outfoxing the fox ╱ task five
i looked back, bracing the wind; a thousand emotions beset me.
who knows if, with such thoughts,
i will not find my destiny further intertwined with yours?
Trigger warning: sufocamento, autodepreciação.
Nota OOC: eu coloquei o pov em um docs para os que preferirem ler por lá, já que a leitura em themes do tumblr pode ser chatinha. A inspiração para ele veio de lendas do Leste Asiático.
PARTE I: O ANEL.
O que você faz? Araminta queria perguntar ao anel, que cutucava com uma pinça, incerta demais para tocá-lo com os próprios dedos. Qi Liang havia conquistado-o para ela na barraca de tiro ao alvo como prêmio na Ilha dos Prazeres, mas a aprendiz não ousara colocá-lo em si mesma. Curiosa como fosse, não era idiota para tocar um objeto amaldiçoado sem antes saber quais seriam as consequências.
O anel parecia ser feito de prata e, em seu centro, havia uma grande pedra vermelha de formato oval. Na parte de dentro do aro, figuras em uma língua ou código que ela desconhecia foram gravadas, enquanto na parte de fora era adornado de desenhos espirais. Pelo tamanho, Araminta soube que era destinado a uma mão masculina. Deduzira que a joia pertencera a alguém abastado; talvez fosse uma relíquia passada por gerações entre uma família, eventualmente perdida e encontrada por alguém do parque na Ilha. Talvez fosse usada por algum mago ou feiticeiro, o que explicaria a estranha e angustiante aura que o objeto emanava quando a imrense passava tempo demais com ele por perto. Ou, talvez, tenha simplesmente sido roubada de um nobre e vendida ao Cocheiro. Qualquer que fosse sua origem, ela queria descobri-la.
Durante aquelas semanas, Araminta ocupara-se com locar quaisquer livros da biblioteca que pudessem auxiliá-la na busca. Livros sobre maldições, registros de famílias nobres de Mítica, dicionários de línguas antigas, enciclopédias de arcanismo… Certamente, para os que observavam de fora, era impressionante como a jovem arranjava tempo para ler tudo aquilo e, ainda assim, lidar com suas disciplinas e extracurriculares, especialmente em uma época tão caótica quanto a que viviam. Bem, a resposta encontrava-se no próprio questionamento: se já estava curiosa sobre o anel antes, depois do que ouvira de Qi Liang na noite do Calanmai, de sua última conversa com Hugo e do desastre que a abertura dos jogos intercasas se tornou, viu-se desesperada por algo que a distraísse da própria cabeça.
Normalmente, esta responsabilidade era atribuída à costura e a dança. Mas enquanto estivera, de fato, passando mais tempo no ateliê de costura do que normalmente fazia, o estúdio de dança tornara-se uma área proibida pelos próximos trinta dias; o ataque dos ogros rendera-lhe uma costela quebrada e um tornozelo torcido, e a curandeira insistiu que ela recebesse dispensa de todas as atividades físicas até que estivesse inteiramente saudável. Todos os dias, desde o jogo, passava na enfermaria para pegar um frasco de poção para os ossos e outro para as dores. Já havia machucado o tornozelo antes, afinal, era uma dançarina, só não esperava que a costela fosse incomodá-la tanto (nem que levaria tanto tempo para voltar ao lugar). Assim, a energia que gastava ensaiando agora precisava ser canalizada em outra ocupação, e se não podia exercitar o corpo, que exercitasse a mente inquieta.
No entanto, mesmo depois de muita pesquisa, Araminta continuou no mesmo ponto em que começara. Não sabia quem era o dono do anel, nem o que ele fazia, nem o que os símbolos gravados nele significavam. Mistérios costumavam atraí-la — um bom desafio sempre significava diversão —, porém, com tantos problemas em suas costas para resolver, gostaria que pudesse solucionar ao menos aquele. Sem ter sequer uma pista, voltava a pensar no que acontecia ao seu redor e, pelo Narrador, se passasse mais um minuto sem se alienar, era capaz de explodir.
À porta do dormitório, ouviu uma chave girar na fechadura. Anette havia voltado. Rapidamente, Araminta fechou a caixinha do anel, levantou-se da cama e foi até o guarda-roupa. O fundo falso do móvel nunca fora de tanto auxílio, pois tornara-se o esconderijo da joia enquanto ela ainda não havia a decifrado. Levantou a madeira, colocou a caixa no compartimento escondido e o tampou. A quantidade de roupas no armário disfarçava com segurança a linha que denunciava seu segredo, uma vantagem para Araminta, que escutara alguns de seus colegas queixarem-se de pertences desaparecidos após o dia do ataque.
O maior mistério de todos, entretanto, continuava em aberto. Uma vez era um acontecimento: o desaparecimento de Jason Bee, em dezembro do ano anterior. Duas vezes era uma coincidência: a maldição do sono. Três vezes, ataque inimigo: o desaparecimento dos aprendizes no Trem Fantasma da Ilha dos Prazeres. Quatro, então… Estava certa de que o que acontecera no jogo de beisebol conectava-se aos outros eventos fora do comum que abateram Aether nos últimos meses, e o fato de que Merlin não encontrara um culpado para nenhum deles era o comprovante. Sob a redoma mágica, ela se perguntava quanto demoraria até que a quinta vez acontecesse. O que quer que estivesse preso com eles, certamente não estava feliz com isso — e como havia demonstrado anteriormente, possuía meios de desarmar o diretor. Quanto à sua identidade, Araminta não tinha teorias; somente sabia que portava poderes grandiosos o bastante para ir contra o maior mago de Mítica, e a percepção disso, por si só, era assustadora. O que outrora impressionaria De Vil era motivo para tirar-lhe o sono à noite, pensando nos aprendizes que foram levados, temendo que seus amigos fossem os próximos.
Que ela fosse a próxima. O pensamento de que poderia perder tudo estando tão perto de sua liberdade mantinha-a desperta mesmo depois das luzes se apagarem, quando o único brilho no quarto vinha da lua, refratado pela janela. Em toda sua confiança, Araminta não estava preparada para acreditar que havia a chance de acabar de mãos vazias, não depois de tanto tempo de espera.
PARTE II: VOZES.
Venha até mim…
As árvores farfalharam em uníssono, uma assombrosa melodia que gelava suas entranhas. De certa forma, era seduzente — como o frio na barriga logo antes de um salto. A brisa noturna tomou seus braços nus e a fez encolher-se na camisola, mas ela não se afastou. À sua frente, as árvores curvavam-se para moldar um caminho reto entre o bosque, convidando-a para que o adentrasse. Os pés de Araminta vacilaram, incertos se deveriam ou não dar o próximo passo, fincando-se na terra gelada.
Venha até mim resgatar seus amigos…
Marzia. Cheryl. Alizayd. De alguma maneira, sabia que era sobre eles — e os outros aprendizes desaparecidos — que as árvores sussurravam. Estiveram ali o tempo inteiro, bem debaixo de seus narizes? Queria crer que sim, que resgatá-los seria fácil. Na verdade, queria que qualquer coisa fosse fácil. Não recordava-se de alguma vez ter se sentido tão cansada, chegando ao ponto de não se importar em entregar-se a uma solução simples. Vivera uma vida trilhando o caminho difícil, pensando demais, se esforçando demais, fazendo tudo ao seu alcance para obter o melhor resultado possível. Não acreditava em intervenção divina, fosse do Narrador ou de qualquer outra entidade que os assistisse, mas o universo tinha que recompensá-la. Era o justo.
