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#fotografia de detalhes urbanos
clickdofelix · 1 year
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Fotografia de Rua: a arte de capturar a vida nas cidades
Se você é um amante da fotografia, provavelmente já ouviu falar em “fotografia de rua”. Essa é uma das modalidades mais desafiadoras e fascinantes dentro do universo da fotografia, que consiste em capturar momentos espontâneos e cotidianos que acontecem nas ruas das cidades. A fotografia de rua é uma arte que exige muita sensibilidade, técnica e habilidade do fotógrafo. É preciso estar atento aos…
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blogdojuanesteves · 4 months
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UNTITLED>ROBERTO WAGNER
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Untitled ( Edição do Autor, 2023) de Roberto Wagner, fotógrafo paranaense radicado em São Paulo reúne neste seu primeiro livro uma série de 36 imagens, parte de um grande ensaio que aproxima-se do abstracionismo geométrico, tendo como cenário o urbano e fragmentos de sua arquitetura no registro de suas consequências temporais captado no senso autoral, pensamento a que vem dedicando-se desde o início dos anos 1980. O amplo recorte visual do autor já foi visto no livro SX70.com.br. (Wide Publishing, 2003) uma coleção de polaroids oriundos do modelo SX70 que também reuniu Armando Prado, Fernando Costa Netto, Marcelo Pallotta, Claudio Elisabetsky, Paulo Vainer e Ricardo Van Steen, organizado pela artista paulista Lenora de Barros.
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Nas suas imagens encontramos composições precisas, seja em uma sala, um fragmento de uma parede, um detalhe de um muro, tapumes, calçamentos, desenhos criados ao acaso, a cor como forma geral. Selecionados pelo autor, seus enquadramentos  ressignificam o banal - ou o decadente- como sua forma de arte encontrando uma certa abstração fotográfica, que podemos em parte ver tanto no movimento concreto, como no modo construtivista no sentido de trabalhar com o objeto exposto no cotidiano das cidades, em sua maioria São Paulo.
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O fotógrafo aponta para a linguagem pictórica da abstração construindo-a com uso de formas geométricas simples (perfeitas e imperfeitas) colocadas em espaços não ilusionistas e reunidas em composições não objetivas, que distanciam-se da representação tradicional da pintura, baseada na imitação de formas do mundo visual. O seu movimento é circundante no espaço perspectivo e ilusionista, como na tradição que surge após o Renascimento e ora perseguido em tempos mais contemporâneos. Neste caso, estruturado  por uma fotografia que abandona seu figurativismo intrínseco.
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Sobrepondo superfícies planas e frontais, unidas por uma grade linear, Wagner apreende formas abstratas em elementos “construtivos” da composição. O ganho da publicação vem da liberdade de experimentação com diferentes estruturas e materiais encontrados por ele e as relações espaciais entre várias partes composicionais, que evoluem para seu recorte final. Sendo assim, cores essencialmente planas misturam-se com distintas sobreposições tonais, dando maior substância a forma, que surge dos vestígios da realidade e das suas características bidimensionais, inerentes à fotografia.
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Luiz S.F. Sandes, historiador da arte que vem dedicando-se a pesquisa da obra de Wagner: "A precariedade brasileira é notada na produção do fotógrafo na medida em que nela são registrados diversos detalhes arquitetônicos ou urbanos que, muitas vezes, denotam falta de acabamento, pobreza, desgaste ou incompletude. Já a ligação com a história da arte se dá pela abundante presença da tendência da abstração geométrica na obra de Wagner. Essa tendência, existente há cerca de um século, tem longa história tanto no campo da arte como no da fotografia." Para o pesquisador, "Se a cidade é um turbilhão incompreensível, o olhar do fotógrafo se coloca em oposição a isso, construindo imagens ordenadas, equilibradas e alinhadas." 
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Interessante notar ainda, pela pesquisa de Sandes, que: "Dado o teor muitas vezes inacabado, deteriorado e imperfeito presente nas suas fotografias, pode soar estranho que elas se relacionem à abstração geométrica. É preciso, contudo, entender que essa relação se dá menos pela presença de linhas, grids e formas geométricas nas imagens e mais pelo modo de o artista compô-las com precisão, simetria e ordem. Ainda que o modo de composição do artista organize nossa experiência visual com a cidade, ele não se sobrepõe ou se impõe a ela."
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O desenvolvimento evolutivo de uma realidade puramente pictórica construída a partir de formas geométricas elementares assumiu diferentes expressões estilísticas em vários países como na Rússia já no início do século XX. Na Holanda, o principal criador e o mais importante proponente da linguagem geométrica abstrata foi Piet Mondrian (1872–1944). Juntamente com outros membros do grupo De Stijl – Theo van Doesburg (1883–1931), Bart van der Leck (1876–1958) e Vilmos Huszár (1884–1960) – o trabalho de Mondrian pretendia transmitir a “realidade absoluta”, interpretada como o mundo das formas geométricas. Nas imagens de  Roberto Wagner, o viés escolhido é um padrão dentro do acaso que apresenta-se a ele. O recorte sobre algo já existente ganha uma nova dimensão ao propor sutilezas gráficas dentro do espectro decadente da construção. Talvez daí, a capa do livro que nos lembra uma prancha de corte com seu quadriculado, ganhe maior compreensão. 
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O que mais aproxima o trabalho de Wagner com estas formas de arte talvez seja a obra do artista e arquiteto russo Vladimir Tatlin (1885–1953) que criou um novo idioma abstrato geométrico em uma forma tridimensional inovadora, que ele primeiro apelidou de relevos pictóricos e posteriormente de contra-relevos. Eram montagens de materiais industriais encontrados aleatoriamente, cuja forma geométrica era ditada por suas propriedades inerentes, como madeira, metal ou vidro. O que podemos fazer um paralelo com o fotógrafo, na imagem que traz uma pilha de tijolos de concreto, próxima da conhecida "Torre" de Tatlin, um monumento à Terceira Internacional de 1919, que sacramenta o inter-relacionamento atemporal representado pela arte em seus meios mais improváveis.
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Sem a conexão com o assunto literal, o espectador das propostas de Roberto Wagner possivelmente responderá mais aos fatores quase subconscientes da sua fotografia, certo que as imagens abstratas dirigem-se para um nível mais emocional ao usar apenas forma, cor e outros elementos de criação. Na sua forma mais pura, o tema de uma fotografia abstrata é muitas vezes irreconhecível. A beleza não deriva do assunto em si, mas de suas formas, texturas ou cores. Guardadas as proporções, um pequeno cubo vermelho em meio a uma grande parede cinza, nos sugere o americano Mark Rothko (1903-1970)  ou os brocletes largados no asfalto nos lembram uma instalação do chinês Ai WeiWei e os azulejos quebrados e sujos na parede nos levam a produção dos escoceses Boyle Family.
