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Fábio Rubira: Professor Guilherme Wisnik, fim do carnaval, pelo menos aí no calendário oficial, o que vemos aí, o que vimos, foram muitos blocos nas ruas de São Paulo, um renascimento do carnaval paulistano?
Guilherme Wisnik: Olha, exato. Eu acho que é mais um nascimento do que um renascimento. Eu acho que o carnaval paulistano, São Paulo, que sempre foi conhecido como o “túmulo do samba”, eu acho que agora, definitivamente, parece abandonar esse lugar para se tornar um lugar onde a festa popular de rua ligada ao carnaval é sólida. Nós vimos isso até agora, quer dizer, este último fim de semana, já depois do carnaval, ainda foi bastante intenso de blocos, de shows e etc. E eu acho que este fenômeno... as pessoas se perguntam sobre as razões disso né. Eu vou arriscar aqui alguma reflexão sobre o assunto. Evidentemente ele está ligado a, esse sim, o renascimento do carnaval de rua em outros lugares do Brasil, por exemplo no Rio de Janeiro: passou-se muito tempo em que o carnaval de rua tinha declinado e hoje volta com tudo. Quer dizer, o surgimento disso em São Paulo eu acho que tem a ver com esse fenômeno mais amplo que está ligado com uma vontade geral, digamos, do povo brasileiro nesse momento histórico que nós vivemos de celebrar e de ocupar as ruas. Eu acho que isso evidentemente tem relações com uma espécie de espírito do tempo em que movimentos de ocupar e primaveras tomam, com sentido politizado, mas também de festa, ruas de cidades do mundo inteiro e cenas eletrônicas e festas e raves, também em que o espaço urbano é um lugar prioritário de apropriação para o acontecimento dessas festas, o que tem acontecido também muito em São Paulo, e isso é muito interessante. Tudo isso tem a ver com o fato de que há uma geração de pessoas muito grande que tem acesso através da internet às coisas que se passam muito mais fora do Brasil hoje em dia do que antes, e além disso muito mais gente que viaja também, viaja mais facilmente, e que conhece o contexto de outros lugares do mundo em que o espaço público é praticado verdadeiramente. Se o carnaval foi uma festa de rua muito forte e intensa, talvez até os anos 1970, a partir dos anos 1980 é o momento em que ele passa a ser domado pelas formas de consumo mais estandardizadas, propagandas, e também os cordões, os blocos, os patrocínios, as áreas VIPs... Quer dizer, o florescimento do nosso carnaval de rua hoje expressa, em grande medida, uma reação a isso. Uma vontade genuína que as pessoas têm de celebrar de uma forma mais democrática, mais horizontal, menos controlada. Isso é a maior maravilha que tem nesse fenômeno e que a gente encontra hoje, ainda que ele provoque conflitos.. o carnaval de rua, Vila Madalena, não só... muitos moradores reclamam, não é? Mas esse conflito é muito sintomático e positivo de uma ativação do espaço público. Então, para terminar, eu acho que esse ativismo, ele se liga ao hedonismo. E a pergunta que fica para nós é a inquietante contradição que há entre esse certo amadurecimento da sociedade civil, nesses movimentos ativistas e de festa, e esse enorme regressão política que a gente vive hoje. Eu não sou capaz de responder a essa pergunta sobre a contradição agora, mas eu queria dizer que, claramente, o novo prefeito de São Paulo, João Doria, ele representa uma força de oposição a esse amadurecimento, a essa cultura de rua florescente. Claramente ele está contra os graffitis e os pixos, ele tentou domar o carnaval de rua minando as suas bases principais, mas só conseguiu, com isso, reascender a reação. Então, o que eu queria ressaltar é a importância dessa reação e dizer que essas culturas populares e genuínas elas florescem mais até no momento em que elas são tolhidas porque elas têm que se organizar contra essas formas de repressão, e eu acho que é isso que nós vivemos hoje.
