não há mais espaço para o arrependimento. é tarde.
uma bolsa térmica com gelo era tudo o que levava consigo. roman jogou-a sobre o ombro e saiu.
o tecido que surgia da camisa cobria o pescoço, alcançava o nariz e deixava à mostra os olhos por trás das lentes transparentes com grau baixíssimo. os óculos eram um detalhe que amenizava a dor de cabeça e disfarçava a cara amarrada que normalmente dançaria muito bem com as roupas escuras do dia a dia, não sendo recomendáveis para o seu tipo de trabalho. mas então era essa parte da questão: não era trabalho, não legalmente nem realmente. o que o levava roman ao encontro do grupinho era pessoal.
parte de si dizia ser também egoísta, a outra parte defendia ser um favor e um direito.
o texto a seguir apresenta conteúdos sensíveis como sangue, violência, cadáver, vômito, canibalismo.
o lugar era barulhento e as luzes psicodélicas demais para o seu gosto ( e costume ). mesmo do lado de fora, na cobertura do prédio ao lado, roman se incomodava com as batidas e com as cenas pouco iluminadas, mas nítidas o suficiente, que era possível enxergar. ignorou tudo, mandou a mensagem e recebeu a resposta logo após – bastou menos de um minuto para o garoto de cabelo vermelhos como fogo pousar ao seu lado após vê-lo sair por uma janelinha estreita do mesmo apartamento da festa. chutou que poderia ser um banheiro.
— deve ter uns dez, sei lá. aquele é o anfitrião. — o ruivo disse com sotaque, depois apontou: a criatura tinha os cabelos claros o suficiente para mudar de cor a cada nuance do projetor colorido que acompanhava a música, também tinha o que roman achou ser tatuagens cobrindo todo o braço esquerdo. — é sua primeira vez? é a minha segunda. tô muito louco pra acabar com a graça desses merdinhas.
roman somente o ouvia. calado, passeava pela feição do rapaz que diria ter seus vinte e pouco anos ainda. no mercenário à sua frente, roman notou a hipocrisia. o ruivo tinha pupilas dilatadas e um sorriso grogue, o resto poderia ser chamado de simples suposição, decerto, mas roman não era idiota: a festa que acontecia no apartamento era privada por motivos bastante específicos, e o pó de fadas era um deles. roman ajeitou os óculos de grau e procurou por algo ao olhar ao redo.
— e os outros? — questionou.
— contigo, estamos em cinco. tem um do outro lado e dois já lá dentro.
— mandaram somente cinco? — estranhou.
— aparentemente, a mina que tá no prédio oposto é experiente e vai tá avaliando nós quatro, cara. — falou por fim, soando bastante certo. — a maioria dali é civil. os monstrinhos bastardos sãos os alvos, eles nem ligam se limparmos geral. querem a prova de que estamos juntos na causa.
novamente, seguiu-se silêncio da parte de roman, que tirou a bolsa do ombro e deixou cair ao seus pés.
— serão três. — roman falou antes de socar o nariz do garoto.
a nova tatuagem queimou. a cara do garoto sangrava quebrada como se tivesse sido atingido por concreto. enquanto os olhos verdes lacrimejavam, roman abria e fechava o punho. nenhuma dorzinha como poderia sentir normalmente. uma pistola pequena surgiu na mão do garoto que vagarosamente parecia sufocar, e roman sentiu outra parte de si queimar: a runa que o permitiu puxar a arma da mão do garoto com a mente. ouviu o implorar, viu o medo nos olhos e a confusão. não tinha mais o orgulho que roman conheceu décadas e décadas atrás no olhar de alguns homens. outro soco foi dado, dessa vez o fazendo cair como saco de ossos e espirrando o sangue para todos os lados. roman agachou-se sobre o corpo mais forte que o seu, mas não com a mesma força sobre humana que agora tinha, e sem pena enfiou no estômago a adaga que tirou de seu coturno.
não conseguia sentir pena, não depois do que leu para chegar ali. não sabendo das coisas que podia encontrar em fóruns e grupos online – inclusive, algo tão digno de uma analogia fascista.
