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hermeneutas · 1 hour
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Sobre a eutanásia: não tenho tantas fontes agora, mas escrevi meu TCC anos atrás sobre o assunto e uma das bases era como o suicídio era visto na antiguidade. Nas pesquisas de diversas religiões pré-cristianismo, li sobre os gregos considerarem a morte como uma forma de estar com os deuses, e, portanto, o suicídio não era visto como algo ruim (essa visão só se iniciou depois do cristianismo). Logo, a eutanásia (lembrando que vem do grego "boa morte"), em minha opinião, não seria vista como algo ruim/pecaminosa ou uma afronta contra os deuses. Uma das minhas fontes foi o trabalho de Dworkin, onde ele faz justamente essa pesquisa de diversas religiões (e portanto tocando na visão da Grécia antiga), então aconselho o anon dar uma lida pra entender melhor os fundamentos dessa visão em específico.
Um outro adendo: não creio que os deuses vejam o nosso livre arbítrio de escolher uma boa morte como uma afronta a eles, justamente porque não há essa visão de que nós "devemos" a vida a eles e só eles podem tirar, e que devemos passar por atribulações e sofrimento, pois somos pecadores desde o nascimento. Nós cultivamos uma relação com os deuses muito distinta da relação dos cristãos com o deus cristão, e a visão da eutanásia como algo pecaminoso vem justamente do pecar contra deus quando escolhemos dar fim a um sofrimento que, para eles, nos limparia dos nossos "pecados". Além da questão de que só deus pode tirar nossa vida, e todas as outras coisas que nós todos já ouvimos de cristãos. Enfim, são relações e religiões muito distintas e por isso creio também que encaixar a eutanásia como algo ruim é algo muito mais cristão do que qualquer outra coisa.
Efcharisto philos!
Espero que o outro anon possa ver e ler a respeito das indicações aqui. É muito importante divorciar os conceitos que surgiram após a ascenção do monoteísmo como forma mais comum de culto nos países do mediterrâneo das suas práticas mais antigas. Fico curioso sobre qual grupo de gregos é referido no trabalho a ter essa perspectiva sobre a morte, adoraria dar uma lida!
No mais, agradeço quanto à contribuição.
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hermeneutas · 4 hours
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Olá! Vc poderia me explicar qual é a visão do Helenismo sobre algumas questões como por exemplo o aborto e a eutanásia??
Khaire philos!
Como explicado em algumas noções específicas, não há uma visão única e monolítica das expressões religiosas helênicas para todos os assuntos do mundo. É especialmente complexo observar como seria a abordagem desses assuntos uma vez que tais tópicos eram de escassa discussão no mundo antigo.
Não consigo pensar em um mito específico que aborde tais temas ou de alguma discussão filosófica que cubra estes assuntos. Algumas questões discutidas ocupavam mais um espaço próprio. E além do mais, dar opiniões universais quando o assunto é "o Helenismo" é algo complicado de se firmar, como bem falamos sobre como mesmo que houvessem tradições comuns e crenças que se alinhavam, a diferença do povo da região Ática para a da Lacedemônia e da Trácia poderia mudar radicalmente no que fosse considerado piedoso (ou seja, de acordo com a eusébia, diligência aos Deuses) ou não.
Convido, entretanto, seguidores que desejem adicionar nessa discussão com um reblogue caso tenham conhecimento sobre algo que me foge neste momento.
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hermeneutas · 3 days
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Outros Deuses e Seus Epítetos - As Horas
Khairete philloi!
Damos continuidade neste post da série sobre os Deuses e seus epítetos mais conhecidos. Desta vez focaremos em um outro grupo de deidades importantíssimas para a manutenção do ciclo natural - as Horas.
As Horas, do grego Horai (Porção de Tempo), são as Deusas do fluxo natural do tempo, a passagem das estações e das mudanças nas constelações. Elas também são descritas como guardiãs da entrada para o Olimpo e organizadoras das estrelas nos céus.
Representadas em maior parte como um agrupamento de três jovens bem-vestidas, as Horas dançam em círculo e cumprem suas funções, dando o dinamismo e movimento ao Cosmo. Em grande maioria das vezes, elas são descritas como filhas de Zeus e titã Têmis, a Deusa das leis sagradas e dos costumes divinos. Já os autores Quinto de Esmirna e Nono atribuem a parentagem delas a Hélio e Selene, ou somente Hélio, visto que os titãs do sol e da lua também estão atrelados à passagem de tempo.