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Em maio de 1951 o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York abriu a mostra Abstraction in Photography, com curadoria do luxemburguês Edward Steichen (1879-1973), 150 fotógrafos e artistas, entre eles os franceses Eugène Atget (1857-1927) e Henri Cartier-Bresson (1908-2004); os americanos Harry Callahan (1912-1999), Charles Eames (1907–1978), Jeannette Klute(1918-2009), Isamu Noguchi (1904-1988) e o húngaro Laszlo Moholy-Nagy (1895-1946). Para o curador, a abstração, como lógica, é uma maneira do pensamento do homem e geralmente está incluída no que chamamos de Simbolismo. Isto é, suas particularidades é que fazem sua distinção. Em resumo, o que vemos em Untitled de Roberto Wagner é resultado da eliminação das impurezas dos fatos e a manutenção do essencial da estrutura ou forma. A fotografia abstrata como forma de arte.
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Imagens © Roberto Wagner.  Texto © Juan Esteves
Infos básicas:
Fotografia: Roberto Wagner
Edição/ Coordenação editorial/ Produção executiva: Ale Ruaro
Projeto Gráfico: Alyssa Ohno
Encadernação artesanal: Eliana Yukawa/Yume Ateliê & Design
Tratamento de imagem: Chris Kehl
Impressão: Gráfica Ipsis Editora/ Papel Munken Lynx Rough, 100 exemplares 11,5X15cm
*Box com edição especial de apenas 11 exemplares no formato 21X28 cm + print 24X36cm assinada pelo autor.
Para aquisição: [email protected]
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capixabadagemabrasil · 2 months
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Beleza Natural Incomparável A Praia dos Recifes, situada estrategicamente ao longo da Rodovia do Sol, km 16, é um desses raros achados que ainda mantêm sua essência natural e selvagem. Cercada por recifes que lhe conferem um charme único e dão origem ao seu nome, esta praia se destaca pela formação de piscinas naturais na maré baixa, um espetáculo da natureza que atrai olhares curiosos e apaixonados por biologia marinha. Um Convite às Aventuras Aquáticas Para os amantes do surf, a Praia dos Recifes oferece alguns pontos desafiadores que prometem boas ondas. Mas não é só de surf que vive a praia. Na maré baixa, as famílias encontram um verdadeiro parque de diversões natural, onde é possível explorar a vida marinha nas piscinas naturais formadas entre os recifes. A pequena enseada com sua faixa de areia se torna o cenário perfeito para um dia de sol e relaxamento. Simplicidade e Aconchego A infraestrutura da Praia dos Recifes, embora modesta, oferece o necessário para um dia agradável à beira-mar. Quiosques, mesas e cadeiras disponíveis permitem que os visitantes desfrutem do ambiente com conforto, saboreando petiscos locais e bebidas refrescantes. É um convite para desacelerar e apreciar a vida com simplicidade e alegria. https://youtu.be/TCjZToUxt_M Um Tesouro Escondido Diferente dos destinos turísticos convencionais, a Praia dos Recifes é um tesouro escondido que preserva sua beleza e tranquilidade por estar afastada dos grandes centros urbanos. A falta de infraestrutura turística convencional, como banheiros e chuveiros públicos, reforça seu apelo para aqueles que buscam experiências mais autênticas e em contato direto com a natureza. Cuidados e Acesso A aventura para chegar à Praia dos Recifes é recompensada com vistas espetaculares e momentos únicos. O acesso é facilitado para quem vem pela Rodovia do Sol, com indicações claras para pedestres e acesso por transporte público. No entanto, é importante estar atento às condições da maré; a alta pode representar riscos devido às pedras submersas. Encantos Submersos e Visuais de Tirar o Fôlego na Praia dos Recifes O que mais encanta na Praia dos Recifes são os detalhes que a natureza meticulosamente esculpiu: recifes cobertos de algas que, à primeira vista, parecem criaturas gigantes adormecidas à margem. É um cenário que inspira não apenas a contemplação, mas também a aventura, a fotografia e a conexão profunda com o ambiente natural. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Jullia Bernardes (@julliaabdon02) Parque Goiapaba-Açu: Uma Jornada Insólita pela Mata Atlântica
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revistaclickmag · 1 year
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10 ideias de segmentos da fotografia para você começar
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Aqui estão alguns assuntos relacionados à fotografia que você pode explorar: - Técnicas fotográficas: Aprenda sobre diferentes técnicas fotográficas, como composição, iluminação, exposição, foco seletivo, congelamento de movimento, longa exposição, fotografia macro, entre outras. - Equipamentos fotográficos: Explore os diferentes tipos de câmeras, lentes e acessórios disponíveis no mercado. Compreenda as características e as funcionalidades de cada equipamento e descubra qual se adequa melhor às suas necessidades. - Fotografia de retrato: Aprenda a capturar a essência das pessoas através da fotografia de retrato. Descubra técnicas para obter expressões faciais naturais, iluminação adequada, uso de fundos e poses interessantes. - Fotografia de paisagem: Descubra como capturar a beleza do mundo ao seu redor através da fotografia de paisagem. Aprenda a escolher os melhores pontos de vista, a composição adequada, o uso de filtros e as configurações da câmera para obter imagens impactantes. - Fotografia de natureza: Explore a fotografia de animais, flores, plantas e paisagens naturais. Descubra técnicas para fotografar animais em movimento, capturar detalhes de flores e plantas, e criar composições atraentes de elementos naturais. - Fotografia de rua: Aprenda a capturar a vida urbana e as cenas do cotidiano através da fotografia de rua. Descubra como abordar as pessoas nas ruas, técnicas para fotografar em ambientes urbanos movimentados e como contar histórias através de suas imagens. - Fotografia de eventos: Explore a fotografia de eventos, como casamentos, festas, shows e esportes. Aprenda a capturar momentos especiais, lidar com condições de iluminação desafiadoras e obter fotografias emocionantes e dinâmicas. - Edição de imagens: Aprenda a utilizar programas de edição de imagens, como o Adobe Photoshop ou o Lightroom, para aprimorar suas fotografias. Descubra técnicas de pós-processamento, como ajustes de exposição, correção de cores, nitidez e retoques. - Fotografia de moda: Descubra os segredos da fotografia de moda, incluindo técnicas de iluminação, direção de modelos, criação de conceitos visuais e composição de imagens que transmitam estilo e tendências. - Fotografia documental: Explore a fotografia documental, que busca registrar a realidade e contar histórias através de imagens. Aprenda a abordar diferentes temas, pesquisar, planejar e capturar fotografias que transmitam mensagens significativas. Esses são apenas alguns dos muitos assuntos fascinantes relacionados à fotografia. Espero que eles te inspirem a explorar ainda mais esse incrível mundo visual! Read the full article
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eduardaheinlik-blog · 5 years
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   O projeto foi desenvolvido a partir da ideia de que um dos motivos principais pelo qual escolhemos ir a certos lugares é o tipo de pessoa que o frequenta, buscando em tal público um senso de identidade e pertencimento. Foram duas as perguntas principais que guiaram o processo de construção do guia: Quem são as pessoas que frequentam o parque? E o que elas fazem lá?
