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mayura-chanz · 1 month
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Kagerou Daze VII — from the darkness — Children Record - side n° 7
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
Nota: Eu não lembrava de como traduzi anteriormente "clearing eyes", então a partir daqui estarei colocando como "limpando os olhos".
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Nunca cometi um erro a nível de me desconsiderar, mas não tinha ideia de que eu era tão idiota.
Eu sempre fui bem nas provas. Eu estava na faixa dos noventa e tantos por cento nos simulados da faculdade. É por isso que a minha irmã burra costumava me pedir ajuda para um monte de coisas. Ela sempre dizia “Faz favoooor, mano” assim como uma irmãzinha impertinente faz. Eu sempre adotava uma abordagem mais dura, tentando o meu melhor para oferecer orientação a ela. Afinal, não é como se eu tivesse outra escolha.
Tudo isso deveria ter sido um sinal suficiente de que eu não era muito estúpido. E isso não é tudo. Havia uma garota que tinha tingido o cabelo de castanho que se juntou a um dos grupos de nível superior na sala que uma vez me disse: “Você é tão superinteligente, Shintaro.” Hee-hee boas lembranças.
...Não, espera, aguenta aí. Eu estraguei tudo. Agora me lembro: eu respondi algo assim “Nrr... rpphh...” para ela, não foi? Mal saí da cama por um tempo depois daquilo. Droga. É uma lembrança de bosta, não é? É melhor esquecer.
Independentemente disso. Acho, ou gosto de pensar, que minha mente se assemelha um pouco a um autodidata. Eu consigo compreender a maioria dos conceitos depois de explica-los uma vez e geralmente sou bom em reter conhecimentos. Inteligente. Um cérebro, podemos dizer.
Mas algo estava começando a angustiar essa bela mente. Eu me deparei com uma situação um pouco complicada... Não. Não é nem um pouco. É bem complicado. É super incrível e complicado, no nível do Juízo Final.
Duas da manhã de 17 de agosto.
Debaixo de uma lâmpada de baixa intensidade, a sala do esconderijo do Mekakushi-dan estava repleta de uma atmosfera sombria e opressiva. Estávamos cara a cara, cercados por uma variedade de brinquedos cafonas e estátuas estranhas de países que eu não conseguia adivinhar o nome. Para uma testemunha ocular, poderia ter parecido uma reunião do sumo sacerdote de algum culto da Nova Era.
Apesar que talvez isso não fosse muito longe da verdade. Afinal, aqui era o Mekakushi-dan: personagens incomuns, habilidades sobrenaturais, sem regras reais em vigor. Em termos de seu aspecto assustador, classifica-se no mesmo nível de um culto típico.
Foi Kido, líder do grupo e um dos quatro membros deixados na sala, que cortou a tensão primeiro. — Então, — ela disse, os olhos girando entre os outros enquanto mantinha a voz baixa, — alguém tem alguma última palavra?
Seu olhar fixou-se em Kano, seu alvo mais comum de abusos e reclamações até então naquele dia. Seus ombros estremeceram um pouco.
— Bem, ah...hehe... nenhuma.
O habitual sorriso alegre em seu rosto desapareceu. Na verdade, ele agora estava branco feito papel e suando muito, até me senti mal por ele, mas o que eu poderia fazer? Sinceramente, eu também estou um pouco zangado com ele.
Digo, todos nós temos um ou dois segredos que levaríamos para o túmulo. Ou, no meu caso, uma pasta oculta no meu computador. Ou duas. Ou cinco. Na verdade, pode estar na casa dos dois dígitos agora.
Então sim, uma dúzia de segredos ou algo assim.
Mas.
Transformar-se nos familiares e amigos de outras pessoas e agindo como se fossem os mesmos? Isso é meio difícil de engolir.
Tudo começou noite passada, quando ele se tornou a Momo e começou a me provocar. A verdadeira Momo não pareceu chocada ou preocupada pela pequena festa de apresentação, mas eu não fui muito fã, para dizer o mínimo. Que irmão gostaria de ver alguém além de sua irmã fazendo Deus sabe o quê enquanto fingia ser ela? Nenhum irmão, eu sei.
Depois descobri que ele estava me instigando há muito tempo como Ayano, exatamente como ela parecia naquele dia, dois anos atrás. Quando Kano me disse, bem... Foi difícil. O que ela disse naquela época tornou impossível para mim sair de casa, fiquei tão obcecado com aquilo desde então—isso me levou a pensamentos suicidas várias vezes.
Foram esses tipos de jogos que Kano estava jogando comigo. Se os últimos dias incluíssem estritamente essas duas experiências, provavelmente eu nunca mais iria querer ver o cara novamente. Isso por si só já me daria combustível suficiente para a depressão manter o motor funcionando pelo resto da minha vida.
Mas, um outro mas, ele se abriu sobre tudo comigo. Acontece que, desde aquele dia, há dois anos, até o presente, Kano esteve correndo pela cidade fazendo tudo o que podia para resgatar Ayano. Ele tinha toda essa bagagem nas costas desde que estávamos no ensino médio e eu nunca nem percebi.
Assumindo que isso é verdade, então o que Kano me disse na forma de Ayano—sobre como era culpa minha por nunca perceber nada—bem, na verdade era uma bem-dita verdade, não era? Não tem nada de errado com essa acusação. Eu falhei em perceber qualquer aspecto da Ayano e no que ela foi pega.
Saber que seu próprio pai foi infectado por algum monstro estranho que estava colocando seus próprios irmãos e amigos da escola em perigo... Eu me perguntei como Ayano se sentiu. Talvez, em todas as suas conversas fúteis que tivemos, ela estivesse dando pequenas dicas. Dicas que eu poderia ter visto como pedidos de ajuda, que sem dúvida eram, se eu tivesse prestado atenção. Mas não prestei atenção. Entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
...O arrependimento era difícil de lidar. Se tivéssemos notado alguma coisa, qualquer coisa, talvez ela ainda estivesse conosco e não lá no outro mundo: Kagerou Daze, o qual a engoliu.
A visão de Kano tremendo feito vara verde sob o olhar fulminante de Kido aparentemente diminuiu seu apetite por novas explosões violentas contra ele; ela suspirou e baixou a cabeça. Na verdade, seus sentimentos também eram sem dúvida confusos—algumas das pessoas com quem ela passou grande parte de sua vida escondiam segredos devastadores dela. Pode ter sido demais para ela engolir tudo de uma vez.
Kano olhou preocupado enquanto os olhos de Kido caíam no chão. Não foi difícil adivinhar seus sentimentos sobre o assunto. Era mais do que não querer que as pessoas ficassem com raiva dele. Era uma sensação de desespero enorme e impossível de imaginar que ele suportou sozinho por dois anos, tudo pela família em sua vida que ele queria proteger. Provavelmente estava com medo de ter criado uma dose igualmente grande de desespero para Kido agora há pouco.
Todo mundo tem um ou dois segredos. A maioria, porém, mantém os segredos em ordem de proteger a si mesmos. Este aqui, por outro lado... Ele não estava pensando em si mesmo ali. Todos aqueles sentimentos que ele devia ter por sua irmã, por sua família... tudo isso enquanto estava cara a cara com uma realidade que deve tê-lo feito querer arrancar os olhos.
Kido levantou a cabeça. Se ela continuasse com seus jogos mentais contra Kano, eu estava pronto para mediar entre os dois. Eu não preciso me preocupar.
— ...Você podia ter me contado antes, seu idiota. — Ela disse em um tom monótono. — Nós somos família. — Em seguida ela afundou de volta no sofá e ficou em silêncio.
Kano parecia estar prestes a chorar por um momento em resposta mas pareceu se recuperar bem a tempo. — Eu absolutamente irei contar na próxima. — Ele respondeu timidamente.
As ocorrências “sobrenaturais” com as quais eles... bem, nós... estávamos lidando provavelmente não eram o tipo de coisa que poderíamos resolver facilmente. Veio com uma pressuposição de nossas mortes coletivas, por exemplo. Não foi nada divertido lidar com o pavor que se seguiu e, por enquanto, não havíamos planejado exatamente nenhuma ideia para evitar esse destino.
Mas ao ver de perto esses membros da família interagindo me fez pensar em algo. A maneira como eles discutiam segredos, os aceitavam e ainda davam as mãos e olhavam para a frente. Essa era a verdadeira força do Mekakushi-dan, eles estavam lutando contra o destino e a injustiça—dois inimigos incrivelmente poderosos—e a força que eles trouxeram para a batalha não desapareceu nem um pouco.
Mesmo que este fosse um inimigo que nenhum de nós poderia enfrentar sozinho, algo me dizia que já tínhamos as melhores armas do mundo para lidar com ele.
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...Eita. Pode ser um pouco estranho socialmente sair com eles assim, mas eles realmente são bons irmãos, não é? Kano certamente parecia bastante arrependido por isso e eu não tinha grande desejo de trazer o assunto à tona novamente. Afinal, tínhamos uma montanha de problemas para resolver que começavam a atingir proporções do tamanho do monte Everest. Realmente precisávamos chegar logo ao assunto principal, caso contrário o tempo ficaria apertado...
...Enquanto pensava nisso, pelo canto do olho vi uma forma trêmula com longos cabelos negros começando a mexer. Ei, ei, do que ela está se defendendo? Ela não vai fugir de nós, vai?
Como esperado, ela caminhou em direção à porta da frente, roubando da atmosfera da sala qualquer união familiar que havíamos acabado de criar.
— Ei, para onde, para onde você está indo? — Perguntei para as costas da garota. Ela parou no momento em que tentava completar sua fuga ninja. Ela tinha o cabelo muito comprido preso em um par de maria-chiquinhas e o moletom que havia sido emprestado por Kido ondulava em torno de sua barriga, aparentemente grande demais para caber nela.
— Ah, hm... para o banheiro. — Ela respondeu com um sorriso estranho enquanto tentava desviar o olhar.
— Você acabou de ir há dez minutos. — Kido rebateu. — Sua bexiga é muito pequena ou algo assim?
A garota lutou por uma outra desculpa por mais alguns segundos, mas desistiu sem dizer nada e se jogou de volta no sofá com um baque, de frente para mim. Ela era Takane Enomoto, a segunda acusada do dia: agora se afastando de mim exatamente com a mesma atitude e mau humor que ela exibiu há dois anos.
— Tá, — ela começou, — então nós, tipo, temos algo mais para falar, ou...?
Parecia que eu podia ouvir os vasos sanguíneos ao redor da minha têmpora direita explodirem com o comportamento de “tire-me daqui” que escorria de todos os poros do corpo dela.
— Aah, sim. Então você acha que essa é toda a explicação que você precisava me dar pelo ano de vergonha e auto aversão que experimentei em suas mãos...?
— Pfft. — Enomoto respondeu ao meu golpe ressentido. — Vergonha? Você é o único que se coloca, não é? Reclamando “Ah, por favor, não olhe esses vídeos pornôs que espalhei pelo meu disco rígido como doces” e tal. Ah, qual você assistiu muito ultimamente? Acho que era algo como “Frenesi de Fetiches por Pés Adolescentes Part—”
Ah, olhe. Indo diretamente para a jugular novamente. A Válvula de Segurança de Proteção Fetichista em meu cérebro imediatamente emitiu um aviso. Suor escorria dos meus próprios poros. Eu precisava encerrar o assunto rápido. Então pulei do meu assento.
— Quê?! Você... Você é a única que... Hm... Privacidade! Sim! Tudo bem? Privacidade!
...Silêncio.
Eu podia dizer sem olhar para eles. O olhar frio da Kido já estava arranhando minha bochecha diretamente. Kano, ainda arrependido sobre nossa conversa anterior, não tentou rir como geralmente fazia; invés disso ele me encarou com um olhar sem expressão. Ele estava usando totalmente sua habilidade, mesmo. Eu pude sentir.
Enemoto, entretanto, riu. Era uma risada maligna e familiar. Ela claramente ainda adorava apertar todos os meus botões enquanto tentava esconder o sorriso com uma das mangas grandes do moletom. Meu Deus, era totalmente parecido... com aquele pequeno gesto que as duas faziam. Eu não tinha ideia de como passei um ano sem perceber. Se eu pudesse voltar no tempo, diria ao meu eu passado para martelar todos os meus dispositivos eletrônicos e ir acampar em uma cabana na montanha.
— Sim, — ela continuou alegremente, — bem, não fui eu que tentei interpretar esse personagem legal e acima de tudo na escola, com esses fetiches que você tinha. Tipo, fiquei seriamente chocada! Que trabalho completo você...
— Caramba...!
Havia algo horrível na maneira como Enomoto se afundava em sua malícia. Cerrei os dentes e tentei acalmar minha mente—cada sinapse parecia prestes a explodir de raiva. Caramba, de fato. Eu não esperava que ela chegasse neste ponto. E com o último estilo e aparência que queria ver nela também...!
Ela havia aparecido várias horas antes, aparecendo com um “Yo” casual enquanto eu estava sentado no sofá, ainda cansado de nossa caminhada improvisada na montanha.
Nós tínhamos uma coisa do tipo “animigos” na época—ela era a única colega de classe do meu amigo Haruka—então não podíamos deixar de nos ver com bastante frequência, porque ela estava praticamente grudada nele o ano inteiro. Eles almoçavam juntos e às vezes eu os via no fliperama nos dias de folga. Não tinha como qualquer um de nós se descrever como “amigos”, mas... Tudo bem, ela não era uma pessoa terrível. Naquela época.
Afinal, foi definitivamente ela quem deu o apoio mais próximo e imediato ao Haruka quando ele precisava. Ele precisava muito disso naquela época. Claro, ela era rude, grosseira, malvada e sempre pronta para derrubar você sem nenhum motivo além do de amenizar sua demoníaca gratificação pessoal, mas, com Haruka em cena, eu estava disposto o suficiente a aceitar sua presença.
Isso foi até então, é claro. Agora estava claramente óbvio para mim o quanto eu estava sendo estúpido com ela, o quão errado eu estava. Eu pensei que ela era algum tipo de cria do diabo na época, mas isso não foi longe o suficiente. Não, esta era um arquidêmonio, do tipo que faria até os mais talentosos dos médiuns do comércio infernal saírem com os pés descalços cheios de algemas. Afinal, ela era uma mulher que se escondia atrás de Ene, o espírito maligno que acabara de encerrar uma sessão de tormento de um ano com minha mente.
Quero dizer, por que isso tinha que acontecer? E por que eu? O que foi que eu fiz? Se houvesse algum tipo de eleição para votar na última pessoa no mundo com quem você gostaria de compartilhar um segredo, eu compraria todos os votos para votar em Takane Enemoto. Talvez Kano também, se eu tivesse alguns extras.
Mas, novamente, não faz sentido insistir nisso ou criar elaborados cenários de fantasia de vingança. Enemoto já tinha noção de todas as fraquezas possíveis das quais ostentava na vida. Ela não tinha medo de dar um pequeno aperto nisso sempre que quisesse. Eu estava indefeso.
Mas, não, sério, por quê? Deus morreu ou algo assim?!!
Enemoto, por sua vez, parecia extremamente orgulhosa com aquele sorriso corrupto e desprezível ainda no rosto. Ela tinha me colocado na defensiva até agora, mas eu não estava disposto a cair sem lutar. Até eu tinha algumas ferramentas com quais trabalhar, afinal, durante todo aquele ano em que “Ene” estava acumulando seu baú de materiais para usar contra mim, eu também estava ali do outro lado da tela.
— Bem, olha, — comecei, fazendo um esforço para enunciar cada sílaba da minha declaração de guerra, — você pode dizer o que quiser, Enemoto, mas não acha que está esquecendo alguma coisa? Tipo, como você se apresentou como “Ene, sua garota virtual comum da vizinhança”? Ou como você continuou me chamando de “mestre”? “Aah, mestre, mestre...” Você não se esqueceu disso, não é?
A reação, como pensei que seria, foi imediata. — Ugh. — Enemoto gemeu pateticamente, antes de cobrir o rosto com as mãos e caindo no chão. Era uma visão horrível de se ver.
— Isso, — ela continuou gemendo, — isso... eu estava apenas, tipo, experimentando minhas habilidades, vendo o que eu poderia fazer e... e isso me deixou bem animada e tal, e... ah...
Ela estava tendo dificuldade para respirar. Eu me mudei para o golpe final.
— Ah, sério? Então, durante todo esse tempo, você estava se imaginando como uma linda garota brincalhona voando no meu computador? Essa é realmente a imagem mental que você tinha naquele seu cérebro sombrio e obcecado por fofocas? Cara, fale sobre degeneração.
— Aaaagghhh!! — Enemoto gritou como se eu tivesse acabado de lançar um talismã dissipador de espíritos em sua testa. A maneira como ela recuou, afastando-se de mim, fez-me sentir como se estivesse realizando um exorcismo—e por que não? Ela mesma era o diabo! Ela merecia ser banida! Volte para o mundo ao que pertence!
*
Enquanto nos envolvíamos nessa farsa, a porta se abriu atrás de mim. — Vocês falam muito alto! — Mary reclamou de nós. — Que horas vocês acham que são agora?!
Todos na cena congelaram e olharam em sua direção.
— Pelo menos apague as luzes quando forem dormir. — Ela resmungou antes de fechar a porta.
...Eu já estive nesta situação antes. Você passa a noite na casa de um amigo, passa muito tempo brincando depois da hora de dormir e uma mãe sobe as escadas correndo. Você nunca poderia discutir com um adulto assim e, em algum lugar, com bem mais de um século de idade, Mary com certeza nos derrotava em idade.
Enomoto e eu trocamos olhares, uma careta, e depois estendemos a mão um para o outro em uma sincronização quase perfeita.
— ...Vamos só esquecer sobre isso, Shintaro.
— ...Certo.
Nós apertamos as mãos, ambas ainda molhadas de suor, e forjamos o armistício.
...Espera. Não, nós não forjamos. Seus olhos não estavam sorrindo nem um pouco. Ela está planejando me matar assim que eu abaixasse a guarda. Eu vou precisar dormir com a porta trancada por um tempinho.
Baseado no que ela disse, Enomoto aparentemente fez contato com o Kagerou Daze naquele dia dois anos atrás. Os resultados a transformaram em Ene e acho que ela deve ter obtido a habilidade dos “olhos despertados” ou “olhos focados” que Azami mencionou em seu diário. Tornar-se invisível ou mudar de forma ou algo assim era difícil o suficiente para compreender, mas a habilidade de Enomoto era um pouco mais complicada de interpretar. Basicamente, ela removeu a consciência do corpo e poderia levá-la para onde quisesse. Ela não conseguia manifestar “Ene”, seu eu espiritual, no mundo real, mas, fora isso, parecia um pouco com uma experiência extracorpórea.
Era como se ela fosse um espírito maligno—o que combinaria perfeitamente com ela. Como disse Kano, “cada habilidade tem seus gostos e desgostos quando se trata de “recipientes” e esse foi um exemplo perfeito, se é que já vi um.  
Assim que Enemoto obteve essa habilidade, ela ficou circulando por todas as redes eletrônicas do mundo, em busca do corpo físico que perdeu quando o Kagerou a atingiu. Isso, segundo ela, levou-a ao meu computador.
Abaixei-me, afundando-me profundamente no sofá, e abaixei um pouco minha voz: — Mas por que você veio até mim? — Perguntei. — Você deve ter tido algum outro lugar onde poderia bagunçar por aí.
Enemoto franziu a testa. — Bem, na verdade não. Quero dizer, Haruka morreu e Ayano também não estava por perto também. — Ela olhou para mim. — Além disso, parecia que você ia morrer se eu te deixasse sozinho, então...
— Ah...
Agora estávamos no cerne da questão. Eu odiava ter sido acertado assim. Mas eu não poderia simplesmente ignorar isso.
— ...É, eu não vou negar isso, — respondi. — O que aconteceu com Haruka e Ayano, eu... você sabe, eu fiquei super deprimido.
Foi um bom ponto. Quando essa garota apareceu como Ene, eu estava profundamente desesperado. Fiquei cheio de tristeza por ter perdido dois colegas de classe que eu conhecia muito bem e então Kano se disfarçou de Ayano e disse...aquilo para mim. Eu nunca poderia deixar passar e isso estava me deixando louco.
Os dias depois que ela apareceu no meu computador foram cheios de humilhação e desgosto, claro...mas de certa forma, acho que isso me salvou um pouco. Graças a ela andar por aí como uma galinha com a cabeça decepada, consegui me levantar e sair daquele abismo. Se ela não estivesse lá, eu poderia ter ido dessa para uma melhor.
Quando me lembrei disso, Enomoto começou a tremer e sacudir as pernas, um tique nervoso que não tinha visto antes. Eu olhei para ela.
— Você acabou de dizer “o que aconteceu com Haruka e Ayano”, — revelou. — Mas, uhm, você não está meio que esquecendo alguém?
...Ah. Isso. Agora eu soube o que estava irritando ela. Suspirei, silencioso o suficiente para que Enemoto não perceberia. Hesitar aqui a faria me atacar ainda mais. Decidi simplesmente deixar sair.
— ...Tá bom, sim, foi um grande choque quando você se foi também, tá? Claro que foi. Você não tem que me fazer dizer isso em voz alta.
— Bem, que bom. — Isso foi aparentemente o suficiente para agradá-la. Ela deu um grande sorriso, um que não parecia combinar em nada com seu rosto. Eu juro, o jeito que ela cria cada expressão como essa, calculando com exatidão a resposta que quer; é a Ene pura. Foi estranho o quanto isso me impressionou naquele momento.
— Eu, sabe... — Ela fez uma pausa. — Fico feliz por ter ouvido isso de você. Porque, de certa forma, foi como se eu estivesse em um estado de um sonho louco o tempo todo. — Ela colocou a mão no ombro, dobrou as pernas e se esticou no sofá.
— O que você quer dizer? — Perguntei, não entendendo. Isso diminuiu um pouco o sorriso de Enomoto.
— Quero dizer, eu fiquei fuçando na net o tempo todo como Ene, mas não encontrei nada sobre mim. Sobre meu desaparecimento. — Seu rosto escureceu. — E não só isso também. A doença do Haruka, o suicídio da Ayano, meu desaparecimento... Tudo aconteceu no mesmo dia, entende? As pessoas normalmente não achariam isso estranho?
Odeio admitir, mas ela estava certa, e concordei com ela. Como ela disse, dois anos atrás—15 de agosto—houve muitos eventos que aconteceram em conjunto sem fazer muito sentido. Haruka enfim sucumbir à doença era uma coisa, mas a morte de Ayano? O desaparecimento de Enomoto também, tudo no mesmo dia? Isso não foi normal, não importa como você olhe. As pessoas deveriam estar procurando uma ligação... ou tratando isso como um crime ou afins. Mesmo assim não havia nada sobre nos noticiários. Aquilo foi estranho. Eu não tinha certeza de como responder a isso.
— Você estava vendo as notícias naquela época? — Enomoto cutucou. — Você se fechou em seu quarto nesta época também, não é?
Eu não gostei da maneira como ela expressou, mas balancei a cabeça, em vez de tocar no assunto. — Sim, mas não vi as notícias. — Falei. — Eu não queria ver meus amigos mortos sendo comentados na TV e tal. Eu estava muito deprimido para ligar para isso, afinal.
— Ah não? — Enomoto respondeu, recuando. Por que ela não era gentil comigo com mais frequência?
— ...Espera um pouco. — Kano se intrometeu. — Eu estava vendo naquela época. Takane está certa: foi incrível como ninguém tocou no assunto. Tipo, isso me surpreendeu enquanto via. — Agora sua própria voz se aprofundou, procurando causar uma boa impressão. — Acho que ela pode estar certa. Talvez toda a cidade já esteja tomada. Por esse... poder maluco.
Então caímos em silêncio por um momento.
Kano não nos contou isso para nos assustar ou algo do gênero, pelo menos eu acho, mas parece que teve esse efeito em Enomoto. Isso sim era incomum, mas talvez ela não pudesse ser culpada. Se algum “poder maluco” realmente existe, então significava que tudo o que considerávamos normal em nossas vidas não era nada disso.
Como Enomoto não demonstrou sinais de querer falar, decidi compensar: — Então você está dizendo que essa coisa “limpando os olhos” de que está falando é forte o suficiente para envolver a cidade inteira na palma de sua mão?
— Eu não quis dizer que era muito forte ou algo assim. — Alertou Kano enquanto refletia um pouco. — Eu quis dizer que o poder “limpando os olhos” que assumiu o controle do nosso pai tem vontade própria e que é com isso que realmente deveríamos nos preocupar. Porque é muito inteligente... ou, é tipo, algo com uma quantidade enorme de conhecimento. Estou mais propenso a apostar que, desde que chegou a este mundo, ele tem usado esse “conhecimento” e o corpo do meu pai para acumular dinheiro e poder para si próprio. Esse é o tipo de autoridade que você precisa para assumir o controle de uma cidade inteira.
Ele mudou a posição de suas pernas embaixo dele: — Eu sei que parece algum tipo de brincadeira, mas...
Algum tipo de brincadeira, né...? Definitivamente. Não havia muitas histórias tão bobas quanto esta.
Kano estava dizendo que este super cérebro tomou controle de cada aspecto dessa cidade por trás das cenas. Se uma enciclopédia viva como essa, uma compreensão completa de tudo, desde o início da civilização até a ciência moderna, realmente existisse, então talvez a teoria de Kano tivesse pelo menos um pouco de mérito. Se esta coisa de “limpando os olhos” tivesse o poder de controlar o funcionamento de tudo e de todos e até mesmo controlar seus corações e mentes, isso poderia ser suficiente para governar uma cidade inteira.