Venha até mim…
Subitamente, a ânsia para que entrasse na mata foi substituída por um medo paralisante. Sentiu o gelo espalhar-se por todo o corpo, prendendo-a no lugar, engolindo qualquer espaço que sobrasse para uma emoção que não fosse o completo pavor. A brisa soprou mais forte, balançando a copa das árvores, fazendo a grama dos jardins reverenciar o caminho na floresta. As árvores murmuraram outra vez:
Venha até mim ou os que ama serão os próximos…
Quando despertou, Araminta percebeu que lágrimas quentes escorriam por suas bochechas.
Ela olhou ao redor. Estava em sua cama novamente, nos dormitórios da Imre, com Anette a dormir na outra ponta do quarto. Foi um pesadelo. Sentada e de respiração ofegante, ela puxou ar para os pulmões e soltou-o lentamente, até que as batidas pesadas do coração voltassem a relaxar. Esfregou o dorso das mãos no rosto, enxugando as lágrimas. Não era a primeira vez que chorava enquanto dormia, mas era a primeira em certo tempo — e a primeira também a perturbá-la daquele jeito. Não quis ligar o abajur na mesa de cabeceira para não acordar a colega de quarto, então apanhou o transmissor e acendeu sua lanterna. Na tela do aparelho, viu que ainda era madrugada. Passou as pernas pela beira da cama e encaixou os pés em suas pantufas felpudas, da mesma cor lilás que a camisola.
Ao levantar-se, Araminta já sabia aonde queria ir. A torre da Casa de Jafar tinha uma visão privilegiada da Floresta Assombrada, majestosa à distância. Porém, como o anel amaldiçoado, o arvoredo agora exalava uma energia quase proibida; Araminta sentiu que, se a olhasse por mais tempo, seria sugada de volta para o sonho.
Balançou a cabeça, afastando a ideia. Um pesadelo, nada mais.
Quando enfim conseguira pegar no sono mais uma vez, o céu já tomava a cor alaranjada do início da manhã. Ela acordou com o barulho do despertador, sem um resquício sequer de descanso. Quando estava prestes a sair para o café da manhã, olhou para a janela uma última vez e, dela, voltou a avistar a floresta. Não havia maneira racional de explicar o incômodo em seu estômago ao lembrar-se daquela voz, e depois de desaparecimentos, maldições e ogros, Araminta finalmente o sentia: o pressentimento de que o que estava por vir era maior do que qualquer um deles.
●●●
Pelas noites que se seguiram, Araminta sonhou a mesma coisa. Certa madrugada acordara aos berros, para o espanto de Anette. Não era somente nos sonhos que os terrores a perseguiam, no entanto; pegara-se escutando a mesma voz durante o dia, nas aulas, no ateliê de costura, na biblioteca. Hospedara-se em sua consciência como um inquilino indesejado. Ainda assim, ela recusava-se a atender o chamado. Estava mesmo disposta a arriscar-se na Floresta Assombrada por um problema que não era seu? Ora, a responsabilidade de salvar os desaparecidos era de Merlin, não dela. Seus poderes eram ótimos para espionagem, mas não tanto para combate — como bem percebera no dia do jogo —, ao menos não enquanto não tivesse maior soberania sobre eles. Também duvidava que o que a aguardava na floresta fosse sequer derrotável, afinal, se sua teoria estivesse correta, era o mesmo indivíduo (ou indivíduos) que sabotavam o diretor do instituto desde o início do ano. Além disso, haviam as criaturas mágicas que habitavam a floresta, motivo para ser assombrada. Ninguém sabia exatamente o que morava ali, e era mais seguro dessa forma.
“Pensou sobre o que conversamos?” Ela escutou Hugo perguntá-la, retirando-a de seu devaneio. Estavam juntos no refeitório para o almoço e, apesar de estar ali há uns minutos, o prato em frente a Araminta continuava intacto. Ela ergueu o olhar e encontrou-o com o do amigo, que a encarava em antecipação.
“Ainda não.” Respondeu Araminta, frouxamente. Vozes e pesadelos à parte, aquele era um assunto que exigia mais que apenas uma semana para decidir-se sobre.
“Tudo bem, não precisa tomar uma decisão agora. Só quero que considere.”
Ela esteve considerando. A proposta ecoava em seus ouvidos como quando inicialmente a recebera, na semana anterior. Havia visitado o dormitório do amigo quando Qi Liang não estava presente, pois era ele o tópico em questão que desejava discutir, porém, a conversa tomou outro rumo quando Hugo mencionara o que se passava entre a realeza de Asablanca; Estrela havia retornado e estava em Aether. Apesar da realidade do outro ser distante da sua, Araminta sempre dispunha-se a dá-lo apoio e aconselhá-lo quanto às intrigas reais e familiares (destas, conhecia muito bem). Não era tão boa oferecendo suporte emocional como era bolando estratégias e resoluções objetivas, o que funcionava perfeitamente para Hugo, que, tal como ela, era melhor lidando com as situações de forma direta do que emotiva.
“Quando tudo isso acabar e eu tomar minha coroa de volta,” Disse ele, enquanto os dois estavam sentados à beira de sua cama. Araminta espectava-o com interesse; Hugo descansava as mãos sobre o próprio colo, entrelaçadas uma à outra. “precisarei de um conselheiro de confiança ao meu lado. Alguém que não esteja atrelado aos jogos políticos da realeza.” Araminta assentiu. Fazia sentido que o amigo ponderasse mudanças na corte, visto que, após seu próprio pai mostrar-se favorável a um golpe de estado contra ele, confiança não era mais uma garantia entre os moradores e funcionários do palácio. Contudo, ela falhara em compreender a verdadeira intenção que havia naquelas palavras. Hugo ergueu a cabeça e, neste momento, ela viu algo diferente em sua expressão. Os olhos acastanhados do príncipe miraram-na com um pedido não-dito. “Alguém que me conheça tão bem quanto eu o conheço.”
Precisara de alguns instantes para entender o que ele estava a oferecendo. A questão não era Araminta perceber-se inapta para o cargo: com a sincronia que ela e Hugo possuíam, trabalhar juntos fluiria naturalmente. Um rei havia de ser um exemplo para seu povo, mas o mesmo não precisava ser dito sobre seu conselheiro, que era, em seu melhor sentido, uma sombra. A mão direita que auxiliava, mas jamais usurpava-o de seu protagonismo. Era uma oportunidade de recomeço, sem os estigmas que a rodeavam em Aether ou em sua terra natal. Teria a carreira bem-sucedida que tanto almejava, daria à mãe a vida que sempre quis entregá-la, conquistaria seu conto ao lado do melhor amigo. Aquele pedido significava mais para Araminta do que Hugo provavelmente sabia, e, mesmo assim, também causava-lhe total indecisão. Porque a De Vil havia passado tantos anos convencendo-se de que seu destino era o de uma vilã, para obter vingança sobre as injustiças que os ditos heróis cometeram contra ela e a mãe, que o repentino pensamento de que poderia ir além era como um puxão de tapete.
Quando concorrera à presidência do Grêmio Estudantil, Araminta escolheu o lema de sua chapa por um motivo. Homo est architectus suae sorte. “O homem é o arquiteto de seu próprio destino”. Acreditava nele tanto quanto acreditava que o mundo não era feito apenas de heróis e vilões. Pretendia transformar Dillamond em um espaço igualitário, em que os descendentes fossem ouvidos e considerados independente das origens de seus pais; julgados por quem eram, e não por sua afiliação. Arquitetos de seus destinos. Por que, então, a vilania era o único destino que enxergava para si mesma?
