele deixaria de ser um babaca cagão, convidaria o Henrique para tomar alguma coisa. Em dois meses estariam namorando e um tempo depois viajariam pela primeira vez. O Henrique pediria para conhecer a mãe dele e seria exatamente nesse momento em que ele teria coragem de finalmente contar para ela.
Não ficaria com o Henrique muito tempo, só que aprenderia bastante com o rapaz. Viriam outros namoricos, mas casaria mesmo é com o Augusto, um jornalista que conheceria na festa de uma amiga em comum. Não demoraria muito até se apaixonarem e decidirem morar juntos.
As mães dos dois se tornariam grandes amigas, ainda mais depois que a netinha delas chegasse. O nome da menina seria Clara, uma garota encantadora, inteligente, amável. Graças a ela a mãe dele conseguiria se livrar da depressão que há anos a assombra. Quando mais velha, Clara seria responsável por mudanças importantes no país.
Ele e Augusto teriam outro filho, Joaquim. Um garoto generoso, que defenderia muita gente quando crescesse. Um destino com tanta felicidade, que até me emocionei quando vi. O que? Bom, se ele continuar na mesma digamos que felicidade não fará parte do vocabulário dele, haverá momentos em que vai achar que está feliz, mas será apenas uma das inúmeras tentativas frustradas de se enganar.
Sabe que não sei? Não faço ideia de por que as pessoas fazem isso consigo mesmas. Deve ser a tal complexidade humana, de que Ele tanto gosta de falar nas palestras motivacionais.
                                                     * * *
Oi! Nossa, há quanto tempo não te vejo, rapaz. Faz o que, uns dez anos? Sério que o seu Designado já subiu? Ah, sinto muito. Mas logo te designam para outro. Que nada, por aqui tudo na mesma. E você não sabe, há alguns anos a mulher descobriu que é estéril, alguma coisa nos calmantes causaram isso. Dali em diante tudo só piorou, ele arrumou um amante e está cada vez mais ausente em casa. Juro, esse povo aqui debaixo é muito criativo quando diz respeito a fazer de tudo para ser infeliz, incrível!
Mas logo acaba. Semana que vem a mulher dele vai segui-lo e pegar os dois juntos. Vão subir os três. Espero que meu próximo Designado seja menos frouxo e babaca. Olha, lá vai ele.  
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glauberliterario · 8 years
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ELA
Sem anunciar, chega de mansinho Ouve seus medos e tenta lhe confortar, em vão Letal, se aproxima e senta no sofá Ilude seu coração e te abraça Desdenha, sem querer Amarga, sem intenção Ofusca. Sem te apagar? Tenta ir, mas no fundo não quer Ela não pode, é companheira. Companheira? Persiste, insiste Recua, mas não vai embora Escuta, mas silencia Nela há conforto e sofrimento Dela nasce medo, (de)sentimento Ela não vai
Por Willians Glauber
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glauberliterario · 8 years
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(Não) Seja Bondoso
Por Willians Glauber – Por favor – Bondoso deixou Cláudia passar na sua frente, a moça ficou lisonjeada com a gentileza logo de manhã. Nada como começar o dia vendo  a bunda gostosa da Claudinha batendo na catraca.   – Bom dia Ana Paula. [...] – Tudo ótimo. E com você? [...] – Obrigado Ana – Bondoso pegou os documentos entregues pela secretária. – Você fica muito bonita com essa cor – a secretária ficou lisonjeada com o elogio recebido logo de manhã.   Ah, como eu adoro quando ela usa essas blusinhas coladas. Com uma roupa dessa, está pedindo pra eu passar a mão. Pena que ela é toda certinha, se eu avançar o sinal é capaz de vir com essas merdas de assédio sexual e o caralho. Sem tirar que mesmo eu usando minhas melhores cantadas, ela nunca topa sair comigo. Mas, mesmo assim é bom que continue gostosinha, pelo menos não fico marcado como o mané que tem secretária baranga. E secretária tem que ser gostosa porra, senão qual a graça de ter uma? Continue assim Paulinha. – Mas o caso do Zanini não é simples assim, Valéria. As contas da previdência mudaram a abordagem do processo, não adianta você vir com essa história de induzir os mesmos altos do processo da primeira instância. Essa mulher se acha, puta que pariu! Só na cabeça dela tem capacidade pra conduzir essa merda de caso, mania