   Com 13 milhões de visitas estimadas por ano, o Parque Ibirapuera é o parque mais visitado da América Latina. Desde sua inauguração em agosto de 1954, o parque é visto como um marco na história da cidade de São Paulo, sendo atualmente seu mais importante parque urbano. Entre suas diversas atrações, se destacam o pavilhão da bienal, o museu de arte moderna, a marquise, as quadras esportivas, as pistas de corrida, a praça da paz, etc, além dos variados eventos nos mais diversos lugares do parque. 
   Por alguns dias, visitei o parque e busquei procurar e entender a grande variedade de pessoas que lá se encontravam. Inspirada pela obra do fotógrafo Hans Eijkelboom, quis observar detalhes e padrões nas pessoas e em seus comportamentos aos quais não me atentava previamente. O resultado mostra apenas uma pequena e superficial parte dos diversos encontros que ocorrem diariamente no parque, entre o mais vasto número de pessoas, cada uma com seu lugar de origem, pensamentos, hobbies, modos de viver, etc. 
   Projeto realizado em 2017 para a disciplina “Processos de criação I”. Fotografia e edição por Eduarda Heinlik. 
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jukjec · 3 years
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Post 13 - Diário do Caminho de Santiago de Compostela - Etapa 4 - Parte 3
Dia 4 – PARTE 3
Data 02/05/2017
Etapa: Almadén de la Plata -> El Real de la Jara, Espanha
Distância: 16,6 km
Tempo: sol -> sol
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Caminhamos um pouco mais por uma área arborizada, não muito densa, de tipos de árvores não muito diferentes umas das outras, provavelmente, uma floresta “criada” pelo homem para algum tipo de cultura específica. Sem dúvida, muito distante daquilo que olhos brasileiros estão acostumados a ver nas ricas, fechadas e verdejantes florestas da Mata Atlântica.
O caminho seguia por uma estrada de terra até que bem larga, provavelmente para permitir o tráfego de veículos rurais. Não faltou muito para que entrássemos no trecho urbano, porém, sem antes passar por pequenas propriedades rurais destinadas às lavouras.
Estávamos num pequeno elevado, podíamos ver o pequeno núcleo urbano abaixo de nós. Neste término de caminho, seria “ladeira abaixo” e nunca a expressão “para baixo, todo santo ajuda” veio tanto a calhar, aqui, ao menos, Santo Tiago, ou Santiago, ajudou.
A primeira construção no lado esquerdo do vilarejo adentrado pelo caminho/rua que utilizamos era o albergue municipal. Era uma construção de 2 pisos, suas paredes eram brancas com detalhes em amarelo, o que era um prenuncio do que iríamos ver na cidade toda. Admito que senti uma sensação não muito boa ao ver o albergue local do peregrino. Havia vários homens no lado de fora, o que me deu uma sensação de que o local era apertado já que estavam ali. Não entrei para comprovar meu sentimento ou intuição.
Hoje, ao escrever esse diário anos depois da peregrinação, posso utilizar o Google Maps e o Street View para me ajudar a relembrar locais, estradas e prédios, vi o prédio do albergue com outros olhos. É, sentimentos são únicos e de momento, são fotografias. Com o tempo talvez as sensações mudem.
Creio que o que me deu na época, foi ver as grades nas poucas janelas no segundo piso da construção. Logo veria que isso é comum em todas as janelas de todas as casas do interior espanhol. Não sei se são de fato necessárias na Espanha, mas vai saber. Também, longe de mim, como brasileiro, querer criticar isso quando temos muros altos, cercas elétricas, arame farpado e toda parafernália tecnológica para nos manter “seguros”.
De toda forma, pouco importava a condição do albergue ou minhas sensações ao ver a fachada do albergue, pois já havíamos feito uma reserva na pousada privada da Molina. Deixamos o albergue municipal para trás e levei comigo um alívio momentâneo.
Seguíamos ladeira abaixo por este “corredor” de casas coladas nas vielas estreitas do vilarejo com estreitas calçadas separando a rua da porta das casas. Para quem já foi para Tiradentes em Minas Gerais, pode ter uma sensação do que é andar por lá.
Não sabíamos exatamente onde ficava a pousada da Molina, tínhamos que seguir até o centro do vilarejo e perguntar. No meio do caminho até lá, vimos uma placa em frente a uma casa no lado direito deste “corredor” que ofertava vagas para peregrinos. Seria ali? Um senhor com semblante sisudo ouve o nome “Molina” e desfere um “no!” (não). Ok, sigamos em frente. O lugar era pequeno e não deveria ser difícil encontrar a tal pousada privada.
Pegamos direitas e esquerdas naquele mini labirinto espanhol de casas brancas quase sempre iguais com fachadas planas, portas verdes ou marrons com janelas gradeadas. Não lembro muito bem, só sei que chegamos, enfim, à pousada da Molina que ficava no lado esquerdo da viela (calle Real, no Google Street View ainda se pode ver a placa do Alojamiento Molina pendurada na fachada).
Como você pode imaginar, a pousada da Molina era de fachada plana, branca e com portas grandes. Momento de esclarecimento, já falei muito em cidades brancas, mas não o porquê. Como já havia sentido e iria sentir ao longo do caminho, a Espanha é um país muito quente com temperaturas altíssimas. Assim, a cor branca das casas é uma das “tecnologias” utilizadas pelos locais para refletir os raios solares que escaldam os espanhóis, turistas e seus peregrinos.
A outra tecnologia é a espessura das paredes, não estou exagerando em dizer que as paredes da pousada da Molina, e de todas as demais, deviam ser de meio metro. Sim, eram muito grossas para que o frescor interno não escape. Basicamente, as casas eram uma geladeira natural de paredes grossas em vez de possuir sistemas de ar condicionado forçando baixas temperaturas. O que faz todo o sentido já que aquelas casas deviam ser centenárias utilizando o que havia disponível a mão, tinta branca e muitos tijolos.