Mas simplesmente não fazia sentido algum. Todos nós tínhamos certas fronteiras mentais em nossas mentes, às quais nos referíamos como “senso comum”. Aceitar qualquer coisa que fosse além disso como algum tipo de dado divino nunca seria fácil. Mas o “senso comum” era um conceito. Não um fato. Se os últimos três dias me ensinaram alguma coisa, foi que os valores que associei ao “senso comum” ao longo da minha vida eram mais do que frágeis e fracos.
Essas pessoas com seus “ohos” fantásticos; um outro mundo separado do nosso; esta tragédia sendo preparada para nós de uma forma tão extraordinária... Todos esses eventos absurdos estavam se conectando e lentamente, silenciosamente, formando a “realidade” inexpugnável que agora estava espalhada diante de nós.
Não importa o quanto eu duvidasse disso tudo em minha mente, eu não podia fazer nada sobre o que estava sendo apresentado. As coisas já haviam se desviado muito do domínio do acreditar ou não acreditar nisso.
— Isso só te faz querer rir. — Deixei escapar.
A sobrancelha da Enomoto se levantou: — O que te faz querer rir? Você começou a perder a cabeça ou algo assim?
— Eu não estou perdendo a cabeça, Enomoto. Eu quis dizer que você e Kano simplesmente me chocaram e acho que saquei o quanto essa situação é ruim. É só...
Parei. Eu não tinha certeza se valia a pena dizer o que viria a seguir. Se fosse o eu de antes de ontem, provavelmente teria fechado minha mente e dito para deixar para lá. Mas nesse momento, por algum motivo, não senti necessidade de esconder minhas verdadeiras intenções. Continuei esbravejando, sem me preocupar em escolher as palavras com cuidado.
— Isso é muito melhor para mim, sabe? Era muito melhor ouvir tudo isso do que quando fiquei enfurnado no meu quarto sem saber de nada. Quer faça algum sentido ou não, o primeiro passo para enfrentar algo é ser capaz de ver o que é. Digo, isso é uma lufada de ar fresco e... tal. É como eu me sinto.
Eu meio que perdi a força no final, mas parece que meu ponto de vista havia sido transmitido. “Uau”, disse Kano, que ouviu em silêncio e agora parecia um pouco aliviado. — Fico muito feliz por podermos contar com o novo cara aqui.
Enomoto, por outro lado, teve problemas para digerir tudo. “Hmm”, ela entoou. — Bem, eu li na mensagem da Ayano que meu professor estava confuso. Se fosse algum tipo de habilidade fazendo isso com ele, então teria acontecido antes mesmo de qualquer um de nós ser admitido naquela escola, certo? Acho que o Sr. Tateyama e Haruka se conheciam há algum tempo e foi só no terceiro ano do ensino médio, do nada... você acha que estávamos todos reunidos lá por causa de nossas habilidades? E depois mortos, um por um?
Seu rosto se contraiu, como se fosse chorar. Ela baixou a cabeça.
— Eu tentei não pensar muito a fundo, mas... eu nem sei mais o que está acontecendo. Eu não sei no que deveria acreditar.
Abri minha boca. Eu queria dizer alguma coisa invés de deixa-la ali. Mas não consegui encontrar palavras. Talvez Kano tivesse percebido, pois ele recorreu a Enomoto em meu lugar.
— Eu não quero parecer como se estivesse defendendo minha família ou algo assim, mas estou bem seguro de que o pai nunca percebeu que tinha essa habilidade.
Enomoto inclinou o rosto para cima. Seus olhos estavam vidrados, como imaginei que estariam.
— Essa habilidade funciona obedecendo à sua vontade. Seu senso de identidade, na verdade. Eu acho que você não tem lembrança nenhuma de quando ela te dominou. Então, quero dizer... acho que ainda é seguro confiar nele. Pelo menos aquele que você conheceu na escola. O qual conhecíamos em casa.
Ela mordeu um pouco os lábios. “Sim”, ela sussurrou enquanto virava a cabeça novamente. Eu sabia que ela e Haruka gostavam e respeitavam Sr. Tateyama como seu professor de sala, mas agora o homem era um acusado, um suposto assassino. Eu não conseguia nem imaginar quão chocante isso era.
Mas Enomoto assentiu algumas vezes como um sinal de confirmação e levantou o rosto novamente. Sua expressão voltou ao desdém habitual.
— Sim. Ele ainda é um cara muito bom, eu acho. Não me importo de acreditar nisso e eu realmente acho que alguém assim não poderia ter projetado algo do tipo. Não há nada de “limpando” na maneira como ele age ou fala. Não... acho que é tudo culpa dessa habilidade.
Então ela soltou uma risada desafiadora, como se estivesse liberando algo que estava infeccionado por dentro há muito tempo. Não segui muito a lógica dela, mas parecia que ela estava bastante convencida. Eu assumiria isso no lugar da Enomoto deprimida a qualquer momento—eu nunca suportaria lidar com isso de novo, se pudesse evitar.
— Mas o problema é o seguinte. — Ela acrescentou. — Se o poder “limpando” está realizando alguma conspiração selvagem como essa, então qual é a razão que ele tem para nos matar? Se já é capaz de realizar todas essas coisas incríveis, por que não pode simplesmente nos deixar em paz e fazer o que quiser?
Kano encolheu os ombros e fez uma careta: — Ah... Acho que expliquei isso há pouco.
— Hã? Bem, talvez eu ouvi, mas não peguei de verdade.
Os dois trocaram olhares perplexos.
— Para criar uma Medusa. — Interrompi. — Isso é o que ele quer, Kano?
— Sim. Estou tão feliz que você está aqui agora, Shintaro. As coisas se movem bem mais rápido com você...
Sim, obrigado. Se puder, não quero que você me coloque no mesmo nível intelectual da Enomoto.
— Sim, eu sei disso, mas essa coisa mu-doo-sa, tipo... — ela disse, provando meu ponto.
De acordo com o diário da Azami e tudo mais que sabíamos, havia no total dez habilidades “oculares” diferentes. Trazer todas elas juntas seria o suficiente para recriar a raça Medusa na nossa era moderna e isso, Kano pensou, era o objetivo do nosso inimigo. Aparentemente, isso inevitavelmente significava a morte de todos os outros detentores de habilidades.
Então esses são os riscos. Ou paramos os planos do inimigo ou todos no Mekakushi-dan, exceto eu, morrem.
Era absolutamente loucura, mas...
— ...Vamos ter que parar com isso. — Eu disse. Enomoto e Kano assentiram em uníssono.
— Bem, antes de mais nada, nós não temos muito tempo sobrando, né? Se vamos parar essa coisa, nós temos que nos mover imediatamente.
— Sim. — Kano concordou enquanto esticava seu corpo. Ele continuou sendo como um gato assim, em alguns aspectos. — Gostemos ou não, tudo vai acabar amanhã à noite. Acho que se vamos ter uma estratégia em vigor, é melhor começarmos a pensar nisso agora.
Olhando para trás, para os últimos dias, não me lembro dele fazendo algo como se esticar na minha frente daquele jeito, algo que o deixaria indefeso. Abrir mão do seu segredo deve tê-lo ajudado a relaxar um pouco.
Assim que isso tudo acabar, talvez ele esteja disposto a me contar um pouco mais sobre o passado. Sobre Ayano, sobre Haruka... e sobre tudo mais que não sei sobre daquela época. Enfim, assim que tudo isso acabar.
Exalei um pouco, tentando restringir meus processos de pensamento enquanto olhava ao redor da sala e seus membros. — Certo. — Eu disse. — ...Espera, não durma. Líder, precisamos de você aqui.
Kido estava quase cochilando. Esfreguei seu ombro e ela abriu os olhos distraidamente. Ih. Com ela como nossa líder, tínhamos todos os motivos para temer por nossas vidas... embora com o resto da equipe, as maçãs também não caíram exatamente longe da árvore. Todos neste esconderijo poderiam ter menos de vinte e quatro horas de vida e, ainda assim, mal conseguiam permanecer conscientes.
Voltei para Kano: — Podemos começar nossa sessão de estratégia? Se estragarmos tudo, o jogo acaba, pessoal.
Kano abriu um sorriso para mim. — Ei, você é bom em jogos, né, Shintaro? Temos muita coisa em jogo dependendo de você!
Eu mordi a isca. — Com quem você acha que você está falando, cara? Eu consegui pegar a pontuação perfeita no jogo que seu pai fez, lembra?
Foi, e ainda permanece, uma boa lembrança. Headphone Actor... Talvez tenha sido apenas um espetáculo secundário para o resto do festival escolar, mas ainda assim foi muito divertido. Eu daria pelo menos três estrelas e meia.
Kano riu e sentou-se em sua cadeira: — Certo, Shintaro! — Exclamou, percebendo a energia recém-descoberta na sala. — Estou pronto para continuar com isso até de manhã.
Quando se tratava de aliados nesta minha nova missão, ele era provavelmente aquele com quem eu mais podia contar. Ele havia revelado tudo sobre si mesmo, afinal. Mas eu ainda o questionei um pouco. Olhando em volta, percebi que Kido estava olhando para Enomoto, parecendo que queria dizer algo, mas não conseguia descobrir o quê.
— Q-que foi? — Enomoto finalmente perguntou.
— N-nada. — Kido respondeu apressadamente. — Eu só estava me perguntando como você queria que chamássemos você. “Enomoto” por si só faz você parecer meio tosca.
Tosca? Qual é. Se estamos falando de nuances aqui, como é me chamar de Shintaro esse tempo todo? Isso sim é mais tosco. Ainda assim, evitei deixar escapar enquanto avaliava Enomoto, que parecia um pouco envergonhada.
— Ene está bem. — Ela murmurou. — Seria um saco ter que mudar isso nessa altura do campeonato.
Acontece que, e isso era novidade para mim, “Ene” era seu nome online. Dada a forma de como sua mente funcionava, deve ter sido tremendamente embaraçoso ser chamada de Ene no mundo real. Mas agora parecia que estar no Mekakushi-dan poderia fazer qualquer coisa parecer um pouco melhor.
Então peguei uma caneta e comecei a desenhar um esboço.
Nosso “inimigo” estava se escondendo em algum lugar que, uh, acabou sendo um lugar um pouco maior do que esperávamos. Mas não pensamos muito nisso. Todos estes acontecimentos extraordinários que nos foram apresentados talvez tenham entorpecido a nossa capacidade de sentir o verdadeiro peso das coisas.
No geral foi um dia exaustivo, mas me senti ótimo. Meu segundo fôlego devia estar em alta. Parecia que seria uma longa noite.
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*
O “limpando os olhos” que se infiltrou na mente do Sr. Tateyama já havia infectado a cidade inteira, abrindo bem sua enorme boca para nos engolir. Provavelmente era seguro presumir que não podíamos mais confiar em mais ninguém. Estávamos enfrentando um monstro genuíno, aquele que contou a Azami como construir o Kagerou Daze. Não havia mais tempo para brincadeiras. Se não encontrássemos uma forma de impedir o seu esquema diabólico, seríamos todos a próxima refeição desta criatura.
...Então, do fundo da minha mente, senti algo. Algo queimando, de uma forma que nunca tinha experimentado antes.
Pensei um pouco sobre isso e então sorri reflexivamente. A batalha contra esse grupo sombrio, as coisas sobrenaturais acontecendo conosco, o monstro que apareceu, a equipe que se uniu em resposta...
— ....Puta merda, eu não sou um herói desse grupo de RPG, ou sou?
Tentei não deixar minha inteligência subir à cabeça muitas vezes, mas tive a nítida impressão de que tinha o que era necessário para expulsar o desespero da vida de todas aquelas pessoas.
Kido iniciou a Operação: Conquistar o Kagerou Daze graças a uma mistura de excitação e excentricidade. Agora, era uma realidade.
Afinal... cada uma de nossas vidas poderia estar baseada neste plano.
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mayura-chanz · 9 months
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Kagerou Daze VII — from the darkness — Shissou Word II
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
[1] Wok: um tipo de panela, parecido com uma frigideira, só que um pouco mais funda.
____
De repente, minha mente se focou na luz do sol borrada do outro lado das minhas pálpebras. Abri meus olhos e pisquei algumas vezes, enquanto os sentidos do meu corpo, anteriormente dormindo, gradualmente se agitavam e despertavam. Aquele corpo, flutuando e balançando entre as ondas suaves do som, como um saco plástico transparente, lentamente recuperou seu peso, forçando-me a sentir a forma completa da minha forma enquanto permanecia afundada na cama.
— Ah cara, — eu disse, abaixando minhas sobrancelhas. — Eu queria poder dormir um pouco mais. — Mas já era muito tarde. Para começar, eu tinha sono leve. Em um estado como este, não tinha como fazer um retorno para aquele reino.
Resignada para o meu destino, tirei meus fones de ouvido. Minhas orelhas ficaram livres da pressão e gradualmente o fluxo sanguíneo voltou. Desligando a música, fiquei ali deitada enquanto meus tímpanos eram sacudidos por todos os “sons” que compunham o mundo real. Os sons odiosos, contundentes e pulsantes do mundo exterior.
Suspirei e apoiei meu corpo pesado. No espelho de corpo inteiro irremediavelmente ornamentado colocado na minha frente, eu podia ver uma cama de dossel igualmente extravagante refletida de volta. A pessoa de olhos turvos e de aparência desgastada sentada no meio olhou para a imagem.
— ...Dia.
A imagem da boca se moveu em conjunto com a minha.
Uma outra manhã odiosa começou.
Estendi os braços e olhei para a janela. A luz brilhante alegre da primavera estava abrindo caminho através das flores de corniso lá fora, exibindo um piscar constante. Ainda havia um frescor no ar, mas essa árvore sempre florescia cedo e dava sinais de que logo estaria em plena floração. As pétalas rosa-claras ondulantes trouxeram à mente o termo “flor delicada”.
Flor delicada. Sinceramente, eu gostava do jeito que as palavras soavam, mas eu sempre associei uma imagem negativa com a frase. No mínimo, me provocava um pouco de raiva.
*
O meu nome era “Tsubomi”. Era uma palavra que, em japonês, referia-se a um botão de flor que não floresceu. Eu perguntei uma vez para minha mãe por que ela usou uma palavra como essa para o meu nome. Acho que ela falou que era porque “é um sinal de todo o potencial que você tem—o potencial de se transformar em sua própria flor delicada”.
Eu acredito que uma garota normal pularia e gritaria: “Uau! Que nome tão fofo! Obrigada, Mãe!” E era assim como todo mundo reagia quando ouviam o meu nome. Cada um. Eles sempre diziam “Que nome lindo” ou algo assim.
Uma palavra que o mundo inteiro amava. Delicada e cheia de potencial.
— ...E o que diabos é tão delicado em você?
A imagem no espelho brilhou desafiadoramente com um clarão meio adormecido. Esta não era um botão de flor. Pelo contrário, era mais como algum tipo de erva daninha. Não tinha nada do nome Tsubomi que combinasse comigo. Toda vez que alguém me chamava assim, parecia como se estivessem sendo sarcásticos. Como “O que há de tão fofo e parecido com um botão em você, hein?”
Eu odiaria dizer isso para minha mãe, mas para ser franca, não havia muito sobre o nome que eu gostasse.
Enquanto minha mente se enchia de melancolia, pude ver pequenas e delicadas Tsubomi no espelho nublando o rosto dela em conjunto, a expressão tão fraca quanto uma lâmpada queimada. Decidi finalmente sair da cama.
Colocando os chinelos que tinha jogado para o lado na noite passada, comecei a caminhar em direção à porta. O lugar era totalmente climatizado—uma temperatura confortável, não muito quente. Andei pelo tapete, decorado com padrões simbólicos de um tipo e de outro, e quando estava quase chegando à porta, ouvi sons de batidas.
— Ee...?!
Eu instintivamente deixei um débil grito sair, um totalmente despreparado. Não estava quente no meu quarto, mas senti um suor desconfortável começar a se formar em todo o meu corpo.
Minha mente começou a correr. Diagnosticando mentalmente como lidar corretamente com a batida, eu imediatamente abri minha boca. E mantive aí. Ela permaneceu aberta... Mas não importa o que, eu simplesmente não conseguia fazer as palavras saírem.
— Você já está acordada, não está, Tsubomi? Se você já acordou, por que não me responde?
Era uma voz fria e retumbante do outro lado da porta, tão meticulosamente trabalhada quanto um obi de alta qualidade, e tinha força por trás dela. Eu congelei, como um sapo na frente de uma cobra.
Não havia dúvida. Era ela do outro lado. Eu tinha que dar as palavras corretas na resposta, ou... ou...
Mas quanto mais pensava, mais minha mente começava a ficar confusa. O tempo passou.
— ...Tudo bem, estou abrindo. — A voz disse secamente quando a porta se abriu. Lá estava minha irmã mais velha, Rin Kido, a dona da voz que me congelou. Seu cabelo, que tinha um pouco de vermelho nele, estava preso para trás, as costas retas enquanto ela estava ali. Tão cedo pela manhã, e ainda assim sua postura não revelava uma única fraqueza.
Rin em japonês pode significar “digno”, assim como “frio” e “amargo”, e acho que ninguém pode negar que tal nome não poderia ser mais adequado. Ela era boa em tudo: inteligente, bonita, ativa. Ninguém nesta nação tinha combinado o nome Rin melhor.
E aqui estava essa garota com um caso seríssimo de alguém com o cabelo de quem acabou de acordar, recém colocada no mesmo nível que as ervas daninhas, tentando fazer sua boca funcionar.
— Uhh.. hhmmm...bom, bom di...
Minha irmã suspirou com as sílabas quase incompreensíveis que pronunciei, franzindo a testa em uma demonstração de pena, presumo.
— Tsubomi, você sabe que não estou aqui para te assustar ou qualquer coisa do tipo, né?
Eu sei, claro. Eu sabia que ela não era o tipo de pessoa que vem me assustar e também sabia que aquele rosto gracioso dela estava olhando para mim. Mas mesmo assim eu simplesmente não conseguia conectar minha cabeça à minha boca. Não importa o motivo, eu simplesmente não conseguia dizer mais do que: “Sim. Sim, eu sei.”
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Rin aguçou ainda mais os olhos. — Ao ficar quieta assim, — ela rosnou, — você está agindo como uma grama na beira da estrada, Tsubomi.
Suas palavras me atingiram como uma facada. Meu corpo congelado gradualmente começou a tremer.
Era... difícil falar no geral. O médico disse que não havia nada de errado com minha cabeça ou com as cordas vocais ou outra coisa, e eu instintivamente já sabia. Se eu estivesse sozinha, no meu quarto, eu conseguia conversar sem largar mão. Era só quando eu estava tentando conversar com mais alguém que as palavras se esgotavam em mim.
Até recentemente eu poderia ainda lidar com isso. Se alguém me desejasse um bom dia, eu conseguia desejar um de volta. Dar respostas básicas de sim ou não, nunca teve qualquer tipo de problema.
A razão que isso ficou pior era bem simples. Um dia, no centro infantil em que minha mãe me levava, um menino começou a fazer gracinha com a minha fala. Isto foi o começo. Eu também achei que o que ele disse não era nada particularmente cruel ou abusivo. Os adultos acharam que não valia a pena insistir nisso, ordenando rapidamente que o menino se desculpasse para que todos pudessem deixar o assunto de lado.
Mas não importa quanto tempo passe, eu não pude deixar passar.
Até o momento, aquele momento, eu nunca havia considerado como soaria minha voz e as minhas escolhas de palavras. Como resultado, o significado por trás do que o menino disse veio como um golpe incrivelmente pesado. Ou seja, significa que, comparado a outras pessoas, tinha algo estranho comigo. No instante em que esse pensamento cruzou minha mente, foi como se alguém tivesse apagado todas as luzes na minha cabeça.
Voltando para aquele dia, quando o significado ficou claro, ignorei todos os adultos por perto e comecei a socar o menino. Isso acabou se tornando algo maior para eles. Minha mãe continuou se curvando em desculpas aos pais daquela criança pelas próximas idas depois.
*
Depois disso, comecei a evitar situações que envolvessem falar e, agora, eu sou tão tímida que não consigo nem mesmo comunicar palavras simples ou conceitos.
— ...Tudo bem. — Disse Rin, cruzando os braços no corredor enquanto ficava cada vez mais impaciente. — Está bem. — Então ela colocou os pés no quarto.
Ótimo. Eu fiz de novo. Se eu não responder nada para o que ela pergunta, não uma questão simples, bem, isso faria qualquer um ficar zangado. Baixei os olhos, incapaz de aguentar o esforço. As sombras das flores dos cornisos criavam padrões ondulantes no tapete. Mesmo sendo só a silhueta, elas estavam delicadas.
...Estava me deixando louca. Minha voz, meu nome, tudo.
Que tipo de expectativas a minha mãe tinha para o meu futuro? Ou talvez todos aqueles sonhos agora estavam focados na Rin, de mente perspicaz e obstinada.
Mas eu nunca saberia como ela realmente se sente... E, digo, mesmo que a mãe estivesse viva, eu não poderia dizer uma palavra sequer. Eu não consigo nem “perguntar” nada a ela.
Quantas palavras troquei com minha mãe desde aquele episódio—naquele apartamento apertado em que estávamos?
Não. Eu não mudei nada desde aquele dia. Vai ser assim para o resto da minha vida. Eu sei que vai. Não tem como eu me tornar uma flor delicada que a minha mãe gostaria.
Pensando nisso, no quão patética e inútil eu era, fez os cantos internos dos meus olhos começarem a esquentar.
Os pés da minha irmã se aproximaram, pisoteando nas silhuetas dos cornisos. Olhei para ela. Ela já tinha um braço no ar.
Estremeci e fechei os olhos, esperando um tapa. Mas a dor não foi registrada através da minha bochecha. Em vez disso, senti algo macio escovando meu cabelo desgrenhado de cima para baixo. Surpresa, de repente abri os olhos e olhei para Rin novamente. Ela não estava sorrindo, mas também não parecia estar com raiva. Ela estava apenas olhando para mim resolutamente.
O que era estranho era que ela estava me dando tapinhas na cabeça e definitivamente não estava me dando um tapa na bochecha. Talvez essa fosse uma nova forma de expressar raiva com a qual eu não estava familiarizada, mas de qualquer forma, esse comportamento era novo e confuso.
Então Rin separou lentamente os lábios e falou.
— Pão ou arroz? Qual você quer?
...Pão ou arroz? Eu era mais de arroz. Ele podia acompanhar muito mais variedades de comidas do que o pão e eu gostava do sabor. Mas por que ela está me perguntando isso agora? Para não ser muito precisa, o fluxo geral das coisas indicava que ela estava prestes a gritar a plenos pulmões algo como “Você vai ficar no seu quarto até me dizer por que você não está respondendo” ou algo assim. Eu entenderia se fosse isso. Mas por que ela está me perguntando sobre minha preferência...?
— Ah... — Exclamei alto. Uma ideia veio em mente. Ela nunca aparecia quando seria realmente útil, mas minha voz sempre encontrava uma saída quando eu me surpreendia com alguma coisa. Era tão cruel.
Rin não demonstrou nenhuma reação a ela. Ela olhou para mim, aparentemente esperando por uma resposta. Estremeci um pouco.
“Pão” ou “arroz” ...Ela deve ter estipulado que esses termos significassem algum tipo de punição. Isso explicaria muitas coisas. Eu tinha visto assassinos malucos em programas de TV oferecendo às suas vítimas uma escolha de mortes. E era muito fácil imaginar Rin como capaz de algo semelhante. Ela pode ter usado palavras inofensivas como “pão” e “arroz”, mas isso só tornou tudo ainda mais assustador.
Se fossem punições, era fácil imaginá-las como cruéis e/ou dolorosas. Minha imaginação começou a correr solta. O que significaria “pão”? Ela iria me ensanduichar com alguma coisa ou usar a torradeira como algum tipo de dispositivo de tortura? Era um pouco mais difícil descobrir o que era “arroz”, uma panela elétrica de arroz não parecia muito adequada para atormentar alguém fisicamente, mas mesmo assim, já me sentia aterrorizada.
Qual seria a melhor resposta para dar? Se eu dissesse algo como “Não quero nenhum dos dois”, ela responderia com um “Tudo bem, macarrão, então” ou algo assim—e depois, meu Deus, colocaria minha mão na água fervente, ou...?
Talvez seja melhor eu escolher pão então. Não, espera, arroz...
— Tsubomi?
— A...a...arroz, por favor!
Ser chamada pelo nome fez minha boca cuspir reflexivamente “arroz”. Em volume bastante alto, nada menos que isso. Alto o suficiente para assustar Rin um pouco, pelo que parece, mas fiquei ainda mais chocada. Pode muito bem ter sido o mais alto que já gritei desde que nasci.
O sangue começou a bombear com força em meu crânio. Eu tinha passado de um ato extremo de grosseria para outro. Estava tudo acabado. “Arroz” pode não ser mais suficiente para me punir. Eu estava começando a imaginar a possível introdução do arroz frito no cardápio. Fervido e deixado na wok[1] para ferver.
Enquanto minha mente se aproximava de caminhos cada vez mais ridículos, o olhar resoluto de Rin de repente se transformou em um sorriso. Eu não sabia por que isso aconteceu, mas, por mais inapropriado que fosse, peguei-me pensando: “Cara, ela é mesmo bonita”.
Rin deu alguns tapinhas na minha cabeça com a mão estendida, depois se abaixou, trazendo os olhos para os meus. — Tudo bem. — Ela disse. — Vou tentar preparar algo muito bom para você hoje. — Sua voz tinha todos os tons agudos que vinham por padrão, mas ainda trazia uma sensação calorosa que parecia permear minha pele.