de se meter em trabalho de homem. Vem com esse mimimi todo, quando tinha é que estar massageando alguma gorda num spa ou apertando botão em algum caixa de supermercado. É só pra me encher o saco! Antes tivesse dividido o caso com a Flávinha, aquela sim seria uma boa colega de caso. Peito durinho, cocha grossa, lábio carnudo, deve fazer um boquete como ninguém. Agora, a Valéria?! Nem pra ser gostosa, pelo menos teria com o que me entreter nessa balela toda. Se bem que, a bunda não é de se jogar fora, de quatro ela até que serviria. Ricardo bateu na porta de vidro, perguntou se podia entrar. Bondoso assentiu. Lá vem esse veadinho de merda. Se soubesse que o dono do escritório era boiola, teria vazado logo na entrevista, mas a bicha paga bem, então tem que aturar. – Fala chefe, a que devo a honra? – Bondoso perguntou no usual tom de voz festivo que usava para receber Ricardo em sua sala. [...] Esse boqueteiro filho da puta, chega aqui cheio de pompa se achando homem. Se trombasse com esse veado de merda na rua ia meter a porrada só pra ver se virava macho. Ele acha que não vejo como me olha. Essas bichas não podem ver um par de calças e uma barba que já ficam tudo ouriçadas. Aposto que se eu bobeasse, ia começar a dar em cima de mim. E claro que quer conferir o que tem aqui embaixo, quem não ia querer? Nojo desses escrotos. Ainda bem que sou normal.   – E aquela sua secretária gostosa, meu filho? Já deu uns catas nela? – perguntou o Pai Bondoso. – Ah, pai, nem rola, ela é toda cheia de frescura. Acho até que é sapatão, aquela porra. – Só pode mesmo! Pra dispensar um homem lindo assim como você, meu amor – respondeu a Mãe Bondosa. – Quantas catou esta semana? – Pai Bondoso estava curioso para saber sobre as peripécias do filho garanhão, afinal Bondoso tinha uma reputação a manter. – Só três pai, esta semana está meio corrida lá no escritório. – Está ficando fraco hein! Não vai virar boiola, pelo amor de Deus! Bondoso olhou com uma cara feia para Pai. – Meu filho bicha? Nunca! – Mãe Bondosa terminou de colocar os pratos do marido e do filho, e estava se servindo. – É bom que segurem as cabras, porque meu bode está solto. Quando Bondoso saiu do elevador, notou que Marília estava sentada no lugar de Ana Paula. Que merda, o que essa draga está fazendo na minha sala? – Bom dia Marília. Tudo bem? A Ana não veio trabalhar hoje? A estagiária explicou que Ana Paula não estava se sentindo bem e havia ido até o quinto andar para tomar um pouco de café. Quando Bondoso entrou na copa, a secretária estava em prantos, rodeada pela copeira, uma das faxineiras e a recepcionista. Bondoso ouviu a história da boca da copeira, sua secretária não conseguia falar. No caminho até o trabalho, um homem havia aproveitado o tumulto dentro do vagão do metrô para acariciar a bunda e as cochas de Ana Paula. Quando desceu na estação próxima ao escritório, ela havia notado que sua saia estava suja de esperma. – Oi Ana, eu sinto muito. Esses caras são uns babacas mesmo, não fica assim. Se quiser ir pra casa, eu vou entender – Bondoso usou seu melhor tom de voz gentil e afável. Sabia. Olha o tamanho da saia, até eu passaria a mão nessa bunda gostosa. E ainda por cima está com a blusa agarrada de sempre, assim você não ajuda também né Paulinha. Como não gozar vendo você se insinuando assim.   Bondoso passava a mão nas costas de Ana Paula, consolando-a.
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glauberliterario · 8 years
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Viagem ao centro da tela
Por Willians Glauber
Foi um sacrifício, inúmeros cortes de gastos, mas finalmente paguei a viagem dos sonhos. O dia do embarque chega, as malas prontas, passagem em mãos, carteira e, claro, celular. Um registro básico na cabine do avião, foto na chegada do aeroporto internacional, outra com o taxista. Qual era o nome do aeroporto, mesmo? Não importa, está na foto.
Eis que chego no hotel e, espera, uma foto da vista do quarto. Pronto! Devidamente instalado. A programação em cima da mesa tem o repertório instigante: safári pela manhã, almoço em um restaurante 360 graus, tarde na praia famosa, noite com lual nativo. Tudo preparado para o primeiro passeio, celular no bolso e lá vou eu.