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Concernindo o culto às Horai, vemos que elas não possuem relatos abundantes de templos dedicados ao coletivo de deidades em si, salvo um templo dedicado a uma dupla de horai em Atenas -- a Talô e Karpô, descritas como horai da primavera e do outono, respectivamente, que compartilhavam um altar com Dionísio no mesmo templo.
Entretanto, há vários santuários e representações delas nos templos de outras divindades: No templo de Zeus em Mégara, no templo de Hera em Argos, no de Apolo em Amyklae (perto de Esparta) entre outros.
Interessantemente, elas são representadas junto às Cárites (as Graças) nestes espaços supracitados também.
Quanto aos nomes das divindades descritas como membros das Horas, segue uma descrição breve de cada agrupamento mais comum.
Nomes das Horai
Diké, Eunomia e Irene - Respectivamente, "Justiça" (Δικη), "Boa Ordem" (Ευνομια) e "Paz" (Ειρηνη), são Deusas filhas de Zeus e Têmis. Estas horas são as divindades associadas às virtudes encarnadas por seu nome. São descritas por inúmeros autores, como Hesíodo, Píndaro e Hígino.
Karpô, Talô e Auxo - Respectivamente, "Fruto" (Καρπω), "Talo/Crescimento" (Θαλλω), "Aumento" (Αυξω). Descritas essencialmente por Pausânias e Hígino como divindades associadas ao fluxo da natureza, cada uma aqui representa o ciclo natural de crescimento das plantas.
Talô é descrita em Atenas como a hora da primavera e Karpô como a hora do outono, com cultos bastante antigos atribuídos a ambas. Nos ritos de passagem para a maioridade, os jovens atenienses mencionavam Talô como parte de seu juramento ao se tornarem efebos, ou seja, adolescentes em treino para serem considerados adultos. Na Teogonia de Hesíodo, Talô é um epíteto de Irene, a hora da paz.
O poeta romano Hígino eleva o número de Horai à dez, descrevendo as seguintes e somando-as como parte deste coletivo.
Auxêsia, Damia, Ortôsia e Ferusa - Do grego, respectivamente, "Crescimento (Αυξησια)", "Terra-nutriz (Δαμια)", "Prosperidade (Ορθωσια)" e "Traz-substância" (Φερουσα).
As seguintes são um quarteto de horai descritas na qualidade de Deusas das estações do ano.
Eiar (Ειαρ), Theros (Θερος), Ftinóforon (Φθινοφωρον) e Químon (Χειμων) - Respectivamente, "Primavera", "Verão", "Outono" e "Inverno".
Importantes divindades descritas como benevolentes e nutrizes da natureza, dos mortais e ministras dos Deuses celestes, as horai são companheiras frequentes das deidades que tanto nos cobrem com benesses.
Honremos estas grandiosas Deusas e busquemos invocá-las junto aos Imortais por suas graças tão benévolas à humanidade. Encerramos o post junto ao hino órfico às Horas, tradução de Rafael Brunhara do blog "Primeiros Escritos" (recomendamos para quem curte hinos e literatura antiga!).
Das Horas; fumigação: Ervas Aromáticas
Horas, filhas de Têmis e Zeus soberano, Bensoência [Eunomia], Justiça [Díke] e Paz [Eirene] multiafortunada, vernais Deusas dos prados, puras e multiflóreas em flóridos sopros, de todas as cores, de muitos odores, Horas volventes e  viçosas sempre, de face doce,   (5) que vestem véus feitos do orvalho de rosas virentes, brincais com a pura Perséfone quando as Sinas [Moirai] e as Graças cantando e dançando em roda a elevam à luz, a Zeus agradando e à mãe doadora de frutos. Vinde aos neófitos nos auspiciosos e consagrados ritos (10) trazendo sem falha frutos nascentes das estações.
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hermeneutas · 11 days
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olá eu apreciaria muito um posto sobre o deus dos sonhos, morfeu, epitetos, algo mais sobre ele. Desde já agradeço.
Khaire philos!