Ah, o que eu tenho que fazer para começar a falar assim? Eu não pude deixar de admirá-la.
Depois de ouvir o que ela disse, minha irmã virou-se e saiu levemente. Fiquei ali em silêncio por um tempo, depois comecei a pirar novamente. Talvez “algo muito bom” significasse o nível da punição que estava reservado. Pouco mais passou pela minha cabeça enquanto me vestia e me dirigia para a mesa do café da manhã.
Mesmo durante a refeição, Rin agia como se estivesse nas nuvens. O trabalho do meu pai aparentemente estava indo bem, a ponto de conversarmos sobre como eles poderiam se expandir para novos negócios, então talvez fosse por isso que ela estava feliz.
Permaneci preparada para o abate durante o resto do dia, mas no final anoiteceu sem qualquer tipo de punição relacionada a arroz. Chutando meus chinelos, enfiei-me na cama e coloquei meus fones de ouvido. Foi só então que percebi que o arroz servido no café da manhã naquela manhã estava visivelmente mais saboroso do que o normal.
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VII — from the darkness — Shissou Word I
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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— Você ama música, não é Tsubomi? Você está sempre escutando.
...Sim. Eu amo, bastante.
— Sabe, na verdade, teve uma época em que eu subia no palco e cantava. Isso mesmo: sua própria mãe! Era apenas um palco pequeno, mas, aah... ainda assim me deu tanta adrenalina. As pessoas que apareciam torciam por mim ao ritmo da música e tudo mais. Você já pensou em ser uma cantora quando crescer, Tsubomi?
...Não, nada do tipo. Eu só gosto de escutar música.
— Ah, certo, certo. Bem, eu também, acredite em mim. Eu compreendo totalmente.
Você está desapontada comigo, não está? Eu vi isto no seu rosto agora mesmo.
— Ah, claro que não estou desapontada! Eu estou apenas muito feliz que você e eu temos algo em comum, Tsubomi. Desde quando você era ainda um bebê, eu sempre pensei que seria legal se nós pudéssemos mais tarde conversar sobre nossas músicas favoritas uma com a outra.
...Ah. Certo.
— Fala, Tsubomi. Que tal nós irmos a algum tipo de show em breve? Mesmo que seja a mesma música, ouvi-la em um clube, com todo o volume e outras coisas, pode parecer completamente diferente! Aposto que você iria gostar muito. Que tal...?
——Não, Mãe. Não é nada disso.
O que eu “gosto” é diferente de como você está usando a palavra “gostar”, Mãe. Pode ser qualquer cantor, qualquer tipo de letra... Não importa. Eu só escuto música porque assim que coloco os fones de ouvido e toca a música, eu não me preocupo com todas as outras coisas. Como todo o trânsito barulhento lá fora. Como seu olhar cansado. Como o hospital. Tudo para de ser motivo de preocupação.
Quando fecho meus olhos e deixo meu corpo à deriva na música, parece como se estivesse ficando invisível... misturada com a música. Eu realmente gosto dessa sensação. Como se estivesse em um mundo sem ninguém lá—nem mesmo eu—e é completamente calmante.
Então você não precisa parecer tão feliz com isso, Mãe, tudo bem? Eu não estou como, fazendo seu sonho se tornar realidade ou algo assim. Eu não sou o tipo de garota que você acha que sou e, de qualquer forma, eu não posso fazer uma única coisa que você está esperando de mim.
...Ugh. Eu tenho que abrir meus olhos e acordar logo.
Bem, vejo você mais tarde, Mãe. Durma bem.
Eu tinha derretido no mar levemente oscilante do som. A melodia era como ondas lapidando, levando-me a algum lugar desprovido de propósito ou significado. Eu não conseguia imaginar o quão bom seria se eu chegasse a esse destino. Esquecendo tudo. Até eu mesma.
A imagem da minha mãe de outrora desapareceu nas ondas. Observei silenciosamente enquanto ela se afastava, levando consigo memórias passadas que nunca consegui expressar em palavras.
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VII — from the darkness — Children Record side n° 1
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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…Está frio. Tipo, eu estou deitada em cima de uma chapa fria de gelo?
Não tinha como dizer quanto tempo se passou desde que algo atingiu o lado esquerdo do meu peito. Mas ainda podia ver—ver a arma apontada para mim.
Ah, é mesmo. Deve ter sido isto que me atingiu. Foi por isso que caí no chão. O que significa que não tenho muito tempo sobrando, né?
Mas... Shintaro. O que aconteceu com ele? Com aquele ferimento, ele ficaria quase irrecuperável, certo?
...Entretanto, eu me pergunto sobre aquilo. Se pudesse acontecer, poderia ter acontecido com ele também. Talvez.
 Contudo... provavelmente era o fim para mim. De qualquer forma, eu tive sorte de ter feito isso por tanto tempo na vida. Seria estúpido esperar que um milagre ocorra duas vezes.
...Alguém está gritando alguma coisa. Está ecoando demais para entender muito, mas... “Mary”? O que é que ela está dizendo?
Meus ouvidos já estão falhando, não estão? E eu tinha acabado de comprar aquele par de fones de ouvido também.
Eu estava ansiosa para ver os programas de TV que gravei, o filme que ia ver essa semana... Mas acredito que não há sentido agora.
 Seria legal se o pessoal pudesse sair seguro daqui ao menos.
Não que escapar agora mudaria seus destinos de algum jeito. Mas ter aquela coisa; aquele monstro, fazer o quer com eles... Aquilo era muito horrível de imaginar.
 A minha visão começou a ficar nebulosa. A risada distorcida dele se curvou e se deformou no ar.
Ah, minha visão já está indo. Não tem muito tempo sobrando. Não há alguma coisa final que eu possa fazer aqui?
 ...Espera um segundo. Parece que estou esquecendo de alguma coisa.
O que era? Eu não conseguia afastar a sensação de que, há muito tempo, em algum lugar ao longo do tempo, eu tinha feito uma promessa muito importante.
Ah, certo. O meu poder... Qual foi a primeira coisa que fiz desaparecer com ele?
Vamos, Tsubomi Kido, pense. O que foi que eu... O que você viu naquele dia?
Trace suas memórias.
De volta para aquele dia, para aquele tempo...
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Posfácio ~ Uma História que Faz com que Alguém não Tenha Onde Procurar ~
E acabou! Mais um volume! Agora restam 2, yei! Apenas uma notinha, antes de irmos ao posfácio: pelo que pesquisei, a versão japonesa tinha um posfácio do 5° volume, mas que por alguma razão não foi traduzido para o inglês oficialmente. Ou meu volume está com problemas, ou foi por algum motivo que não sei ao certo. Enfim, então não estranhem quando falam do posfácio do livro anterior. Boa leitura!
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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Jin aqui. É uma honra tê-lo segurando Kagerou Daze VI – Over the Dimension -.
No posfácio do último volume, Kagerou Daze V – The Deceiving —, escrevi o seguinte: “Acho que seremos capazes de lançar o volume VI em breve.” Tee-hee! Verifiquem, verifiquem, verifiquem, caras e moças!! Já faz mais de um ano desde então.
...O quê? O que aconteceu comigo? Bem... quero dizer, ugh, é um ano. Um ano inteiro. Em termos de hamster, isso é, tipo, metade da sua vida. Eu realmente não pude acreditar nisso. Estou produzindo esses livros muito devagar. Aposto que você gostaria de passar por essas páginas e torcer meu pescoço, não é? Não? Bem, (caindo de quatro) eu sinceramente me desculpo por isso.
Embora, em minha própria defesa, tenha sido um ano agitado. Teve o anime, os shows ao vivo e toda a produção musical que tenho feito. Farei um esforço para acelerar o ritmo um pouco mais, então agradeceria (disse ele, em lágrimas) se você não me largasse na beira da estrada ainda.
Então, para todos que estão segurando este volume em suas mãos — mais uma vez, desculpe. O volume VI está pronto.
O herói desta vez foi o Notório Garoto Tímido, Haruka. Esse personagem foi, digamos, um desafio escrever. Foi a primeira vez que eu realmente o enfrentei, mas tentar descobrir como retratar completamente a “pureza” de sua personalidade foi um verdadeiro cão. O que você quer de mim, afinal? Quando estou escrevendo, estou em um lugar tão impuro quanto o impuro pode ser. Positivamente mal, de fato.
Assim, enquanto escrevia, gritei para mim mesmo: “O que o Haruka diria nessa situação?! O quê?! Gaaahhh!!” em mais de um par de ocasiões.
Quando ele e Ayano se conheceram, a primeira frase que eu disse para o Haruka foi: “Cara, você é gostoso, você está no Snapchat?” Infelizmente, meu editor — você o reconheceria na rua, ele é o da máscara de ferro — estava prestes a pegar um alicate e arrancar minhas unhas com ele, então hora de reescrever. E aqui eu pensando que poderia me divertir um pouco para variar!
Não posso deixar de fomentar um carinho pelos meus personagens enquanto escrevo para eles. Hoje em dia, estou perdidamente apaixonado pelo Haruka.
A segunda metade da história tem uma cena em que o Shintaro o visita em seu leito de morte, mas, de alguma coisa, eu gostaria de ser aquele quem aparecesse.
— Uau, Haruka, você está muito animado hoje!
— Obrigado por enfrentar o calor para me ver, Jin.
— Ah, não se preocupe, amigo! (sorriso pretencioso)
Teria sido maravilhoso. Por que eu não poderia me jogar para — Over the Dimension — ? Quando eles vão inventar esse app para mim?
Independentemente disso, agora estou aqui, escrevendo o posfácio do último volume... mas na verdade estou com um pouco de dificuldade.
Uhmm, bem, eu sou um sem-teto (Gasp!).
Eu estava tão ocupado que não consegui encontrar um novo lugar para alugar antes que o contrato do meu antigo expirasse. Graças a isso, atualmente estou em uma sala do escritório, onde me prendi à cadeira para escrever esta novel. Não é o ideal.
Meu coração está com todos os funcionários também. Sabe, quando escrevo uma novel, geralmente me escondo no meu quarto, apenas para escrever sem parar até terminar. Não há uma programação diária rígida e rápida, então pode haver momentos em que estou escrevendo dez horas por dia, ou até mais, se não tomar cuidado.
Isso resulta em muito do que darei o nome chique de “garbaggio” se acumulando pelo quarto. Eu tenho que comer também, então se eu não limpar isso, o “cheiro” fica muito ruim também. Ter esse tipo de coisa ocupando um quarto inteiro em um prédio de escritórios... tenho certeza que não é tão tolerável, não. Já posso sentir todo o “ódio” do resto da equipe. Desculpem pessoal. Mesmo.
Assim. Eu sei que estava mantendo isso um pouco real nos últimos parágrafos, mas ainda tenho que lembra-los de que não poderia escrever isso sem o apoio de todos ao meu redor. Eu realmente não posso dizer coisas boas o suficiente sobre Sidu, cujos desenhos modernos e atraentes decoram todos os volumes desta série.
Eu sei, eu sei. Eu realmente sinto que preciso trabalhar mais nisso. E vou.
A prioridade número um é conseguir um novo apartamento, mas a prioridade número dois é começar a trabalhar no volume VII imediatamente.
Este volume terminou com Shintaro em uma situação em que não temos ideia do que está acontecendo com ele, afinal. Vou tentar resolver isso no próximo volume, então fiquem de olho.
Eu também gostaria de tentar abordar um volume spin-off em algum momento, como sugeri no volume anterior. A história principal vem primeiro, é claro, mas...
Na verdade, discuti com o editor há pouco tempo atrás. Foi assim:
Eu: “Eu gostaria de fazer uma série spin-off com [censurado] como personagem principal, mas...
Editor: “Seu idiota!” [sua maneira de dizer: “Claro, ótimo!”]
Eu: “Ah, Sr. Editor... [lamenta, lamenta, lambe]”
Acho que foi assim, de qualquer forma. Portanto, fique de olho nisso também, mas não fique muito interessado, se você entende o que quero dizer. Na verdade, se você já pensou consigo mesmo: “Quero ler mais sobre esse cara!” avise. Eu adoraria ouvir seu feedback.
Então! Farei o meu melhor para lançar o próximo volume rapidamente, então aqui está para o futuro!
JIN (Shizen no Teki-P)
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Daze II
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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Foi uma longa, longa história, mas estranhamente, não parecia que passou tanto tempo.
Isso pode ser porque estávamos presos neste espaço. Ou talvez fosse porque tudo o que Haruka disse era tão fresco que me atraiu, fazendo-me esquecer tudo sobre a passagem do tempo.
Depois que ele terminou, Haruka suspirou suavemente e olhou para mim.
— ...Desculpe, isso durou muito tempo, eu acho.
Balancei minha cabeça. Tentei dizer alguma coisa também, mas não consegui pensar em nada decente. Assim como naquela época, agora que penso nisso. Quando Haruka revelou sua doença para mim na casa dele. Eu também não tinha nada decente para dizer. Eu tinha acabado de congelar no lugar, sem saber o que fazer.
Dois anos e eu não cresci nada desde então.
Mas eu tinha que dizer algo. Selecionei algumas palavras e as trouxe aos meus lábios.
— Hum... Isso é incrível. Eu não posso acreditar que você era o cara por trás do Konoha.
Haruka desviou o olhar timidamente. — Desculpe, eu não poderia te dizer a você do outro lado. — Ele se desculpou. A julgar pela história, entretanto, acho que ele nunca teve essa habilidade. Konoha tinha sua própria personalidade. Ele era quem movia o corpo do Haruka agora.
Ouvir a história de Haruka deve ter mexido um pouco com a memória. Comecei a me lembrar das linhas gerais de como cheguei aqui.
Como vivi os dois anos desde que Haruka morreu.
Eu larguei a escola. Eu me escondi no meu quarto. Enomoto de alguma forma se transformou nessa bola de energia perversa e se instalou dentro do meu computador. Ainda não a perdoei por isso. Então encontrei a Gangue da Loja... Ao lembrar, eu não podia acreditar que de alguma forma eu tinha esquecido de tudo. Era tudo tão surreal.
Ah sim. Juntei-me ao Mekakushi-dan. E eu precisava voltar rápido para poder ajudar na Operação: Conquistar o Kagerou Daze ou que quer que fosse.
Eu tinha que sair daqui o mais rápido possível. Mas estava faltando uma chave vital. Uma última coisa que eu ainda não conseguia me lembrar.
O dia em que fomos à casa da Mary. Minhas memórias do dia seguinte até eu chegar aqui... Por alguma razão, eu simplesmente não conseguia recordar. O que me incomodou.
— ...Shintaro. Eu lhe disse no início que há algo que preciso “esclarecer”. Você se lembra disso?
— Sim... Sim, você mencionou isso. Sua história teve parte disso?
— Não, não tinha. Vou falar disso agora...
Haruka fez uma pausa, se recompondo, então falou de novo—
— Você disse que não se lembra da razão de vir aqui. Isso é... realmente verdade?
Realmente verdade? Eu arqueei minhas sobrancelhas.
— Hum, claro que é. O que, você está duvidando de mim? Por que você pergunta?
O rosto de Haruka escureceu imediatamente.
— Quero dizer, não tem como que você não possa lembrar, no momento em que olhou para o meu rosto. Você não precisa mentir para me fazer se sentir melhor...
— Hã? Não, uhm... Tipo, eu não sei do que você está falando. E mais do que tudo agora, eu realmente quero saber!
— Você está agindo estranho esse tempo todo, aliás. Você viu em que tipo de lugar ferrado estamos. Como você pode agir tão composto assim? É estranho.
...Está tudo bem, Haruka. Você não precisa dizer.
— Vamos, Shintaro. Você tem que se lembrar disso. Além do mais...
...Não. Por favor, não diga isso. Você não pode...!
                — Você morreu quando eu XXXXei em você, não foi?
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               Um raio de dor atravessou meu coração parado.
Era como se ele estivesse me avisando para nunca esquecer isso.
— Então, por favor, Shintaro. Você precisa matar o Konoha... Você precisa me matar. Antes que toda essa história termine com um Game Over...
Então Haruka chorou, assim como naquele dia de verão.
Eu fiquei lá, imóvel, bem no meio do Kagerou Daze.
O que diabos eu poderia fazer? Não consegui salvar nenhum deles. Então, o que...?
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days VIII
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
____
Hoje, 15 de agosto, era um dia perfeitamente normal. Era um bom dia, pensei.
As notícias desta manhã diziam que seria um dia tranquilo. Temperaturas completamente normais para esta temporada. Eles estavam absolutamente certos.
Então não tinha do que reclamar. Se eu tivesse que inventar alguma coisa, acho que gostaria de ver o pôr do sol só mais uma vez no final.
Ah, e se eu pudesse acrescentar mais alguma coisa, participar daquele torneio teria sido bom. Mas não há razão para ser ganancioso.
...A vida, percebi, era meio que curta assim.
Ouvi a sirene da ambulância e senti uma luz batendo abaixo de mim. Ouvi a voz da Takane enquanto caía entre consciente e inconsciente. Provavelmente coisas como “Está tudo bem” e “Aguente firme” e assim por diante. Antes, eu estava com tanta dor que era incapaz de me concentrar em qualquer outra coisa. Agora, entretanto, não conseguia sentir nada.
Era engraçado. Não parecia que eu estava curado. Era estranho, mas parecia mais como se tudo tivesse desaparecido.
Se eu tivesse que adivinhar, a parte de mim que sente dor provavelmente estava morta. Não tinha como eu confirmar isso, mas pensar nisso me fez me sentir um pouco sozinho.
Os sons ao meu redor pareciam ecoar inconscientemente em meus ouvidos e logo eu só conseguia captar as nuances mais básicas das palavras da Takane. O que ela disse? Eu não sabia. No entanto, ela parecia muito triste.
Ahhh, me desculpe, Takane. Eu realmente sinto muito. Recebi tanto de você, mas não pude fazer nada em troca.
Aposto que você está com raiva. Bem, você pode ficar se quiser. Você pode me socar até. Se isso te ajudar a superar, você pode fazer o que quiser.
Ah, mas não desconte muito nas pessoas além de mim. Você pode encontrar todos os tipos de pessoas maravilhosas mais tarde na vida. Você precisa trata-las com o cuidado que elas merecem.
Sim. Isso mesmo. Você é uma garota bondosa e gentil, Takane. Você precisa continuar sorrindo. Você precisa ser feliz.
Então, por favor, Takane. Pare de chorar...
Uma vez que os ecos finais desapareceram, não senti mais nada.
Esse era exatamente o tipo de silêncio que eu mais temia, mas agora que eu estava diante de todo o peso dele, não era nada.
Então isso era “morrer”?
Não. Se eu ainda estou pensando em coisas assim, acho que ainda não cheguei lá.
Eu não vi minha vida passar diante dos meus olhos, ou qualquer outro guia útil mostrando onde eu estava no processo. Na verdade, eu não tinha certeza do que estava acontecendo.
Mas suponho que meus pensamentos desapareceriam em pouco tempo. Eu não seria capaz de pensar em mais nada e então...
...Não.
Eu não posso simplesmente aceitar isso. Não quero morrer.
O que vai acontecer comigo agora? Ei, Takane, você ainda está perto de mim? Se estiver, me diga. Vamos. Fala...
Takane, Shintaro, Ayano, Sr. Tateyama...
Eu quero ficar junto com todos vocês por mais tempo. Eu quero brincar muito mais com vocês.
Eu não queria nascer neste corpo fraco e quebrado. Se eu fosse mais forte... tão forte quanto um herói de um videogame, poderia estar com todos vocês para sempre...
Para sempre... com todos vocês....
      — É isso que você quer, humano tolo?
De onde veio isso? O que são essas palavras que tão de repente encheram a escuridão?
Tentei pensar sobre elas, mas então minha consciência se desligou, como se alguém tivesse desconectado o cabo.
*
Minha vida acabou, meus sentidos desapareceram, mas ainda eu estou aqui. O que eu sou?
O puro espaço branco se espalhou ao meu redor em todas as direções. Eu estava cercado por uma variedade vertiginosa de soros intravenosos. Eu estava em uma cama. Eu estava lá.
Eu não conseguia me mexer. Era como se alguém tivesse me costurado direto na cama. Tudo o que eu sentia ali era minha consciência.
Isso não era “realidade”. Eu estava morto.
Não demorou muito para que isso me ocorresse.
Mas não importa o quanto eu tentasse justificar, isso não parecia o “céu”. Então o que era...?
— Eu ouvi seu desejo, humano.
A voz ressoou de nenhum lugar em particular. Parecia fala humana, mas não era. Era um tom baixo e gutural, um que me deixou me sentido mal. E, no entanto, eu era capaz de interpretá-la como linguagem humana.
— Meu desejo? Quem é você...?
No momento em que tentei perguntar, notei alguém familiar de pé ao lado da minha cama. Minha voz congelou.
— É o seu próprio corpo. Por que você está tão surpreso? Isso é exatamente o que você sempre quis. Seu corpo ideal.
O cabelo branco. A gola preta. Este era Konoha, o avatar do jogo que criei para mim.
— P-por que o Konoha está aqui...? O que você quer dizer, este é o meu corpo?
Os olhos sem vida do Konoha me encararam. Então, dentro da minha cabeça, de repente vi minha própria forma na cama, vista pelos olhos do Konoha.
Minha mente foi forçada a compreendê-lo. Este... sou eu. “Algo” tinha entrado no meu corpo e eu fui forçado a sair dele.
— Não é isso que você esperava? Você queria um corpo forte. Agora seu desejo final foi atendido. Uma pena que pareça ter rejeitado seu “espírito” escasso.
Meu corpo se tornou “Konoha”? “Konoha” me expulsou?
Isso é loucura. Não era isso o que eu “desejava” de jeito nenhum.
— N-não! Não é isso!! O meu desejo era estar com todos. Com todos os meus amigos!
— Ah. Sim. Você está certo. — A voz zumbiu, uma pitada de suprema auto-satisfação por trás dela. — Deixe-me fazê-lo então.
No momento seguinte, o chão em que Konoha estava ficou preto, levantou-se e começou a engoli-lo. Konoha não fez nada para se defender.
— O-o que você está fazendo?! Para...! Pare com isso!!
— Ele está indo para os seus “amigos”. E deixe-me dizer, estou muito feliz que o seu desejo foi para mim. Mesmo uma pilha de “brasas” como você tem um “mestre”. Se você não deseja nada, não posso “cumprir” nada.
Meu rosto, como visto na minha cabeça, foi transformado em uma máscara de desespero selvagem.
Ah. Então era isso.
O dono dessa voz, sob o pretexto de me conceder um desejo, arrebatou meu corpo. E agora ele estava tentando levar isso para o mundo real.
— O que você vai fazer com ele? No mundo real?
— Ah, isso é apenas um “traço” do sistema. Estamos sendo chamados pela “deusa” e são seus desejos que colocam todo o sistema em movimento. O que eu faço com isso depende inteiramente de você.
— ...Isso é horrível.
— Como você pode dizer isso? Há muitos mais horríveis do que eu. Não foi um deles a principal razão pela qual você veio aqui?
Quando a voz parou, “Konoha” foi completamente engolido pelo preto.
A principal razão?
Não poderia ter tido nenhuma causa “principal” de morte além da minha doença. Do que a voz estava falando?
Depois de alguns momentos de silêncio, um som ecoou na minha mente. Eu instintivamente percebi que isso era o que “Konoha” estava ouvindo.
Estava abafado, como se ele estivesse debaixo d’água, e parecia algum tipo de máquina zumbindo. Então: a risada sarcástica de alguém. O tom da voz estava completamente fora de ordem, então eu não entendi quem era por um momento, mas depois percebi no instante seguinte.
— Sr. Tateyama...?
Aquela voz definitivamente pertencia ao meu professor. Mas por quê?
— ...Você quis isso, não foi? Um corpo mais forte.
A voz do Sr. Tateyama não era a descontraída e amigável que eu lembrava. Era fria, calculista, como o zumbido gutural de antes.
— É por isso que eu escolhi você. Ainda bem que “Despertando” acabou de chegar para mim também... A Fase Um parece um sucesso, de qualquer maneira.
Se ele sabia que eu o estava ouvindo, não saberia dizer.
— Ha-ha! Eu não esperava tais resultados na primeira tentativa. O ano que passei me preparando com certeza parecem valer a pena agora... Mas deixe-me te dizer, foi difícil! Quero dizer, alguém que não consegue parar de dormir e alguém com um corpo enfraquecido? Jogando vocês dois lá ao mesmo tempo... Que pé no saco foi.
Nesse momento, imagens voltaram à minha mente. Konoha deve ter aberto os olhos.
Estava escuro, mas eu podia ver uma grande variedade de monitores, de todos os diferentes tamanhos. Parecia algum tipo de laboratório. Assim como imageinei, o Sr. Tateyama estava lá e atrás dele estava... Não, não pode ser...!
— Ah, você está acordado, Konoha? Bem, desculpe. Eu sei que você está aqui para ver seus amigos e tudo mais, mas...
O corpo da Takane, deitado atrás do meu professor, me chocou para o silêncio.
— É triste dizer, a amiga com quem você quer “brincar” tanto... Bem, ela morreu.
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days VII
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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____
Um rastro solitário de um avião a jato se estendia pelo céu.
O mundo exterior, visto pela janela do meu quarto, era um contraste entre o azul escancarado e o verde perfumado que se espalhava abaixo dele.
As chamadas dos insetos, quase que um pouco alto demais, soaram agradáveis aos meus ouvidos. Em algum lugar ao longo do tempo, o verão aconteceu — e agora tinha se enraizado.