com a força que para si parecia comum, rasgou o corpo. quebrar a costela foi igualmente fácil. o cheiro de sangue era forte, seria insuportável se já não estivesse acostumado. o coração ainda pulava sutilmente. . . até roman cortá-lo fora. deixou o corpo cair por ali mesmo, sentando-se sobre as coxas do cadáver. sujo de sangue, sobre a poça de sangue, mirava o órgão que melava seus dedos. duvidava que fosse ter o tempo para contemplar ou se arrepender, então foi sem cerimônias que tentou: cortou um pedacinho como se fosse um dos frangos crus que tratava em casa e enfiou na boca.
não era bem o gosto – além do sabor ferroso, tinha a textura emborrachada entre os dente; tinha também consciência do que era aquilo que comia. foi tão repentino, tão contragosto, que não teve tempo de se afastar. o vômito foi sobre o corpo aberto. roman se levantou de supetão, com a visão embaçada e o esquecimento que o fez afastar os fios da testa e pintar a pele de vermelho no processo. deixou pegadas de sangue até a bolsa térmica, onde guardou o coração. roman cobriu o rosto novamente, refez o caminho das pegadas para arrastar mais sangue sobre a marca do solado.
saiu pelo ar com fúria no peito. queria matar o demônio filho da puta com quem fez o acordo, mas mais que isso: queria socar a própria cara por ter aceitado os termos.
deixou para trás o corpo aberto do garoto, a suposta iniciação cujo objetivo era o assassinato dos filhos de fadas e, provavelmente, aquilo que viria a ser uma dor de cabeça. não se arrependia, no entanto; pessoas com mentes como aquelas eram melhor mortas. sua única inquietude era sobre como iria comer aquele coração.
9 notes
·
View notes
So Venus is my favorite planet in the solar system - everything about it is just so weird.
It has this extraordinarily dense atmosphere that by all accounts shouldn't exist - Venus is close enough to the sun (and therefore hot enough) that the atmosphere should have literally evaporated away, just like Mercury's. We think Earth manages to keep its atmosphere by virtue of our magnetic field, but Venus doesn't even have that going for it. While Venus is probably volcanically active, it definitely doesn't have an internal magnetic dynamo, so whatever form of volcanism it has going on is very different from ours. And, it spins backwards! For some reason!!
But, for as many mysteries as Venus has, the United States really hasn't spent much time investigating it. The Soviet Union, on the other hand, sent no less than 16 probes to Venus between 1961 and 1984 as part of the Venera program - most of them looked like this!
The Soviet Union had a very different approach to space than the United States. NASA missions are typically extremely risk averse, and the spacecraft we launch are generally very expensive one-offs that have only one chance to succeed or fail.
It's lead to some really amazing science, but to put it into perspective, the Mars Opportunity rover only had to survive on Mars for 90 days for the mission to be declared a complete success. That thing lasted 15 years. I love the Opportunity rover as much as any self-respecting NASA engineer, but how much extra time and money did we spend that we didn't technically "need" to for it to last 60x longer than required?
Anyway, all to say, the Soviet Union took a more incremental approach, where failures were far less devastating. The Venera 9 through 14 probes were designed to land on the surface of Venus, and survive long enough to take a picture with two cameras - not an easy task, but a fairly straightforward goal compared to NASA standards. They had…mixed results.
Venera 9 managed to take a picture with one camera, but the other one's lens cap didn't deploy.
Venera 10 also managed to take a picture with one camera, but again the other lens cap didn't deploy.
Venera 11 took no pictures - neither lens cap deployed this time.
Venera 12 also took no pictures - because again, neither lens cap deployed.
Lotta problems with lens caps.
For Venera 13 and 14, in addition to the cameras they sent a device to sample the Venusian "soil". Upon landing, the arm was supposed to swing down and analyze the surface it touched - it was a simple mechanism that couldn't be re-deployed or adjusted after the first go.
This time, both lens caps FINALLY ejected perfectly, and we were treated to these marvelous, eerie pictures of the Venus landscape:
However, when the Venera 14 soil sampler arm deployed, instead of sampling the Venus surface, it managed to swing down and land perfectly on….an ejected lens cap.
28K notes
·
View notes