Agradeço a solicitação de conteúdo e sinto que é preciso falar aqui sobre os daimones-sonho como um todo, os chamados oneiroi (singular: oneiros, do grego antigo, sonho). Morfeu é uma figura da literatura e mitologia romana com relatos apenas presentes no livro Metamorfoses, de Ovídio, onde aparece descrito ao lado de Fântaso e Fobetor/Ícelo. Morfeu é descrito como um sonho que toma a forma de pessoas, Fântaso de objetos inanimados e Fobetor, de animais e feras. O valor religioso das obras de Ovídio é, no máximo, debatível, mas vemos a representação dos oneiroi desde os mais antigos escritos, como a Ilíada. Entretanto, nestes escritos, não há nenhum nome como Morfeu atribuído ao deus-sonho que preenche a mente do general Agamemnôn na Ilíada, mas quem o guia para a mente do homem é Hermes, o Deus-mensageiro. Além disso, é dito que os oneiroi podem vir do portão de marfim ou do portal de chifre, o primeiro dá vazão aos sonhos proféticos enviados pelos Deuses, enquanto o segundo dá a sonhos enganosos ou fantasiosos. Quando olhamos mais de perto do relato dos cultos de Hipno (temos um post sobre ele aqui), o Deus do sono e Asclépio, o Deus da cura, vemos um relato de Pausânias sobre a representação de Oneiros (O Deus-Sonho, no singular neste caso) junto a Hipnos Epidotes (Abundante, do grego antigo). Os sonhos, ou seja os oneiroi, eram particularmente importantes no culto de Asclépio, pois através deles os devotos e sacerdotes interpretavam as curas necessárias para seus males a serem tratados, um processo chamado de metanoia. Uma famosa por isso também é Selene, a Deusa-lua, que na antiguidade tinha um santuário com uma fonte de água sagrada que, caso o consulente bebesse e adormecesse no local, obteria respostas através dos sonhos sobre suas indagações. Estes daimones queridos nos entregam mensagens, apresentam nosso conteúdo interno e as mensagens dos divinos. Apreciemo-los juntos aqui! Espero que esta resposta tenha sido informativa, embora não tenhamos focado em Morfeu especificamente!
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hermeneutas · 14 days
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Sobre os Primordiais - os Que Nasceram Antes.
Khairete philloi!
Nesta postagem discorreremos um pouco sobre as entidades conhecidas como os Protogenoi - do grego, "Os que nasceram antes" ou simplesmente, os Primordiais. Focaremos em uma série de posts separada a descrição e caracterização dos Deuses aqui descritos, relatando seus cultos (se houverem, nem todos eram cultuados de facto) ou analisando suas figuras como um todo.
Os protogenoi são os Deuses que dão forma à realidade em si -- Eles são aspectos fundamentais do Cosmos onde habitamos e, em essência, não eram objetos de culto em grande parte. Quando falamos destas entidades primevas, estamos falando de potências divinas que literalmente encarnam aspectos essenciais do existir.
A Noite (Nix), a Terra (Gaia), os Céus (Urano), o Abismo (Tártaro), o Mar (Pontos e Tálassa), o Dia (Hemera), as Trevas (Érebo), a Luz (Éter) -- entre tantos outros -- são alguns dos Deuses descritos como protogenoi e nas narrativas míticas, descritos como ancestrais divinos da maioria dos Deuses cultuados. Na maioria dos relatos mitológicos descritos como o originados da entidade chamada de Khaos, o Caos, primordial do vácuo e do vazio, a primeira existência atestada da Teogonia de Hesíodo, descrito também por outros autores antigos como Aristófanes, Alcman e Calímaco.
Há um traço comum de compreensão que o culto a estas entidades tem relatos escassos, seja por mais existirem no imaginário mitológico do que na prática religiosa, ou porque seus domínios se encaixem no domínio de outras deidades - Como Gaia sendo a Mãe-Terra e Démeter sendo a deidade helênica mais cultuada atrelada ao poder frutífero da terra, ou Pontos com o mar sendo mais domínio de Poseidon.
Deidades como Caos, Éter ou Érebo não contam com relatos sobreviventes de culto, sendo detalhados em peças teatrais, textos filosóficos ou fragmentos de cosmogonias (histórias que narram a origem do universo) que os citem. Outros dos protogenoi, como Gaia e Nix, ainda contam com relatos de culto significativos, embora esparsos quando comparadas às deidades olimpianas.
No futuro, dedicaremos mais tempo visitando em breves posts os domínios e informações relevantes sobre cada uma destas divindades que compõem aspectos essenciais de nossa existência.
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hermeneutas · 26 days
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Oi, tenho uma pergunta! Como se dá culto a divindades titãneses? Muda algo como altar, preces, é necessário chamar Hestia, como portar-se com eles etc.
Khaire philos!