Quanto tempo se passou desde aquele dia? A primeira vez que joguei contra ela?
...Cara, eu devo estar começando a ficar louco. Parece que estou passando cada dia mais e mais olhando para o espaço. Acho que é realmente verdade — se você mantiver seu corpo em movimento, seu cérebro também vai com você. Mas isso implicaria que os atletas profissionais seriam todos gênios e eu sei que não é o caso.
Sentei-me na cama, deixando minha mente ruminar sobre isso por um momento.
De repente, a porta se abriu, acompanhado pela voz animada de Shintaro.
— Olááááá... Ah! Ei, Haruka, você está muito bem hoje.
— Oi, Shintaro. Obrigado por ter vindo. Estava quente lá fora?
— Ah cara, “quente” nem começa a descrever — disse ele enquanto se sentava no chão, agarrando seu colarinho e sacudindo-o para cima e para baixo para abanar o peito. — Deve ser o dia mais quente do ano até agora.
Ele não poderia estar mentindo. Observei o suor de sua testa formar pequenos rios por seu corpo, sentindo um pouco de pena de fazê-lo passar pelo esforço.
— E você ainda está de casaco, huh? Você é com certeza bem consistente com isso ao menos. Não fique desidratado nem nada, está bem?
— Ha-ha! Eu vou ficar bem. Ah, aqui, eu trouxe uma lembrança para você.
Shintaro tirou uma caixa do saco de papel que carregava. Continha um bolo alemão Baumkuchen. O design da caixa trouxe tantas lembranças que não pude deixar de rir.
Shintaro ergueu uma sobrancelha. —  Ah, uhm, você não gosta?
— Ah, não, é bom! Mal posso esperar para provar.
Lembrei-me de quantos dias estávamos nas férias de verão. Este era o dia número... dez? Sim, deve ser.
Shintaro passou muito das suas férias vindo me ver. Eu me senti culpado por fazer ele andar até aqui no calor do verão, mas, na verdade, suas vindas eram uma das poucas coisas que eu tinha para me divertir.
— É esse o tipo de coisa em que você quer gastar seu dinheiro, Shintaro? Eu pensei que você não fosse um grande fã de alimentos açucarados, e aqui você comprou esse bolo inteiro...
— Hã? Ah, estou começando a variar um pouco mais agora. — Ele respondeu enquanto se servia de uma fatia. — Acho que eu estava apenas sendo chato com a comida, afinal... Aah, isso é bom.
Era um alívio ver isso. Também não parecia que estava fingindo.
— Ei, você não disse isso na primeira vez que bebeu aquele refrigerante? Lembro de como achei isso engraçado. Acho que nunca tinha visto alguém desfrutar tanto de um refrigerante como você naquele exato momento.
Shintaro coçou a cabeça envergonhado.
— Bem, eu estou falando sério, cara! Aquilo me surpreendeu. Quero dizer, eu praticamente não passo mais um dia sem uma lata. Acho que te devo uma por isso, Haruka.
— Me deve? — Eu ri. — Sim, acho que você me deve por todas as cáries que vai ter, Shintaro.
Shintaro riu. — Acho que sim!
Aqui estávamos nós, apenas saindo um com o outro, conversando um com o outro, rindo um do outro.
Continuar dessa maneira fez parecer que, afinal, poderíamos ser amigos. Eu não sabia exatamente como “amigos” deveriam ser definidos, mas se Shintaro não fosse um amigo agora, eu duvidava que precisasse de algum.
Eu também colocaria a Takane na minha lista de amigos.
Mas... talvez eu não devesse ser tão direto com isso. Se for, é como se eu tivevesse um gosto ruim na garganta. Hmm... O que, então? Talvez seja mesmo... esse tipo de coisa. Mas eu nunca consigo ser proativo com coisas assim. Tipo, parece que eu não tenho o direito de dizer isso.
...Afinal, eu devo morrer em breve.
Virei meus ouvidos para o zumbido dos insetos.
Algo sobre a situação sugeria que seria o momento perfeito para eu morrer. Se estivesse silencioso lá fora, um tapete de neve no chão, eu provavelmente ficaria muito mais assustado.
Em vez disso, sempre que me pego me perdendo em meus próprios pensamentos, volto meus ouvidos para as cigarras assim. É como se elas estivessem constantemente gritando comigo: “Estamos vivas! Estamos vivas!” e isso me deixa muito mais à vontade com as coisas.
As noites, porém, ainda eram duras. Uma vez que começo a pensar comigo mesmo: “Eu me pergunto como é morrer”, tudo acaba. Pensar em como eu estava prestes a entrar neste estado que ninguém sabia muito, trazia uma sensação de náusea que eu tinha dificuldade em agitar.
Primeiro minha respiração pararia. Então meu coração. Meu fluxo sanguíneo congelaria no lugar. Depois meu cérebro pararia de funcionar.
Depois disso, não haveria conversas, risadas, ver ou ouvir ou até mesmo comer. Na verdade... eu nem seria capaz de fazer isso. Sentar e pensar nas coisas. Como seria isso? Eu não conseguia nem imaginar.
A ideia de um estado chamado “morte” que eu nem conseguia imaginar me assustava além de qualquer outra coisa.
Pensando bem, eu costumava acreditar que havia algo lá fora chamado “céu”. Lá, bem longe, na outra extremidade do céu, havia um lugar perfeito para fotos, onde todos viviam felizes para sempre.
E eu veria o Shintaro e todo mundo de lá também. Eu estava apenas pegando o caminho um pouco mais cedo.
...Mas não há como esse lugar realmente existir.
Quem mesmo disse que existia? Não é como se alguém estivesse lá. São todos um bando de mentirosos. Mentirosos, mentirosos, mentirosos...!
Eu tinha certeza disso. Depois que você morre, não há nada além de escuridão. Um mundo de escuridão e nada mais, onde você ficava sozinho...
— ...Haruka?
A voz do Shintaro me trouxe de volta à realidade. Devo ter me perdido em meus pensamentos novamente. Meu coração estava alto em meus ouvidos, minha respiração ofegante.
Como não pude responder, Shintaro se levantou e foi até a porta. Ele deve estar tentando avisar alguém. Agarrei seu braço para detê-lo.
— Eu estou bem... sabe. Isso... isso ainda está do lado bem...
— M-mas, Haruka, você parece que está sofrendo...
Shintaro parecia terrivelmente preocupado.
Isso provavelmente era maldade, dada a preocupação dele e tudo, mas ver isso me deixou extremamente feliz.
Eu imediatamente me odiei por isso. Perdendo-me em pensamentos, deixando-me sofrer, colocando todo esse fardo em um amigo meu... Simplesmente miserável.
Respirei fundo várias vezes. Eu pude sentir os sulcos fluindo novamente. Não que eu tivesse muito “sulcos” sobrando.
Falar estava começando a me machucar um pouco, então fiquei em silêncio por um tempo. Shintaro também não disse nada, olhando pela janela comigo.
A cor do céu mudou com a aproximação do crepúsculo. O grasnar dos corvos começou a superar o choro dos insetos.
— ...Claro, espero que você melhore logo.
Shintaro apenas deixou escapar, sua voz em um sussurro. Foram suas primeiras palavras há um tempo. Eu não tinha certeza de como responder.
Deveria ser simples. Apenas um pequeno “Sim, vou tentar o meu melhor” e tudo ficaria bem. Mas, de alguma forma, eu simplesmente não conseguia fazer com que aquelas poucas e ridiculamente simples palavras saíssem da minha garganta.
— ...Eu nunca vou melhorar.
Eu não conseguia ver o rosto do Shintaro. Eu não queria de qualquer maneira e também não queria mostrar o meu.
— ...D-do que você está falando, Haruka? Está ficando um pouco quente recentemente, é só. É por isso que você—
— Não... Não, Shintaro.
Jurei a mim mesmo que nunca diria isso, mas simplesmente não conseguia encontrar uma maneira de impedir que as palavras fluíssem.
— ...Eu vou morrer. Acho que não vou aguentar mais um mês. Eu sabia disso muito antes de nos conhecermos, Shintaro.
Não houve resposta dele. Tentei me conter enquanto abria minha boca novamente.
— Shintaro, — eu disse. — Eu nunca tive um amigo tão bom quanto você em toda a minha vida. É por isso que eu quero que você seja feliz. Não importa com que tipo de coisas ruins você tenha que lidar, quero que você viva a vida plena que eu não pude.
O céu da tarde escureceu. O quarto estava banhado por uma luz laranja.
Comecei a me arrepender de falar sobre mim por tanto tempo. Como esperado, Shintaro não conseguiu descobrir como responder.
Estava ficando tarde. Eu tinha que dizer alguma coisa.
— Sinto muito, Shintaro. Você acha que poderia ir para casa hoje? Está ficando bem—
— Eu...
Eu instintivamente me virei a voz trêmula. Vi meu amigo derramando lágrimas grandes e molhadas.
— Eu... eu não quero que você... morra, Haruka...!
O vocabulário do Shintaro superou em muito o meu. Ele podia te menosprezar com sua inteligência e ele também podia agir muito bem, por consideração a você.
Eu sei. Eu sabia. Ele era meu amigo.
— Nem eu...
É por isso que eu não pude mais conter nada contra as palavras do Shintaro.
— Eu... eu também não quero morrer...! Por que...? Por que eu?! Isso é simplesmente loucura...
As lágrimsa deixaram manchas no meu edredom. Acho que nunca chorei na frente de ninguém antes.
— Meu corpo está ficando cada vez mais fora de controle... — soltei. — Eu já nem sei dizer qual é o gosto da comida. Estou com medo... estou com muito medo. Alguém me ajuda...!
Eu enterrei meu rosto no meu edredom e chorei.
Shintaro deu tapinhas nas minhas costas por um tempo. Não tenho certeza de quanto tempo. Acabei dormindo em algum momento e, quando acordei, já era noite.
Percebendo que Shintaro estava dormindo no tapete ao lado da cama, coloquei um cobertor sobre ele e saí um pouco.
Acho que andei sem rumo por um tempo, sem nenhum destino específico em mente. Depois disso, pensei na última coisa que faria e no que eu precisava que fosse.
Eu não estava pensando: “Preciso deixar minha marca no mundo” ou algo tão épico quanto isso. Mas algo me levou a ir para a escola.
Ah, é mesmo. Havia um torneio de Dead Bullet – 1989 – chegando.
Criei a conta e tudo. Seria legal se Konoha pudesse desafiar Ene para uma partida. Só para encerrar as coisas.
Eu ponderei sobre isso enquanto caminhava pelas ruas a noite.
Estes podem ser os momentos mais preciosos do tempo que resta da minha vida. Mas não senti que estava perdendo um único segundo.
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mayura-chanz · 1 year
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days VI
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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— Hum. Então foi assim que vocês se tornaram amigos? Uma sala de aula, tarde da noite... Isso é muito romântico.
— Você não tem que fazer isso soar nojento assim! Não é como se algo tivesse acontecido.
— Aw, qual é o problema?
Não gastar nada do dinheiro que recebi nos últimos dias do Ano Novo resultou em uma economia bastante decente. Isso me permitiu comprar um PC muito melhor do que esperava.
Ter um computador me fez perceber mais uma vez como a internet era útil. Você pode jogar enquanto usa o bate-papo por voz para falar com as pessoas sem telefone, e tudo também é gratuito. Incrível.
Eu estava usando o software que Shintaro me disse para baixar para falar com ele agora. Mas isso era realmente uma coisa boa? Nós não íamos acabar com a companhia telefônica, íamos? Fiquei um pouco preocupado com isso.
Vários meses se passaram desde o festival escolar.
Desde aquele dia, tornou-se um ritual noturno para mim e o Shintaro jogarmos jogos online juntos. Foi a primeira vez que fiz algo assim, mas achei ambos incrivelmente profundos e surpreendentemente divertidos quanto mais eu me dedicava a eles.
Eu sempre imaginei videogames como coisas que você jogava sozinho, mas os jogos online eram como mundos virtuais, lugares onde você poderia interagir com as pessoas e competir com elas em tempo real de qualquer lugar do mundo. Alguns deles eram novatos como eu, e alguns eram eremitas das montanhas virtuais que passaram anos aprimorando suas classes. Trabalhar em minhas próprias habilidades e enfrentar esses oponentes sem rosto parecia menos um jogo e mais como interagir com uma cultura diferente. Eu rapidamente achei incrivelmente viciante.
Ultimamente eu passava quase todas as noites online jogando Dead Bullet – 1989 – (terra natal da Takane) e uma variedade de outros. Eu misturei minhas escolhas porque Shintaro me disse: “Você será menos unidimensional dessa forma. Isso vai fazer de você um jogador melhor.” Talvez por causa disso, eu estava construindo um recorde bastante decente no Dead Bullet. Meu nick, “Konoha”, estava começando a ter um pequeno reconhecimento do seu nome sempre que eu aparecia. Shintaro, por outro lado, nunca jogou. O jogo me ajudou a superar meu medo de zumbis para sempre, mas aparentemente o caso dele de medo de mortos-vivos era muito mais sério que o meu.
— No entanto, você ficou muito bom, não é? Nesse ponto, aposto que você subiria no ranking de praticamente qualquer jogo que jogasse.
— Hã? V-você acha? Bem, isso é só porque você tem sido um bom professor para mim, Shintaro.
— Professor? Acho que eu não te ensinei nada. Ah, ei, mais lulas estão vindo.
No momento em que Shintaro mencionou, as janelas da mansão que apareciam na tela se estilhaçaram e um enxame de alienígenas de multitentáculos deslizaram para fora uma por uma. As “lulas” que ele falou, em outras palavras. Envolvi meus dedos ao redor do meu controle e calmamente comecei a acertá-los.
Hoje estávamos jogando Pumpkin Shooter, um jogo free-to-play com tema de Halloween. Você escolhia seu personagem entre uma bruxa, um lobisomem, algum tipo de Frankestein, e assim por diante, e então você luta para defender a Terra contra uma gigante invasão alienígena. Um pouco de luz no enredo, talvez, mas vê-lo em ação era empolgante. Eu adorei.
Ao jogá-lo, você tem a ideia de que os desenvolvedores adotaram uma abordagem bastante direta. Se os monstros são assustadores e os alienígenas são assustadores, então misturá-los deve ser duplamente assustador. Shintaro, entretanto, gostava disso. “Profundo” é como ele chamou.
A propósito, Ghoulish Gourd, o mascote do jogo, era um power-up bastante inútil por padrão, mas se você não se importasse em gastar em microtransações, ele voaria até a horda alienígena mais próxima e explodiria. Esse espírito de luta altruísta significava que os jogadores universalmente o chamasse de “bomba de abóbora”.
Isso não importava tanto para mim quanto para Shintaro, ele apenas mencionou que eu tinha “ficado muito bom”. Receber elogios do Shintaro era uma conquista em si. Fiquei feliz quando atirei mais algumas rajadas na próxima onda de lulas.
— Sabe, se você continuar assim, talvez você possa até vencê-la da próxima vez. Qual era o nome dela? Enomoto?
— Hã? Ah, de jeito nenhum. Takane ainda é muito difícil para mim, heh-heh-heh...
— Você acha? Sei lá. Você realmente aprendeu a fazer seus movimentos no decorrer dos dias. Acho que você tem pelo menos uma chance para uma partida. Por que não desafia ela para um duelo?
Isso é fácil para você dizer. Mas a Takane (bem, Ene, né?), estava em um nível totalmente diferente. Eu vi vídeos dela nos torneios e o que vi me fez duvidar que eu tivesse chance.
Não que eu não pudesse enfrentá-la, é claro. Quero dizer, eu perderia, mas sempre poderia tentar jogar com ela de qualquer maneira. Mas eu ainda não queria. Por que não? Bem...
— Deixe-me adivinhar. Você tem medo de que, se perder muito para ela, ela nunca mais jogue com você, isso?
Na mosca. Parecia que uma das lulas na tela tinha enrolado um tentáculo em volta do meu coração.
— Bem, isso... isso é... parte disso, mas... Ah, está tuuudo bem, no entanto, né? Vou perguntar para ela quando eu tiver vontade! Me dá um tempo!
— Tá, tá. Não é como se fosse da minha conta... Mais lulas.
O aviso foi seguido pelo som de uma porta se abrindo. Não no jogo, mas do quarto do Shintaro, através dos meus fones de ouvido. Então, a voz de uma menina se seguiu. Comecei a ficar um pouco nervoso.
— Ei, mano, posso falar com você por um segundo?
— Hã? Cara, você é burra ou algo assim? Eu te disse para bater antes de entrar! Estou meio ocupado agora—
— Aah! Você está jogando aquele jogo com as lulas! Legal! Eu quero jogar o jogo das lulas também!
Ah! Esta deve ter sido a irmã mais nova do Shintaro de quem tinha ouvido falar. Ele disse que ela gostava de coisas “estranhas”, não foi...?
— Essas lulas são tããããão fofas!
Sim. Tinha que ser ela. Mas o que ela queria? Algo relacionado ao Shintaro? — Você pode encerrar a call se quiser. — Eu disse. Sem resposta. Ele deve ter tirado o fone de ouvido.
— Olha, eu estou jogando com alguém agora. Você não pode só sair daqui? Você está me perturbando.
— O que é que tem? Por que você está disposto a jogar com algum estranho aleatório, mas não comigo? O que há de tão ruim em mim, hein?
— Certo, bem, um, você é um fracasso total! Você começa a chorar e me dar socos e tal. Isso não é exatamente divertido para mim, sabe, aguentar você!
Vishi, Shintaro. Você meio que foi longe demais, não foi? Como eu esperava, a voz da irmã dele começou a ficar trêmula. Ela não estava alta ainda, mas eu podia dizer que ela estava com raiva.
— É isso que você quer? Bem, tudo bem, então. Eu não vou jogar nenhum jogo com você então. Nunca! Por toda a minha vida!
— Sim, faça o que quiser. Eu não me importo. Mas se você voltar mais tarde e pedir para jogar, não espere que eu diga sim.
Ah, Shintaro! Assim é maldade! Você vai fazer sua irmã chorar! Estiquei meus ouvidos para descobrir o que aconteceria a seguir. Depois de algumas fungadas, ela atirou de volta, sua voz quase em um sussurro:
— E-eu na verdade fui em um fliperama a caminho de casa da escola hoje. Eu queria praticar um pouco. O dono veio e me perguntou se eu queria ir em um evento que eles vão fazer na próxima semana. Ele disse que gostou da minha voz, e talvez eu pudesse ser uma grande estrela e coisas assim... eu estava meio nervosa com isso, então eu pensei que deveria perguntar primeiro...
— Hããã?! O que diabos tem isso?! Ele quer que você suba no palco ou algo assim? Não tem como você..
— Mas eu já decidi que vou! Eu não preciso mais te ouvir, mano!!
Depois o bater de uma porta ecoou em meus ouvidos.
— Ei! Momo! — Shintaro gritou no final, mas não houve resposta. O áudio silenciou um pouco. Ele a estava perseguindo? Parecia possível, mas pelo ruído de fundo que pude perceber, parecia que ele estava apenas sentado ali, sem saber o que fazer a seguir.
Depois de um tempo eu o ouvi dizer “Ah” baixinho e pegar o fone de ouvido de volta.
— ...Uh, desculpe. Esqueci que ainda estávamos em chamada.
— Ah sem problema. Cara, sua irmã, no entanto...
Ele não respondeu a princípio. Talvez ele estivesse pensando em algo. Resolvi insistir.
— Hum, talvez você devesse tentar discutir as coisas com seus pais ou algo assim...?
Parecia uma jogada inteligente, a julgar pela conversa.
— Não. — Shintaro começou. — Se eu contasse aos meus pais que ela foi a um fliperama, eles provavelmente a deixariam de castigo para sempre. Além disso, não posso aturar cada uma das suas birras. Se eu aturasse, tipo... tudo isso não seria...
Shintaro parecia muito sério sobre isso. Quanto a mim, porém, me senti aliviado. Eu o admirava de certa forma. Afinal, ele estava fazendo o papel de irmão mais velho, não estava?
— Éééé... Bem, acho que vamos ter que fazer algo sobre isso nós mesmos.
— ...Hã?                                                
Fechei a janela do jogo e abri meu calendário para verificar em quais datas o próximo final de semana caía. Então abri uma janela do navegador. Na barra de pesquisa, digitei a data, o nome do bairro local, “fliperama” e “evento”.
Houve apenas um resultado relevante. Cara, ter pego um computador foi muito útil.
— Tudo bem, Shintaro. Quer ir ao fliperama no próximo final de semana?
*
— …Ah! Lá está ela, Haruka! Ali!
— Hã? Onde, onde?
— Logo ali! Hum… eu não consigo… ngh…
Shintaro tentou ao máximo levantar a cabeça acima da multidão e apontar para uma determinada direção. Ele não conseguiu fazer isso antes que as ondas de pessoas o reivindicassem. Eu não tinha ideia de onde ele estava tentando apontar.
Era difícil o suficiente para me impedir de cair e ser pisoteado. Para Shintaro, que era um pouco mais baixo que eu, deve ter sido uma provação angustiante.
Quando ouvi o termo “fliperama”, esperava um lugar um pouco mais aconchegante; filas de máquinas, crianças correndo com uma pilha de moedas de 100 ienes em seus punhos cerrados, esse tipo de coisa. Isso não descrevia este lugar. Eram pessoas, pessoas, pessoas, pessoas, algumas máquinas de jogos, pessoas, pessoas, pessoas... quer dizer, que diabos? Isso era realmente um fliperama? Parecia mais um fliperama de pessoas.
— ...Dahh, eu a perdi! O que há com todas essas pessoas... Oww!! Espera, eu esbarrei em um canto... Não, não, desculpe esbarrar em você...
Shintaro se desculpou enquanto deixava a multidão engoli-lo de vez. Se nos separássemos aqui, provavelmente não nos veríamos pelo resto do dia.
— Shintaro?! — Gritei, frustrado. — Onde você está?! Shintaro?!
Eu o vi mal entrar em erupção acima da superfície ofegando por ar.
— Aghh! Isso é uma loucura! E pare de correr, Haruka! Você é muito alto, juro que nunca vou te perder de vista.
Verdade. Minha altura geralmente não me rendia nada além de olhares de pânico de crianças pequenas e uma parada ocasional da cabeça contra o teto, mas em momentos como esse, era bem útil. Eu me estiquei o mais alto que pude e olhei ao redor. Shintaro estava apontando... para o palco principal, pelo que parecia. Se a Momo estivesse neste lugar, presumi que fosse onde a encontraríamos.
— Haruka, isso é totalmente louco. Se a Momo for colocada no palco na frente dessa multidão enorme, ela vai...
Shintaro colocou a mão na testa em angústia.
— S-sim, eu sei o que você quer dizer. Hum, quanto tempo temos até o início do evento? ...Vinte minutos?
— Ainda tem vinte minutos?! Agh... nh... M-Momo! Moooomo!
— Nossa! Calma, Shintaro! …Ah! Desculpe, eu estou bem! Não, eu não sou um esquisitão assustador ou algo assim...
Acontece que a Momo foi escolhida para participar de um grande evento em um grande fliperama e centro de entretenimento, um dos maiores da região. Acho que eles estavam lançando uma versão arcade de Pumpkin Shooter, o jogo que estávamos jogando não muito tempo atrás, e todo o lugar já estava em modo festa... Bem, não apenas em modo festa. Era uma festa. O lugar inteiro.
Isso ocorreu em parte porque, tomando emprestado o tema de Halloween do jogo, o evento também era um concurso de fantasias. Você tinha que usar uma para entrar, o que só tornava as coisas mais difíceis. Não estávamos nem perto do Halloween no calendário, então imaginei que não haveria muitos participantes. Cara, eu estava errado. Isso me fez perceber, mais uma vez, o quão pouco eu realmente conhecia sobre o mundo.
Então, de qualquer forma, era por isso que todos no fliperama estavam usando fantasias de monstros ou do tipo. Isso incluía eu e Shintaro, é claro — fizemos nosso dever de casa com antecedência sobre o evento. Ele era o Drácula e eu o Frankenstein. Nós tiramos uma foto de nós mesmos há pouco, mas para ser franco, éramos quase que assustadoramente perfeitos para nossos papéis.
Mas se isso ia ser algum tipo de megaevento, por que o gerente do fliperama pediu para uma garota que andava pelas máquinas para participar? Eu tinha dificuldade para descobrir o que ele estava pensando. Talvez Momo tivesse algum tipo de habilidade especial para hipnotizar as pessoas de relance. Não sei. Tudo poderia ser um grande mal-entendido da parte da Momo também — e se fosse, sem dor, sem culpa.  Eu apenas pediria para que o Shintaro levasse ela de volta para casa e teríamos acabado.
Por outro lado, se ela realmente fosse a apresentadora desse evento, eu ficaria um pouco preocupado. Isso dependia da natureza do trabalho, é claro, mas se o pior acontecesse, seus pais — ou a polícia — talvez precisassem se envolver.
De qualquer forma, antes que as coisas ficassem muito complicadas, precisávamos encontrar a Momo.
— Haruka... você está com sede...?
Olhei em volta para encontrar Shintaro falando comigo, suave como um mosquito zumbindo. Todas as pessoas ao nosso redor estavam o deixando desconfortavelmente com calor. Eu podia entender de onde vinha.
— Sim, mas... Olha, olha para aquela fila! Provavelmente teríamos que esperar meia hora para comprar qualquer coisa...!
— Ugghh... Você só pode estar brincando comigo...
Shintaro baixou a cabeça, sem forças. A luz já havia desaparecido de seus olhos. Caramba. Se continuar assim, Shintaro é quem terá problemas antes da Momo.