Aquela conversa a orbitara mesmo após sair do dormitório do amigo, e orbitava-a também naquele momento, sentada de frente para ele, no refeitório. Continuou a fazê-lo até quando retirou-se para a própria Casa, e a quietude do quarto vazio recordou-a da voz dos pesadelos.
Venha até mim…
O que você quer? Araminta perguntou a si mesma. Era fama? Glória? Poder? Novamente, caminhou até a janela ao lado de sua cama, de onde a vista para a Floresta Assombrada quase fazia-a esquecer dos males que ela abrigava. Era o retorno de seus colegas? A segurança de Aether?
Venha até mim…
Em um futuro não muito distante, Araminta olharia para si mesma e apontaria o quão estúpida havia sido. Não era nenhuma heroína, muito menos uma aventureira e, pior ainda, não havia nada em seu âmago que a impulsionasse ao altruísmo. Contudo, havia um formigamento dentro de si mesma que a fazia pensar que ir à floresta era uma boa ideia, como se ela pudesse dar-lhe as respostas que queria. E como fora burra de cair naquela armadilha.
“Tá bem. Eu vou até você.”
PARTE III: VERDADEIRA FORMA.
Ir para a floresta no meio da madrugada sem qualquer preparo era, obviamente, uma ideia estúpida. Por isso, Araminta decidira ir não como si mesma, mas como outra coisa. Podia dar uma olhada no local, descobrir de onde vinha a voz e obter as informações que precisava sobre os colegas desaparecidos sem sequer colocar-se em perigo. Caso algo inesperado acontecesse, bastava voltar ao próprio corpo dentro do dormitório. Quanto ao animal que receberia sua consciência, ela já havia o escolhido; o falcão em que entrara no ataque fora adotado por Draco e, desde então, tinha até ganhado um nome: Rapina. De pernas cruzadas, Araminta se acomodou por cima da cama, deixando a consciência fluir para onde ela deveria ir. Caso estivesse acordada, Anette veria os olhos da amiga tornarem-se completamente brancos enquanto sua mente escapava do corpo e vagava pelos terrenos de Dillamond.
A presença de Rapina na Anilen foi sentida por Araminta, e a ave não hesitou em dar-lhe permissão. De repente, enxergava pelos olhos atentos do animal, empoleirado ao lado da cama de um Draco adormecido. Aproveitando-se da janela do quarto aberta, ela voou para fora da Casa da Árvore e seguiu floresta adentro.
Venha até mim...
Desta vez, a voz não mais parecia vir da floresta como um todo. Possuía uma origem, que estava mais e mais próxima, à medida que aprofundava-se na mata. Esquadrinhou os espaços entre as árvores, os galhos dos quais outras aves a observavam, clareiras que recebiam um pouco mais da luz da lua que o restante sombrio do bosque. Finalmente, a voz ecoou de novo, e Araminta conseguiu detectar de onde vinha. Mergulhou e pousou em um galho baixo, de onde via a entrada de uma pequena gruta, embora o que havia dentro estivesse completamente tomado pelas sombras. A rocha, ela percebera, estava cercada por uma névoa espessa, tal como boa parte daquele lado da floresta.
“Você se acha tão inteligente.” Algo — que não soava como a voz de seus pesadelos — dentro da gruta falou, fazendo as penas de Rapina se eriçarem. Araminta permaneceu imóvel e em silêncio. Estava falando com ela? Como se a respondesse, a voz afirmou: “Sim, estou falando com você. Não pode me enganar, mas se veio aqui no corpo de outro animal pensando que o faria, não merece minha atenção.” A aprendiz soube, então, que o discurso era diretamente dirigido a ela. As garras apertaram e soltaram o galho, inquietas. Sentia-se exposta, como se houvesse sido pega fazendo algo de errado. “Vá, e retorne apenas quando estiver em sua verdadeira forma. Assim, responderei suas perguntas.” Anunciou. Araminta demorou alguns instantes, mas enfim obedeceu à voz e alçou voo para longe da floresta.
Após deixar Rapina em segurança no dormitório de Draco, que continuava a dormir, ela encontrou-se de volta em seu corpo, sentado na cama. Anette, também adormecida, não notara sua saída. Inspirou fundo e deixou que o cansaço a tomasse — não estava acostumada a percorrer distâncias tão grandes no corpo de um animal e, agora que havia retornado, sentia-se exaurida. O cansaço, entretanto, n��o era o mesmo que sono, pois mesmo depois de deitar-se e enfiar-se por baixo das cobertas, o que a criatura na gruta a dissera não a permitia descansar. Havia um desafio ali. Araminta De Vil, que os adorava — e odiava ser subestimada —, o aceitaria.
Na noite seguinte, preparou-se para ir à floresta como si mesma. O transmissor estava completamente carregado, guardado no bolso da calça moletom que tinha esquecido possuir. Os usuais vestidos longos e glamurosos pouco combinavam com uma aventura no bosque, então foram substituídos por roupas mais práticas, assim como os saltos (que, graças ao tornozelo torcido, fora proibida de usar por uma semana) por tênis. Foi quando tirou as roupas do armário que encarou seu fundo falso, escondendo o que ela falhara em desvendar. Mesmo sob a madeira, a aura angustiante do anel perdurava, mas, naquele momento, havia algo distinto. Sua intuição pedia para que o levasse consigo. Araminta olhou por cima do ombro, para certificar-se que não despertara a colega de quarto, antes de cuidadosamente erguer o fundo de madeira e retirar a caixa do objeto. Pegou uma de suas bolsas transversais, jogou a caixinha dentro e saiu dos dormitórios das Imre.
Rapina guiou-a pela mata, pelo mesmo caminho que seguiram na noite anterior, enquanto a lanterna do transmissor da aprendiz o iluminava. A caminhada era muito mais longa do que o voo, mas, com o animal, sentia-se mais protegida ao atravessar o lado obscuro da floresta. Quando outra vez a gruta revelou-se para ela, Araminta hesitou em se aproximar. A névoa cobria-lhe até o meio da canela, mesmo a uma distância segura da entrada, e a escuridão não permitia-lhe ver nada do que havia além dela. Rapina empoleirou-se no galho de uma árvore próxima, assistindo à cena em vigilância. Apontando a luz do transmissor para a caverna, a jovem proclamou:
“Estou aqui. Em minha verdadeira forma, como você pediu.”
Por alguns segundos, o silêncio. Começava a arrepender-se de aparecer ali sem saber o que estava enfrentando, mas então, uma voz. A voz.
“Muito bem. Você tem coragem, isso preciso admitir, Srta. De Vil.”
A maneira como ela enunciara seu sobrenome deixou Araminta enojada. Soava debochado, ofensivo, assim como quando a chamara de inteligente na noite passada. A aprendiz engoliu em seco e perguntou:
“Não vai aparecer? Eu te mostrei minha verdadeira forma, devia me mostrar a sua também.”
Era ousado de sua parte, fazer exigências a uma criatura desconhecida da floresta, porém, a pergunta funcionara. Das sombras da gruta, uma figura semi-humanóide saiu, expondo-se à lanterna do transmissor. Pela aparência, parecia ser um pouco mais alta que ela; era coberta por pelos e tinha olhos fundos e amarelos, que brilhavam diante da luz artificial. Araminta reparou que, embora possuísse pernas longas, a criatura andava sobre quatro patas. As orelhas grandes e a mandíbula para a frente compunham um rosto que, apesar de apresentar traços humanos, era predominantemente animalesco.