O termo "titã" não é necessariamente um usado para descrever as deidades em culto, é mais utilizado nas narrativas mitológicas. Hélio, Selene e Hécate por exemplo são titãs na mitologia, mas seu culto é similar ao de quaisquer outras divindades helênicas.
Há quem prefira ofertar mel e não vinho a divindades tidas como "mais antigas" que Dionísio em si, mas não é uma escolha universal.
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hermeneutas · 1 month
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Outros Deuses e Seus Epítetos - As Cárites/As Graças
Neste post seguimos nossa série de postagens sobre os amados Imortais. Desta vez focando em mais uma comitiva de divindades -- As Cárites, as Deusas da alegria, dança, glória, festividade e júbilo.
Também nomeadas "Graças", são as divindades responsáveis pela manutenção destes prazeres supracitados. Frequentemente agrupadas em três ou versões onde são deusas mais numerosas, elas são frequentemente descritas como atendentes das Deusas Hera e Afrodite.
Elas eram representadas frequentemente juntas, nuas ou com vestes leves, segurando as mãos umas das outras em um círculo enquanto exibiam expressões sorridentes. Elas portam coroas de murta ou rosas em seus aspectos. Na maioria das vezes são descritas como filhas de Zeus e Hera, mas com outras mães também sendo atestadas, como Harmonia, deusa da concórdia e filha de Ares, assim como Eurínome, a titã dos pastos e ermos.
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Em relação ao culto às Cárites, seus maiores espaços sagrados ficavam na cidade de Orcómeno na Beócia e na ilha de Paros. Entretanto, as Deusas eram frequentemente cultuadas em conjunto com outras deidades olímpicas (Hera, Apolo, Afrodite, Dionísio e muitos outros) em cidades como Atenas, Argos e na região da Lacedemônia.
Os nomes das Cárites
O número atestado de Cárites varia em cada uma das polis, com o escritor romano Pausânias indo em detalhes para cada uma. Ao invés de epítetos aqui listados, traremos um compilado dos nomes das Deusas que já atestam em si seus atributos comuns em relação ao seu domínio sobre os aspectos positivos da vida.
Aglaia - "Esplendor", também chamada de Kharis (Graça) ou Kalleis (Beleza), é a esposa de Hefesto, personificando o esplendor da beleza.
Antheia - "Florida", uma das Graças associadas às flores.
Auxo/Auxesia - "Aumento", é por vezes descrita como uma das Graças ou como parte das Horai, deusas das estações do ano. É a divindade do crescimento primaveril. Era cultuada em trio com as outras Cárites Damia e Hegemone em Atenas.
Eudaimonia - "Felicidade", deusa da felicidade e opulência, representada ao lado de Afrodite em algumas cerâmicas.
Eufrósine - "Bom ânimo", é a deusa da alegria de espírito e comemoração. Também chamada de Eutimia.
Kleta - "Famosa", cultuada em Esparta ao lado da graça Faena, são as deusas da fama e da glória.
Paidia - "[relacionada à] Infância", a Graça das brincadeiras e diversão. É representada ao lado de Afrodite em pedaços de cerâmica.
Pandaisa - Graça associada aos banquetes fartos, representada ao lado de Afrodite nos vasos de cerâmica.
Pannychis - "Todas [as] noites", é a Graça associada às festividades noturnas. Representada como parte da comitiva de Afrodite nas artes de cerâmica.
Pasitéia - "Deusa adquirida" é a esposa do Deus Hipnos, o Sono e a divindade do descanso e relaxamento.
Peitho - "Persuasão" é a divindade da persuasão e sedução. Geralmente retratada como atendente direta de Afrodite, por vezes sendo descrita como um epíteto dela. Também era listada entre as Cárites.
Tália - "Festividade" é uma das Cárites cultuadas ao lado de Eufrósine e Aglaia, tida como irmã de ambas. Curiosamente partilha o nome com a Musa da Comédia, embora seu domínio esteja mais ligado aos banquetes fartos e luxuosos, é por vezes descrita como a mesma deidade que Pandaisa.
As Graças são numerosas e descritas como imprescindíveis para os aspectos positivos da vida. São suas nutrizes, representações vivazes da celebração e alegria que frequente abençoa a vida dos mortais sob os olhos atentos de Afrodite e várias outras divindades. Diz Píndaro em seu hino que sem estas Deusas, as doçuras da vida não florescem, seja a sabedoria, amor ou a beleza.