Entre essa enorme multidão e todos aqueles com disfarces, tentar procurar alguém agora era uma tarefa estúpida. Lembrei-me do que meu amigo me disse antes:
— Shintaro, você disse que a viu alguns minutos atrás...?
— Sim. Acho que era ela, mas...
— Você sabe que tipo de fantasia ela estava usando? Eu posso procurar!
Shintaro balançou a cabeça. — Não, eu não sei. Eu não a vi uma vez sequer desde aquela briga que tivemos...
— Hã? Então como você sabe que era ela no meio dessa multidão?
— Ah, é fácil. Basta procurar a pessoa que está com a fantasia mais maluca daqui. — A maneira como ele colocou sugeria que ele achava que era a coisa mais óbvia do mundo.
A “mais maluca”? Uma questão de opinião pessoal, não é? Eu realmente não poderia usar isso como uma linha de base para minha busca. Eu não sabia como responder a isso, então virei minha cabeça algumas vezes, tentando identificar a fantasia mais estranha que pudesse. Parecia uma ideia boba, mas...
...Uau. O que é essa roupa maluca?
— ...Espera, entendi! Sh-Shintaro, encontrei alguém bem louco. O que há com essa coisa?! Tem pés de porco saindo da cabeça...
— Ah! Graças a Deus! É ela! Vamos indo.
— Indo? Temos que chegar perto daquela coisa?!
Diante desse traje, literalmente o traje mais maluco do planeta, pude sentir todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Era como se eu estivesse enfeitiçado por algum tipo de maldição. A simples aproximação me fez temer pela minha vida.
Mas mesmo enquanto eu hesitava, Shintaro estava cortando a multidão. Eu não podia ficar parado ali, então decidi segui-lo.
Conseguimos chegar a cerca de dez metros dela quando o celular no meu bolso começou a tocar. A multidão tornou difícil até mesmo de descer a mão para pegá-lo, mas de algum modo consegui enfiar a mão lá embaixo, pegar o celular e trazê-lo aos meus olhos.
O nome da Takane estava na tela. Apertei o botão, me perguntando o que estava acontecendo.
— A-alô?
— Alô? Oi, Haruka. Nossa, onde você está? Parece bem barulhento.
Entre o rugido da multidão e a música canalizada através do sistema de áudio, o fliperama estava extremamente barulhento. Segurei a parte inferior do celular com a mão para tentar bloquear qualquer som que pudesse.
— Desculpe! Enfim, o que houve?
— Bem, hoje é o aniversário da Ayano, então... Você sabia disso?
Era novidade para mim.
— Não, não sabia mesmo! Na verdade, como você soube, Takane?
— Surpreso né? Na realidade, nós estamos trocando mensagens uma com a outra faz um tempo. Hee-hee-hee!
Takane parecia estranhamente feliz com isso. Trocar mensagens em si era um termo novo para meus ouvidos.
— Então, de qualquer forma, pensei em ir comemorar hoje, mas o que você está fazendo agora?
Seria fácil dizer a ela que eu estava com Shintaro, mas eles ainda eram rivais. Se eu fosse muito indiscreto em revelar isso, poderia levar uma viagem difícil. Do jeito que Takane colocou, ela estava organizando algum tipo de festa. Eu queria participar, desde que fosse depois de cuidarmos da Momo, mas eu não tinha ideia de quanto tempo isso levaria.
E agora? O que devo dizer...?!
— ...Hum, me desculpe. Eu, er... estou fazendo compras um pouco.
— P-por que você está falando todo estranho...? Enfim, tudo bem. Entendi.
Ugh! Acabei de contar uma mentira idiota! Takane, me desculpe! Não tem nada que eu possa fazer sobre isso. Se eu te contasse a verdade, eu sei que isso só te deixaria de mau humor de novo.
— ...Ah! Certo, eu tinha mais uma coisa que eu queria te perguntar. Posso?
— Hyah! O que é?
— Bem... — Ela baixou a voz. — Tipo, ele está aí com você, não está?
Colocando assim, assumi que ela quis dizer do Shintaro. Concordei.
— Sim, mas e aí?
— Bem, eu acho que a Ayano disse a ele quando era o aniversário dela também, antes. Ela está muito inquieta hoje, então eu me sinto meio mal por ela, então... Você sabe, eu duvido que ele tenha esquecido ou algo assim, mas eu só queria ver se ele tinha algum tipo de presente para dar para ela. Ele mencionou algo sobre isso?
…Se Shintaro estava aqui agora, então de jeito nenhum que ele lembrava.
— Eu… eu não faço ideia! Não, absolutamente nenhuma!
— ...Ah. Pois é, acho que você não... Ah, chegamos!
“Chegamos”? Ela tinha saído para algum lugar? Parando para pensar nisso, eu estava começando a ouvir algum ruído de fundo do lado da Takane também.
— De qualquer modo, vou sair um pouco com a Ayano. Hee-hee! Espero que você não se arrependa de sua ida às compras agora, Haruka. Se você estivesse livre, eu ia te levar para um lugar que você morreria para querer ir!
— Oh? — Eu estava começando a me sentir tremendamente culpado por tudo isso. — Uh, heh-heh-heh... Na próxima, tá?
— Não vai aconteceeeeee! — ela cadenciou para mim antes de desligar.
Eu pude sentir a tensão sumir de repente do meu corpo.
Por que eu tinha que mentir para ela assim? Eu não poderia ter lidado com isso de forma menos suave? Vamos encerrar esse negócio com a Momo para que eu possa ir à festa delas ou o que seja. Mesmo que eu chegue um pouco tarde, eu sei onde Ayano mora, então...
Continuei em frente até avistar Shintaro parado perto da parede de um lado do palco do evento principal, de cabeça baixa. Corri para ver do que se tratava. Aparentemente ele tropeçou em um fio e acidentalmente desligou o sistema de iluminação que eles estavam prestes a usar para o evento. Não parecia nada sério, mas um dos membros da equipe de palco estava dando um pequeno sermão.
No entanto, minha atenção estava focada menos no Shintaro apologético e mais na garota próxima, olhando severamente para ele.
Ela tinha o que parecia pés de porco crescendo em sua cabeça e sua roupa era a mesma que vi antes. Finalmente era a Momo.
Assim que o tripulante saiu, Momo foi até Shintaro e começou a conversar com ele sobre algo.
O que quer que Momo disse a ele fez o rosto de Shintaro explodir em tristeza abjeta. Ela então o deixou parado ali, misturando-se de volta à multidão.
Corri até Shintaro e dei um tapinha em seu ombro.
— Você está bem, Shintaro?
— Ah, Haruka... estou lascado agora....
Ele devia estar falando sobre a iluminação. Também irritou Momo; isso eu sabia sem perguntar.
— Bem, ei, o que está feito está feito, certo? Na verdade, eu queria falar com você sobre outra coisa, mas o que a Momo acabou de falar para você?
O rosto de Shintaro parecia ter perdido toda a vida enquanto movia os lábios furtivamente.
— Ela ficou tipo, “Por que você veio aqui se você só iria causar problemas para mim?” Depois ela disse, “Eu nunca vou te chamar de meu irmão novamente”... Heh-heh. Isso faz você rir, né?
Então ele deslizou para baixo, derrapando contra a parede enquanto caía no chão como uma casca queimada.
— Eu… eu nem sou mais irmão dela. Eu não posso acreditar nisso. Ahh... Haruka, como estou agora?
Bem…Hum. Muito nojento, Shintaro. Bem nojento.
— Ah, estou acabado. Você pode ir em frente e me chamar de “Shintaro, o ex-irmão” de agora em diante, Haruka. Ha-ha-ha...
Acho que não, obrigado.
Como um apelido, eu não podia tolerar a ideia.
Mas me surpreendeu ver o quanto sua irmã afetava suas emoções, afinal. Eu não tinha irmãos ou irmãs, então não podia sentir pena, mas até eu podia dizer que era difícil para ele.
Eu me agachei ao lado de Shintaro e abri um sorriso.
— Bem, não adianta ficar sentado aqui, sabe? Além disso, precisamos convencer a Momo a sair daqui, lembra?
— Ah... sim, na verdade, acho que tivemos a ideia errada o tempo todo. Dê uma olhada...
Shintaro apontou para o palco principal. Do outro lado, uma mulher que estava vestida como uma coelhinha de boate um tanto provocante pulou para o centro das atenções, acompanhada por Ghoulish Gourd, a velha bomba de abóbora.
Assim que ele estava na frente e no centro, a coelhinha lembrou ao público que estava quase na hora de se inscrever para o evento. Verificando o relógio, vi que restavam apenas cerca de dez minutos até que as coisas começassem, mas não vi nenhum papel para que Momo desempenhasse. Então, talvez ela tenha entendido tudo errado afinal...?
Enquanto refletia sobre isso, o cara com a fantasia de Gourd fez uma pose maluca e gritou “Pump-kiiiiin!!” ao público. A multidão adorou. “Você é tão fofo!” Ouvi alguém falar.
...Espera. Acho que já ouvi a voz do Ghoulish Gourd antes.
— Então eu acho que eles contrataram a Momo para fazer a voz para aquela coisa de “pump- kiiiiin” e era tudo o que ela tinha que fazer. Aparentemente eles não tinham mais ninguém à mão.
Entendo. Ela era a grande estrela de certa forma. Sua voz era, pelo menos. O que significava que todas as nossas preocupações sobre contratempos no palco provavelmente foram em vão.
O que era ótimo... mas algo sobre isso ainda não fazia sentido. Já havia um milhão de dubladores por aí. Por que eles simplesmente pegaram a Momo na rua para lidar com esse trabalho?
— É, o que posso dizer? — Shintaro disse, percebendo minha preocupação.
— Esse tipo de coisa doida... tipo, isso simplesmente acontece com ela. Não é normal.
Isso pode parecer duro no papel, mas Shintaro não quis dizer isso. Não havia desprezo ou arrependimento na sua voz. E, além disso, ele mencionou antes quando estávamos procurando por ela — sobre sua “propensão” para ser facilmente detectada. Pelo tudo que sabia, talvez esse fosse realmente o status quo para os dois.
Mas não era nada que eu tivesse a chance de entender, e Shintaro não parecia muito ansioso para entrar em mais detalhes. Decidi me levantar e parar de ter pensamentos estranhos.
— Bem, pelo menos está tudo bem. Você quer fazer outra coisa agora?
— Ah, você pode fazer qualquer coisa. Eu fiz você ficar comigo tempo suficiente, além disso. Eu...
Shintaro começou a bater levemente a cabeça contra a parede.
— Eu não sou mais o irmão dela, então acho que vou me transformar em uma parede ou algo assim... Cara, isso é bem sólido. Seu desgraçado.
Ah, ótimo. Se continuar assim, teremos os policiais aqui por motivos que não têm nada a ver com Momo. E você também esqueceu completamente do aniversário da Ayano, não é, Shintaro? Tudo que você está pensando é em paredes e se dando uma concussão com elas.
Agora o que vou fazer? Eu não posso simplesmente deixa-lo e ir para casa.
De repente, ouvi um aplauso mais alto da plateia.
Olhei para cima, me perguntando se a abóbora finalmente decidiu explodir, só para descobrir que um troféu gigante de “lula” apareceu atrás dela. Estava coberto por uma faixa de PRÊMIO DO VENCEDOR. Uau. Brega como tudo. Mas então me lembrei do que Momo tinha dito...
— E-ei! Ei, Shintaro, você acha que a Momo pode gostar disso de presente?!
A pergunta foi suficiente para fazê-lo parar de bater na parede e voltar os olhos para o palco.
— Sim, talvez... Momo realmente é louca por esse personagem também...
A versão arcade de Pumpkin Shooter era uma espécie de jogo de tiro em duplas. Nós dois éramos jogadores experientes. Se nos unimos, talvez tivéssemos uma chance. O pensamento me encheu de emoção. Isso! Não é todo dia que posso participar de uma competição. Viemos até aqui e tudo. Não custa tentar.
— Vamos juntos, Shintaro! Não podemos deixar essa chance escapar de nós!
— Sim. Se você está bem com isso, então eu... Aii.
Shintaro deixou sua mão balançar enquanto se levantava. Parecia que ele devia ter torcido o pulso quando se enroscou no fio de luz e caiu.
— Você... você está bem?!
— Ah, claro. Está bem. Vamos nos apressar e fazer a inscrição...
Faltavam apenas cinco minutos para o início do evento. Não havia tempo a perder. Shintaro e eu mergulhamos na multidão. O balcão de registro ficava perto da entrada da frente. Se nos apressarmos, talvez cheguemos antes do sinal.
Enquanto caminhávamos, tive uma sensação de déjà vu ao passar por duas garotas vestidas de bruxa. Entretanto, não detive nisso. De qualquer forma, seus rostos estavam bloqueados por seus grandes chapéus.
*
— Aiiii.... aiiiiiiiii... eu quero ir para casa.
A voz de Shintaro estava trêmula enquanto ele esfregava o pulso.
— Apenas aguente firme. — Respondi suavemente. — Estamos quase na final agora...
A rodada do campeonato estava prestes a acontecer no palco principal, atualmente encharcado de uma variedade de luzes coloridas.
Enquanto a coelhinha e o Ghoulish Gourd agitavam o público, nós quatro — incluindo o time contra o qual estávamos prestes a jogar — estávamos alinhados na frente e no centro.
Ter nós dois, Shintaro e eu, no palco assim... foi nada menos que um milagre. Afinal, com o pulso de Shintaro causando muita dor no meio do percurso para continuar normalmente, cabia a mim tomar as rédeas e jogar o jogo no estilo dois contra um.
Mas de alguma forma deu certo. Entre nossos adversários cometendo uma série de erros e um deles enfrentando um caso de emergência de diarreia no meio da partida, de alguma forma consegui nos arrastar até a final.
A coincidência pode ser uma coisa tão incrível às vezes. Sério, que me assusta.
Olhei com o canto do olho para nossas oponentes: Takane e Ayano, ambas vestidas de bruxas. Isso trouxe de cara exatamente o quão assustador era.
Enquanto assistíamos à semifinal, perceber que as duas faziam parte do campeonato nos deixou em pânico.
Por que não? Era o aniversário da Ayano, e não só estávamos jogando em algum concurso de videogame em vez de passá-lo com ela, eu tinha acabado de mentir para a Takane. Obviamente haveria repercussões.
Eu não tinha o direito de reclamar, mesmo que elas usassem seus poderes de bruxa para me transformar em um sapo ou algo assim. Eu estava pensando seriamente em desistir de toda a competição e ir para casa, mas me segurei no fim. Algo me disse que se eu sugerisse isso a Shintaro, ele tentaria se tornar um com a parede de novo.
Ser visto aqui não era um movimento suave. Mas eu não podia deixar o relacionamento de Momo e Shintaro em farrapos aqui. Assim, ficamos, seguindo o plano totalmente sem esperança de vencer de alguma forma sem deixar que elas nos reconhecessem. Sendo uma festa à fantasia, nossas máscaras nos mantinham anônimos. Se fôssemos pegos, estava tudo acabado — mas como estávamos todos alinhados no palco e Takane não estava chutando minhas canelas, achei que estava até agora tudo bem.
No entanto, esta máscara. Parecia algo mais adequado para um baile de máscaras ou algo do tipo. Era incrivelmente chique e bem detalhada. Ouvi-las comentar sobre elas bem ao meu lado (“Esses caras parecem bem esquisitos, não parecem?” “Fica quieta, Takane, eles vão te ouvir! Hee-hee...”) estava começando a atrapalhar meu jogo mental.
— Por que elas tinham que estar nisso...? — Shintaro choramingou, sua voz ainda fraca e trêmula. Ele apareceu em um traje estilo Drácula, mas a máscara de carnaval que ele colocou mais tarde para fins de segurança o fez parecer um certo super-herói famoso de um anime de garotas mágicas da década de 90.
Eu, enquanto isso, estava com uma roupa e máscara de Frankenstein. Éramos um par bem esquisito, admito livremente.
Depois que o Goulish Gourd encerrou sua sessão aparentemente interminável de animar o público, a hora da competição finalmente chegou. Ambas as equipes foram guiadas para seus respectivos gabinetes de fliperama e sentadas. Nós nos enfrentamos — eu e Takane, Shintaro e Ayano — e enquanto as telas de vídeo me impediam de ver a Takane, parecia que ela estava se divertindo conversando com a Ayano.
Sentei-me na minha cadeira e estava prestes a firmar o controle da minha arma quando notei algo.
— Sh-Shintaro?
— Droga, meu pulso dói... O quê? O que você disse?
— Eu... eu nunca joguei contra a Takane antes...!
A própria Ene estava bem na minha frente. O pensamento me encheu de uma mistura de alegria e medo mórbido. Minhas mãos começaram a tremer de empolgação. Achei que tínhamos uma chance meio decente de ganhar, mas agora? Sim, certo. Ela entrando no enquadramento mudou tudo. Eu não tinha certeza se poderia competir com ela, muito menos derrota-la.
Espera. Não. Eu tenho que sair dessa. Pessoalmente, eu não deveria me importar de perder ou não, mas desta vez, pelo menos, não posso me dar ao luxo de perder. Eu tenho que ganhar... de algum modo. De alguma maneira.
— ...Você vai se sair bem , Haruka.
Virei-me para ver o Shintaro olhando para mim, fazendo o seu melhor para lidar com a dor. — Apenas jogue como sempre e nós conseguimos. — Ele disse com um sorriso quando nossos olhos se encontraram — então aguenta aí, tá?
Simples como era, isso foi o suficiente para fazer a tensão derreter dos meus ombros.
— ...Obrigado. Vamos fazer isso.
Ah cara, isso é exatamente como o clímax de todo filme de esporte começa.
Se eu não estivesse vestido como uma espécie de perseguidor mascarado, teria sido um dos momentos mais legais da minha vida.
Bem, ninguém é perfeito.
A coelhinha deu o sinal e o palco de repente ficou escuro.
— Pronta para vencer? — Ouvi Takane dizer na escuridão.
— Uh-hum! — Ayano respondeu.
Não. Desculpe, mas não estamos aqui para perder para vocês.
Pouco antes de começar, eu me virei para ele mais uma vez.
— Temos que vencer, Shintaro.
— Sim.
*
Deve ser isso o que eles querem dizer com “sorrindo de orelha a orelha”.
Essas foram as únicas palavras que me vieram à mente quando vi o sorriso no rosto da Momo.
— Uau, mano! Você tem mesmo certeza que posso ficar com isso?
— Cara, eu não vou dizer isso de novo. Mas você tem que agradecer ao Haruka também, tá?
Momo se virou para mim em resposta. — Muito obrigada! — Ela disse, inclinando a cabeça profundamente.
— Tudo bem, tudo bem — eu disse, tentando me conter enquanto retribuía o sorriso. Eu realmente não precisava de nenhum obrigado. O principal melhor jogador de hoje foi Shintaro, que continuava se afastando, as mãos do controle na mão o tempo todo.
Isso e aquela lula atualmente enterrada nos braços da Momo também.
Eu? Eu não precisava de nada.
Demorou um pouco para voltar a usar minhas roupas normais, mas conseguimos sair do fliperama enquanto ainda estava claro e ensolarado. Vimos alguns participantes fantasiados na rua de volta à estação. Todos pareciam um pouco envergonhados.
— Haruka, enfim...
Takane olhou para mim.
— Se algo assim estava acontecendo, você não deveria ter me contado? Tipo, da próxima vez que você mentir para mim, não espere nenhuma misericórdia.
Ela estava completamente certa. Eu não tinha nada a dizer em minha defesa. Eu juro que nunca mais vou mentir.
— Ah, tudo bem, não é, Takane? Isso nos uniu no fim pelo menos!
Ayano, por outro lado, estava de alto astral. Ela não apenas conseguiu ver o Shintaro, como também teve a chance de se apresentar para Momo.
Takane, enquanto isso, era mais uma mistura, incapaz de qualquer coisa além de assentir.
— Sim, mas... Tipo, por que você escondeu que estávamos jogando contra ele? Isto é o que mais me incomoda!
Seu dedo e seus olhos estavam apontados diretamente para Shintaro. Shintaro olhou para trás, pronto para levar essa luta para mais um round.
— Uhh? O que há com você, garota? Você está chorando aí porque não aguenta como Haruka derrotou você, né?
— O quêêêê?! Você tá brincando comigo?! E como você pode chamar isso de perder?! Eu fiquei surpresa porque o Haruka falou meu nome no meio da maldita partida! Além disso, como você consegue se safar dizendo coisas assim? Você quer que a Ayano dê uma surra em você?!
Tumblr media
— O que você quer de mim? Meu pulso estava machucado! Tínhamos que fazer alguma coisa! E além disso, nós ganhamos! Não entendo como você sai reclamando disso. Isto é simplesmente patético!
As faíscas voavam entre os dois enquanto Momo olhava sem expressão.
— Momo, qual é a sua comida favorita? — Ayano perguntou, tentando freneticamente encontrar uma maneira, qualquer que fosse, de direcionar a conversa para águas mais calmas.
— Ah, eu gosto de comer aqueles sacos de sardinhas secas. — Respondeu Momo. Esta resposta não seria de muita ajuda para Ayano, mas aí está.
E assim continuamos e gritando um com o outro até a casa da Takane.
A festa de aniversário da Ayano estava prestes a começar. Um pouco tarde, todavia. Eu me senti mal por fazer Kousuke e os outros esperarem, mas tudo bem. Nós provavelmente iríamos apenas conversar um pouco mais e encerrar o dia...
Mas então eu percebi.
Esta é a última vez que vou comemorar o aniversário da Ayano. Certo. Isto não vai acontecer comigo ano que vem.
Aff. Por que eu me esqueci disso? Estranho. Na verdade, pensei que “isto” continuaria para sempre. Eu nunca me senti assim em algum momento da minha vida antes. Por que...?
...Não. Não posso me permitir pensar demais nisso. Eu não posso fazer nada sobre isso.
Estremeci de dor quando Takane me deu um soco de lado.
Aparentemente eu esqueci de perguntar sobre algo. Ela inflou as bochechas, corada de raiva. Dei-lhe um sorriso irônico e respondi. Ayano riu como eu, e Shintaro, por sua vez, parecia estar se divertindo.
Sim. Não pense nisso. Apenas sente-se e observe a cena diante de você.
Eu segui em frente, radiante, enquanto dizia isso para mim mesmo.
Sim.
Mesmo quando desviei os olhos do desespero que cobria tudo ao meu redor.
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mayura-chanz · 1 year
Text
Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days V
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
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O sol poente lançava uma deslumbrante variedade de cores na silenciosa cidade fantasma.
O lugar negligenciado estava desprovido de seres humanos que uma vez governaram sobre ele. Tudo o que restava era os “monstros” hediondos e aterrorizantes, evoluindo para bestas toda-poderosas que agora eram os governantes supremos da terra.
Levou apenas um mês para esses monstros causarem estragos em todas as criaturas do mundo, suas formas musculosas e ferozes não oferecendo misericórdia enquanto devastavam a terra... ou assim eles pensavam.
Mas uma única garota sobreviveu à carnificina.
Um tiro ressoou no ar em um flash laranja, o qual combinava com o céu do início da noite. O monstro “Bear-Rilla” que quase chegou ao cano da arma explodiu e sangue e carne caiu como confete na calçada.
Uma única garra crescida rasgou a torrente de sangue, mirando direto na cabeça da garota. Ela se esquivou bem a tempo, calmamente ajustando o punho de sua arma.
O Meowtaurus atacando a garota perdeu o equilíbrio após o ataque, expondo seu peito desprotegido. Ela respondeu imediatamente sem piedade, apontando sua arma para o estômago do monstro e puxando o gatilho. Chumbo abriu caminho em seu intestino e, com um grito, o Meowtaurus explodiu.
A garota, salpicada de sangue, lançou um olhar para o antigo distrito comercial. Uma horda de monstros saqueadores avançou sobre ela, babando e gritando. Tomando um momento para recuperar o fôlego, a garota girou sua arma. A revista vazia voou do aperto, tilintando contra o pavimento. No momento em que a nova foi carregada, ela apontou sua arma de volta para os monstros e falou.
— Que tal eu explodir todos vocês em pedacinhos, hein...?
Com um estrondo alto, sua arma começou a cuspir fogo. Seus tiros, vindos em rajadas de um ou dois, rasgaram a horda como um laser guiado por computador, transformando todos em pedaços de carne vermelha.
A garota sorriu maliciosamente. Apesar de estar irremediavelmente em menor número, ela era a imagem perfeita de serenidade. E assim que o exército de monstros aparentemente infinito começou a aborrecê-la, o tiro final da garota trouxe o fim da guerra em plena floração na rua encharcada de sangue...
Suspirei com a façanha perfeita da jogabilidade acontecendo diante de mim enquanto o monólogo continuava em minha mente.
“Dancing Flash Ene.”
...Eu vi lá um outro lado da Takane que eu nem tinha ideia que existia.
*
O dia do festival chegou.
Graças principalmente aos esforços sobre-humanos do Sr. Tateyama, o Headphone Actor estava completo. Na verdade, foi surpreendentemente bem montado. Eu duvidava que alguém adivinhasse que foi feito em apenas uma semana.
Mas ainda mais do que a qualidade do jogo em si, as habilidades da Takane não eram nada deste mundo. Era mais preciso, como se ela fosse um robô programado para destruir este jogo, e todos que a viram jogar ficaram impressionados.
Hoje, pela primeira vez, percebi o quão legal alguém jogando um videogame pode realmente ser.
Nós esperávamos dezenas de partidas hoje, mas à medida que o dia se desenrolava, as coisas ficaram cada vez mais unilaterais.