Entrada do safári, foto para o Instagram, qual o nome da reserva florestal mesmo? Ah, não importa, está na foto. Animais lindos, um enquadramento perfeito e a imagem se eterniza com um clique no celular. O leão ficou enorme na foto, deu para ver muito bem a juba imponente e o pelo vistoso. Uma girafa enorme passa na frente do carro, pena que não consegui clilcar no botão a tempo. Safári curto, nem deu para tirar muitas fotos. Disseram que o restaurante era espetacular, a vista então, nem se fale. Veremos. E não é que dá para tirar fotos lindas aqui! Um clique, e, pronto, selfie. Essa vai para o Facebook ou o perfil do Whatsapp, talvez.
Prato de entrada chegando na mesa, antes da primeira garfada: pausa para registrar o começo do banquete. Acompanhamentos, prato principal, sobremesa, uma foto mais linda que a outra. O almoço rendeu 56 cliques, na volta para o hotel notei como o restaurante era lindo, a luz nas fotografias havia ficado perfeita.
Quase três da tarde, logo passam para nos levar até a famosa praia, finalmente a veria de perto, depois de tanto me falarem sobre. Toalha na bolsa, celular e carregador portátil, quase esqueço. Areia macia, fina, branca, pena que rebate muita luz, vai estourar a foto. Que lugar paradisíaco. Selfie para me despedir da paisagem e hotel novamente.
A moça da agência disse que esse é um dos luais mais disputados do mundo, tive sorte de conseguir um dos últimos ingressos, espero que valha a pena. Foto para registrar o visual da noite, pronto para ir. Que iluminação, quantas tochas, e a mesa de frutas, então? Só desbloquear e clicar, ótimo, imagem guardada na memória. Quanta gente, a vendedora da agência não estava brincando quando disse que era uma baita festa. Mais uma foto, enviando para o Pedro, ele não vai acreditar quando vir. Cinco da manhã, o celular até que aguentou, a bateria está no finalzinho.
De volta para o quarto, um banho e colocar o celular para carregar. Deixa eu ver a programação de amanhã, quanto lugar lindo! Melhor passar as fotos de hoje para o notebook e reservar espaço, nunca se sabe.
E lá estive eu, entregue aos ares relaxantes de um lugar paradisíaco. A viagem dos meus sonhos havia ficado linda nas fotos, mas na minha memória se resumia a flashes, imagens vistas de uma tela e passagens rápidas de alguns passeios. Desde então, nunca mais viajei com meu celular.
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glauberliterario · 8 years
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Escolhas debutantes
Por Willians Glauber
Suas escolhas são interesseiras? As minhas são, acho que às vezes até demais. Não me entenda mal, não estou dizendo isso porque condeno as segundas intenções delas, longe de mim. Muito pelo contrário, as incentivo! Até porque, elas já nascem objetivando o tal do resultado, pudera, tão obstinadas e decididas. Eu não me oponho, elas têm mais é que correr atrás dele mesmo.
Dá um trabalho danado criá-las com um mínimo de caráter, você bem sabe. Algumas até titubeiam, incertas se devem ou não deixar os aconchegantes casulos da dúvida. Mas com o incentivo certo, elas sempre ganham as tão esperadas asas e finalmente conhecem a luz do dia. E não vou negar, quando crescem parece que fica mais difícil mantê-las na linha. Se tornam muito futriqueiras entre si, sem tirar o temido período da ansiedade, tão aterrador que até as fazem se questionar sobre a necessidade de seu nascimento. Pode isso?
Não sei as suas, mas as minhas vivem se culpando, querendo ser outras, desejando novas chances. Mas, você e eu bem sabemos qual é a verdade: cada uma delas tem uma única chance. Afinal, qual sentido haveria em terem seu próprio DNA, se tivessem à disposição oportunidades ilimitadas para renascerem o tempo todo? Seria um caos!
Não sei as suas, mas as minhas brigam entre si todo santo dia, algumas se acham superiores às outras, as outras se acham mais sensatas que as algumas. É um trabalho herculano fazer com que convivam em paz e equilíbrio. O que me ajuda bastante, a tornar a convivência mais agradável, é o fato de boa parte delas encontrarem seu amado resultado em um curto espaço de tempo e eles viverem felizes para sempre. Dá um alívio quando vemos nossas meninas se realizando, não?
