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MÁGOA

Às vezes, esperamos tanto dos outros que quando chega a decepção é como se fosse uma facada superficial: corta, sangra, mas não mata.

Esperamos tanto das pessoas que nem vemos que elas são imperfeitas como nós, que esperam como nós e se decepcionam como nós.

Via de mão dupla.

E nessa via falamos coisas que não devíamos e nem queríamos, mas agora já é tarde, a pedra foi lançada. E depois de lançada já não é possível ser recuperada. O jeito é seguir em frente como se nada tivesse acontecido, sabendo que aconteceu, sabendo que magoou, que se magoou, que feriu, que se feriu.

Desculpa. É só uma palavra que dificilmente apagará tanto estrago.

Tenho fé na humanidade, mas não tenho muita fé em mim. Sou descontrolada, eu sei, cabeça dura, mas tenho meus motivos de ser assim. Nasci assim. Morrerei assim.

Na verdade, eu não sei nada. Só o que sei é que neste momento estou magoada. Como sentir. Ela doi. Queima. Engasga com o choro e não passa. Fica lá quietinha esperando o momento certo (ou não) de sair em jato de fúria de choro.

Preciso me livrar disso. Dessas pequenas lembranças que não conseguem sair de mim. Às vezes, me inundam porque me amarram demais. É um crime que cometo conta mim mesma. Estou com saudade do tempo de criança que quando se ficava “de mal” durava algumas horas, e não se sentia remorso, rancor, raiva. Passava logo.

Agora não.

Pode durar uma eternidade e assim mesmo não passar.

Não gosto desse sentimento que me impede de viver, às vezes, fico pensando nele, sentindo-o, passo  a ter angústia, mas ele não sai assim tão fácil.

Quero ser livre. Respirar profundamente só sentir o ar entrando e mais nada.

Estou sofrendo horrores, e as pessoas nem percebem, também não é da conta delas.

O motivo de tanta mágoa sou eu mesma. Joguei pedra em mim mesma, mas outras pessoas ajudaram.

Xinguei-me; me bati e me magoei. Como?

Deixando de falar o que devia, fazer o que queria na hora que queria; bater em quem devia na hora que devia.

Deixei passar coisas demais. Agora é tarde. Eles continuaram com a sua vida e eu parei com a minha.

Para esquecer, choro. Mas não adianta muito. Esvazia um pouco. Sou escrava de meus sentimentos. Estou submetida à pressão do mais forte. E não sei como me livrar porque são muitos.

#prose #cronic

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EU QUERO VOCÊ PARA SEMPRE… ATÉ

"Eu quero ficar com você por toda a minha vida” pensa enquanto fecha a mala e espera pelo táxi. Tantos anos, tantas coisas, tantos momentos agora só resta uma casa vazia e uma mala em frente da porta da sala, esperando por um estranho que a levará para um lugar longe de toda uma vida que por algum tempo foi boa, foi feliz. “Eu quero ficar com você por toda a minha vida”. Só que ao dizer isso, ela não sabia que poderia estar implícito uma contagem de tempo. Tonta, por que teve que usar esta frase? Agora só sobrou restos. Pequenas fotos rasgadas jogadas no lixo, alguns cds que logo serão doados ou largados em qualquer canto, “não quero ter que ouvir o que você ouve, por que me torturar em ter que pensar em você? Mas eu me torturo, porque você era o que eu queria desde o momento que te vi. Perfeito!” “Eu quero ficar com você por toda a minha vida”, não se lembra dele ter dito a mesma coisa. Puxa pela memória, lembra de várias frases, histórias, mensagens, mas 'eu quero ficar com você por toda a minha vida' ela tinha certeza agora de que não ouvira. Se tivesse ouvido, teria usado como cláusula de um acordo que estava sendo quebrado. “Estou indo embora não porque não te amo, mas por te amar demais e não ter o mesmo de volta, eu não posso suportar oscilações de amor. Hoje me ama muito, amanhã mal fala comigo. Sou movida por intensidade constante , firme. Quero energia permanente, mas sei que você não pode me dar. Não é culpa sua, nem minha. Se tivermos de culpar alguém vamos pôr a culpa no destino, afinal para quem acredita foi por obra do destino que nos encontramos. Culpemos ele. Assim fica melhor. Não me sentirei mal e nem você será o vilão.” Agora chega o táxi, pega a mala e olha ao redor. Perfeito! “Como tudo era perfeito! Mas só eu via isso!”

#prose #crônicas

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A VIDA É FEITA DE ACASOS (apresentação)

A vida é feita de acasos. No colégio, em uma turma de desconhecidos, um será o teu melhor amigo ou inimigo pela vida toda. Tenho um amigo assim. Foi durante um período difícil que me indicou um médico que poderia me ajudar. 

Para um bipolar – eu conheço bem – a realidade é a parte. Somos várias pessoas ao mesmo tempo, mas apresentando características bem definidas ou se está alegre muito alegre chegando à euforia desmedida ou se está muito triste – depressão, até não conseguir sair da cama por dias, além da irritabilidade e impaciência ocasionais. 

Pensei em loucura, pois o inesperado te tira da rotina e você não está pronta para isso. Não consegue segurar a onda. 

Esse médico além dos psicofármacos me “receitou” também escrever. Escrever para esvaziar um pouco a cabeça, soltar todos os pensamentos, gritos, palavras que povoam a minha mente e onde eu não tinha mais certeza de quais eram os meus pensamentos verdadeiros. Quais eram meus? Estaria ouvindo vozes? Meu Deus! 

Mas todos eram pensamentos só meus. Só que desalinhados, desorganizados, prontos para saírem. Eu não sabia disso. 

Mas tudo quando se é explicado e proposto tem cura. A doença não tem cura, mas tem tratamento para mim: psicofármacos (essencial no momento) e escrever. A combinação dos dois está me dando equilíbrio, pelo menos, para poder ouvir cada pensamento de cada vez. 

Ainda não estou bem. Não estou o normal suficiente para encarar a vida de frente, com calma, pensando friamente. A violência é, às vezes, a forma que encontro para resolver os problemas que aparecem para mim. Estou errada, eu sei. Mas não controlo a ira. Ela faz parte do processo. 

Troquei o dia pela noite. Mas a noite até certo ponto é melhor para pensar e escrever: a casa toda dorme – as pessoas, os cachorros, a rua. Tudo calmo. Até eu. 

Vou começando e tortuosamente me intrometendo no mundo das letras. Não espero ser uma escritora famosa, nem comentada. O que eu quero é ter meus pensamentos organizados para que eu possa me organizar também. Suportando e sabendo lidar com os problemas diários, e aos poucos me livrando dos remédios que ainda me prendem, me trancam; afinal é o papel deles: reterem uma represa preste a explodir. Os remédios são os remendos. Até agora tudo bem. 

“As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.” Lilian Tonet 

#crônica; vida; instabilidade; aceitação