Eu nem precisei verificar a tela de resultados. Takane dominava.
Ela é incrível! Isso é tão legal, Takane!
Assisti com admiração respeitosa enquanto ela encerrava a partida. A penumbra da sala tornou difícil avaliar sua expressão, mas depois de conseguir uma vitória tão perfeita e magnífica, tenho certeza que ela deve ter ficado satisfeita consigo mesma. Ela tinha que estar. O pensamento fez Takane parecer um verdadeiro soldado aos meus olhos, endurecido pela batalha e pronto para a ação.
A adulação saiu da minha boca. — Bom trabalho, Takane! Você ganhou de novo! Cara, isso foi...
Takane estava bem ao meu lado, mas de certa forma, não estava. Eu preciso chama-la pelo nome que todo mundo usa para elogiá-la...!
— ...Talvez eu devesse te chamar de Ene, hein?
Takane, aproveitando a luz do monitor, casualmente abriu a boca.
— Cala a boca, seu idiota...
As palavras, apoiadas pela música pulsante do jogo, mexeu comigo. Senti um arrepio percorrer meu corpo.
Outra coisa que eu tinha acabado de aprender hoje era que a Takane aparentemente ficou em segundo lugar no campeonato nacional de algum jogo online. Isso a fez, tipo, superfamosa na Internet.
Ela tinha fãs de verdade e tudo. Eu apenas pensei que ela era uma garota típica e agora eu não podia acreditar que ela tinha esse aspecto também.
Mas... cara. Essa serenidade, essa presença de espírito... em todos os sentidos, ela fazia jus ao nome Dancing Flash. Sim! Sim, eu sei que sou um idiota! Caramba, isso é legal!
Eu não estava em posição de sentar e admirá-la, no entanto. Levantei-me e sorri para o desafiante.
— Tudo bem, obrigado por jogar! Receio que você não possa enfrentar o desafio duas vezes seguidas. Muito obrigado por essa batalha incrível!
No momento em que terminei de falar, aplausos ecoaram pelo depósito da sala de ciências mal iluminada. Cada pedacinho do chão estava ocupado por espectadores. Sem dúvida, estávamos atraindo um público bem grande.
O desafiante, usando roupas militares, levantou-se e saudou a Takane: — Obrigado! — Ele gritou. — Eu nunca pensei que poderia jogar contra a Dancing Flash Ene em um lugar como este... É uma honra!
Sim. Eu concordo. Essa também foi uma ótima partida. Só de olhar de lado me deu arrepios.
Logo, o público começou a sussurrar para si mesmo. “Eu sou o próximo!” “Não, deixe-me ir contra ela em seguida...!” Era uma visão impressionante. Toda a base de fãs da Takane deve ter estado nesta sala.
Aparentemente tudo isso começou porque nosso primeiro convidado sabia sobre a Takane e contou a todos os seus amigos na net sobre este festival escolar.
Assim que souberam do evento, os fãs da Takane de todo o país invadiram nossa escola para uma chance de competir contra ela.
Foi assim que tudo aconteceu. Bem, talvez não “de todo o país”, mas meio que me senti assim.
Em meio à conversa, dei o sinal para a próxima pessoa e o guiei até o assento do desafiante. Após um rápido resumo das regras de Takane, o jogo começou e o público instantaneamente ficou em silêncio.
Essa tensão… é como assistir a um verdadeiro evento esportivo.
Eu não sabia disso porque nunca tinha visto alguém jogar antes, mas não fazia ideia de que videogames competitivos pudessem ser tão emocionantes. Eles tiveram muitos campeonatos assim? Eu adoraria ver algum dia.
— …Nossa, merda! A hora!
Ops. Eu estava tão perdido no calor do momento que esqueci do meu próprio trabalho. Eu relutantemente tirei meus olhos da tela do jogo e verifiquei o relógio e o número de pessoas na plateia.
Assim como eu temia, tínhamos menos de quinze minutos antes do final do festival. Não tinha como todos na sala terem permissão para uma partida com a Takane, atualmente absorvendo os aplausos mais uma vez após outra explosão. Essa guerra constante deve tê-la cansado agora. Eu me aproximei para dar a ela um pouco mais de espaço para respirar entre as partidas, usando seu novo nome para ela neste reino.
— Você ainda está bem, Ene?! Estamos fechando em dez minutos, então aguente firme!
Takane murmurou alguma coisa ou outra em resposta, mas não consegui distinguir entre a música do jogo e o clamor do público ao nosso redor.
Em termos de tempo restante, tínhamos espaço para mais dois, talvez três jogadores. Se estivéssemos prosseguindo com nosso plano, Takane precisaria produzir um “vencedor” para nós em breve. O objetivo disso não era estabelecer a lenda da Takane como este monólito imbatível. Alguém precisava voltar para casa hoje com aquele espécime de peixe em mãos.
Takane disse que perder em algum momento durante a segunda metade do dia ajudaria a manter as coisas animadas. Mas ela ainda se lembrava disso? Eu não tinha mais certeza. Ela estava no modo Flash Dancing completamente agora, tanto que faria você vibrar. Talvez tudo o que ela estava pensando era como ela iria caçar seu próximo oponente e torcer cada gota de vida dele.
Isso seria uma notícia seriamente ruim. Mas eu também não queria destruir sua concentração incomodando-a muitas vezes também... Eu estava começando a ficar um pouco inquieto, sem saber que rumo tomar, quando alguém deu um tapa com a mão no meu ombro e uma voz sussurrante encontrou meu ouvido.
— …Perdoe-me, Haruka!
Eu me virei para encontrar a Ayano parada ali. Kousuke mencionou que ela viria, mas finalmente vê-la pessoalmente me encheu de felicidade. Pensando bem, ele mencionou que seus outros irmãos também viriam, não foi? Eles já apareceram?  
— Ah, Ayano! Desculpe estou sendo puxado em um milhão de direções agora...
— Não, não, desculpe aparecer quando você está tão ocupado. — Respondeu ela, examinando seus arredores. — Fazendo uma cena de muito sucesso, hein? Isso é uma grande surpresa!
— Cara, você viu. Estou bastante chocado também. Recebemos muito mais pessoas do que esperávamos. Sinto muito, Ayano, não tenho certeza se posso encaixar você...
As chances da Ayano conseguir uma partida eram pequenas. Inclinei minha cabeça para ela em sinal de arrependimento, mas ela apenas sorriu, presumivelmente esperando ficar desapontada.
— Ah, eu vou ficar bem. O cara com quem vim aqui está na fila para jogar, então ela pode jogar com ele invés de mim...
Ela desviou os olhos de mim e se virou para alguém ao lado da Takane. Lá eu vi um garoto com um casaco vermelho olhando fixamente para a tela. Ao contrário da maioria dos nossos desafiantes, ele não parecia ter nenhuma paixão por videogames, mas dada sua posição na fila, ele provavelmente seria o próximo a enfrentar a Takane.
— Esse cara está na minha classe na escola, — explicou Ayano, aparentemente inquieta sobre alguma coisa. — Eu não queria ir para o festival sozinha, então o convidei e ele... bem, disse que vinha, eu acho. E quando digo que o “convidei” é realmente apenas isso, tá? Nada de estranho nem nada.
…Hum sim. Claro. Posso te ler como um livro, Ayano. Eu estava prestes a zombar dela e dizer “Ha-haaa!”, mas me parei bem a tempo, não querendo sair como um sacana.
Enquanto conversávamos, o garoto de casaco vermelho sentou-se no banco do desafiante. Ele foi nosso primeiro competidor mais novo em um bom tempo. Até a Takane parecia um pouco surpresa.
Espera. Isso pode realmente funcionar muito bem, em termos de tempo. Se a Takane jogasse como ela sempre fazia, ela quase certamente iria chutar a bunda desse cara. Isso provavelmente faria ele parecer muito sem graça na frente da Ayano, e... hum, isso provavelmente não seria bom para ele, imaginei.
Então, vamos convencer a Takane a perder o jogo de propósito. Já está na hora de fazermos isso de qualquer maneira, então... é. Soa como um plano para mim. Não há tempo como o presente também. Eu rapidamente dei um tapinha no ombro da Takane, mais uma vez chamando-a pelo único nome apropriado para ela agora.
— Ene... desculpe interromper enquanto você está no ritmo, mas é melhor entregarmos nosso prêmio antes que tenhamos que fechar. Você se importaria muito se deixasse esse garoto derrotar você...?
Takane fixou seu olhar no garoto de casaco. Depois de todo o trabalho duro que ela fez hoje, ter que dizer isso a ela no final, honestamente, não me fez me sentir muito bem. Mas nosso objetivo hoje era fazer a melhor “galeria de tiro” que pudéssemos e isso significava manter nossos clientes felizes também.
Ela me deu um aceno afirmativo e começou a explicar o jogo para o garoto sem reclamar. Dei alguns passos para trás para obter um ponto de vista melhor, esperando aproveitar cada momento dessa batalha final.
...Eles pareciam levar um tempo estranhamente longo para começar.
Olhando mais de perto, Takane e o cara de casaco pareciam estarem conversando um com o outro. Mas e quanto a isso? Não parecia um bate-papo amigável, fosse o que fosse. Eu estava um pouco preocupado, mas da minha posição, a música do jogo abafava toda a conversa.
Como eu não podia fazer muito onde estava, olhei para o lado, apenas para encontrar a Ayano olhando para eles com uma expressão severa. Mais ou menos como uma mãe durante o dia de visita dos pais na escola. Acho que vou falar sobre isso.
— O que foi, Ayano? Você está preocupada com alguma coisa?
Os ombros de Ayano se contraíram um pouco em surpresa. — Mais ou menos, acho — disse ela com relutância. — Ele... Ele pode ser meio rude às vezes. Ele não gosta de medir palavras com as pessoas. Espero que ele não esteja sendo mau com ela ou algo assim...
Ela realmente estava agindo como uma mãe preocupada.
Quando se tratava de ser rude, Takane não era desleixada. Esse era um de seus primeiros traços de personalidade. Isso me fez pensar se esse garoto era do mesmo jeito.
...Aah, se ele for, isso pode ser uma má notícia. Praticamente, imediatamente, pegaria o barco de Takane, para começar. Eu tinha um mau pressentimento sobre isso, mas não fazia sentido preocupar desnecessariamente Ayano se não precisasse, então tentei manter a conversa inócua.
— Bem, acho que vai ficar tudo bem. Takane pode ser bastante paciente com as pessoas, então...
No momento em que eu disse isso, Takane falou:
— ...eu não vou!! …perder.
…Bem, isso é estranho. Ela estava fazendo exatamente o oposto do que estávamos planejando.
Com pressa, abri caminho para o lado de Takane. Ela vai ganhar dele?! Isso não é bom!
— Espera um segundo, Takane... Você tem que perder essa, lembra?
Mas eu nem precisei olhar para o rosto dela para saber que ela estava irritada. Acho que nenhuma das minhas palavras sequer ficou registrada na sua mente.
— ... Eu vou me tornar sua serva e o chamarei de “mestre” e tudo mais! Mas eu não vou perder!
Mais uma garantia de vitória. Tínhamos que perder agora, mas Takane estava mais animada para essa luta do que qualquer uma das dezenas que ela batalhou antes.
Alguém mais na plateia a ouviu gritando? Aah, acho que Ayano sim. Seu rosto estava vermelho de orelha a orelha. Excelente. Bem, nada que eu pudesse fazer agora. Desistindo do esforço, levantei e voltei para o lado da Ayano. Meu “desculpe” e seu “peço desculpas” saíram quase simultaneamente.
Um efeito sonoro indicava que a partida final do dia estava em andamento.
...Desde o início, percebi algo.
Havia um número insano de monstros aparecendo na tela. Ela deve ter aumentado o nível de dificuldade para o máximo. Se ela estivesse pensando em perder, ela nunca teria feito isso. Mesmo que ela estivesse apenas tentando entreter o público, ela ainda assim não faria isso. Não era difícil adivinhar o que estava passando pela mente da Takane naquele exato momento.
— Droga, ela está fula da vida...
Eu embalei minha cabeça com uma mão. — Ela está?! — Ayano exclamou, o sangue drenado de seu rosto. Mas não importa o que tivéssemos a dizer sobre isso, essa batalha não poderia ser interrompida. Isso eu poderia dizer com um olhar para a cena diante de mim.
Os botões dos dois competidores habilidosos em seus respectivos controles resultaram em um oceano de jatos de sangue na tela.
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Os tiros, gritos de morte, ruídos de carne se rasgando... Eles saíram dos alto-falantes, criando uma cacofonia que encheu a sala. Parecia nada que um jogo de tiro deveria gerar e isso me impressionou. A plateia silenciosa até agora, estava começando a explodir em aplausos e suspiros.
Era maestria em movimento, desdobrando-se diante de nós segundo após segundo emocionante.
Os monstros, aparecendo na tela antes de serem instantaneamente explodidos, eram difíceis de distinguir a olho nu agora. Identificando-os, mirando, atirando—ambos repetiram esse processo várias vezes com velocidade e precisão surpreendentes. Era impossível colocar em palavras, mas se fosse preciso, só poderia se chamar de “intenso”.
Esta batalha, sem dúvida, seria uma para os livros de história. Aquele garoto de casaco era facilmente páreo para Takane... Talvez até melhor do que ela, na verdade. E Takane, por sua vez, mandava bala. Eu não tinha mais ideia de quem ia ganhar.
Os monstros devem ter gostado de ter esses dois mestres de seu ofício os enfrentando. Ótimo trabalho, pessoal. Foi um papel difícil de cumprir, mas vocês tornaram isso divertido para muitas pessoas. Eu definitivamente vou fazer broches de todos vocês mais tarde.
Os dois minutos pareciam se arrastar para sempre. Agora, no entanto, faltava os dez segundos finais. Nenhum dos lados desistiu de sua busca pela perfeição e o empate continuou até o fim. Apenas um deles poderia vencer.
Qual é? Quem? Enquanto todos assistíamos com a respiração suspensa, encontrei uma emoção que não esperava começar a se tornar conhecida em meu coração.
....Estou com tanta inveja.
Ambos são tão legais. Eu estou incrivelmente com inveja deles. Por que estou aqui, deixando isso me surpreender como um idiota?
Olha para a Takane, perdida na batalha, o corpo se contorcendo para um lado e para o outro enquanto joga... O que ela pode estar sentindo agora? Deve ser muito divertido para ela.
...Eu não aguento. Isso é tão frustrante. Eu quero sentar ao lado da Takane e jogar um jogo com ela também. Eu quero me tornar bom o suficiente para deixar a Takane apaixonada assim.
Ah, que maravilhoso seria, se eu conseguisse fazer isso. Se eu tivesse esse tipo de futuro reservado...
Os dois, recortados pela luz da tela, pareciam presenças distantes. Tudo o que eu podia fazer era ficar atrás deles, olhando para eles com olhos cheios de inveja.
*
A campainha de fim de jogo tocou e a tela de “resultados” apareceu.
Eu me agachei ao lado da Takane novamente. Eu queria dizer algo para ela.
Eu queria que fosse algo como “Isso foi ótimo!” ou “Fiquei tão impressionado!” ...mas não consegui pronunciar nenhuma palavra.
A tela de “resultados” era bem simples. Tudo o que lhe dizia era se você ganhou ou perdeu. É isso. A pontuação da Takane foi a mais alta do dia, mas a palavra VENCEDOR não estava por baixo.
Takane perdeu.
— Takane...
Enquanto eu procurava as palavras, o garoto de casaco se levantou silenciosamente e se dirigiu para a saída.
Ah não. Preciso dar a ele nosso prêmio. Depois de um duelo tão apaixonado, eu nunca poderia deixa-lo ir para casa de mãos vazias.
Pensei por um momento antes de descobrir o que eu diria a Takane. Escolhi apenas ir com o que eu estava sentindo.
— ...Ene, isso foi incrível, até o fim! Ótimo trabalho hoje!
*
— Ei! E-espera um pouco...!
Corri atrás do garoto, sem fôlego.
O espécime que eu tinha em mãos era bem pesado. Também não era exatamente atraente. Como prêmio, apresentava algumas questões. Por que eu não notei isso antes? Ele pode pensar que eu estava apenas sacaneando ele ou algo assim. Mas, como anunciamos um “prêmio maravilhoso”, tinha que dar algo a ele. Se eu não o fizesse e a Takane fosse rotulada de mentirosa, seria simplesmente horrível. Mesmo que ele diga que não precisa, eu tenho que fazê-lo aceitar...!
— Pare, por favor…!
Chamei o garoto várias vezes, mas ele não me deu atenção enquanto se dirigia rapidamente para a porta da frente.
Ele não deveria estar saindo com a Ayano? Porque ele praticamente a deixou comendo poeira. Estava tudo bem?! Lembrei-me de Ayano cautelosamente apresentando o garoto mais cedo. Ela devia estar esperando muito por esse dia. Ficar de pé assim me fez ter pena dela um pouco.
Como se meus sentimentos telepaticamente chegassem a ele, o garoto de casaco de repente se virou. Nossos olhos se encontraram. Era agora ou nunca. Tentei soar o mais autoritário possível:
— Hum, este é o seu prêmio! Por favor, pegue!!
O garoto olhou desconfiado para mim. Ele deve ter se lembrado de mim da sala, pois, ele não bancou o idiota. Consegui alcança-lo assim que ele tirou os fones de ouvido e os colocou no bolso. Ah. Bem, não é à toa que ele não estava me ouvindo.
— Uh, o que é isso...?
A pergunta só poderia ser descrita como depreciativa. Eu tive que concordar com ele. O que é essa coisa que estou carregando?
...Espera. Não. Eu preciso responder ele.
— Este é o seu prêmio por vencer naquela galeria de tiro... eu vim aqui dar ele para você.
— Hã?!
— É o seu prêmio. Você ganhou. É, hum, todo seu.
Ugh. Eu sinto que estou tentando vendê-lo para ele. Mas eu tinha que ficar forte. Caso contrário, eu não tinha certeza se ele iria aceitar. Aah, olha para ele, ele parece estar odiando cada momento disso.
— Humm... eu não preciso disso.
Eu sabia.
— Bem, você poderia simplesmente pegar, talvez? Seria como levar para casa uma lembrança de hoje. O que você acha?
Sim eu sei. Estou pedindo muito de você. A única coisa que isso seria uma memória é de uma expedição em alto mar. Ugh, o que eu vou fazeeeeee....? Ele nunca vai aceitar isso agora. Tipo, por que alguém iria querer algo como...
...Ah.
— ...Ei, você veio com a Ayano hoje, certo?
— Sim, e daí?
O garoto agora parecia ainda mais desconfiado de mim. Talvez eu tenha sido muito súbito com isso. Mas eu não podia voltar atrás agora.  Vamos apenas empurrar um pouco mais forte...
— Bem, talvez você não precise disso, mas acho que a Ayano realmente gostaria se você desse para ela. Estou, tipo, totalmente certo disso.
Sinceramente, senti que esta era a minha ideia mais brilhante do dia. Quem comprou isso em primeiro lugar, afinal? Era o pai da Ayano, Sr. Tateyama. Se a Ayano o pegasse, pelo menos seria útil para alguma coisa. Na verdade, ela provavelmente adoraria se fosse um presente desse cara. Eu tinha certeza de que ela gostava muito dele.
Sim. Eu sou tão inteligente às vezes. Não só eu estava fazendo meu trabalho aqui; eu também estava potencialmente bancando o cupido para esses dois pombinhos. Ah, o que eu posso dizer? Heh-heh-heh...
— Ah, tudo bem. Você poderia dar isso para a Ayano diretamente por mim? Até.
O garoto se virou e começou a andar de novo, sem pensar nisso. Eu o peguei em pânico.
— O que-?! Não, espera um pouco! Isso não significa nada a menos que seja você dando isso para ela... Tipo, se você é a pessoa de quem ela está recebendo...!
— Uh, você está falando coisa com coisa. Para de me seguir, está bem?
O garoto se recusou a desacelerar enquanto cuspia as palavras para mim, abrindo caminho pela multidão do festival. Com a bagagem que eu carregava, tive dificuldade em acompanhar.
Finalmente, chegamos à porta da frente da escola. O garoto tirou os sapatos e estava quase terminando de pôr os seus próprios sapatos quando o alcancei.
— Ah, espera um minuto! Vou pensar em algo, então... hum...!
Porcaria. Se ele sair do terreno da escola, não poderei persegui-lo para sempre. O que eu faço agora...?!
Então, naquele momento, alguém esbarrou no meu ombro. “Desculpe!”, ela disse. Virei-me para encontrar uma aluna vendendo bebidas olhando para mim com olhos tristes. O cooler pendurado em seu ombro tinha REFRIGERANTE 100 YEN escrito nele.
— Bem, estou caindo fora. Por favor, não me si—
— Você quer um refrigerante?!
O garoto me olhou de queixo caído.
— Uh, eu não gosto de bebidas açucaradas assim, então...
— Por favor! Apenas uma pode! Você deve estar com sede, certo?! Essa foi uma partida tão matadora, aposto que um pouco de refrigerante seria ótimo agora! Vamos lá. Vamos tomar um refrigerante! Vamos!
O garoto respondeu com o que quase parecia medo ao meu pedido fervoroso. Outras pessoas próximas a nós pararam, perguntando-se do que se tratava.
A vendedora de bebidas deu uma olhada em nós. — Hum, você gostaria de dois, então? — ela perguntou otimista.
— Sim, dois, por favor! — Eu imediatamente respondi. — Ok?!
O garoto abriu a boca algumas vezes, tentando dizer alguma coisa, mas então suspirou pesadamente, desistindo.
— ...Tuuuudo bem. Se você quer que eu beba, eu bebo.
A resposta me fez querer acenar com o punho no ar. Sim! Eu consegui! Eu consegui, Takane! Eu parei ele! Agora nosso estande é um sucesso total!
— Muito obrigada! — A menina disse, sorrindo. Algumas pessoas ao nosso redor começaram a aplaudir. — Não sei o que está acontecendo, — disse uma delas, — mais, hein, bom trabalho.
Foi um bom trabalho. Sério...
...Por que eu estava passando por tudo isso de novo?
*
Havia espaços comuns espalhados pela escola para fins do festival. Escolhemos um banco simples no lado norte do primeiro andar, não muito longe da entrada da frente, para sentar e tirar a carga.
— ...Aah, isso é bom.
O garoto com casaco, que se apresentou como Shintaro Kisaragi, olhou carinhosamente para sua lata. Era como se ele nunca tivesse experimentado refrigerante antes. Eu dei a ele um olhar questionador.
— Não tem nada de raro nisso, tem?
Não tinha. Na verdade, ele estava bebendo a marca de refrigerante mais conhecida do mundo. Como diabos ele não sabia disso?
— Bem, eu sei sobre isso e tudo mais. — Respondeu Shitaro, parecendo um pouco magoado. — Eu nunca escolho para mim porque não gosto muito dessas coisas açucaradas.
— Ah, entendi! — Eu sorri. — Acho que você acabou de fazer uma nova descoberta.
— Acho que sim. — Disse Shintaro, já desinteressado no assunto.
— ...Então você quer que eu dê isso para a Ayano?
Shintaro olhou para o espécime de peixe aos nossos pés.
Eu finalmente consegui fazer com que ele aceitasse, embora eu estivesse honestamente começando a me arrepender de mencionar o nome da Ayano.
— Acho que ela ficaria feliz, mas... desculpe. Se ela disser que não quer, podemos devolvê-lo.
— Ahhh, tudo bem. Mesmo que ela não goste, eu tenho uma irmã que gosta de coisas estranhas como essa, então vou dar para ela invés disso.
Shintaro se levantou e jogou sua lata vazia em uma lata de lixo ao lado do banco. Hmm. No fim, ele é um garoto muito legal, não é? Eu não sei o que ele fez para deixar a Takane tão brava. Ele é um jogador muito bom, também. De onde ele veio, afinal? Decidi sondar.
— Sabe, porém, você foi muito bem nesse jogo. Você joga em alguma competição ou algo do tipo?
— Hã? Ah, isso era só por jogar mesmo. Tudo o que você precisava fazer era atirar nos inimigos quando eles apareciam na tela. É bem fácil.
Uau. É, ele e Takane nunca seriam muito compatíveis. Tipo óleo e água, de fato.
— É-é…? Bem, ainda foi realmente impressionante. Quero dizer, fazendo o que você fez... fiquei realmente com inveja. Eu com certeza não posso fazer nada assim...
…Ops. O que agora? Eu estava começando a ficar frustrado comigo mesmo novamente. Merda, eu sou um idiota. Por que eu estou com inveja? Eu nunca poderia jogar como eles.
Mas… aah, aquilo foi tão legal. Se eu pudesse jogar como o Shintaro, então talvez a Takane e eu pudéssemos—
— Hum? — Shintaro parecia perplexo. — Bem, se você quer, por que não?
— …Hã?
— Só estou dizendo que, se você quiser jogar online ou qualquer outra coisa, faça o que quiser. Não é como se alguém estivesse parando você, não é?
— Bem, não, mas...
Shintaro suspirou e coçou a cabeça. — Então apenas jogue. — Ele repetiu. — O que você gosta. Se você quiser, eu poderia te apresentar a alguns bons... jogos...
Os sentimentos que passavam pela minha mente provavelmente estavam escritos em todo o meu rosto. O olhar de choque “Uh-ah, o que eu fiz agora” de Shintaro tornou isso bastante óbvio.
Eram quatro da tarde. Assim que alguém no sistema do alto-falante anunciou que o festival havia terminado, eu me levantei e falei o mais claro que pude.