Não sei as suas, mas as minhas mais velhas me acompanham onde eu vou. Elas são mais ambiciosas, almejam um resultado maior, que seja a longo prazo, então é normal que demorem um pouquinho mais para encontrarem o ideal. Dou a maior força: incentivo, aconselho, ajudo no que puder.
Não sei as suas, mas as minhas fazem questão de comemorar a façanha de encontrar o resultado. Muitas vezes ele nem é o esperado, mas o necessário para que se tornem melhores no futuro. É mais do que uma comemoração, eu diria que é o modo que elas encontraram de compartilhar os percalços do caminho, as batalhas travadas contra o medo, a insegurança, o desânimo e a frustração. Porque esses quatro são insuportáveis, pegajosos, insistem em atrapalhá-las. Ah, por falar em comemoração, sábado é a da do meio. Ela sempre quis ser escritora e arrumou um “resultadão” que olha, não é para qualquer um.
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glauberliterario · 8 years
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Dez minutos
Por Willians Glauber
Bom, são duas e meia, cheguei no horário. Ele disse que atrasaria uns vinte minutinhos... então agora é só esperar. Espero que desta vez sejam vinte mesmo. Pelo menos a música vai me distrair... Não, essa não, chata... chata... essa! Hã? Ai que ótimo, acabou a bateria, eu sabia que tinha esquecido de alguma coisa: recarregar a merda do celular. Ótimo, agora vou ficar aqui plantada sem ter o que fazer.
Ainda bem que esta estação é cheia, dá pra ficar vendo o povo passar e... nossa, você é gato, hein! Nossa que homem lindo! Meu Deus! Aposto que deve estar indo ver a namorada, com essa marra toda, cabelo penteado para trás... E eu aqui, suando feito uma camela... quando ele chegar vou estar só o trapo. Seria bacana se o Lucas viesse me encontrar assim também, todo arrumadinho, de camisa, penteado. Às vezes parece que ele nem se importa, vem de qualquer jeito, todo mulambo. Tudo bem que isso não tem nada a ver, mas poxa, pelo menos para mostrar que se arrumou para vir me ver, né? Ah, é um sinal de educação, vai. Demonstra até um certo carinho, mostra que você se preocupou para ir ver a pessoa, estar bonito, cheiroso... Queria ter um cara que viesse me encontrar assim.
Nossa, já passaram os vinte minutos. Cadê esse menino? Bom, vou esperar mais dez minutinhos, ainda mais que estou sem celular, vai que aconteceu alguma coisa e ele acabou se atrasando mais ainda. Se bem que, toda vez é a mesma coisa, parece que faz de propósito. Ou isso, ou ele pouco se importa de me deixar esperando. Engraçado, né, nessas horas eu fico me perguntando, por que eu insisto em ficar com um cara desse?
Tudo bem que ele é lindo, gostoso, tem aquele... eita, Que beijão! Esse povo adora se afofar nas estações... Nossa! Cuidado, vai arrancar o beiço do bichinho assim. Em quatro meses com o Lucas acho que ele nunca me beijou daquele jeito, ali. E vamos combinar que ele nem beija tão bem assim, vai. Aí me pergunto de novo, que diacho estou fazendo com um cara desse?
Bom, a conversa com ele é gostosa, ele me faz sentir à vontade, é engraçado, tem senso de humor. Fora aquele charme todo que ele tem, ah, os assuntos em comum... e me sinto tão segura com ele! Mas às vezes fico pensando se isso compensa as coisas ruins. Porque, vamos combinar, aquele surto dele no dia em que fui bater perna sozinha no shopping foi ridículo! O cara insinuou que eu estava com outro e terminou por mensagem! Quem ele pensa que é? Não posso sair sozinha agora, é isso? Daí depois sumiu por quase um mês, voltou todo arrependido e lá fui eu dar uma segunda chance. Até porque tem essas coisas boas, estar com ele é tão gostoso e isso acabou falando mais alto pra tentarmos recomeçar.
Puta merda hein, Lucas! Meia hora e cadê você? Bom, são três horas... vou esperar só mais dez minutos e chega! Tenho cara de palhaça, agora?! Gente, mas... gente, o que é isso? Olha... olha isso! Só falta bater na cara da coitada. Por que a mulherada se sujeita a essas coisas, não? Tadinha! Tadinha, ela está super envergonhada... Deus me livre, se o cara me trata daquele jeito ali, nunca mais me vê na vida!