Apreciamos as honrosas Cárites por fim neste post e que suas doçuras sempre nos encontrem!
Ode Olímpico às Graças, de Píndaro. (Honraria feita a um vencedor dos Jogos Olímpicos)
"Cujos refúgios estão perto do rio Céfiso, vocês, rainhas amadas da canção dos poetas, governando Orcómenos, aquela cidade iluminada pelo sol e terra de adoráveis ​​corcéis, vigiem e protejam a antiga raça mínia, ouçam agora minha oração, vocês, Cárites, três. Pois em seu presente estão todas as nossas alegrias mortais e todas as coisas doces, seja sabedoria, beleza ou glória, que enriquecem a alma do homem. Nem mesmo os deuses imortais podem ordenar em seus comandam as danças e festas, sem a ajuda das Cárites; Pois vós sóis as ministras de todos os ritos dos céus, cujos tronos estão colocados em Pytho (Delfos) ao lado de Apolo do arco dourado, e que com honra eterna adoram o Pai, senhor do grande Olimpo. Eufrósine, amante da música, e Aglaia reverenciada, filhas de Zeus, o Altíssimo, ouçam, e com Tália, querida da harmonia, olhem para nossas canções de festa, com pés leves pisando para agraciar esta hora alegre. . . Venho elogiar Asópico, cuja casa mínia, Thalia, agora a seu favor ostenta o orgulho do vencedor olímpico."
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hermeneutas · 2 months
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Olá, como vai? Queria uma ajuda sua para compreender o culto ctónico. Tenho uma enorme curiosidade em iniciar esse tipo de "culto a terra" com deuses específicos como a Dionísio e Perséfone, pois tenho uma enorme admiração a eles. No entanto, não sei como prestar devidas práticas, já tive práticas a cerca de deuses urânicos, mas não aos ctónicos e fico com um pé atras para cultuar, já que não tenho um espaço que seja um quintal ou local próximo para fazer os altares e não sei adaptar, se é preciso se purificar questões principais mesmo para a formação de uma Kharis. Além de estigmas negativos também sobre Perséfone ser "pesada demais" ou "tenha cuidado ao cultuar", enfim queria relacionar um pouco a magia a esses deuses visto que enxergo a terra como essa fonte mágica divina. Agradeço sua ajuda!!!
Khaire philos!
Nas últimas asks que recebemos em torno dos Deuses Ctônicos, notamos alguns receios comuns a cultuá-los por sua associação ao Mundo Inferior. Estes divinos são dignos de culto tanto quanto os demais, compreendemos a apreensão por seus domínios sombrios, mas igualmente necessários e harmoniosos no fluxo do Cosmo.
Há práticas muito comuns e adaptações ao culto ctônico que podem ser feitas. Quanto às ofertas, além de atos votivos voltados para estas deidades, existem alguns relatos antigos de oferendas ctônicas descritas em The Ritual Lament in Greek Tradition (A lamentação ritualística na tradição grega, traduzido livremente) de Margaret Alexiou.
“Primeiro o enlutado dedicou uma mecha de cabelo, junto com o choai, uma libação de vinho, óleos e perfumes. Estas eram sempre acompanhadas de uma oração. Depois vieram os enagismata, ou oferendas aos mortos, que incluíam leite, mel, água, vinho, aipo, pelanos (uma mistura de farinha, mel e óleo) e kollyba (as primícias das colheitas e frutas secas e frescas). Mesmo depois de o sacrifício de touros ter sido proibido por Sólon, era habitual sacrificar animais - ovelhas, cordeiros, cabritos, pássaros e aves - "de acordo com o costume ancestral", e o sacrifício de touros era permitido em ocasiões especiais, por exemplo, para homenagear os mortos de Maratona. Todas as vítimas foram mortas na eschtira (trincheira) para que o sangue pudesse correr para a terra e apaziguar as almas dos mortos.”
O estilo khoes (ou choai, choes) é uma libação mais abundante onde o devoto não toma parte da oferta. Há relatos de libações spondai (as mesmas que as urânicas, mais breves e que poderiam ser partilhadas) para os Deuses Ctônicos também no livro do estudioso alemão Walter Burkert "Greek Religion", mas a associação com o espírito dos mortais geralmente demandava este tipo de sacrifício mais abundante. Caso não haja a possibilidade de criar um bothros (um buraco ritualístico), recomenda-se um altar mais próximo do solo se lhe for propício, ou mesmo uma planta favorita e adaptada para receber este tipo de oferenda.