— Sim! Por favor! Eu adoraria!
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mayura-chanz · 2 years
Text
Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days IV
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
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— Cara, eu tenho sorte...
Era uma da manhã. Quase todo o bairro estava dormindo. Assim que voltei da loja de conveniência, abri meu saco plástico e sorri de orelha a orelha. Continha lanches e bebidas variadas, bem como dois potes pequenos de pudim de nata. “Pequenos” faz parecer que ele era coisa de baixa qualidade, mas como um pudim de uma loja de conveniência, pequeno significa alta qualidade.
Mas por que dois? Simples: eles fizeram um pequeno sorteio no balcão e eu ganhei uma porção grátis. Eu não pude acreditar no quão sortudo fui. Eu praticamente nunca ganho sorteios ou coisas do tipo, mas talvez algum tipo de poder recém-descoberto estivesse tornando-se conhecido dentro do meu cérebro. Bom trabalho, eu.
Realmente era ótimo ganhar um prêmio tão incrível depois de fazer apenas cerca de mil ienes em compras. Como as lojas de conveniência ganham dinheiro fazendo coisas assim? O pensamento me preocupou um pouco, mas eu não estava prestes a devolver meu prêmio, então, em vez disso, sussurrei um “obrigado” para o funcionário, em agradecimento.
Nós tínhamos dois dias restantes até o festival da escola e minha pequena festa do pijama dos game developers estava rapidamente chegando ao auge. Na verdade, já que eu estava quase terminando o trabalho de colorir o Bear-Rilla e o resto do meu zoológico, tudo o que me restava fazer era desenhar mais alguns fundos. A parte do “clímax” envolvia principalmente o Sr. Tateyama, que vinha trabalhando a noite toda. Ouvir os gemidos noturnos de sua mesa de computador sempre me fazia me sentir culpado, de alguma forma, mas eu realmente não podia ajuda-lo com seu trabalho de programação.
Então, em vez disso, tenho sido nosso fornecedor oficial de comida e bebida nos últimos dias. Também me deu a chance de conseguir um jantar para mim, então era uma vitória para todos. É assim que você usa esse termo? Eu não sei. Acho que não importa.
Eu não queria apenas me sentar lá de braços cruzados, no entanto. O Sr. Tateyama me pediu um café e ele estava prestes a pegá-lo. Tirei meus sapatos e fui pelo corredor. Não era tão longe até a escada, então não me incomodei em acender a luz, mantendo minha mão contra a parede enquanto prosseguia.
O resto da família devia estar dormindo a essa altura. Eu não queria acordá-los, então tentei ao máximo não fazer barulho. Lentamente, com cuidado, fui me arrastando e, ao fazê-lo, passei pela porta com a placa QUARTO DAS CRIANÇAS. Por um momento, os eventos do meu primeiro dia aqui passaram pela minha mente — ficar trancado na sala dos livros, ser acusado de possuir uma mente imunda. Isso já faz quatro dias.
O tempo voa.
Curiosamente, durante todo esse tempo, nunca me encontrei com nenhum dos irmãos da Ayano. Eu passava a maior parte do meu tempo enfiado no meu quarto, mas parecia estranho que nunca nos víssemos, embora estivéssemos na mesma casa. Eles tinham que ir para a escola nesses quatro dias e tenho certeza de que estaríamos compartilhando um banheiro...
Subi as escadas lentamente, tomando cuidado para não fazer nenhum som de rangido, enquanto minha mente se concentrava nesses irmãos misteriosos.
Ayano me disse para não me preocupar com eles no primeiro dia, então não me preocupei. Fiz questão de não os trazer à tona sempre que falava com ela.
Mas, para ser sincero, minha curiosidade estava começando a me consumir. O que eles poderiam estar pensando, pregando todas aquelas peças em mim no primeiro dia? E por que a Ayano estava tão inflexível sobre não me deixar nem mesmo vê-los?
— Hã?
Assim que cheguei ao corredor do andar de cima, meu plano era ir direto para o quarto do meu professor. Em vez disso, parei no topo da escada. A porta do quarto em que eu estava dormindo estava entreaberta e, por algum motivo, a luz estava acesa. Será que eu tinha esquecido de apagar as luzes quando saí? Não, eu definitivamente me lembrei de fazer isso. Então, o que aconteceu...?
…Hmm?
O que é isso? Era difícil distinguir pelo brilho, mas parecia que algo estava deslizando por baixo da porta...
Nossa. O que que está vindo por aqui?
Espera! O-o que...?! Hã? Hã?!
— Agh…!!
A pequena sombra que pulou para fora da porta zuniu em minha direção a uma velocidade incrível e depois mordeu meu pé direito. A dor repentina me fez querer gritar bem alto, mas consegui me segurar.
Que diabos?! O que acabou de me morder?!
Eu me agachei, tentando o meu melhor para afastar a ameaça sombria, mas quando o fiz a porta se abriu completamente. A luz que se derramava, agora iluminava totalmente a porta. Lá dentro vi a silhueta de um menino.
— H-Hanao! Não!
O menino que saiu pela porta parecia bastante desorientado, mas sua mira era certa quando ele desceu e pegou a bolha na escuridão. Agora que estava exposto à luz, eu podia ver o que era a sombra. À frente da dor, à frente do menino, eu abordei primeiro.
— Um, um hamster...?
O menino que segurava o hamster Hanao se agachou para que estivéssemos no mesmo nível e me olhou preocupado.
— Hum, você está bem?! Eu... eu sinto muito, muito mesmo por isso…!
Ele parecia cerca de um ou dois anos mais novo que eu. Seu cabelo preto austero tinha um par de grampos na frente. Ele estava vestido para sair, com uma camiseta branca e calças cargo, mas a timidez óbvia do menino indicava que ele não era exatamente o tipo robusto. Ele estava freneticamente se curvando para mim em desculpas, então eu sentei no chão e tentei acalmá-lo.
— Está... está tudo bem! Se acalme! Eu acho que não atravessou a pele, então está tudo bem! Tá?
Verifiquei para ter certeza, mas não me machuquei mesmo. Deve ter sido fácil para mim. O menino pareceu pelo menos um pouco aliviado ao ouvir isso.
— Tem... tem certeza?
Ainda doía um pouco, mas considerando como o menino estava com os olhos marejados, decidi não insistir nisso: — Sim, sem problemas. — Eu disse, sorrindo da maneira mais amigável e envolvente que pude. — Então você é irmão da Ayano?
O menino parecia um pouco assustado com a pergunta, mas ainda assim assentiu amplamente.
— S-sim, sou, mas... você vai relatar isso para ela?
No momento em que ele fez a pergunta, ele começou a tremer.
Relatar? Não era como se estivéssemos em um acampamento. Mas a julgar pelo seu ato, eu provavelmente não gostaria de estar perto da Ayano quando ela estivesse brava. Afinal, ela fez seu irmão gritar no meu primeiro dia aqui. É… é melhor eu manter isso em mente.
— Não, claro que não! Hum, eu só queria dizer olá, já que eu não vi você antes... — estendi uma mão de forma amigável para ele. — Meu nome é Haruka Kokonose. Qual é o seu?
O menino mudou seu hamster para uma mão só para apertar a minha.
— Hum, é Kousuke. Oi.
Esse nome levantou uma bandeira na minha memória. Ayano mencionou um “Shuuya” no meu primeiro dia aqui, eu tinha certeza. Um deles tinha que ser mais velho que o outro. Era o Kousuke ou o Shuuya? Comecei a ficar curioso.
Kousuke se levantou e começou a se curvar novamente. — Hum, eu vou descer. Mais uma vez, sinto muito por te assustar tão tarde. — Indo para a cama, talvez? Era bem tarde. Eu queria conversar com ele um pouco mais... mas ele provavelmente estava cansado. Talvez na próxima.
— Claro. Boa...
...Ou talvez não fosse? Você nunca sabia. Uma estranha sensação de antecipação me fez parar no meio da frase. Eu realmente precisava ocupar o tempo dele assim? Aah, mas eu realmente deveria perguntar agora que tenho a oportunidade. Aah, mas também não é legal me intrometer em assuntos de família.
Mesmo assim, uma pequena conversa não faria mal a ninguém, né?
— K-Kousuke?
— ...Sim?
Kousuke me deu um olhar perplexo. Peguei a sacola da loja de conveniência ao meu lado e tirei um item dela.
— Você é um fã de pudim de nata?
 *
 — Eu... eu acho que nunca comi algo tão bom antes! Eu costumo comer os que vêm em pacote de três, então...!
Kousuke, sentado à minha frente, parecia estar em estado de puro êxtase. Não tão rápido, Kousuke. Esses pacotes de três também não devem ser ignorados. Há uma espécie de apelo universal para eles. Você chegará a eles um dia. Enquanto entoava mentalmente essas palavras de esclarecimento para mim mesmo, levei outra colherada de creme aos lábios. Gostoso.
O Sr. Tateyama parecia bastante chocado quando eu lhe trouxe café, com Kousuke seguindo logo atrás. Do jeito que ele colocou, as três crianças que a Ayano interpretava como irmã mais velha eram todas supertímidas com estranhos, quase nunca ficando amigas de pessoas que não conheciam. Ouvir isso pareceu envergonhar o Kousuke um pouco, mas agora eu entendi porque eu praticamente nunca os vi.
— Aquele carinha gosta muito de você, hein?
Hanao, o hamster, estava descansando tranquilamente no ombro de Kousuke. Ele parecia totalmente em paz, não sendo mais ameaça aos meus pés.
— Hee-hee! Sim, somos realmente bons amigos — disse Kousuke, dando a Hanao umas palmadinhas nas costas. Ele se esticou apreciativamente em resposta.
— Então você está aqui para trabalhar na sua apresentação do festival, Kokonose? Acho que a Ayano disse que era depois de amanhã.
— Uh-hum. É o grande festival anual da escola. Você também pode ir se quiser, Kousuke. Há uma tonelada de barracas de comida e outras coisas, e é como uma grande festa todos os anos.
Kousuke balançou a cabeça tristemente com o convite. — Obrigado... mas é melhor não. Não consigo lidar com muitas pessoas em um lugar só. Há algumas coisas que eu tenho que fazer nesse dia também.
O pensamento pareceu deprimir o Kousuke ativamente. O Sr. Tateyama acabou de me dizer que eles eram tímidos, não é? Provavelmente eu deveria ter sido mais considerado. Abri a boca para tentar encobrir o assunto, mas Kousuke me venceu.
— Ah, mas a Ayano e... e os outros dois disseram que iriam.
— Ah, sério? Todos?!
Isso foi um pouco surpreendente. Na verdade, mais do que um pouco. Bastante. Eu estava quase convencido que eles me odiavam até agora. Mas eles estavam realmente indo? Nossa! O pensamento imediatamente me animou.
— Bem, isso é ótimo! — Eu sorri para ele. — Me deixa ainda mais animado em fazer isso direito, sabe?
Kousuke devolveu o sorriso. — Sim. Estarei torcendo por você também. Realmente, se eu não tivesse essas coisas para fazer, eu teria tentado ir um pouco.
— Ah, sim, você tinha mencionado. Mas que tipo de coisa? É algo difícil?
— Mais ou menos. — Kousuke disse. — Vou a uma entrevista para um emprego de meio período de jornaleiro. Tem um lugar que contrata garotos da minha idade e eu tenho que conseguir esse emprego.
Entendo. Soou convincente o suficiente por um momento. Mas o Kousuke não poderia ter mais do que treze ou quatorze anos. Não era uma idade que a maioria das pessoas recomendava para que crianças começassem a trabalhar. Por que ele estava passando por esse esforço? Achei a pergunta difícil de fazer, mas Kousuke, percebendo meus sentimentos, continuou.
— Sinto que realmente tenho que mudar. Mamãe morreu e todo mundo está trabalhando muito duro... não posso agir como um covarde total pelo resto da minha vida.
Então ele ficou em silêncio, percebendo minha reação a isso.
...Então, humm, espere um minuto. O que o Kousuke acabou de dizer?
“Mamãe morreu”. ... Quer dizer, a esposa do Sr. Tateyama? Isso era loucura. Meu professor nunca mencionou uma palavra disso para nós. E desde que entrei na escola — desde sempre, desde que o conheço — nunca o vi demonstrar nem mesmo uma pontada de tristeza. Mesmo quando entramos no segundo semestre, ele era o mesmo de sempre.
— ...Ela morreu? A esposa do Sr. Tateyama?
Kousuke pareceu surpreso com a pergunta.
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— Ele nunca te contou?
Eu balancei a cabeça silenciosamente. Kousuke suspirou, como se tivesse visto isso com bastante antecedência.
— É, eu acho que ele não gosta que as pessoas o vejam tão triste e coisas assim... Ele nunca chorou sobre isso na nossa frente. Tenho certeza que ele só não quer que vocês se preocupassem com ele, Kokonose.
Isso era tudo que tinha? Ele estava sorrindo e rindo a cada dia simplesmente como uma espécie de blefe? Ele estava realmente chorando onde ninguém podia vê-lo?
Uma imagem do meu professor sorridente explodiu na minha mente. O pensamento me deprimiu.
— ...Acho que estamos fazendo nosso professor passar por muita coisa, não estamos?
Kousuke balançou a cabeça.
— Não, acho que não. Papai fala muito sobre você, Kokonose. Ele disse que você era seu “orgulho e alegria” e tal.
Ouvir isso quase me deu vontade de chorar, mas segurei isso pelo bem do Kousuke.
— Bem... Uau. Nossa. Seria bom se ele me dissesse em algum momento.
— Ele estava muito bêbado na hora. — Acrescentou Kousuke com uma risada.
Bêbado, hein? Não tive muita dificuldade em imaginar aquela cena.
Então Kousuke bateu as palmas das mãos em compreensão. — Ah! Certo. Cara, o papai estava realmente fazendo isso naquela noite. Ele ficava cada vez mais bêbado e ele disse para a Ayano, tipo, “Eu vou trazer ele algum dia para que você possa ser a namorada dele” e outras coisas assim. Apesar de que o papai falou que morreria se ela fugisse com alguém.
Kousuke sorriu com a memória, mas foi um grande choque para mim.
Os eventos do primeiro dia na casa dos Tateyama voltaram à minha memória novamente.
— Ha-ha-ha! Isso é, uhm... bem louco, sim. Heh....
— É, não é? E todo mundo o levou a sério, tipo, “Nós vamos proteger você desse cara, Ayano!” e... hum, Kokonose?
Ai. Kousuke não estava na sala naquele momento, suponho, mas aquela missão de “proteger” a Ayano de mim... acho que eles realmente a cumpriram. Em uma forma realmente física também. Bem, fiquem tranquilos, Shuuya e quem mais foi. Eu nunca vou ter pensamentos impróprios sobre a Ayano de novo. Provavelmente.
Incapaz de suportar o constrangimento, decidi levar nossa pequena conferência do pudim para o fim.
— B-bem, Kousuke, está ficando muito tarde. Que tal dormirmos um pouco?
— Hã? Ah, você está certo. Já são duas. Desculpe se te mantive acordado.
Ele pegou seu pote de pudim e se levantou. Hanao se ajustou com flexibilidade a esse movimento súbito, permanecendo firme em seu ombro. Huh. Eles realmente eram bons amigos.
Levantei-me para vê-lo sair. — Ah, você está bem, — disse ele.
— Não se preocupe, — respondi enquanto me esgueirava atrás dele e o levava até a porta. — Boa sorte na entrevista de emprego.
Kousuke forçou um sorriso. — Boa sorte no... — ele respondeu.
...Deveria ter tido mais algumas palavras depois disso, mas antes que ele pudesse dizê-las, Kousuke levou a mão à testa e olhou para baixo, desviando os olhos. Eu apoiei suas costas.
— E-eu estou bem. — Disse Kousuke. — Só fico um pouco tonto às vezes. — Mas ele praticamente parecia estar tendo palpitações. Não está bem mesmo.
— Tem certeza? Você precisa de algum remédio ou...?
— Voltarei ao normal em um segundo. Estou bem...
Seu rosto estava claramente começando a perder a cor quando sua cabeça caiu. Ele parecia estar tremendo um pouco também. Era claramente anormal, mas Kousuke agia estranhamente acostumado com isso, então eu não disse nada e apenas continuei dando tapinhas nas costas dele.
Alguns momentos depois, o episódio acabou. Kousuke se levantou e tirou a mão da testa. A expressão atrás de sua mão parecia um pouco mais triste do que antes.
— E-eu sinto muito por fazer você se preocupar.
— Não, está tudo bem. Mas você tem certeza de que...
— E-eu estou bem! — Kousuke disse antes que eu pudesse terminar. Eu deixei para lá, imaginando que não valia a pena deixa-lo ainda mais estressado. Ele fez o seu caminho para as escadas enquanto eu o observava da porta. O olhar final que ele me deu ainda parecia um pouco melancólico. Eu nunca descobri o que estava passando pela cabeça dele naquela noite.
Fui dormir mais cedo do que o normal depois de terminar um pouco mais do trabalho, mas o pensamento da esposa do Sr. Tateyama tornou difícil de dormir.
Aquela sala dos livros deve ter pertencido a ela, afinal. Eu me perguntava que tipo de mulher ela tinha sido. Um tipo gentil, eu assumi; alguém que cuidava dos seus filhos. Talvez tenha sido a Ayano quem se aproximou para cuidar deles em sua ausência.
E olhe para o Kousuke. Ele estava se esforçando ao máximo para “mudar” também, como ele colocou. Era bem impressionante, um menino daquela idade pensando na vida assim. E era impressionante como alguém conseguia incutir tanta vontade e perseverança nas pessoas, mesmo quando elas não estavam mais lá.
Olhe para mim, enquanto isso. Estou ajudando alguém a perseverar na vida? Eu não sei. Parece difícil.
Tentei pensar um pouco, mas minha cabeça não me ofereceu muita coisa útil. Os fios do pensamento se desataram, minha sensação de auto-afroxamento e relaxamento. Antes que eu percebesse, estava em uma escuridão multicolorida. Nada a temer e nada a sentir.
Deve ser assim que é morrer, pensei comigo mesmo, assim que o resto da minha consciência desapareceu no mundo sem fundo do sono.
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mayura-chanz · 2 years
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Kagerou Daze II - a headphone actor - Reminiscence Forest (Parte 1)
Como prometido, aqui está a primeira parte do capítulo Reminiscence Forest que estava indisponível no blog da Yuka. Como o restante do capítulo ela já havia traduzido, só traduzi essa primeira parte que faltava. Deixarei linkado no final para o blog dela para que leiam o restante por lá. Dito isso, boa leitura!
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
____
15 de agosto. O ápice do verão.
A rua suburbana, bem separada das pessoas e do barulho dos carros que você encontra na cidade, estava infectada pelo som alto e ecoante das cigarras próximas.
A longa rua reta era interrompida apenas por placas enferrujadas e pequenas casas, pontilhando o caminho para o que parecia ser o resto do mundo.
Próximas a calçada, notavelmente rachada e sem pavimento sólido, as ervas daninhas desgrenhadas se estendiam para o céu o mais alto que podiam.
Já era tarde demais. Eu me sentia como se estivesse andando por esse caminho por horas, mas imagino que tenha sido apenas por vinte ou trinta minutos na realidade.
Quando você se depara com uma onda interminável de eventos catastróficos, o tempo sempre parece passar muito mais devagar do que realmente passa.
—Tudo começou ontem.
Eu, Shintaro Kisaragi, acabou sendo empurrado para o mundo exterior por algum motivo, após aproximadamente dois anos do animado, risível, estilo de vida nerd recluso.
Por quê? Bem, graças aos atos descarados de violência realizados pelo vírus perverso conhecido como Ene, quebrei alguns acessórios do meu computador e acabei tendo que visitar a loja de departamentos próxima para comprar substitutos para eles. Essa é a razão mais simples, ao menos.
Mas assim que cheguei a loja de departamentos, fui pego em um cenário de ataque terrorista—algo que tenho que dizer, tipo, uma em oitenta mil de acontecer. Então eles me pegaram como refém e depois os próprios até atiraram em mim.
...Dada a história até agora, já tenho algumas dúvidas críticas se alguém acreditaria em uma palavra que seja dela. Mas a verdadeira história está apenas começando. Permita-me continuar.
***
Depois de receber um tiro de uma arma, fui resgatado por uma organização bizarra que aconteceu de estar também na cena.
Ela é chamada de Mekakushi-dan, e é um grupo de, vamos dizer, indivíduos “únicos”. Uma mulher invisível, uma Medusa, um cara tipo camaleão, você nomeia.
...Essa gangue é claramente uma ameaça muito maior do que qualquer grupo terrorista comum, mas aparentemente eles trataram meus ferimentos e, pelo que parece, não parecem pessoas ruins.
—Então estava tudo indo muito bem e tal. Até esse ponto.
Se eu tivesse resistido a todos os impulsos que me diziam para bisbilhotar um pouco mais esse grupo, se eu apenas dissesse: "Muito obrigado, uh, até mais tarde", voltasse para casa e desfrutasse do meu retorno triunfante ao estilo nerd recluso, com gosto aliás, eu imagino que poderia ter me convencido a esquecer todas as perguntas que tinha.
Mas quando o garoto chamado “Kano” começou a falar sem parar sobre as coisas, e quando decidi ser educado o suficiente para ouvi-lo—me intrometendo com "Hum, legal" de vez em quando, esse tipo de coisa—eles decidiram que eu sabia muitos de seus segredos e não podia voltar para casa. A clássica gangue criminosa, em outras palavras.
—Eu dei o troco, claro.
Certamente, eu aprecio eles terem cuidado de mim durante a noite enquanto estava inconsciente.
Mas eu não estava disposto a seguir cegamente as ordens que eles me dessem, e o choque de sair do meu quarto pela primeira vez em anos me cansou muito, tanto física como emocionalmente.
Sério, mesmo se eu quisesse contar os segredos dessa gangue maluca para outra pessoa, não há dúvida de que eles diriam: "É, eu diria que você é o mais maluco de todos" em resposta.
Então é claro que eu não iria contar para ninguém. Eu jurei para eles.
...Mas Ene, a praga que morava no meu computador respondeu exatamente como eu pensei que faria: "Uau, tudo isso é realmente incrível, mestre!" e assim por diante. Assim, ela se juntou ao Mekakushi-dan, ela e todas as informações secretas que ela apreendeu do meu PC.
Minhas súplicas foram todas em vão. Eu fui forçado a entrar no grupo a contragosto, e agora sou Shintaro, Membro N° 7 da Mekakushi-dan.
“Ei, mãe, eu acabei de fazer alguns novos amigos! Eu acabei de entrar nessa coisa Mekakushi-dan! Eles me fizeram o Membro N° 7! ...Hã? Quantos anos eu tenho? Ah, não diga que esqueceu, mãe! Eu tenho dezoito!”
—Isso me faria querer morrer. De verdade. Não tem maneira alguma de que eu poderia dizer isso a ela.
— Uh, olha, Shintaro, só de olhar para você está fazendo me sentir nojenta... e essa roupa também, é tão sem graça. Enquanto eu jogava meu monólogo interno para mim mesmo, minha irmã Momo, que estava andando ao meu lado, falou com uma voz irritada.
Minha irmã é dois anos mais nova que eu, ou seja, ela tem dezesseis. Em pensar que há pouco tempo... tudo bem, mais como alguns anos atrás, mas que houve um tempo em que ela agia muito mais fofa comigo, constantemente me importunando sobre qualquer coisinha por atenção.
O momento em que ela se tornou uma aluna do ensino médio, no entanto, seu humor em relação a mim teve uma reviravolta completa.
Então, graças a um erro ou o que seja, ela se tornou uma cantora idol, a ponto de se tornar bastante conhecida entre o público em geral. Cartazes dela por toda a cidade, mostrando seus trabalhos.
Fiquei feliz em ver minha irmã fazer um avanço tão grande em sua vida, mas já que a distância entre nós havia crescido muito, mal tivemos a chance de iniciar uma conversa ultimamente.
Mas a vida de uma idol é bem estressante, aparentemente, e a sua agência concordou em dar a ela algum tempo livre um dia depois de discutir as coisas com eles.
Ela não parecia ter muitos amigos, mas aparentemente ela era amiga do pessoal do Mekakushi-dan, o que—embora, como irmão dela, eu tivesse minhas dúvidas—foi um alívio de se ver.
***
— Uh, olá? Você está ouvindo? Só tire isso logo. Você está encharcado de suor. Aqui não é um tipo de competição para ver quanto tempo você pode aguentar.
De fato. Essa temperatura, junto com o suor escorrendo pelo meu corpo, transformou o moletom que eu estava usando em uma espécie de sauna portátil para a parte superior do meu torso.
Tirar isso teria sido melhor, talvez, mas eu não queria que minha pele branca e pálida ficasse queimada pelo sol, e descartar esse moletom—esse pináculo, esse ponto culminante da cultura do vestuário—era impossível para alguém como eu, que se afeiçoou tanto a esse acessório de moda.
A real razão era que uma amiga uma vez me falou “Você fica bem de moletom, Shintaro”. Mas agora começou a parecer um tipo de maldição em mim.
— Oooooolááá? Ei! Você está me escutando, cara?! Eu disse que você está parecendo nojento!
A julgar pelo quão obstinada ela estava em suas queixas, percebi que ela devia estar vomitando sua frustração com o calor e fadiga ou afins em mim.
Eu sei como ela se sente, mas, ei, acho que, estou no mesmo barco. Todo esse abuso verbal estava começando a me dar nos nervos, então decidi morder a isca e responder à provocação da minha irmã.