“Você é um…”
“Macaco, sim, todos dizem isso.” A criatura a interrompeu. Ela sentou-se em uma rocha, um pouco mais próxima da aprendiz, que em retorno deu alguns passos para trás. “Mas esperava que alguém como você talvez pudesse me conhecer.”
“Alguém como eu?” Araminta questionou, confusa. Um aprendiz de Merlin? Ou alguém com uma conexão com os animais? Seus olhos se apertaram enquanto ela tentava entender o que aquilo significava. Foi assim que um lampejo de memória trouxe a lembrança de uma aula de Criaturas Mágicas, em seus primeiros anos em Aether. O professor havia requisitado que produzissem um trabalho escrito sobre uma criatura originária de suas culturas, mas Araminta, que não possuía tanto contato com a magia em sua terra natal como no instituto, não conhecia muitas criaturas de seu reino. Procurara, portanto, por criaturas do reino de origem de seus ancestrais, uma herança que perdera-se entre as gerações dos De Vil. Quando Cruella nascera, sua família já havia, há muito tempo, abandonado o lugar. A criatura que escolhera era um demônio das montanhas que tomava a forma de um homem-macaco, e cujas habilidades telepáticas eram usadas para atormentar suas vítimas. As lendas afirmavam que, antes de devorá-las, as perturbavam com seus próprios pensamentos, até que estivessem tão emocionalmente fragilizadas que sequer lutariam contra. “Você é um no-ang-seol.” Disse, por fim.
“No-ang-seol. Satori. Yamabiko. Já fui chamado de muitas coisas.” O homem-macaco retrucou. Parecia satisfeito por ter sido reconhecido.
“Pensei que sua espécie habitava montanhas, em reinos bem distantes daqui. O que faz nesta floresta?”
“Poderia perguntar-lhe o mesmo, não? Embora, para esta pergunta, eu já saiba a resposta. Pessoas vão a muitos lugares por muitos motivos, Srta. De Vil, não acho que preciso explicá-la isso.”
Aquilo confirmou o que Araminta temia: ele já estava em sua mente. Assim que este pensamento a ocorrera, o no-ang-seol exibiu um pequeno sorriso. Mesmo aquele pequeno raciocínio fora ouvido.
“Foi você quem…”
“Não, não fui eu quem raptei aquelas crianças, nem quem a chamou aqui, a propósito.” Ele a cortou outra vez, não permitindo que terminasse sua frase. Era o principal comportamento descrito nas lendas do no-ang-seol: falar em voz alta os pensamentos de suas vítimas antes que elas mesmas pudessem colocá-los para fora.
“Então quem foi?” O tom seco não passava de uma tentativa de parecer firme, que, considerando os poderes da criatura, não era de serventia alguma. Sabia que estava nervosa, que sentia-se insegura, que queria ir embora antes que ela achasse coisas em sua mente que deveriam continuar escondidas.
“Por que precisa saber?” A pergunta foi seguida de silêncio. O no-ang-seol pendeu a cabeça para o lado, como se a estudasse. Araminta entendeu o que estava acontecendo, e suas entranhas gelaram tal como fizeram em seu sonho. “Ah, entendo. Você veio para salvá-los. Não por vontade, é claro, por mais que... Marzia, sua amiga, sim? Está entre os desaparecidos. Mas esta não é sua preocupação... Você está preocupada com os que ainda estão no castelo. Tem medo de perdê-los. Ora, sempre achou que os abandonaria primeiro, não podem fazer isso com você.”
A mandíbula de Araminta travou. Aquela era uma ideia que jamais havia compartilhado com outro alguém, pois custava-lhe admitir que receava a partida de seus amigos. Estando em seu último ano, sempre imaginara a si mesma deixando-os primeiro; aos mais novos, cederia seus conselhos de como sobreviver ao instituto pelos anos seguintes, e aos colegas de sua idade, prometeria mensagens e visitas que gradualmente viriam a ser mais espaçadas, até que deixassem de existir por completo. Uma separação lenta e indolor. Não poderiam continuar amigos, afinal, não quando De Vil era tomada por manias de grandeza, não quando sentia-se tão diminuta que precisava fingir ser grandiosa para abafar o sentimento. Contudo, se a deixassem primeiro, o coração já pequeno certamente murcharia com a perda fora de seus termos, tão frustrado ficaria com ser o que mais sentia. Sentir era um quesito problemático para alguém que tanto se esforçava para criar uma caricatura de si mesma.
“Pare.” Ela demandou. “Não vim aqui para uma sessão de terapia, vim para obter respostas. As que você me prometeu.”
O homem-macaco não parecia surpreso — não poderia estar, afinal —, mas os olhos amarelados ainda fitaram-na com curiosidade.
“Nós nem sempre conseguimos o que queremos, Srta. De Vil, você sabe disso. Mas por que a ideia de que leiam sua mente tanto a perturba? Sente-se invadida? Violada? Ou é porque não quer encarar o que há dentro dela?” Araminta não precisou verbalizar uma resposta para que o no-ang-seol a obtesse. “Ah, sim, eu os vejo. Todos eles. Seus fantasmas.”
Em algumas histórias sobre o no-ang-seol, associavam-no também ao dom de emular vozes humanas. Araminta não recordava-se deste detalhe até, para o seu horror, escutar a voz da própria mãe sair da boca da criatura.
“Aquela que admira.” O sotaque britânico de Cruella ressoou, a imagem da criatura a usá-lo perturbadora demais para que a jovem impedisse o rosto de torcer-se em uma careta. “Aquelas que quer proteger.” Outra voz — duas, na realidade. Reconhecia os timbres doces de Delilah e Meili, juntos aos sotaques facilmente distinguíveis um do outro. “Aqueles em quem confia.” Desta vez, vozes masculinas. O no-ang-seol imitou Draco e Hugo. “Aquela que inveja.” Autumn. A percepção de quem era a dona daquela voz feriu-lhe o orgulho, mas não mais do que o que veio em seguida: “Aquele que ama.” Disse a criatura, na voz de Qi Liang. “Aquela que teme mais que qualquer outro.” Algo dentro de Araminta pesou quando ela percebeu que a última voz pertencia a si mesma. “Sim, no fim tudo se resume a isso, não é? Medo. Você prefere tornar-se a vilã de sua própria história do que aventurar-se no desconhecido, de tentar e falhar. Falha. Insuficiência. Indigna de atenção, indigna de felicidade, indigna de amor. As coisas sempre ficam pela metade com você, não ficam, Srta. De Vil? Você se convence do que deseja, de que só precisa de si mesma, mas, no fim, conhece a verdade. Você teme a solidão.”
A palavra prolongou-se mesmo após partir da boca do demônio. Sim, no fim, tudo resumia-se àquilo. Solidão, o medo de terminar sozinha. A certeza de que não era o suficiente para que alguém ficasse. Era melhor que abandonasse primeiro, assim não teria de lidar com a eventual ida — porque ela viria, sim, ela sempre vinha, todos os seus relacionamentos tinham um prazo de validade. Os que criam em suas qualidades se desencantariam quando os defeitos as abocanhassem, tal como o mundo fazia com os ingênuos, enquanto os que permaneciam ao seu lado pelo alinhamento em comum se afastariam, ambos absortos demais no próprio egoísmo para zelar por uma amizade que não ofereceria uma moeda de troca.