Quanto a noções de "poluição energética" ou miasma que possam estar envolvidos neste vínculo, caso o culto tenha um caráter de maior contato necromântico a frequência e intensidade de purificações pode ser proporcional, antes e depois do rito caso sinta-se a necessidade. Variar métodos purificatórios pode ser interessante -- fumigação de louros e ervas purificadoras, banhos mais completos de água lustral, a queima de enxofre -- todos estes métodos são considerados apotropaicos (que afastam o mal).
Devemos reforçar aqui que a "sujeira" limpada nas partes purificatórias de cada rito advém das questões naturais do ser humano, não sendo necessariamente nocivas. Crimes hediondos, assassinato e proximidade física à morte geralmente configuram um tipo de miasma que requer ritos purificatórios mais robustos, não somente o mero contato com uma deidade dos mortos.
No mais, estas são as reflexões que vieram a mente ao se deparar com a ask. Espero que ela seja ao mínimo uma inspiração para encontrar um caminho para honrar estas deidades a teu modo.
Que Zeus lhe inspire com bons caminhos!
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hermeneutas · 2 months
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A pluralidade e o politeísmo
Um elemento crucial a ser discutido entre os grupos politeístas e devotos dos Imortais é o inerente pluralidade com qual lidamos quando nos aproximamos da espiritualidade em geral. Mesmo olhando somente para a religião helênica encontramos -- desde a antiguidade -- um considerável número de variações nas noções que envolvem nosso caminho com os Divinos.
Discutamos aqui um pouco sobre isso, então.
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A Ártemis Orthia de Esparta foi descrita pelo romano Pausânias como um objeto de discussão mesmo na antiguidade, reza o mito que a sacerdotisa e heroína Ifigênia a trouxera da Táurida para aquela região nos tempos heroicos como relatados no ciclo teatral da Orestéia por Eurípides. Este fato, entretanto, é discutível tendo em vista que outras regiões da Hélade clamavam o mesmo.
Embora existam elementos unificadores quanto a religião (o maior deles sendo o culto e a ideia quanto a soberania de Zeus), os Deuses principais de determinadas partes diferiam substancialmente. Mesmo os integrantes dos Dodekatheon (Os Doze Deuses) não eram uma ideia fixa, com pensadores antigos como Heródoro de Heracleia descrevendo os olimpianos como Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ártemis, Apolo, Dionísio, as Graças, Cronos, Réia e o Deus-rio Alfeu.
Havia também locais onde a reverência aos Deuses tomava formas graças a mitos locais e variações culturais: Em Rodes, o culto a Hélio, o Deus-Sol, tomava uma proporção grandiosa e focal quanto ao modo de vida dos habitantes de lá, assim como Hera figurava como a deidade mais louvada da região de Argos. Acontecia também de uma mesma divindade ser louvada de maneiras diferentes, com mitos diversos atrelados a sua localidade, história e tradições de cada local, como Zeus, uma divindade representada de modo vastamente celestial (urânico) sendo cultuado sob o aspecto de uma cobra, um símbolo ctônico em grande parte, com o epíteto Meilikhios -- o afável.
Os Deuses são louvados e cultuados de maneiras diferentes há milhares de anos, com um espectro de variações míticas e de tradicionais ricas presentes na cultura de cada povo do Mediterrâneo. A pluralidade é uma realidade inerente ao politeísmo helênico desde as suas raízes mais antigas e conforme tracejamos esta linhagem até os tempos modernos onde ocupamos, a devoção aos Deuses toma novas formas.
Hoje em dia há devotos mais alinhados ao reconstrucionismo, onde há um esforço de revisitar o passado das tradições religiosas como inspiração para celebrações e na busca de conexão com os Divinos. Há também aqueles que buscam louvar os Imortais em outras tradições que pouco dialogam com a história helênica em si, mais alinhados a outras vertentes de paganismo. Entre discussões e atritos possíveis, por Zeus e os Imortais nos guiamos em busca de uma reciprocidade virtuosa com os Divinos em suas belas e plurais formas.
No fim, cada grupo de devotos, estejam eles se reunindo presencialmente ou não, forma um corpo vivo destas espiritualidades que se enlaçam no politeísmo helênico em suas expressões vivas -- estejam aqui no Brasil ou não.
