Tumgik
#bpoetry
meucalipto · 8 years
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A primeira vez que a vi, tudo na minha cabeça ficou quieto. Todos os tiques, todas as imagens constantes passando simplesmente desapareceram. Quando você tem Transtorno Obsessivo Compulsivo você realmente não tem momentos tranquilos. Mesmo na cama eu estou pensando “Será que tranquei as portas? Sim. Será que lavei as mãos? Sim.”. Mas quando a vi, a única coisa que eu conseguia pensar era na curva delicada dos seus lábios… Ou no cílio na bochecha. Eu sabia que tinha que falar com ela. Eu a convidei para sair seis vezes em trinta segundos. Ela disse que sim depois do terceiro, mas nenhum deles parecia certo, então eu tinha que continuar. Em nosso primeiro encontro, eu passei mais tempo organizando a minha comida por cor do que comendo, ou falando com ela… Mas ela adorou. Ela adorava que eu tinha que beijá-la dezesseis vezes antes do adeus ou vinte e quatro vezes se era quarta-feira. Ela adorava que levava muito tempo para ir para casa por causa das rachaduras na calçada. Quando fomos morar juntos, ela disse que se sentia segura porque ninguém jamais nos roubaria já que eu definitivamente tranquei a porta dezoito vezes. Eu sempre olhava sua boca quando falava. Quando ela disse que me amava sua boca se curvava nos cantos. A noite ela deitava e ficava me olhando enquanto desligava as luzes. Acendia, desligava, acendia, desligava. Ela fechava os olhos e imaginava que os dias e as noites passavam em frente a ela. Algumas manhãs eu começava a beijá-la, mas ela apenas saía porque eu a estava atrasando para o trabalho… Quando eu parei na frente de uma rachadura na calçada, ela apenas continuou andando… Quando ela disse que me amava sua boca era uma linha reta. Ela me disse que eu estava tomando muito do seu tempo. Na semana passada ela começou a dormir na casa de sua mãe. Ela me disse que não deveria ter me deixado ficar tão apegado a ela, que a coisa toda foi um erro, mas… como pode ser um erro que eu não tenha que lavar as mãos depois de tocá-la? O amor não é um erro e está me matando que ela pode correr disso e eu não. Não posso! Não posso sair e encontrar alguém novo porque sempre penso nela. Normalmente, quando fico obsessivo sobre as coisas, eu vejo germes se esgueirando na minha pele, vejo-me esmagado por uma sucessão interminável de carros… E ela foi a primeira coisa linda ao qual eu já fiquei preso. Eu quero acordar todas as manhãs pensando na maneira como ela segura o volante. Como ela gira os botões do chuveiro como se estivesse abrindo um cofre. Como ela sopra as velas. Agora, só penso em quem a está beijando. Não consigo respirar porque ele só a beija uma vez, ele não se importa se é perfeito! Eu a quero tanto de volta… Deixo a porta destrancada. Deixo as luzes acessas.
Neil Hilborn, TOC.
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bapoet · 10 years
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My father is Appalachia noun see also: native to poverty see also: frostbitten boychild see also: winterrooted red nose. The constant dripdripdip of cold staining
his shirtsleeves. Drowning in the thickspit mucus of History Runs Thicker Than Family but not nearly as fast or far. My father, an orphan twice over, bred a legacy of bastards bearing his features and tendencies.
He called me from her deathbed three months before she died saying Goinggoinggone. I only saw him cry once: sitting at the kitchen table I said Going. Going. Gone. 
And I went. 
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