O no-ang-seol levantou-se da rocha e aproximou-se da aprendiz, mas ela não recuou. Como no sonho, estava paralisada. Pensar aquelas coisas e ouvi-las em voz alta causavam sensações distintas. Tornavam-nas reais. Tudo do qual havia fugido nos últimos dias, ocupando-se com tarefas sem fim, procurando pelo que a distraísse de si mesma, agora era jogado em sua face num só sopro.
“Sua mãe a ama, claro que sim, mas não é o bastante. Ainda que também a ame, há um peso. Você sente que cuida dela mais do que ela o faz por você. Seus amigos a amam, mas até quando? Uma vez que pisar seus pés no mundo afora, não haverá escapatória. Para sobreviver, precisará de um conto, e você sempre acreditou na sobrevivência do mais apto, não é?” Araminta permaneceu silenciosa. Lembrou-se da conversa que tivera com Delilah na noite do Calanmai. Do quão dura fora com a amiga, dizendo-a para criar coragem e aprender a lidar com confrontos, como se fosse simples daquele jeito. Era a criação que Cruella havia dado: amor bruto, o único que conhecera antes de Aether e também o único que sabia dar. “Não há amor para vilões que não venha de seus próprios filhos, Srta. De Vil, pois eles são ensinados a isso. E assim você se tornará como sua mãe, sozinha, amarga, assistindo ao mundo lá fora pela janela. Eternidade, mas a que custo?”
Um custo alto demais.
“Você não sabe nada sobre mim.” Havia um resquício de firmeza nos olhos de Araminta, que, apesar de marejados, miravam a criatura fulminantemente. Ela, por outro lado, pouco aparentava se importar com as promessas vazias de valentia. Assim, deu mais um passo.
“Pelo contrário, logo eu saberei tudo. As coisas boas, as ruins, seu passado, seu presente e até mesmo seu futuro. E você desejará que eu as tome, sim, porque assim não precisará lidar com a possibilidade de um erro.”
Erro. Ali estava a palavra que andara procurando. Ultimamente, Araminta sentia estar andando em direção ao erro. Deixara-se amolecer, importar com o bem estar além do próprio. Tornara-se uma confidente, uma conselheira, alguém a quem os amigos recorriam quando estavam com problemas, e embora não soubesse demonstrá-los sua preocupação da forma correta, ela estava lá: na grosseria de seus conselhos, nos abraços pouco dados, nos pequenos gestos de carinho, no amor bruto.
Porém, mais que isso, Araminta tornara-se uma protetora. As adversidades dos últimos meses revelaram seu lado defensor, aquele que faria o possível e impossível pelos amigos, até colocar a própria segurança em risco. Seu senso de autopreservação dera lugar à empatia e o cuidado, dois elementos tremendamente inconstantes e, por isso, perigosos, pois inconstâncias eram a chave para o erro. Por catorze anos, Cruella a alertara sobre deixar que outros se aproximassem, para não confiar em qualquer pessoa além de si mesma; se não fossem obstáculos, seriam traidores, que lhe passariam a perna na primeira oportunidade. Fora ensinada a viver a vida como jogava uma partida de xadrez, manipulando os outros como peças, estudando que jogada seria a mais vantajosa e pondo seus peões para conquistá-la a vitória. Meios para um fim que beneficiaria somente a ela. No entanto, desde o desaparecimento de Jason Bee, ela não mais sentia-se como uma jogadora. A partida continuava a acontecer à sua frente, mas as peças moviam-se sem sua permissão, caminhando para um xeque-mate cada vez mais próximo. Estava perdendo o controle, de si mesma e dos outros. Desde quando arriscava-se para salvar a vida alheia? E desde quando arriscavam as suas por ela? Quando dera a permissão para que a enxergassem como algo além da mulher vil, traiçoeira e individualista que era?
Mas, quanto mais pensava sobre ela, menos certeza tinha de que queria sê-la. Certa vez dissera a Melena que não nascera má, mas se era tratada como um desastre prestes a acontecer, tornava-se questão de tempo até que ela mesma acreditasse nisso. Enquanto Araminta jamais deixaria seus impulsos de lado, fazer o mal por puro prazer não era um objetivo. Podia debochar, fazer comentários sarcásticos, espionar e chantagear, mas, em seu cerne, a verdade era que ansiava pela tranquilidade. Pelo direito da própria escolha, fosse esta ser uma vilã, uma heroína ou nenhum dos dois. Pela felicidade da mãe, pelas atividades que gostava, pelas pessoas que prezava. Simples, como tanto queria que aquela situação fosse. Simples, como nada nunca fora para ela.
O no-ang-seol deu mais um passo à frente, atento à expressão alheia.
Este fora o verdadeiro erro de Araminta De Vil. Não abrir-se para os próprios sentimentos, mas sim acreditar que tinha algum controle sobre os outros — sobre si mesma —, porque, por mais que desejasse, sua vida não era um tabuleiro de xadrez. Não haviam peças pretas ou brancas, nem poderia ela movimentá-las como e quando quisesse sem que as mesmas protestassem. Eram arquitetas do próprio destino, tal como ela. E a falha aconteceria, ela sempre aconteceria, mas não era sinônimo de tudo perdido. Com as falhas, aprenderia como seguir adiante, e ao lado dos que pela aprendiz velavam, jamais estaria desamparada. Não precisava colocar-se em uma caixa, tinha a eternidade inteira para compreender o que era. Se quisesse sentir, que sentisse. Se fosse egoísta, que fosse. Tons de cinza eram muito mais interessantes do que duas só cores.
O erro do no-ang-seol, entretanto, fora pensar que a domaria tão fácil.
Outro detalhe sobre as lendas do demônio era que, para derrotá-lo, sua vítima teria que esvaziar a mente por completo. Se ele não pudesse lê-la, não havia como atormentá-la, e assim tornava-se tão aborrecido pela astúcia alheia que perdia suas forças. Ao gradualmente recobrar suas emoções, Araminta lembrou desse detalhe; porém, esvaziar a mente parecia, para ela, inconcebível. Como poderia esvaziar o que nunca estava vazio? Sua cabeça era uma confusão de ideias e possibilidades, vontades que não cessavam, frases embaralhadas e uma sobre a outra. Se mente vazia fosse mesmo oficina do diabo, seu sobrenome não seria De Vil.
Cogitara clamar pelo auxílio de Rapina, ou qualquer outro animal que a ouvisse naquela floresta, todavia, o plano não funcionaria; a criatura leria seus pensamentos assim que os tivesse e desviaria do ataque. Investir contra ele também não adiantaria — além de ele prever seus movimentos, Araminta não era dotada de muita força física. Se ao menos conseguisse distraí-lo por tempo o suficiente...
A mesma sensação desconfortante que sentira no dormitório se fez presente. Não, não a de quando olhara pela janela — a de quando abrira o armário para pegar suas roupas, antes de ir à floresta. A que sentia desde a Ilha dos Prazeres, quando tomou posse do anel da barraca de tiro ao alvo. O anel. Em sua bolsa, ele emanava uma energia magnética, ordenando que o pegasse, e, neste momento, Araminta percebeu que havia mais de uma maneira de derrotar o demônio.
Ora, se não podia esvaziar a mente, que a inundasse.
O anel. O anel. O anel. O anel. Repetia de novo e de novo, afogando seus pensamentos, acobertando-os para que a criatura não conseguisse lê-los. Com o barulho em sua cabeça, não haveria como concentrar-se em qualquer coisa que não o objeto amaldiçoado.
“Anel?” O homem-macaco indagou, mais para si mesmo do que para a aprendiz. Araminta olhou de relance para a bolsa transversal. A isca estava plantada.