Cruzando o umbral da grande porta da pousada da Molina, andamos por um corredor que nos levou até uma sala de jantar grande juntamente com sua grande mesa. No lado esquerdo, ficava uma grande cozinha e depois os cômodos da dona da pousada e de sua família, creio que seu filho e nora moravam ali também. No lado direito da sala de jantar, havia uma porta que levava para outro corredor. À direita no fundo, o quarto que iria dividir com outros 2 peregrinos, incluindo o holandês fotógrafo. No meio do corredor, havia um cômodo que havia sido transformado num quarto, pelo menos a mim pareceu, ali o senhor alemão ficou. À esquerda do corredor havia outros quartos, talvez 2 ou 3.
Depois deles, havia 2 portas à direita que eram de 2 banheiros imensos. Naqueles espaços poderiam dormir facilmente alguns peregrinos com muito gosto. Os banheiros eram amplos, com louças antigas, chuveiros dentro de boxes, azulejos, espelho e janelas. Sim, os banheiros possuíam janelas grandes para o corredor, mas deviam ser “jateadas” e havia cortinas também. Nada de janelinha basculante para o lado de “fora”. Lembrando que as casas são coladas parede com parede, logo, todas as janelas ou eram viradas para a rua através da fachada frontal ou viradas para dentro, como corredores ou algo mais charmoso a ser retratado em breve.
Seguindo por este corredor, ao fundo, a área de serviço.
Voltando à sala de jantar, agora olhando para frente, havia o “charmoso” átrio da casa ou uma espécie de quintal ou pátio. Havia algumas mesas próximas à porta da sala de jantar, como se fosse um deck ou grande varanda coberta por um toldo, depois um pequeno declive com o corredor dos banheiros e área de serviço à direita. Um paredão à esquerda (que vizinhava com a próxima casa) e uma pequena edícula aberta. Para padrões brasileiros, diria que era uma área de churrasqueira, mas não vi nenhuma ali. Servia de depósito para coisas que não deveriam caber na casa. Ah sim, no fundo também havia um espaço para lavar a roupa. Importantíssimo varal e seu tanque. Esse átrio possuía várias plantas, uma grande árvore e uma horta.
Agora que a pousada estava mapeada, vamos aos acontecimentos. A Molina nos recebeu com o calor espanhol típico, foi extremamente hospitaleira, ela nos mostrou o lugar e falou das regras da pousada. Sem perder tempo, tivemos nossa credencial carimbada.
Ela nos apresentou aos seu marido e família que morava na casa. Deixamos nossos pertences em nossos quartos e, como de costume (mesmo que recente), fomos beber uma cerveja para o relaxamento pós-chegada na pousada e término da etapa do dia. Como a etapa era relativamente curta, perto dos 17 quilômetros, devemos tê-la feito perto de 4 horas. Portanto, a chegada na pousada deve ter ocorrido perto do meio-dia. Uma das fontes de renda das pousadas privadas além da acomodação são os extras como roupas lavadas e serviços de bar. Sim, sentamo-nos em uma das mesas do átrio e tomamos uma cerveja local, bem, o senhor alemão e eu, já o holandês fotógrafo foi na sua tradicional Coca-Cola.
Batíamos papo numa mesa enquanto 2 outras mulheres europeias conversavam em outra. Para minha insatisfação, fumavam muito e baforavam na gente. Apesar do lugar ser aberto, o cheiro vinha até nós.
Depois de conversar por quase meia hora, ou talvez mais, o senhor alemão saiu e o holandês fotógrafo olhava as fotos tiradas deste dia. De repente, chegou o marido da Molina com um cesto cheio de legumes e verduras. Não lembro se passou por ali ou se quis entrar na conversa, só sei que ficamos mais 1 hora falando sobre tomates e seus tipos, como o rosa, coração de touro e o chifre de boi, além de falar de vinhos também. Foi uma conversa bem agradável que iria se contrapor com a experiência da manhã seguinte. Ai, esses espanhóis.
Depois do corpo já hidratado, hora das pequenas obrigações do dia. Tomar banho em um dos gigantescos banheiros por uns minutinhos a mais daqueles tomados nos albergues públicos para relaxar o corpo e tentar recuperar o calcanhar direito que seguia berrando.
Em seguida, fui até o fundo da casa para lavar as meias, cueca e camiseta do dia com sabão no tanque e, por fim, pendurar no varal para secá-las, algo que ocorria muito rapidamente com o calor, sol e secura daquela região hispânica.
Meus colegas de caminhada já estavam descansando após suas obrigações diárias. Aproveitei para fazer compras. Havia algumas coisas na minha lista, algumas rotineiras como comida, mas havia um item que era indispensável para minha paz auditiva.
Saí e busquei pelas vendas próximas, comprei as provisões das próximas 24 horas. Claro, jamais carregue peso desnecessário já que em todas cidades você poderá se reabastecer. Seja leve e leve só o necessário (que belo trocadilho).
No quesito comida, comprei frutas, como de costume, maças e bananas pela praticidade de poder comer a qualquer momento sem se preocupar com embalagens ou preparos. Também comprei os jamóns locais (guarde essa informação para a etapa de amanhã) e alguns pães para sanduíches improvisados.
Na parte da hidratação, comprei água, muitíssimo importante, pois o calor e a secura do ar suga nossa água corporal. Eu me acostumei a levar comigo sempre 3 litros de água distribuídos em algumas garrafas para equilibrar o peso da mochila durante as várias horas diárias de caminhada. Duas de meio litro a 1 litro nas laterais da mochila e uma maior dentro dela.
A segunda parada seria para uma compra mais do que necessária, encontrar ponteiras de borracha para meus bastões de caminhada e dar um fim no som infernal do tec, tec, tec... Encontro uma venda que me pareceu ser aquelas lojas do passado, bem antes das lojas de produtos chineses, onde se encontra de tudo. Pago alguns euros em cada ponteira e saio contente.
Hora de voltar para a pousada da Molina e testar as ponteiras o quanto antes.
Na pousada, instalo as ponteiras nas pontas dos bastões. Embora pareçam de qualidade mediana, elas dão conta do recado abafando o som das pontas metálicas dos bastões. Como já comentei, em trechos de asfalto, o som seco dos bastões contra o piso é no mínimo irritante, para mim e para aqueles ao meu redor. Agora estaria num modo silencioso.
Vejo que meus companheiros de grupeto de caminhada estão acordados e despertos. Decidimos ir a um bar do vilarejo branco para mudar de ares e ver um pouco da vida espanhola do interior.