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Para 2018, o trabalho deve começar desde já. O Carnaval de Rua de São Paulo é uma realidade que não se pode lutar contra: não é uma novidade que aceita improviso, nem imprevistos, como os problemas de recolhimento de lixo no pré-Carnaval. O prefeito João Doria admitiu falhas: esperava um público de 250 mil, mas foram 700 mil apenas na região da Vila Madalena e Pinheiros. Nos demais dias, o erro foi reparado e a limpeza pós-blocos foi mais eficiente.
O modelo que São Paulo escolheu é esse que vem sendo desenhado nos últimos anos: festa nas ruas, de graça, sem abadás, camarotes ou confinados em um circuito. O poder público é bem-vindo não para impor regras ou limitar a folia imperativamente, mas para estabelecer diálogos com os produtores de blocos e, juntos, se aprimorar aquele que pode se tornar o maior e mais lucrativo evento da cidade.
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Neste curtíssimo espaço, vou falar apenas de um dos gritos que esteve presente, entre tantos outros, nas ruas carnavalescas: “a cidade é nossa” – uma espécie de síntese das reivindicações de movimentos socioculturais atuantes em São Paulo já há mais de uma década, que vão na direção da apropriação do espaço da cidade, especialmente os espaços públicos, por seus moradores.
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“A cidade é nossa” afirma que São Paulo é nosso bem comum, nossa propriedade coletiva. Não é do prefeito, vereador, governador, presidente, nem do partido, da empreiteira ou do juiz. Não está à venda, e, sendo nossa, só nós mesmos é que podemos decidir sobre seu futuro.
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"Provavelmente não faremos mais Carnaval na Vila Madalena, não há condições pra isso. A Vila Madalena fica muito machucada, muito afetadas. Embora tenha bares, restaurantes, comércio, é um bairro eminentemente residencial", afirmou, destacando que não se trata apenas do descanso dos moradores, mas também do acesso às casas que fica comprometido durante as festas.
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Porque o Carnaval –inclusive em seu eventual valor comercial– transcende seu aspecto físico.
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Ignorar o Carnaval, ou achar que seria possível privatizar o Carnaval: em ambos os casos, é da capacidade de articulação e produção cultural de uma parcela enorme da população de nossas cidades que está se fazendo pouco caso. E é no Carnaval –na sua irreverência radical, na sua força ancestral, na sua capacidade de transbordar os confins das avenidas predestinadas e ocupar as cidades e pressionar suas veias e inverter suas lógicas particularizantes– que ainda podemos vislumbrar um pouquinho do melhor de nós mesmos, e do que, juntos, podemos ser.
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Manifestações de afirmação étnicas, religiosas, linguísticas, de gênero ou idade se apropriaram do carnaval de rua. E organizaram um rito próprio de ocupação dos espaços públicos, de resgate da história e identidade, de exercício da livre expressão. E de valorização de uma das grandes marcas da cidade de São Paulo: a energia da diversidade.
[...]
O carnaval provou ser não apenas tempo e espaço de festa passiva. É festa ativa, é festa das ruas. Arte e comunicação ocuparam espaços como nunca nessa temporada de democracia tão maltratada, em busca de cidade linda de verdade. De quebra, respondeu à tentativa do prefeito recém-chegado de confinar o carnaval de rua dentro de um sambódromo. Afinal, como escreveu a escritora e ativista canadense Jane Jacobs, ���há um aspecto ainda mais vil que a feiura ou a desordem patentes, que é a máscara ignóbil da pretensa ordem, estabelecida por meio do menosprezo ou da supressão da ordem verdadeira que luta para existir e ser atendida”.
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Os blocos produziram uma virada na festa em praticamente todo o Brasil, trouxeram uma renovação e muito mais alergia. Espontaneamente, os foliões se mobilizaram para brincar o carnaval. Os blocos passaram a incorporar milhões de pessoas, unidas por um desejo de desfrutar a vida, de vivenciar a liberdade que a festa propicia. Assim, o carnaval acompanha a tendência da cidadania de uma maior ocupação do espaço urbano e de participação.
O carnaval sempre foi espaço de manifestações políticas, de crítica social, e hoje se tornou cenário de resistência contra a homofobia, o racismo, a intolerância, e onde o feminismo vem marcando presença cada vez mais forte.
[...] A festa ocupou as ruas, ressignificando o território.    
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