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hermeneutas · 3 months
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Tem incorporação, possessão, transe, irradiação e etc no Politeísmo Helênico? Se sim, poderíamos ter isso hoje em dia com os deuses? Possessão como Apollon e as Pitonisas, Transe como as ninfas em ninfolepsia com os ninfoleptos (que inclusive gostaria muito de saber se tem fontes mais profundas sobre como esse contato acontecia e como poderíamos entrar em transe com ninfas proféticas e até com outros deuses afim de certos objetivos, atingir metas e obter resultados) e Irradiação (puxando num lado umbandista para explicar melhor, é como se você sentisse a energia da divindade e ela "encostada em você", tendo como exemplo estar numa consulta de oráculos/ adivinhações e acabar falando muito mais do que apareceu por uma Irradiação com apollon ou outra divindade profética, ou dar conselhos amorosos assertivos pra alguém que necessita na Irradiação com afrodite e/ou Eros e os Erotes, ou dar conselhos de vida realmente necessários por influência de Zeus, como se estivéssemos falando mensagens deles, por eles.
Pegando aqui essa ask e esta outra (que parece vir do mesmo anônimo ou, ao menos, aborda os mesmos assuntos):
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Khaire philos!
Então, o que é chamado de irradiação, emanação ou algo desta natureza e que consigo correlacionar dentro do politeísmo helênico advém de algo interessante que chamamos por aqui de enthusiasmos. A palavra em si significa "estar com o Deus dentro" e é um dos nomes desses tipos de fenômeno onde a inspiração divina parece nos atingir. É dito que as Musas tinham tal poder, bem como Baco em seu frenesi. Cada espécie de inspiração divina, emanação ou possessão (como as bacantes eram descritas, influenciadas pela presença e espírito de Dionísio ou a ninfolepsia das ninfas) aparenta diferir perante a natureza da deidade numa forma também descrita como mania (do grego, "Loucura"). O que difere o enthusiasmos e a definição de mania não é claro na literatura, mas ambos sugerem atividade divina em conluio com a psiquê dos devotos. Não duvido que alcançar tais estados sejam uma possibilidade hoje em dia -- os Deuses têm seus caminhos, suponho -- mas como alcançá-los e para quais propósitos é uma outra discussão completamente. É relativamente comum ouvir de devotos que sentiram a presença (uma emanação ou irradiação, como nos termos aqui usados) das divindades, estejam despertos ou por meio de mensagens oníricas. Há um elemento ritualístico que talvez possa propiciar tais estados e contatos, bem como dependendo do vínculo do devoto-divindade sendo algo para deliberarmos. No fim, sim, estas coisas ou equivalentes parecem existir dentro da espiritualidade helênica, embora não possa dizer aqui que existe um modo ritualístico padrão - há aqueles que fazem meditações guiadas de outros métodos focando no seu contato com os Deuses, outros que estudam métodos adaptados da Teurgia (um sistema místico da antiguidade tardia de contato com os Imortais em uma mentalidade neoplatônica) e por assim vai.
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hermeneutas · 3 months
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Creio que é uma pergunta meio peculiar, mas vamos lá. Considero meu cabelo a base de ninja autoestima e gostaria que ele crescesse mais rápido, posso pedir para alguma divindade pra ajudar com isso? É claro, não é como se eu quisesse uma mágica, mas eu gostaria de um empurrãozinho. Se isso seria possível, quais deuses você recomendaria?
Khaire philos!
Pedir por graças corpóreas é muito atestado em epigramas votivos para determinadas divindades, assim como pedidos por saúde, boa sorte, amor ou prosperidade. Quem há de te julgar por pedir uma ajuda no cabelo certamente não está neste blog. Que tal tentar pedir um auxílio de Afrodite ou alguma outra deidade com qual tu tenha mais apelo? Fica aí a ideia. Hã, boa sorte!
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hermeneutas · 3 months
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O que você acha sobre dedicar o mesmo ato a mais de uma divindade? Ex:Atos devocionais de amor e autoestima para Afrodite e Eros (e os Erotes), atos relacionados a comida a Héstia e Deméter, tomar um banho de chuva para Zeus e Hera, inovar no relacionamento para Afrodite e Hera, preces para proteção na rua para Hermes, Apollíneo e Hekate, assuntos familiares para Hera e Héstia... Gostaria de fazer atos para os 12 Olimpianos, um ato para cada dupla para facilitar. Mas tenho receio de não ser bom e eu não ter tanta kharis ou quase nenhuma como eu teria se fizesse um ato Devocional individual para cada um.
Feliz ano novo, philos!