Saímos da pousada, pegamos a direita e rumamos ao centro (???) e, após algumas centenas de passos na mesma rua da pousada da Molina, chegamos a um bar que ficava numa mini quadra com as ruas limitando suas paredes. O bar era o El Chati(informação que obtive graças ao Google Maps depois de muitas explorações virtuais).
Este bar/restaurante estava numa construção de 2 pisos, ao lado dele, outro bar/restaurante. Entramos, nas paredes, azulejos coloridos até meia altura, depois uma pintura até o teto que geralmente era coberta com vários quadros e fotos. No salão, várias mesas, ao fundo, o balcão do bar também azulejado e com tampo de aço inox, e uma escada que levava ao piso superior atrás dele. O El Chatiestava tomado por locais, na maioria, homens de média e avançada idade.
Éramos estranhos ali, mais altos e muito claros em tom de pele do que a média, sem contar os traços faciais discrepantes e nossas vestimentas que entregavam nossa “profissão” temporária, peregrino. Sentamos numa mesa, pedi uma caña(possivelmente uma Estrella Damn, Estrella Galicia, San Miguel ou Cruzcampo), o senhor alemão, uma radler, o holandês fotógrafo, uma Coca-Cola.
Como (um ótimo) costume espanhol, nossas bebidas foram acompanhadas de tapas (tira gostos), para minha alegria, as deliciosas e frescas azeitonas, provavelmente, oriundas das plantações locais.
Como já reportei, os bares/restaurantes vistos até então possuem algo em comum, por mais modestos que sejam, eles exibem grandes televisões de tela plana em várias paredes do recinto. Ali não era diferente. Os televisores estavam ligados para que os locais pudessem apreciar um dos esportes nacionais, as touradas.
Os senhores, e os mais novos, assistiam às telas totalmente compenetrados como se estivessem sido hipnotizados. Por incrível que pareça, havia silêncio em meio àquilo até que o toureiro fizesse algum movimento naquela valsa da morte, seja a dele ou a do touro.
A cada estocada da espada (eram várias) no lombo do touro, a torcida reagia. Em termos crus, estávamos vendo um açougue esportivo transmitido ao vivo de alguma cidade maior. Não vou julgar, pois compreendo muito bem e respeito as diferenças culturais entre os países, mas era difícil de não sentir um mal-estar naquele balé sanguinário esportivo.
Minha torcida era para que os 2 entes daquela dança saíssem ilesos, porém, parecia não haver graça na minha ideia. Quando criança, via desenhos que retratavam a tourada como um simples olé para lá e para cá com aquele pano vermelho sendo balançado para atrair o touro. Era mais que isso, deveria haver um desfecho mortal.
Lembrei de quando via lutas de MMA na tevê, que foram poucas, o que prendia minha atenção era ver em que estado sairiam os lutadores. A luta é bárbara, a tourada é bárbara, no entanto, ambas embaladas em seus próprios rituais e regras. Um colega uma vez me disse que a tourada representa muito a sociedade e cultura espanhola, intensa, bruta, emotiva e com fogo nas entranhas. Bem, viria a passar quase 50 dias na Espanha e talvez isso faça sentido.
Continuamos na nossa toada de beber algumas cervejas e observar o que ocorria ao redor. Como a casa estava cheia, eu ia até o balcão pegar meu copinho de cerveja aguardando que fosse agraciado com mais algum tira gosto.
Creio que tenhamos ficado ali entre 1 a 2 horas, o pescoço já doía, pois, as tais televisões ficavam no alto, próximas do teto. Depois daquele estudo informal sociocultural etnográfico, decidimos voltar para a pousada. Já estávamos perto do final da tarde, se bem que a tarde aqui enganava já que o anoitecer era bem mais tarde. O sol estava alto ainda, deviam ser 5 horas da tarde.
Na pousada, perguntamos para a Molina por um lugar para jantar. Ela prontamente indicou La Casa de La Cultura. Ok, demos um tempo em nossos quartos antes de nos dirigir para tal restaurante. O quarto estava friozinho a ponto de dar certo desconforto. Dentei um pouco e usei o saco de dormir como cobertor.
No entardecer, caminhamos (eu com muita dor) pelas estreitas calçadas de El Real de la Jaraaté o restaurante. Chegar lá seria fácil, bastaria pegar uma direita e depois uma esquerda. O restaurante ficava num prédio de esquina, suas calçadas eram um xadrez de lajotas brancas e vermelhas. Para tornar a experiência mais agradável, o estabelecimento possuía 2 ambientes, o aberto e o prédio fechado. A escolha foi fácil, ficamos no belo ambiente externo. O céu limpo e toldos coloridos sobre de nós, árvores, arbustos e muros com grades ao nosso redor, além de 2 portões nas 2 ruas de acesso ao local.
Embora fosse modesto como todos os demais prédios da região, o local parecia um sonho. Senti-me num filme. Sem dúvida, era um privilegiado por estar ali mesmo que tendo uma pequena cruz no pé direito.
Escolhemos uma mesa próximo à esquina e logo o garçom veio nos atender, pedimos as bebidas (não vou descrevê-las pois você já deve saber qual cada um pediu, na verdade, a bebida pode fazer parte do menu, então, pode ser que eu tenha escolhido uma taça de vinho em vez de uma cerveza) E, em seguida, foi-nos apresentado as opções do menu do peregrino.
Como entrada, a salada, tipicamente, monstruosa em tamanho. Depois, poderíamos escolher entre cerdo(porco) e pollo (frango) acompanhado de batatas fritas. Por fim, a sobremesa, não me recordo das opções mas sei que tive preocupação com minha intolerância à lactose. Conhecendo minha gula, devo ter fechado os olhos e comi o que veio, seja pudim, seja sorvete ou algum doce local.
Havia um grupo ocupando várias mesas do outro lado deste pátio com diversas mulheres que conversavam no típico volume espanhol, em outras palavras, berrando. Deveria haver quase dez delas tornando o ambiente quase ensurdecedor, apesar de estarmos num ambiente aberto.
Várias vezes a conversa da minha mesa com meus colegas de caminhada perdia o fio da meada. Em uma dessas conversas, lembro de termos falado da grande mulher dinamarquesa que nos acompanhou dias atrás. Aproveitei para contar a história de quando ela se abriu para falar de sua primeira experiência no caminho anos atrás e sua pedra largada ao término do caminho.
O silêncio, pelo menos em nossa mesa, deu prosseguimento à conversa. Penso que todos nós refletimos por alguns instantes.