Bem, se curiosidade havia matado o gato, talvez também matasse um macaco.
“O que é esse anel?”
“Nada. É da minha conta, não sua.” O no-ang-seol soltou uma risada de escárnio.
“Você ainda tem coragem. Não desiste fácil. É admirável. Gosto quando minhas presas tentam revidar.”
Ela não teve tempo para reagir: num piscar de olhos, a criatura atirou-se nela e arrancou-lhe a bolsa, com uma violência surpreendente em comparação ao quão retida estivera até então. Araminta tinha uma janela de meros segundos para enganá-la. Rapina estava a postos e, quando ela pediu por sua ajuda, desceu diretamente no no-ang-seol, enfiando-lhe as garras nos olhos e rasgando-lhe o rosto. A criatura urrou de dor, e a bolsa com a caixa do anel caiu ao seu lado. Araminta apanhou um galho solto, correu até o demônio e, assim que a ave dera-lhe espaço, empurrou o pedaço de madeira contra o pescoço dele, imobilizando-o no chão.
“Me diga o que sabe sobre os aprendizes desaparecidos. Agora!” Exigiu entre os dentes. O no-ang-seol, com a visão prejudicada pelo falcão, inicialmente pareceu perdido. Então, entre a tosse e a falta de ar, um sorriso presunçoso ergueu-se nas pontas de seus lábios, enquanto ele esforçava-se para soltar uma risada.
“Tão corajosa. Tão altruísta. Para uma futura vilã, me parece que você foi contaminada pela bondade de seus colegas. Tem certeza que é este seu destino, Araminta?”
Pela primeira vez a criatura tratou-lhe por seu primeiro nome, como se fossem iguais. A segunda risada, todavia, veio de Araminta.
“Não sei. Nunca gostei de rótulos mesmo.”
PARTE IV: RUMO.
Araminta fitou a si mesma no espelho do banheiro. Havia sobrevivido à Floresta Assombrada sem um arranhão sequer, mas, mesmo assim, estava exausta. O transe do no-ang-seol esgotara grande parte de suas energias e o uso dos poderes para ir e voltar com Rapina terminara o trabalho, além do esforço demasiado para quem não havia recuperado-se completamente do ataque dos ogros. A figura no reflexo, geralmente bem tratada e elegante, agora só mostrava sua necessidade gritante de cair na própria cama: as olheiras, roxas e fundas, destacavam-se na pele clara; os olhos, pequenos e redondinhos, estavam tingidos do vermelho de noites mal dormidas. Desviou o olhar de si mesma para baixo, para a caixinha que segurava em sua mão, emanando sua aura inusual, porém, que não mais a incomodava.
“Ainda não sei o que você faz, mas me salvou de ser engolida por um macaco hoje.” Murmurou para a caixa, que guardou no bolso da calça. O objeto pareceu querer ajudá-la naquela noite, o que não fazia sentido algum, afinal, objetos não queriam nada. Contudo, deixara de vê-lo como um mau agouro para considerá-lo uma espécie de amuleto da sorte. Talvez, quando descobrisse suas origens, também entendesse o que havia acontecido.
Traumas emocionais, macacos demoníacos das montanhas e anéis amaldiçoados de lado, Araminta havia, enfim, encontrado algo novo para ocupá-la: primeiro, tinha uma pista a decifrar. Depois, um mistério a resolver. E, por último, uma conversa com Hugo sobre as condições de sua proposta.
21 notes
·
View notes
Cars 3 — Película Completa En Español
cars 3 pelicula completa en español parte latino facebook 26 película dailymotion netflix google drive 2020
Cars 3 Película Completa en Español Online, Ver Cars 3 Película Completa en Castellano, Ver Cars 3 Película Completa Subtitulada Cars 3 2020
Cars 3 online gratis,Cars 3 online repelis,Cars 3 online hd,Cars 3 online cuevana,Cars 3 online completa,Cars 3 online latino,Cars 3 online ver,Cars 3 online argentina,Cars 3 online gratis pelisplus,Cars 3 online gratis completa
ver película online arbitrario✼✮☛ https://v.ht/yxgv
Official Media : https://v.ht/yxgv
Free sin Registerse : https://v.ht/yxgv
Cars 3 es una película de animación por computadora en 3D de 2017, producida por Pixar Animation Studios y distribuida por Walt Disney Pictures. Es la tercera entrega de la franquicia Cars y la secuela de Cars 2 (2011). Es dirigida por Brian Fee, producida por Kevin Reher, con el guion de Bob Peterson, Mike Rich y Kiel Murray y una historia por Fee, Ben Queen, Eyal Podell y Jonhatan E. Stewart. Las voces protagónicas de Owen Wilson, Bonnie Hunt y Larry the Cable Guy repiten sus roles de entregas anteriores, mientras que Cristela Alonzo, Chris Cooper, Armie Hammer, Nathan Fillion, Kerry Washington y Lea DeLaria se unen al reparto. 1En la película, el Rayo McQueen se prueba ante una nueva generación de corredores para demostrar que es el mejor auto de carreras en el mundo.2
El desarrollo de una secuela comenzó en 2011, luego del estreno de Cars 2, y la preproducción en 2014. El productor ejecutivo de la película y director de las dos anteriores, John Lasseter, dijo que el filme sería más emocional y volvería a las raíces originales de las cintas. El equipo de producción buscó múltiples corredores de la NASCAR, particularmente envejecidos, así como un psicoanalista de deportes. Dos de los nuevos miembros del reparto, Cristela Alonzo y Armie Hammer, fueron anunciados en enero de 2017, mientras que Nathan Fillion, Kerry Washington y Lea DeLaria se unieron dos meses después.
Estrenada mundialmente en cines el 16 de junio de 2017 junto a su cortometraje Lou, la película recaudó $383 millones en todo el mundo. Recibió reseñas generalmente positivas de los críticos, que alabaron sus mejoras y su emocionante historia y animación. Esta fue la última interpretación de Katherine Helmond en la franquicia Cars, debido a su muerte dos años después del estreno de la película, en febrero de 2019.
Sinopsis
Después de que Jackson Storm (Armie Hammer), un nuevo corredor diseñado con alta tecnología, llega a la pista, el público se pregunta cuándo se retirará el ahora veterano y campeón experimentado de siete Copas Pistón, el Rayo McQueen (Owen Wilson). Éste quiere demostrar que aún no le hace falta retirarse, pero luego de su última carrera de la temporada, un fuerte accidente en la pista (que casi le cuesta la vida) pone al Rayo McQueen al borde de su inminente retiro de las carreras para siempre, sin embargo Cruz Ramírez (Cristela Alonzo), una entrenadora de corredores hispana, quiere demostrarle a McQueen que aún puede seguir compitiendo y le enseña a no rendirse ante Jackson Storm y lo ayuda en su reto para seguir en las carreras.
Reparto
Owen Wilson como Rayo McQueen, un legendario veterano de la Copa Pistón que vive en la Ruta 66 de Radiador Springs; su marca es Racer para Rust-eze; su número es el 95 y es un Chevrolet Corvette C6-R.
Cristela Alonzo como Cruz Ramírez, la entrenadora hispana de McQueen y técnica de las carreras que siempre deseó ser una corredora, pero nunca tuvo la oportunidad debido a sus sentido de inferioridad y porque Sterling desaprobó su potencial. Su patrocinador y número era conocido originalmente como Rust-eze y 95 en la pista de Florida 500 y más tarde Dinoco y 51 al final de la película. Es un Aston Martin DB11.