Acredito que atos votivos voltados para um grupo de deidades seja tão válido quanto os voltados para uma deidade em específico. Entendemos o receio neste momento, mas a criatividade é sua amiga se pretende honrar os Imortais de forma coletiva. Talvez ir devagar com grupos menores primeiros lhe ajude. É difícil quantificar quanta kharis (graça, reciprocidade) nós temos com os Divinos, para ser honesto, é mais uma processo interno de reconhecimento. Caso sinta que precisa de mais tempo antes de tentar louvá-los em sua coletividade, tome seu tempo. Acredito que os Imortais são perfeitamente capazes de compreensão do seu momento.
Que os Deuses lhe guiem!
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hermeneutas · 3 months
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Bom Revéillon e feliz ano novo! <3
Retornaremos em breve após estas celebrações, que os Deuses sejam propícios sempre!
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hermeneutas · 3 months
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Oie, tem algumas tradicionais gregas de natal e fim de ano que podemos fazer nos dias de hoje?
Feliz Natal!
Khaire philos!
Tendo em vista a natureza cristã deste festival, não o comemoramos. Há grupos modernos que usam da data em torno dos dias 18 - 26 para celebrar um rito a Hélio (o nome é Heliogenna, leia aqui).
Em breve também haverá a lua cheia no décimo quinto dia lunar, onde podemos realizar a Dikhomenia, segue o link.
No mais, estas são as festividades com quais os politeístas helênicos acabam se conectando nesta época. Mais cedo durante o mês, por estarmos no mês lunar de Poseideon, há a possibilidade de celebrar a Poseidea, geralmente no oitavo dia lunar (que este mês foi dia 19/12).
Enfim, bom fim de ano, coma muito e celebrai os Imortais como lhe couber! Até mais!
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hermeneutas · 3 months
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Um pouco off topic, mas como lidar com pessoas duvidando e debochando de nossas crenças? Principalmente quando se trata de deuses e religiões antigas.
Khaire philos!
Há sempre aqueles que cometem intolerância religiosa com quaisquer espiritualidades que não obedeçam uma lógica cristã-cêntrica. É uma realidade terrível com a qual quaisquer devotos de outras deidades, pessoas de religiões afro e outras espiritualidades acabam enfrentando em nossos país.
Como lidar é o desafio, sendo uma agressão literalmente ao nosso estilo de vida, há de se recomendar um afastamento ou denúncia. Onde não há abertura para diálogo, sobra pouco espaço para conduzirmos algo. No caso de ignorância somente, ensinar o que for possível pode ser uma possibilidade, caso essa abertura exista.
Παιδείας ἀντέχου - Apegue-se à disciplina, diz a máxima délfica 21.
No caso de sofrer um ataque genuíno, buscar nossos meios de defesa é justo, inclusive os legais. Lembremos sempre de nos acolher enquanto devotos dos Imortais em comunidade, mesmo distantes, permanecemos unidos sob a bondade dos Deuses.
Que Zeus justo favoreça a ti, esperamos que este post tenha lhe servido.
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hermeneutas · 3 months
Note
Quero ser um Pharmakis e gostaria de saber mais sobre as visões gregas sobre as ervas, Herbologia helenica (Pharmakeia). Só conheço fontes como theoi que liberou duas páginas que falam sobre algumas ervas e flores, mas gostaria de saber outras fontes.
Khaire philos!
A herbologia helênica é rica em mitos, como os descritos no Theoi como tu fala. Há também conteúdo para ser observado nos PMG - Papiros Mágicos Gregos, que relatam (entre uma miríade de instrumentos) ervas relevantes para a prática da feitiçaria. Um livro que recomendo para relatos de feitiçaria antiga e comentário de um pesquisador é o Magic, Witchcraft and Ghosts in the Greek and Roman Worlds por Daniel Ogden.
Além dessas, é mais prudente observar escritores ocultistas que transcendem a esfera helênica como inspiração. Afinal, a prática mágica com ervas é tão antiga quanto tudo em nossa espiritualidade.
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hermeneutas · 4 months
Note
olá, como eu posso fazer um altar para afrodite? tem alguma fonte na qual posso utilizar? o que acho na internet, a maioria, é em relação a bruxaria. tem alguma diferença?
Khaire!
Então, temos um post voltado para isso que pode lhe ser útil! Altares e espaços de culto, embora os altares de bruxaria tenham elementos em comum com os nossos, cremos que eles cumprem uma função diferente em alguns aspectos pormenores.
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