Já estava escuro, eram passadas as 9 horas da noite, decidimos pagar a conta e voltar para o alojamento. O valor do menu do peregrino era entorno de 10 euros, diria que é a média. Em alguns lugares poderia chegar a 8, já em outros, alcançava quase 12.
Voltamos caminhando pela pacata El Real de la Jara em meio a seu silêncio, vielas desertas, carros estacionados em frente das casas coladas aos seus vizinhos, ruas de pedra, calçadas que mal comportavam 1 pessoa, luzes ao alto em lanternas presas às construções, uma paz sonora, visual e mental que relaxaria qualquer um antes de se deitar para mais um dia de caminhada (foto).
Bem, só não relaxou meu pé. Esse doía e muito. Diria que estava praticamente mancando. Conforme passado pela médica de Sevilha, seguia tomando anti-inflamatórios, passava um creme e fazia os banhos de água quente e frio. Porém, a teimosia demorava a aceitar que só uma atitude poderia resolver isso.
Mas no momento, o que importava era o passo da vez e a etapa do dia. A última havia ficado para trás, já o primeiro, eu sentia a cada dois passos.
Chegamos na pousada. Escovei os dentes, preparei a mochila para o dia seguinte e segui para o átrio com meu pequeno caderno laranja e caneta para anotar as memórias do dia em uma página e meia, algo que deve ter levado uns 30 minutos. Uma das mulheres europeias estava lá, pelo o que pude escutar dela falando, deveria ser holandesa. Infelizmente, voltara a fumar, o que me deixou irritado.
Volto para meu quarto, o holandês fotógrafo estava lá juntamente com o outro ocupante do quarto. Verifiquei o horário despertador no celular, coloquei meu “pijama”, enleei-me no lençol de seda dentro do saco de dormir, pus os tampões no ouvido, guardei meus pertences no saco do saco de dormir e sem perceber, havia dormido.
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blogdojuanesteves · 2 years
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Uma outra cidade, um outro tempo > IATÃ CANNABRAVA
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Imagem acima - 23 de Enero, Caracas, Venezuela
O fotógrafo paulista Iatã Cannabrava visitou de 1997 a 2007 as periferias de São Paulo e das grandes cidades da América Latina. Segundo ele, seu “mais longo projeto fotográfico”. Sua idéia foi  documentar o dia a dia das comunidades a partir de seus habitantes, mas,  “distante da tradicional denúncia de miséria e pobreza vista pelas teleobjetivas dos fotógrafos, de cima para baixo e, invariavelmente, em preto em branco”, reflete o autor, que explica que  sempre sentiu-se mais à vontade nas comunidades, "sentando no balcão do primeiro boteco ao entrar em cada uma delas”.
 O professor, curador e pesquisador paulista Rubens Fernandes Junior editou parte deste vasto material produzido pelo fotógrafo, reunido agora na exposição “Uma outra cidade, um outro tempo”, em cartaz a partir de 27 de agosto na Casa da Imagem, um dos espaços do Museu da Cidade de São Paulo, instituição vinculada à Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. “Essas fotografias, produzidas em várias cidades brasileiras, e também da América Latina, escancaram a contraparte da modernização das metrópoles e do projeto de emancipação sociocultural sonhado pelo ideário republicano", afirma Cannabrava. Para o curador, trata-se de "uma síntese, um conjunto expressivo, de unidade visual, de um profissional que jamais deixou de acreditar na força documental da fotografia."
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 Imagem acima Jardim Pantanal- São Paulo, 2001
Cerca de 80 fotografias, registradas em sistema analógico usando negativos de médio formato, em diversas periferias fazem parte da exposição.  Imagens que  contemplam o Capão Redondo, Jardim Ipê, Vila Fundão, Vale das Virtudes, Jardim Pantanal  e Itaquera, na cidade de São Paulo. Vila da Barca, em Belém; 23 de Enero, em Caracas, Venezuela; Zona Sul, Callao, Villa El Salvador, em Lima, no Peru; La Boca, Villa 21,Dock Sud  em Buenos Aires, Argentina; Varjão em Brasília, Morro da Cruz em Porto Alegre e Vila Gilda, em Santo André, no ABC paulista.
 O curador e também pesquisador Henrique Siqueira, supervisor do Núcleo de Curadoria do Museu da Cidade de São Paulo, conta que a entidade organizou uma grade de exposições para 2022 na qual predomina o deslocamento do olhar para a periferia. Para ele, "A mostra de Iatã Cannabrava ganha importância por sua documentação histórica que antecedeu o movimento de registro da periferia por seus moradores, que ganhou vigor nos últimos anos. Também está alinhada às diretrizes no Museu da Cidade, que toma o território urbano como objeto de pesquisa e reflexão."
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 Imagem acima Vila Fundão, São Paulo, 2002
A intenção original de Iatã Cannabrava era voltar a percorrer as cidades anos depois, mas a descoberta da Doença de Parkinson, em 2008, e as transformações da sociedade o fizeram mudar de ideia. Ele explica: “Hoje tenho clareza que nesse processo do tempo, as comunidades criaram os seus mecanismos, ferramentas e linguagens para falarem por suas próprias vozes”, diz ele. Para o curador Rubens Fernandes, o ensaio continua atual: "Os territórios permanecem como centros de resistência cultural e política. O tempo é perceptível nas fotografias do ensaio ‘Uma outra cidade’ através de pequenos detalhes – mobiliário, roupas, gestos, anúncios, automóveis, entre outros índices que qualificam/especificam o passado”. E completa: “A fotografia é uma das manifestações visuais mais contundentes justamente porque sua origem está intimamente associada com a ideia de que ‘fotografia é o registro inequívoco do mundo visível (da realidade)’.”
 O curador espanhol Horácio Fernandez disse certa vez que Iatã Cannabrava ao fotografar a cidade “a leu com os pés para que os demais a leiam com o olhar, soube ser invisível para que possamos ver sem ser vistos”. De fato, é o que podemos encontrar em seus livros como o belíssimo Uma outra cidade ( Ed.Terceiro Nome-Museu da Casa Brasileira-Imprensa Oficial, 2009). Para Fernandez, as imagens de Iatã Cannabrava mostram uma cidade do presente, tão frágil e instável, que está condenada a desaparecer de imediato por qualquer causa, independente do movimento dos ponteiros do relógio. Para acabar com ela é suficiente uma tempestade, um acidente ou o capricho de um vereador disposto a favorecer ou a incomodar alguém ou algo.