Lembrei agora daquele dia em que o Lucas gritou comigo no meio do restaurante. Me senti um lixo, nunca ninguém tinha me tratado mal daquele jeito. E ele é tão orgulhoso que sequer pediu desculpas. Sem tirar as crises de ciúmes idiotas que tem às vezes, isso é tão típico de homem que não confia no próprio taco! Nossa, eu listei tantos defeitos do Lucas e tão poucas qualidades. Se estou enxergando tantos defeitos assim... Será que esse tempo todo eu estou querendo me enganar? Será que eu gosto mesmo dele ou o fato de ele ser lindo e uma companhia agradável vem me cegando?
 Bom, lá se foram seus dez minutos, chega! Pra mim já deu, eu vou... ah, olha ali quem chego Ai Lucas, se você tivesse chegado dez mnutos atrás, este não teria sido nosso último encontro.
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glauberliterario · 8 years
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Camila e eu
Por Willians Glauber
Era uma noite de quinta-feira e a novela das oito estava prestes a começar, a história ficava cada dia mais interessante, finalmente Camila estava apaixonada por Edu. E já fazia algumas semanas que Camila e eu compartilhávamos um segredo, pois eu também estava apaixonado por Edu. Igual à Camila, eu também gostaria de beijar e estar nos braços de Edu. Contudo, algo naquele sentir não fazia muito sentido, afinal eu não era Camila e Camila não era eu.
E ali, na sala da minha casa, comecei a tentar descobrir quem eu era. Bom, se eu não era como a Camila, eu provavelmente não era como a minha mãe, porque nossas semelhanças se limitavam a apenas alguns gostos e à nossa atração por homens, sem tirar as diferenças físicas, que eram gritantes. Então, logo constatei que eu definitivamente não era como Camila, nem era como minha mãe. Ah, tinha meu pai! Fisicamente nós éramos bem parecidos, mas as diferenças de gostos eram gritantes e como ele tinha atração por mulheres e eu por homens, logo constatei que eu não era como meu pai.
Depois que o capítulo da novela acabou, eu comecei um exercício que continuaria nos dias seguintes, eu precisava encontrar a resposta para essa pergunta que não saia da minha cabeça: eu sou igual a quem? Como em casa só éramos nós três, deduzi que era normal eu não ser como eles, afinal eram apenas duas pessoas.
Quando cheguei na escola, na sexta-feira de manhã, fiquei animado, eu poderia me comparar com todos os meus colegas e finalmente descobrir se eu me parecia com algum deles. Tentei a Fernanda, o Pedro, a Marta, o Joaquim, a Luana, o Leandro, a Natasha, o João Victor... mas nenhum. Nenhum deles era como eu. Impossível, como assim eu sou diferente de todo mundo? Estava cada vez mais difícil responder a uma pergunta que a princípio me pareceu boba, de tão simples. Vai ver eu estava usando os métodos errados, me comparar aos meus colegas de classe poderia não ser o melhor caminho.
Uma vez me disseram que a arte imita a vida, daí uma professora comentou que o Cinema é a sétima arte. Não sabia muito bem o que aquilo significava, mas pelo que entendi as histórias dos filmes eram bem parecidas com as da vida real, daí me veio o estalo: quem sabe eu encontre a resposta nos filmes! E lá fui eu na locadora com a minha mãe. Fiz questão de pegar vários filmes diferentes, dos românticos aos de terror, de ficção científica a comédias. Assiste a um, a dois, três... quando cheguei no sexto filme, já morrendo de sono, a resposta ainda não tinha surgido.
Eu não era como nenhum homem daqueles filmes, eu não me via beijando, namorando, casando ou tendo filhos com aquelas mulheres de quem eles tanto gostavam. Eu era como as mulheres, mas eu não era uma mulher, eu era um homem.
Depois de um tempo, eu desisti de me comparar com as outras pessoas, de tentar encontrar uma resposta para uma pergunta que talvez nem tivesse resposta. E ali, na sala de casa, todos os dias às oito da noite continuei acompanhando a história de Camila, que assim como eu estava apaixonada por Edu. Aquele seria nosso segredo, seríamos só Camila e eu.      
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