Armie Hammer como Jackson Storm, un Lykan HyperSport modificado, el nuevo rival de carreras de McQueen. La cara de la nueva generación de corredores de alta tecnología, que amenaza con desplazar a toda la generación de McQueen como el corredor de arriba, amenazando la carrera de McQueen y su inminente retiro; su marca es IGNTR y su número es el 2.0.
Larry the Cable Guy como Mate, un camión de remolque y el mejor amigo de Rayo.
Bonnie Hunt como Sally Carrera, es un Porsche Carrera 911 y novia de Rayo.
Tony Shalhoub como Luigi, un Fiat 600.
Guido Quaroni como Guido, una carretilla elevadora / montacargas, que es el mejor amigo y ayudante de Luigi.
John Ratzenberger como Mack, un camión de 1985 Mack Super-Liner que es el transporte de Rayo.
Richard Petty como Strip "El Rey" Weathers, un Plymouth Road Runner Superbird, un corredor retirado de Dinoco y ahora jefe de mecánicos de su sobrino Cal.
Kyle Petty como Cal Weathers, otro de los amigos de carreras más antiguos de McQueen, que es sobrino de Strip "El Rey" Weathers y el nuevo corredor de Dinoco con el número 42, sin embargo debido a la aparición de Jackson Storm, decide retirarse de las carreras. Es un Chevrolet SS.
Angel Oquendo como Bobby Swift, uno de los amigos de carreras más antiguos de McQueen que trabaja para Octane Gain con el número 19.
Daniel Suárez como Daniel Swervez / Danny Swervez, un corredor violeta de próxima generación que trabaja para Octane Gain con el número 19.
Chase Elliott como Chase Racelott, un corredor verde de próxima generación que trabaja para Vitoline con el número 24.
Darrell "Bubba" Wallace Jnr (en) como Bubba Wheelhouse, un corredor color púrpura de próxima generación que trabaja para Transberry Juice con el número 6.
Cheech Marin como Ramón, un Chevrolet Impala Lowrider y esposo de Flo.
Jenifer Lewis como Flo, una ex Motorama Girl y esposa de Ramón.
Michael Wallis como Sheriff, un obeso auto de policía Mercury de 1949.
Paul Dooley como Sargento, un modelo jeep Willys.
Lloyd Sherr como Fillmore, un autobús Volkswagen. George Carlin le puso voz a Fillmore en la primera película.
Katherine Helmond como Lizzie, un Ford Modelo T.
Lea DeLaria como Miss Fritter / Miss Fractura, una autobús monstruo de derby de demolición que compite en Thunder Hollow.
Kerry Washington como Natalie Certain / Natalie Certeza, una analista estadística de la Copa Pistón.
Bob Peterson como Chick Hicks, un ex piloto de la Copa Pistón y ex-rival de Rayo McQueen, que ahora trabaja como comentarista en RSN y es anfitrión de su propio programa de televisión, "Los Ticks de Chick". Michael Keaton puso voz al personaje en la primera película.
Darrell Waltrip como Darrell Cartrip, locutor de la Copa Pistón.
Bob Costas como Bob Cutlass, locutor de la Copa Pistón, compañero de Darrell Cartrip.
Lewis Hamilton como Hamilton (programa), un asistente comando de voz para Cruz Ramirez. Hamilton previamente se puso voz a sí mismo (como un piloto de Cars 2) en la segunda película. En la versión española, el personaje es renombrado como Fernando, y el piloto Fernando Alonso le presta su voz.
Jeff Gordon como Jeff Gorvette, un ex piloto del Gran Prix Mundial de Cars 2.
Mike Joy (en) como Mike Joyride, un comentasista de un programa en la radio de McQueen.
Nathan Fillion como Sterling, un millonario auto de negocios que dirige el Rust-eze Racing Center.
Ray Magliozzi como Dusty Rust-Eze, ex-patrocinador de Rayo McQueen.
Tom Magliozzi como Rusty Rust-Eze, ex-patrocinador de Rayo McQueen, hermano mayor de Dusty.
H.A. "Humpy" Wheeler como Tex Dinoco, un millonario auto de negocios que es patrocinador de Dinoco.
Chris Cooper como Smokey, el exjefe de mecánicos de Doc Hudson que ayuda a capacitar a McQueen para la carrera de Florida 500.
Isiah Whitlock Jr. como River Scott.
Junior Johnson como Junior "Medianoche" Moon.
Margo Martindale como Louise "Machincuepa" Nash.
Paul Newman† como Doc Hudson, exjefe de mecánicos del equipo y mentor de McQueen, que solía ser el Fabuloso Hudson Hornet # 51. Él aparece en flashbacks que incluyen grabaciones previamente no utilizadas de Newman de la primera película.
castellano o con subtítulos en tu idioma y de todos los géneros: terror, comedia, acción, thriller, @VER AQUI ?> @VER AQUI ?> drama y
ciencia ficción. También series online o descargar pelis y más… mucho
más
VER Película Cars 3 GRATIS en Español o con subtítulos en tu
idioma, en HD –y hasta en calidad de imagen 4K–y sin cortes ni
interrupciones es sencillo en las mejores páginas de cine y televisión
gratuitas del año. ¿Cuáles son exactamente estas webs? A continuación te detallamos todo lo que debes saber para ver las mejores pelis cuando
quieras, donde quieras y con quien quieras. Incluso aprenderás a
descargar Película gratis online de forma absolutamente legal y segura
este Película, sin necesidad de pagar mensualmente una suscripción a
servicios de streaming Cars 3 premium como Netflix, HBO GO, Amazon Prime
Video, Hulu, Claro Video, Fox Premium, Movistar Play, DirecTV, Crackle o Blim, o de bajar apps de Google Play o App Store que no te ayudarán
mucho a satisfacer esa sed cinéfila y seriéfila. ¿No te es suficiente?
¿Quieres más trucos? También te enseñaremos a usar los sitios premium de Película Cars 3 , series y documentales sin pagar absolutamente nada. Sí, es posible. ¿Y los códigos secretos de Netflix? También. ¿En cuanto a
series? Podrás ver series de acción, terror, aventura, telenovelas
mexicanas y turcas, doramas, anime y más, mucho más, como las más
recientes novedades: Narcos: México, The Sinner 2 y La reina del flow.
Incluso te contaremos qué Película están en la cartelera de los cines
del Perú, México, España, Estados Cars 3 , Colombia, Argentina, Español y demás países del mundo. Sí, ¡los últimos estrenos! ¿Por ejemplo? Cars 3 ,
Cars 3 , Cars 3 , ¡Asu mare 3! y Cars 3 ya están disponibles en las mejores
salas. Seguramnte en más de una ocasión has buscado en Google “cómo Cars 3 Película online gratis Película en Español” o “dónde ver pelis Cars 3
de estreno en castellano HD”.