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Imagem acima, Vila da Barca, Belé do Pará, 2006
Rubens Fernandes Junior explica que centro e periferia, opostos que não se misturam mas que geram uma curiosidade  quase ancestral quando pensamos em produção imagética e literária. "A periferia de algum modo nutre o artista ao mesmo tempo que o contamina com sua diferença." Ele faz um paralelo, encontrado na fotografia brasileira, olhando retrospectivamente, para a obra de fotógrafos importantes como Augusto Malta (1864-1957) no Rio de Janeiro; Pierre Verger (1902-1996) em Salvador e B.J.Duarte (1910-1995) em São Paulo., autores que "foram movidos ou pela curiosidade ou pela disposição política de denunciar uma situação social."
 É certo também que este olhar essencialmente "político" acomoda-se naquele mais inserido na antropologia visual. Entretanto sua produção, é ampliada consideravelmente como produtor de grandes eventos, como o Povos de São Paulo, reunindo dezenas de fotógrafos coordenados por diferentes profissionais, registrado no livro  homônimo, publicado em 2004 pela Editora Terceiro Nome. por ocasião dos 450 anos da cidade, recortes como "A cozinha dos imigrantes" por Eduardo Muylaert; "A cara do paulistano, por Gal Oppido; "Religiões, crenças e misticismo" por Egberto Nogueira; "Os sons e a dança da metrópole" por Marlene Bergamo; "Os mercadores da cidade" por Mônica Zarattini e "Imagens da Vida privada" pelo próprio Iatã Cannabrava entre outras importantes facetas da cidade, raramente organizadas em uma publicação.
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Imagem acima, Jardim Pantanal, São Paulo, 2001
 Para os curadores, hoje, com o distanciamento histórico, passados mais de 25 anos, as fotografias do projeto “Uma outra cidade, um outro tempo” evidenciam a relevância sociocultural e política dessa produção, marcada pela diversidade territorial e, ao mesmo tempo, pela unidade cromática e pelas aproximações de ordem estética. Iatã Cannabrava soube articular as diferenças e as complexidades de cada espaço fotografado, buscando estímulos que pudessem ajudá-lo em sua construção poética. Sua fotografia sintetiza uma reflexão singular sobre esses espaços periféricos.
Texto © Juan Esteves  © Imagens Iatã Cannabrava © fonte Museu da Cidade de São Paulo
 Leia aqui reviews de livros publicados por Iatã Cannabrava
Pagode Russo ( Ed.Madalena+ Ed.Terceiro nome, 2014)
https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/101775914461/o-pagode-russo-de-iat%C3%A3-cannabrava
 Saudades de Havana ( Ed. Ipsis+Ed.Vento Leste, 2021
https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/658528498539020288/o-paulistano-iat%C3%A3-cannabrava-viajou-por-v%C3%A1rias
   INFOS
Uma outra cidade
Fotografias de Iatã Cannabrava
 Curadoria: Rubens Fernandes Junior
 Produção Executiva: NU Projetos de Arte
 Abertura: dia 27 de agosto, das 13h às 16h
Visitação: de 27 de agosto a 23 de outubro de 2022
 Local: Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo
Rua Roberto Simonsen, 136-B (entre a Praça da Sé e o Pátio do Colégio) Estação Sé, metrô mais próximo.
Terça a domingo, das 9h às 17h
Entrada gratuita e serviço educativo disponível
www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br
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diariodecampinas · 3 years
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Morador de Indaiatuba (SP) descobre paixão pela fotografia de natureza durante a pandemia
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Isolamento social despertou em Fábio Monfrin interesse pelos flagrantes; observação de aves virou atividade da família. Primeiro encontro com a fêmea da choca-barrada foi registrado por Fabio Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG Gerente de comunicação, pai e agora fotógrafo de natureza: há um ano o ‘currículo’ de Fábio Monfrin ficou mais variado. É que com o início da pandemia e a necessidade de passar mais tempo em casa ele descobriu a vida silvestre que o cerca. Durante caminhadas matinais pelo condomínio, em Indaiatuba (SP), Fábio e os filhos passaram a observar aves e o encantamento foi grande o suficiente para tirar do armário uma máquina fotográfica antiga. “Naquele momento meu repertório não ia além de identificar o bem-te-vi e pardal. Mesmo assim, decidi começar a fotografá-los e, ao publicar no Instagram, descobri que existe uma comunidade enorme e super forte ligada à observação de aves”, conta. Clique de martim-pescador é destaque no acervo pela composição de cores e luz Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG Interessado em fazer parte desse grande grupo, o gerente de comunicação se inscreveu em cursos online de fotografia básica, fotos de aves e edição de fotos. “Com as economias de não ter que me deslocar diariamente ao trabalho investi em equipamentos melhores”. Com câmera e lente mais potentes, Fábio passou a exercitar o olhar de observador e fotógrafo, que lhe rendeu encontros marcantes. “Um flagrante muito especial tem relação com o planejamento e aplicação de técnica para atrair a espécie. Em fevereiro registramos um novo lifer para a nossa lista: uma fêmea da espécie choca-barrada! Até então nunca havíamos observado essa espécie nas nossas caminhadas. Após pesquisar sobre a espécie, aprendemos que o macho é bem diferente, com o corpo todo rajado de preto e branco. Decidimos um dia usar o playback para tentar atrair as aves e ficamos muito emocionados quando vimos que rapidamente a família toda das chocas se aproximou para conferir o que estava acontecendo. Esse dia rendeu lindas fotos do casal e de um terceiro indivíduo, um macho imaturo”, lembra o observador, que destaca ainda um encontro de tirar o fôlego. Registro de um macho de choca-barrada garantido usando a técnica do playback Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG “Uma das espécies que eu acho mais belas é o Saí-andorinha. Cheguei a fotografar uma única vez, em Capitólio/MG: estávamos caminhando por uma trilha dentro da água, em um rio, nos equilibrando nas pedras. A mochila com os equipamentos estava nas costas e a câmera na mão, preparada com uma lente com pequena distância focal, para fotografar uma cachoeira. Quando de repente avistamos um belíssimo macho empoleirado numa clareira no meio da mata. Sabe aquela composição e iluminação simplesmente perfeitas? Fiz o clique como deu para não perder o registro, mesmo sem ter onde apoiar a mochila para trocar a lente e aproximar mais”, destaca Fábio, que deseja fotografar a ave novamente, dessa vez com mais detalhes. Outra fotografia do acervo que chama atenção é uma composição com vários cliques do tiziu. “Gosto de preparar a câmera, ajustar o foco e fazer uma sequência de fotos em alta velocidade quando ele está dando suas características piruetas. Isso me permite captar diferentes instantes da sua trajetória”, diz. Montagem mostra detalhes do voo do tiziu Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG Cada vez mais perto da natureza Consciente em relação à conservação do meio ambiente, Fábio sempre se preocupou com a reciclagem do lixo, economia de água e de recursos naturais. No entanto, o contato efetivo com a natureza deixava a desejar. “Minha esposa até brincava dizendo que eu era muito urbano”, conta o fotógrafo de natureza, que junto à família transformou as caminhadas em áreas verdes uma prática comum. “Fazer as fotos durante os passeios tem servido de inspiração param eu filho mais velho Miguel, de nove anos, e para a minha espoa Kellen. Miguel vai com uma câmera e já fez belos cliques, compartilhados na rede social. Até o menor, Raul, de cinco anos, reconhece algumas das espécies quando vê ou escuta”, conta o pai, orgulhoso. Registro do tucano foi feito pelo filho Miguel, logo no primeiro dia de passarinhada em família Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG O que eu realmente espero é que, com essa experiência, sirva de exemplo para meus filhos, para que eles cresçam com um forte vínculo com a natureza e façam um papel ainda melhor na proteção do meio ambiente e da vida selvagem Monfrin foi até a Serra da Canastra participar de um workshop de astrofotografia Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG O céu é o limite Olhos e lentes apontadas para o céu não garantem somente cliques de aves: apaixonado pela astrofotografia, Fábio também se arrisca no clique de estrelas e da lua. “Além das fotos de animais livres na natureza, sempre fui apaixonado pelo céu noturno. Então esses são os dois temas principais que eu amo fotografar”, conta. Para exercitar o que tem aprendido nos cursos, ele se aventurou em uma breve viagem na Serra da Canastra. De volta para Indaiatuba, trouxe junto às fotos muitos sonhos. “O foco da viagem foi realizar fotos noturnas (astrofotografia), mas fiquei apaixonado pelo local e pretendo voltar para passar um tempo mais longo e visitar mais lugares. Inclusive, na tentativa de realizar um sonho: fotografar o lobo-guará”, finaliza. Fabio destaca o clique da lua cheia como um dos favoritos do acervo Fabio Mincarelli Monfrin/VC no TG
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onlinequadros · 6 years
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Personalize quadros online e decore qualquer ambiente! Obra luz e sombra_em de Edson moraes. Personalize do seu jeito e compre. ➡ https://goo.gl/86x9iD ⬅ Sobre a obra: detalhe de um poste de luz em uma fachada em são paulo. Confira todas as obras de Edson moraes em sua galeria. https://onlinequadros.com.br/edson-moraes Pagamento em até 10x sem Juros, entrega para todo o Brasil. #quadrospersonalizados #Edson_moraes #luz_e_sombra_em #minimalista #arquitetura #urbano #quadro #decoracao #design #arquitetura #interiores #quadrosdecorativos #quadros #composicaodequadros #fototela #decor #foto #designdeinteriores #fotografia #arte #quadrosonline #DecoraOnlineQuadros #OnlineQuadros #OnlineQuadrosNaParede (em Online Quadros)
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recantodaeducacao · 3 years
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Mostra online reúne obras feitas durante o isolamento social
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A dor é fonte de inspiração para muitos artistas, assim tem sido durante esses últimos tempos tão difíceis. O isolamento, a reflexão e o silêncio impostos pela pandemia foram transformados em artes pelo projeto Mostra Museu Arte na Quarentena, que reúne trabalho de diversos artistas. São fotografias, desenhos, animações, playlists musicais. Os trabalhos foram criados durante o isolamento social e muito refletem esse momento. Numa Ciro é uma das artistas cujo trabalho está exposto na plataforma. Psicanalista de formação sempre namorou com a música e aos 70 anos, no meio de uma pandemia, gravou o primeiro disco. Entre as composições, ela destaca uma que fala do universo feminino. “A Arte Mulher fala da origem, da natureza, da pergunta que a gente se faz: de onde a gente veio, que mundo é esse?  E relaciono a criação à mulher.”
Pedro Henrique França, um dos curadores da mostra, conta que o retorno tem sido positivo. “A pandemia, a música, nos salvou muito nesse período de tanto silêncio, isolamento. E gente olhar como artistas tiveram que se desdobrar para criar alguma coisa nesse momento”, comenta. Quem se interessar também pode participar de conversas feitas com os artista pelas redes sociais. Até o final do mês algumas obras serão disponibilizadas pelas ruas de São Paulo por meio de QR Codes no mobiliário urbano.
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*Com informações da repórter Carolina Abelin
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museutextil · 3 years
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Ian Berry, British, @ianberry.art
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“À primeira vista, muitos acreditam que os trabalhos de Ian Berry são fotografias em tons de azul ou pinturas a óleo de cor índigo. Isso não ocorre apenas quando visto online ou impresso, quando muito da profundidade e detalhes são perdidos, mas até mesmo de perto. É simplesmente seu meio para ver o mundo, sua pintura e que é o material usado neste mundo moderno; com todos os seus símbolos e dualidades, além de ser uma peça de roupa tão comum que une muitos ao redor do mundo. Ao vê-los de perto, você fica ciente da profundidade e da textura e vê como cada pedacinho de jeans foi pensado e trabalhado a partir de jeans com lavagens e desbotamentos, que ajudam a criar aquele tom de pintura. Ele cria cenas urbanas melancólicas, muitas vezes retratando um lado solitário ou menos glamoroso da vida na cidade. Para ele o jeans agora é um tecido urbano, depois de ter tido origens rurais. Que é a melhor maneira de capturar a vida urbana cotidiana.”
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“At first glance, many believe that Ian Berry’s work are blue toned photographs or indigo coloured oil paintings. This is not only when viewed online or in print, when much of the depth and detail is lost, but even up close. It is simply his medium for seeing the world, his paint, and what a material to use in this modern world; with all its symbols and dualities, as well as being such a common item of clothing that unites many around the globe. To see them up close, you become aware of the depth and texture and see how each small piece of denim has been considered and crafted out of jeans with washes, and fades, which help create that painterly tone. He creates melancholic urban scenes, often depicting a lonely or less glamorous side of city living. He says denim is now such an urban fabric, after having such rural origins. What better way to capture everyday urban life.”
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Ref.: https://www.ianberry.org/; Catto Gallery - Ian Berry @cattogallery Ian Berry: Huddersfield artist creates works in denim - BBC News @bbcnews Denim Art by Ian Berry - Gessato @gessato
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#museutextil #IanBerry #denim #denimart #contemporaryart #arch #urban
(em London, England , Uk)
https://www.instagram.com/p/CM1kZY7HCVN/?igshid=bm8dva9ys07w
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