Tal vez hasta has escrito en el buscador “las mejores Cars 3 Película
online completas”, “Cars 3 Película en Español latino” o “dónde puedo Cars 3 Película gratis completas sin interrupciones”. No lo niegues. No eres el único. Todos los días, millones de personas intentan ver
Película online desde sus computadoras, laptops, smartphones, tablets o cual sea el dispositivo móvil de su preferencia. Sin embargo, la
navegación muchas veces termina en páginas web que no cumplen lo
prometido, que aseguran tener los últimos estrenos, pero que solo te
derivan de un site a otro, que te obligan a dar clic tras clic mientras
te llenan la pantalla de publicidad, para finalmente dirigirte hasta un
enlace que no funciona o que demora mucho en cargar. Además, la calidad
de imagen en estas páginas informales de cine es muy baja. Y repetimos,
informales. ¿Por qué? Porque son páginas piratas, que violan derechos de autor y que incluso pueden representar un riesgo. ¿Sabías que muchos de estos sitios esconden Cars 3 que podrían dañar tus dispositivos y hasta
robar tu información? En todo caso, muchas veces te obligan a
registrarte con tus cuentas de Facebook, Gmail u Outlook (Hotmail) para
que recién puedas comenzar a Cars 3 pelis en Español latino. Por
tanto, te sugerimos solo visitar las siguientes plataformas, legales,
seguras y sacramentadas. Algunas incluso permiten escuchar y descargar
música MP3 gratis de tus artistas favoritos. ¿Cuáles son las mejores
páginas para Cars 3 Película HD online gratis? En sí hay muchas de
este tipo, pero para efectos prácticos hemos elegido algunas de las más
populares en la red de redes. Ya dependerá de ti elegir la que mejor se
adapte a tus necesidades, ya sea por catálogo, por interfaz o velocidad
de Internet. Es decir, la que te permita ver Película gratis en Español con mayor facilidad. Incluso algunas tienen versiones para teléfono si
buscas dónde ver Película online móvil. ¿Quieres saber cuál es la mejor app para ver Película online? Esa ya no será ninguna preocupación de
aquí en adelante. ¿Qué velocidad necesitas para ver Película online? En estas páginas, con una conexión básica te alcanzará y sobrará. ¿Qué
plugin necesito para ver Película online? En la mayoría de casos,
¡ninguno! ¿Puedo encontrar dónde ver Película 3D online? Eso quizá está un poco más difícil. Cars 3 Ver Película online gratis A continuación
todo lo que debes saber para Cars 3 Película online Ojo, la lista
solo contempla páginas online legales, que albergan contenido de dominio público, independiente, liberado por sus mismos realizadores o con
licencias como Creative Commons. Es decir, si quieres ver Animales
Fantásticos 2 completa en Español o Cars 3 , La chica en la telaraña,
Overlord, Cars 3 o Cars 3 con subtítulos, puede que te decepciones. Pero si
aún te interesan títulos de reciente estreno como estos, aquí puedes
revisar la cartelera de tu país de origen, incluidos horarios y precios
de entradas por cine. También descubre los próximos estrenos. Eso sí,
¿sabías que hasta puedes ver Película gratis en YouTube? Puedes
suscribirte al servicio de paga de YouTube para acceder a contenido
exclusivo que jamás has imaginado. Los tres primeros meses son gratis.
Classic CinCars 3 es una de las páginas de curaduría de clásicos más populares en la red. El sitio está dedicado por completo a la
distribución de Película de libre acceso, liberadas de derechos de
autor. Por ejemplo, su catálogo de cine mudo es excepcional. ¿Lo mejor
de todo? Puedes ver las Película desde YouTube, por lo que navegar es
sencillísimo.
DESCARGAR-SUB ESPAÑOL!! Donde se puede ver Cars 3 Pelicula Completa en línea de alta definición? [opEnlOad] [pelis24-película] Cars 3 Pelicula Completa !(2020) Película completa Ver en línea gratis HQ Cuevana
Ver Cars 3 Películas completas en línea 2020 HD gratis !! Cars 3 Pelicula Completa (2020) con subtítulos en inglés listos para descargar, Cars 3 Películas completas 2020 720p, 1080p, BrRip, DvdRip, alta calidad.
Descripción:Ver Cars 3 Pelicula Completa (2020) : Película completa en línea gratis 27 años después de superar la malévola entidad sobrenatural Pennywise, los ex miembros del club de perdedores, que han crecido y se alejó de Derry, son reunidos de nuevo por una devastadora llamada telefónica.Ver Cars 3 (2020): película completa en línea gratis Cr Cars 3 Awar-Endurecido y su comandante moro, revuelta audazmente contra la corona Inglés corrupto. Cars 3 Pelicula Completa (2020) ¿Cuánto tiempo dormiste durante la película Cars 3 Pelicula Completa?Them onlineic, la historia y el mensaje fueron fenomenales en Cars 3 Pelicula Completa. Nunca podría ver otra película cinco veces como lo hice con esta. Volver a ver una segunda vez y prestar atención. Ver película en adelante WEB-DL Esta es una pérdida de archivos menos capturada por el capitán Stream Marvel, como Netflix, Amazon Video, Cars 3 Pelicula Completa Hulu, Crunchy Roll, DiscoveryGO, BBC iPlayer, etc. También es una película o programa de televisión que se puede descargar a través de un sitio web de distribución en línea, como iTunes.
cuevana película ver Cars 3 (2020) :Película completa en línea gratis Un cruzado endurecido por la guerra y su comandante moro mountan revuelta audaz contra la corona inglesa corrupta..ver Cars 3 online Miles Morales está haciendo malabares con su vida entre ser un estudiante de secundaria y estar Cars 3 Películas completas. Sin embargo, cuando Wilson “Kingpin” Fiskusa un súper colisionador, otro Cars 3 Películas completas de otra dimensión, Peter Parker, accidentalmente termina en la dimensión de Miles. A medida que Peter entrena Miles para convertirse en un better Cars 3 , pronto se les unen otros cuatro Cars 3 desde el otro lado del”Cars 3 ”. A medida que todas estas dimensiones enfrentadas comienzan a desgarrarseBrooklyn, Miles debe ayudar a los demás a detener a Fisk y devolver a todos a sus propias dimensiones.“Cars 3 (2020) Reloj de película completa”:El remolque Cars 3 finalmente está aquí, y todos estamos en el final del juego ahora. Para más contenido impresionante, echa un vistazo: Síguenos en Google mvlabshd Presenta
Cars 3 online hd cuevana
Cars 3 online hd descargar
Cars 3 online hd latino
ver Cars 3 online hd bananahd
Cars 3 online latino hd gratis
Cars 3 pelicula online hd
Cars 3 2020 online hd
Cars 3 online cuevana gratis
Cars 3 online gratis
Cars 3 online latino
Cars 3 online hd
Cars 3 online gratis completa
Cars 3 online gratis 2020
Cars 3 online subtitulada
Cars 3 online gratis pelisplus
Cars 3 online completa repelis
Cars 3 online completa cuevana
Cars 3 online completa gratis
Cars 3 online completa pelisplus
Cars 3 online completa 2020
Cars 3 online completa gnula
Cars 3 online completa youtube
Cars 3 online latino gratis
Cars 3 online latino cuevana
Cars 3 online latino repelis
Cars 3 online latino gnula
Cars 3 online latino hd
Cars 3 online latino ver
Cars 3 online latino hd gratis
Cars 3 online subtitulada
Cars 3 online ver gratis
Cars 3 ver online cuevana
Cars 3 ver online hd
Cars 3 ver online 2020
Cars 3 ver online gratis repelis
Cars 3 ver online pelicula completa
Cars 3 ver online completa
Cars 3 ver online pelispedia
Cars 3 argentina online gratis
Cars 3 ver online argentina
Cars 3 online sub
Cars 3 online sub español
Cars 3 online gratis
Cars 3 online español
Cars 3 online film
Cars 3 online free
Cars 3 online castellano
ver película Cars 3 online gratis
ver película Cars 3 online subtitulada
ver Cars 3 película completa online gratis
Cars 3 película completa en español online gratis
Cars 3 película online
Cars 3 película completa gratis
Cars 3 movie online
Cars 3 película completa sub español
2 notes
·
View notes