— Não está lhe causando nenhum problema, Momo. E além disso, qual é a da sua roupa, hein? Eles fizeram você usar isso depois de perder uma aposta em algum show de variedades estúpido?
A parka que a Momo estava usando, com um ISOLATED escrito em caracteres grandes, era tão horrível que nem mesmo a mais vanguardista das celebridades ousaria tocá-la.
Qualquer um que a visse sem dúvida diria para si mesmo: "Uau, isso deve ser algum tipo de punição por algo ruim que ela fez".
— Hã, quê? Você não entende isso? Isso é fofo. Você não tem o menor senso, não é, Shintaro? E o que dizer desse moletom? Você parece um comediante fazendo um reality show onde se está tentando pegar carona por todo o país. Eu posso imaginar você sendo levado por algum fazendeiro e chorando sobre como os vegetais dele são deliciosos e outras coisas.
A julgar pelas presas por trás dessa salva, Momo era aparentemente uma grande fã de seu próprio visual também.
Mas se eu quisesse proteger a dignidade do meu moletom, eu não podia me dar ao luxo de perder aqui.
Então decidi atacar a Momo exatamente onde doía mais.
— Ah, cala boca, Momo. Sabe, eu sei o que você faz toda noite. Fica lá sentada no quarto, rindo dos vídeos do Let’s Play. Você sabe que é esquisito, né? Sentada lá no meio do escuro, comendo aqueles pedaços de lula seco como um cara em seus sessenta anos...
Momo, atordoada por esse ataque inesperado, começou a ficar desesperada.
— O qu... Como?! Como você sabe disso?!
Ela pode ter ficado toda entusiasmada no começo, mas agora o rosto da Momo estava rapidamente ficando vermelho de vergonha.
Continuei, com o objetivo de fazer um combo.
— Ah, sabe, eu estava passando pelo seu quarto a caminho do banheiro e ouvi uma risada estranha, tipo “heh... heh-heh...” A porta estava entreaberta, então não é como se eu pudesse evitar de ver você.
Incapaz de dizer qualquer coisa em resposta, Momo com raiva sacudiu um punho para mim.
Eu ganhei. Ela é, apesar de tudo, apenas minha irmã. Não tem como ela derrotar o irmão mais velho dela.
— Você... Você é horrível, Shintaro! Não posso acreditar nisso! Além disso, tenho certeza de que você está apenas olhando para imagens pervertidas o tempo todo! Ene me disse, tá! Ela disse que "o desejo sexual do meu mestre é ilimitado"! Isso é realmente embaraçoso para mim, sabia!
A euforia da vitória se dissolveu em um instante enquanto eu era jogado no fundo de um poço profundo e humilhante. Comecei a suar frio, superando facilmente o suor que escorria do calor.
— V-vo... Você... O que ela disse para você...?
— Praticamente o que eu acabei de dizer!
— O-o que você disse...?! Hã... bem, olha, isso foi apenas uma vez, tá bom? Daquela vez eu cliquei acidentalmente naquele banner estranho! Todo mundo comete erros, tá!
— Ah, sério? Quantas pessoas cometem o mesmo erro várias vezes ao dia? Ene me disse que você corre do quarto nervoso em pânico toda vez que você clica em uma página, também...
O sinal de emergência dentro da minha cabeça começou a tocar dolorosamente.
Eu, Shintaro Kisaragi, estava inegavelmente frente ao perigo. Perigo mortal! Eu queria atirar o celular em meu bolso direto para qualquer grade de esgoto próxima, mas mais importante que isso, eu precisava mudar o tópico. Momo já estava olhando para mim como uma pilha de lixo pútrido, mas eu ainda tinha que ter algum tipo de chance. Alguma coisa... alguma coisa mais...
— Ei, o que vocês dois estão fazendo? Aw, claro é legal ver os dois irmãos se dando bem um com o outro!
— Aai!
Eu pulei no ar, surpreso por ter alguém de repente me dando um tapinha nas costas.
Girando ao redor, vi um jovem grande em um macacão verde, com um monte branco inchado de algo nas costas. Ele nos deu um sorriso amigável.
Era um homem do Mekakushi-dan que eu entrei um pouco mais cedo.
Pensando nisso, ele deve ter estado atrás de nós o tempo todo. Ele pode ter ouvido toda a conversa... Talvez ele estava dando uma mão para me livrar desse bombardeio.
— Você era... uhm, Zetto, isso?
Tentar chamá-lo pelo nome quando eu sabia que não tinha lembrado direito foi um erro. A propósito, Momo acertou instantaneamente uma cotovelada em forma de flecha em meu braço, acredito que tinha errado.
Eu gemi impotente quando o ar saiu da minha boca.
— Não, é Setto! Você acabou de ser apresentado a ele de manhã! Ugh, Shintaro, você nunca lembra o nome de ninguém...!
Momo me encarou com raiva, como para demonstrar visualmente o quão rude eu fui. Mas antes que ela pudesse continuar desferindo golpes em mim, uma voz irritada emanou da massa branca e fofa nas costas do homem de macacão.
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— ...Não, é Seto...
Um par de olhos rosa estava nos encarando de trás dos ombros do homem chamado Seto.
— É Seto, tá? Se você erra o nome dele... é maldade.
Momo, sob o olhar de Mary, estava congelada como uma criminosa exposta.
Por um momento, eu pude vê-la verificando minha própria expressão facial de lado.
— Ha-ha-ha-ha! Está tudo bem, Mary. Aliás, eu gosto de Setto! Soa meio legal!
Mary permaneceu não convencida, emitindo um pequeno irritado mmffff antes de enterrar o rosto no ombro do Seto e cair no silêncio.
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mayura-chanz · 2 years
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days III
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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Nota: Até final do mês estarei trazendo um capítulo do 2° volume traduzido, visto que este está indisponível em português no momento. Queria lançar os dois ao mesmo tempo, ou seja, junto com este, mas infelizmente minha agenda está bem apertada. Obrigada pela compreensão e boa leitura!
____
O quarto do andar de cima estava aquecido pelo sol da tarde.
Guiado para a sala de hóspedes — a “sala em que eu deveria entrar”, como Ayano colocou — eu me deliciei com um pouco de chá quente. A tigela no meio da mesa de madeira estava forrada com uma seleção de biscoitos, cada um embalado individualmente de forma requintada.
Qualquer coisa embalada assim tinha que ser chique. Melhor eu não os devorar como faço com os sacos grandes de batata fritas que às vezes como, ou foi isso o que eu disse a mim mesmo, de qualquer modo. Mas cara, esses biscoitos tinham um sabor fabuloso. Tentei me conter, mas era uma tarefa aparentemente insuperável.
Então comecei a falar sobre qualquer coisa, tentando ao máximo ocupar minha boca com algo além de comida.
— Cara, nossa, que surpresa! Eu não fazia ideia de que o Sr. Tateyama tinha quatro filhos... Então foi esse garoto chamado “Shuuya” que me trancou naquela sala antes?
— Sim... — disse Ayano, sentando-se à minha frente. — Basicamente. Ah, eu nem sei como me desculpar com você... — Dito isso, ela abaixou a cabeça.
Ficar trancado lá dentro foi um choque com certeza, mas não me machuquei nem nada, e eu não poderia ficar com raiva disso. Quero dizer, eu já fiquei com raiva de alguma coisa na minha vida até agora? Acho que não.
— Ha-ha-ha! Ah, bem, tudo bem. Era como minha própria missão de sobrevivência pessoal, de certa forma. Eu nunca fiquei trancado em uma sala assim antes, então foi meio que até divertido!
— Hã? Sobrevi...? A-ha-ha-ha-ha…!
E assim a conversa continuou desajeitadamente.
Fazia cerca de meia hora desde a minha fuga da sala dos livros. Ayano trocou do pijama para um vestido branco com um cardigã bege por cima. Dar uma outra olhada nela me fez perceber que a Ayano não se parecia muito com o Sr. Tateyama. Do cabelo aos olhos escuros e ao nariz, imaginei que devia ter puxado mais o lado materno da família.
— Acho que sou eu quem tem que pedir desculpas, entretanto: invadindo assim para que possamos trabalhar em nosso projeto do festival escolar...
— Ah, não se preocupe com isso! O papai quase nunca traz os alunos para casa assim, então estou meio que feliz em ver você. Pode ser um lugar bem animado às vezes, então...
Ayano fez uma pausa, olhando para o espaço por um momento.
— Pode ser meio perigoso também, — acrescentou — mas...
Eu raramente era um hóspede, mas ainda assim, não esperava esse tipo de aviso em nosso primeiro encontro. Ela estava falando sobre mais “brincadeiras” de seus irmãos? Considerando minha experiência na biblioteca, isso parecia bastante plausível. A julgar por como ela parecia quando a vi pela primeira vez, parecia que eles colocaram a Ayano em um grande sofrimento. Talvez eles estejam apenas naquele estágio rebelde estranho. Como filho único, achei isso meio fascinante.
— Ei, ahn, você acha que eu poderia dizer olá para seus irmãos? Vou ficar aqui por alguns dias, então é melhor eu me apresentar...
— Hã?! Ah, se apresentar?! Não! Digo, humm…
Meu pedido pareceu deixar a Ayano nervosa de uma forma estranhamente intensa. Obviamente, era muito indesejável. Achei que dizer olá não causaria nenhum mal, mas talvez houvesse algum outro motivo pelo qual ela não queria que nos conhecêssemos.
Hmm. Despertou meu interesse. Mas o que estou tentando me intrometer é coisa de família. Não posso enfiar o nariz muito longe. Despertar um drama familiar no meu primeiro dia aqui seria meio rude com o Sr. Tateyama. Melhor mudar de assunto.
— Bem, se eu não devo, então está tudo bem também! Ah, espera... eu quase me esqueci. Eu te trouxe um pequeno presente de agradecimento por terem que me aguentar aqui. É bem gostoso também, então você pode dar para seus irmãos se quiser!
Abri minha mala, que coloquei ao lado, e tirei uma caixa de bolo alemão Baumkuchen que peguei. Tinha comprado dois, na verdade, mas comi um no caminho para cá. Era requintado. Eu tinha certeza que a Ayano iria adorar.
— Qu-?! Isso, isso é de um lugar chique, não é? ...Ah, eu realmente não poderia!
— Não, não, não, — respondi, meio que empurrando o bolo para ela. — Digo, ele realmente não cobre o que eu devo a você por me deixar ficar de qualquer maneira. Pode pegar.
Ayano se desculpando aceitou. Então ela exclamou “Ah!” como se estivesse só se lembrando de algo. — Já sei! Não é para retribuir nem nada assim... mas você almoçou antes de vir para cá? Estou prestes a começar a prepara-lo, mas posso preparar algo para você também.
Já era um pouco depois do meio-dia, de fato. A comida caseira da Ayano...? O conceito imediatamente chamou a minha atenção. Mas onde eu teria levantado minha mão e dito um “Absolutamente!” a qualquer outro momento, dessa vez me segurei por enquanto. O curry que comi durante outra parada no caminho para cá ainda pesava muito no meu estômago. Isso foi há apenas uma hora e meia, e até eu achava que era um pouco cedo para estar comendo de novo.
No entanto, Ayano ainda precisava de uma resposta. Resignando-me à minha decisão, abri a boca para recusar educadamente.
— ...Ah, está tudo bem. Eu já comi antes de vir para cá, então...
Antes que eu pudesse terminar o pensamento, um resmungo alto abafou minha voz. Era do meu estômago, é claro. Eu tentei rir disso, dizendo “Uhhmm...” de uma forma extremamente estranha, mas já era tarde demais. A Ayano tinha ouvido alto e claro. Eu poderia dizer porque ela estava olhando diretamente para a minha barriga.
— Hum, — ela disse — não tem necessidade de ser educado nem nada! Eu não como muito de qualquer maneira.
Ahh… Isso é tão embaraçoso. Por que meu estômago teve que roncar logo depois que eu disse a ela que já tinha comido? Agora eu provavelmente pareço alguém que come e come, mas que fica sempre com fome.
E eu realmente estava com fome, só um pouco.
…Certo, na verdade muita fome. Ótimo. Agora o quê? Se ela está oferecendo, não tem problema dizer sim, tem? Não! Não, não, não, não posso. Não tem como me permitir comer muitas vezes em um...
— Bem, acho que vou aceitar depois de tudo isso, então. Hee-hee...
Só hoje. Vou permitir isso apenas uma vez por hoje.
Passar a tarde com fome provavelmente afetaria minha eficiência no trabalho ou algo do tipo.
Quando cedi às vozes na minha cabeça, Ayano, aparentemente achando tudo isso divertido, riu um pouco.
— Vou tentar fazer um de maior ajuda para você, tá?
Deus, ela é uma boa pessoa. Especialmente comparado a mim. Eu sou um caso perdido. Eu abaixei minha cabeça corada e apenas dei um estranho “Obrigado” em resposta.
— Vou começar a cozinhar agora, mas antes disso, deixe-me te mostrar...
Ayano apontou para um canto da sala. Lá encontrei uma mesa dobrável com um computador um pouco ultrapassado, scanner e um tablet de desenho.
— Acho que é tudo o que você precisa. Desculpa; o papai preparou tudo isso para você, então eu realmente não sei o quê é o quê. Você sabe como usar?
Tanto quanto eu poderia dizer, não era nada muito além da minha compreensão. Eu tinha meu celular comigo de qualquer forma, para que eu pudesse verificar on-line se tivesse algum problema.
— Sim, eu vou ficar bem. — Eu disse enquanto assentia e me levantei com o bolo na mão.
— Deixe-me ver o que temos aqui.
— Certo! Trarei sua comida assim que estiver pronta.
Ayano virou-se para sair da sala, mas parou, sua voz ficando mais baixa.
— Ah, mais uma coisa. Quero avisá-lo sobre meus irmãos. Eles, uhm... Vamos apenas dizer que eles têm alguns problemas. Eu não acho que você será capaz de dizer olá ou falar diretamente com eles.
A mudança repentina de humor da conversa me confundiu por um momento.
— Ah? Hum, está tudo bem. Tudo bem para mim, mas por “problemas”… você quer dizer que eles estão doentes ou algo assim?
Eu estava muito longe dela para avaliar sua expressão, mas pelo tom de voz, algo sobre isso parecia estar deixando Ayano nervosa.
— Bem, tipo, se você se deparar com eles em algum lugar da casa... — Ayano fez uma pausa, escolhendo suas palavras com cuidado. — E se algo meio estranho acontecer com você, tente não deixar isso te incomodar muito.
A maneira indireta como ela colocou me surpreendeu. O que significava “meio estranho”? E se isso me incomodasse quando... sempre que o quer que acontecesse? Eu não tinha certeza do que pensar sobre isso, mas se ela estava sendo tão evasiva sobre isso, provavelmente era algo que eu não deveria insistir muito. Provavelmente.
Todo mundo tem uma ou duas coisas sobre as quais não gosta de falar muito, eu acho. Até eu sei. Melhor evitar bisbilhotar só para satisfazer minha curiosidade.
— ...Uhm, claro. Vou tentar não me incomodar, então não se preocupe comigo.
Desta vez, pude facilmente identificar alívio no rosto da Ayano.
— V-você tem certeza? Bem, que bom... Hum, me desculpe por estar trazendo todas essas coisas estranhas do nada. Trarei sua comida assim que estiver pronta.
Com isso, ela se virou para mim, fez uma reverência rápida e saiu da sala.
Os sons de seus passos enquanto ela descia as escadas gradualmente desapareceram, logo desaparecendo completamente.
“Meio estranho”, hein...? Algo sobre a maneira como ela colocou me incomodou. Não importa que tipo de doença eles tivessem, por que isso faria coisas “estranhas” acontecerem comigo?
Tipo, o que, eles vão desaparecer ou voar pela sala ou se transformarem em monstros no momento em que eu colocar os olhos neles...?
— Hah. Beleza, certo.
Sorri um pouco com a pura loucura da minha imaginação. Então, percebendo que estava sozinho novamente, relaxei no meu lugar e respirei fundo.
Eu não tinha percebido enquanto conversávamos, mas estar em uma sala com apenas uma outra pessoa sempre tinha a tendência de me deixar nervoso.
Na verdade, com quantas pessoas da minha idade eu me senti totalmente confortável conversando, seriamente falando? Eu só conseguia pensar em uma pessoa.
Deitei e olhei para o teto. Em um momento, me vi fechando os olhos e pensando nesse alguém.
Seu cabelo preto, seus olhos carregados de raiva, seus lábios pequenos, seu corpo quase cheio de dentes, sua estatura meio baixa, sua atitude eternamente insatisfeita, sua boca ainda mais eternamente suja, seu sorriso ocasional...
...É estranho. Tudo o que eu tinha que fazer era fechar meus olhos e eu podia me lembrar de todas essas coisas sobre ela, até o último detalhe.
Eu sou muito burro, não sou? Eu não precisava pedir emprestado uma foto para o Sr. Tateyama. Apenas fechar os olhos era o suficiente para me mostrar uma imagem muito mais vibrante de que qualquer imagem poderia fornecer.
Enquanto pensava nisso, fui tomado pelo desejo insaciável de dizer o nome dela.
...Não tem ninguém aqui. Se eu mantiver minha voz baixa, aposto que vai ficar tudo bem. Respirei fundo, trouxe a imagem de volta a minha mente e trouxe o nome para a minha...
Toc, toc.
— Ta-aaahhh! Sim? Sim!! O que foi?!
A batida inesperada na porta me tirou do meu estado de repouso, causando-me alguma dor nas costas. Cara, foi um choque! Eu estava prestes a fazer algo realmente embaraçoso. Sentando-me, preparei-me nervosamente para quem quer que tivesse batido entrar.
Ayano, talvez? Bem, isso não poderia ser. De jeito nenhum que ela poderia cozinhar tão rápido.
— Perdão.
Mas era a Ayano, desculpando-se ao voltar para a sala. Ela não tinha nada com ela, então o almoço parecia estar fora de questão por enquanto e, enquanto se aproximava, se sentou do outro lado da mesa. Pode ter sido minha imaginação, mas seu rosto parecia mais suave do que quando saiu.
— Ei. E aí? — Perguntei. — Alguma coisa aconteceu?
Ayano balançou a cabeça. — Não, nada muito importante. Eu só queria conversar um pouco.
— Hum... Bem, claro, mas...
Eu queria falar sobre o motivo do atraso do almoço, mas resisti, não querendo parecer muito chato.
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— Tinha algo que você precisava discutir ou...?
— Tem. Hum, não discutir exatamente, mas... Bem, há algo que quero lhe perguntar diretamente.
Ayano fez uma pausa e olhou direto nos meus olhos, como se silenciosamente me avisasse que respostas desonestas não seriam toleradas. Fiquei tenso sob seu olhar fulminante, mentalmente me preparando para responder a qualquer pedido que ela tivesse. Ela estava interrompendo o almoço para isso, afinal. O que poderia ser?
Minha postura rígida fez Ayano olhar para mim novamente, intrigada. Então ela falou.
— ...Hum, você estava pensando em algo sujo agora mesmo?
Parecia um golpe direto no meu peito desprotegido. Meu coração disparou de pavor.
— S-sujo? Que tipo de pergunta é essa, Ayano?!
Quero dizer, eu... eu estava pensando um pouco nela, sim. Mas nada sujo! Estou sendo processado por um crime que não cometi!
...Em um momento, porém, recuperei a compostura. Ayano não é algum tipo de mágica. Não é como se ela pudesse ler minha mente. “Agora mesmo” deve ter se referido a antes que ela batesse na porta. Talvez enquanto estávamos conversando...?
— Por que você está nervoso...? Estou começando a desconfiar! Você estava pensando coisas sujas sobre mim quando estávamos conversando, não estava?
Os olhos da Ayano estavam grudados nos meus. Então ela estava falando sobre nossa conversa. Eesh. E aqui eu estava pirando com a ideia dela lendo minha mente antes. Bem, isso é bom, pelo menos...
Espera! Não, não é! O que ela quer dizer, que eu estava tendo pensamentos sujos? Eu? Sobre ela?! Eu não tinha a menor intenção disso! A acusação foi o suficiente para fazer entrar em ação para me defender.
— Você, você entendeu totalmente errado! Quero dizer, Ayano, o que está acontecendo com você?! O que eu fiz para você pensar nisso por um momento?!
— Não foi nada disso! Vocês homens são apenas como uma matilha de lobos, não são?!
O que ela estava dizendo?
Suas palavras eram quase incoerentes, mas esta Ayano estava agora praticamente na minha cara, abruptamente assumindo um tom muito irritado. Ugh. O que deu nela? Ela parecia tão gentil e educada até agora. Não me diga que é um transtorno de personalidade múltipla.
Mas... tipo, como eu devo responder? Não é como se negar tudo isso fizesse ela acreditar em mim agora... Ah, dane-se. Vamos apenas perguntar.
— Umm... Então, o que eu poderia fazer para que você me perdoasse?
— O que você poderia fazer...?
A pergunta subjugou a Ayano em silêncio. Ela pensou por um momento.
— Bem, apenas me prometa que você não vai olhar para mim e ter pensamentos sujos de novo. Eu vou te perdoar se for assim.
— Olha, realmente, eu não fiz nada de...
— Apenas me prometa!!
Ayano deu uma pancada na mesa.
Ahh! Vamos apenas colocar tudo na mesa! Fechei os olhos e meio que gritei:
— Ugghh, tudo bem! Eu nunca mais vou ter pensamentos sujos sobre você novamente! Eu prometo!
Aff. O que eu estou dizendo?
— Ok. Isso é uma promessa, tá?
Ayano sorriu para mim. Depois daquela explosão intimidadora, foi um pouco difícil tirar muita alegria de seu sorriso. Ela se levantou triunfante: — Tudo bem, bem, desculpe te incomodar. — Disse ela, cantarolando para si mesma enquanto saía da sala.
Foi a primeira vez na minha vida, eu acho, que alguém disse “Desculpe por te incomodar” e quis responder: “Sim, espero que sinta muito mesmo.”
Assim que a porta fechou, o silêncio reinou. Fiquei sozinho mais uma vez.
O que foi tudo isso agora? Foi um choque, eu apenas fiquei sentado lá em transe por alguns momentos. Ayano... eu pensei que ela era uma garota legal e graciosa. Eu não fazia ideia de que tinha esse lado dela também. Definitivamente não tinha sido algum tipo de piada. Talvez ela estivesse lidando com algum estresse realmente terrível? Ela agia como se seus irmãos tornassem as coisas meio difíceis para ela. Talvez essa seja a causa?
Olhei para a parede por um tempo, ponderando sobre seu comportamento bizarro, quando outra batida veio à porta.
— Hyah...!
Eu me levantei surpreso mais uma vez. Ficar com medo duas vezes no mesmo dia por baterem na porta… O que está acontecendo comigo hoje? É a Ayano de novo, não é? Tem que ser...!
— Com licença.
Era a Ayano.
Ela me deu um olhar vazio, percebendo o quão congelado eu estava, com o rosto tenso em antecipação ao que estava por vir.
— Hum, aconteceu alguma coisa?
— Não, nada, sério. Ha-ha!
Tentei forçar um sorriso. Não deu muito certo. Com qual Ayano eu estava lidando aqui? Como ela poderia ser toda sorrisos ao meu redor depois do que aconteceu um momento atrás?
— Não? ....Tá. Hum, desculpe fazer você esperar tanto pelo almoço. Não tinha muito na geladeira, então eu corri para comprar algumas coisas...
Então ela levantou a bandeja a seus pés e a carregou sem esforço para a mesa. No momento em que ela colocou lá, o cheiro de algo doce e azedo flutuou para as minhas narinas.
— Eu experimentei fazer um arroz ao estilo chinês, espero que agrade seu paladar...
— Ah, com certeza. Definitivamente vai, posso te jurar isso!
Meu rosto endurecido afrouxou, irrompendo em um sorriso com força total. Não adianta deixar isso esfriar. Eu imediatamente peguei meus pauzinhos e juntei as mãos.
— Obrigado por fazer isso para—
...Espera um segundo.
A percepção repentina me fez parar. Ayano olhou para o meu rosto, com um olhar preocupado.
— Aconteceu alguma coisa, Haruka? Você, hum, não é um fã disso?
— Ah, não, não, isso é bom. Eu só, uhh...
Eu sabia exatamente o que estava me incomodando. Mas não me faria nenhum bem ficar calado sobre isso. Resolvi fazer a pergunta.
— Você disse que saiu para comprar alguns ingredientes, Ayano?
— Sim, saí. — Ela respondeu, a suspeita em sua voz me dizendo que ela não entendia o significado por trás da pergunta. O que era seu direito. Mas isso significava que algo sobre a linha do tempo hoje não estava combinando com a realidade. Porque se isso acontecesse, Ayano nunca teria me acusado de ser algum tipo de maníaco louco por sexo.
Sair para comprar comida, cozinhar, depois subir correndo para gritar comigo... Fazer tudo isso em tão pouco tempo não poderia ser muito fácil de se conseguir.
— ...Ah, espera um minutinho. Na verdade eu tenho o recibo aqui.
Ela puxou ele de um bolso do seu cardigã e entregou para mim. Ele listava diversos ingredientes de frutos do mar, vegetais e coisas como carne moída e curry em pó, que presumivelmente seriam feitos para o jantar mais tarde.
A hora impressa combinava perfeitamente com o momento em que a Ayano saiu da sala pela primeira vez.
Meus olhos caíram de volta na mesa.
Esta tigela de arroz... Definitivamente não era de um tipo de comida pronta que ela jogou no micro-ondas. Os ingredientes eram todos de tamanhos diferentes. Tinha até abóbora. Em outras palavras, isso era uma autêntica comida caseira e, considerando todas as coisas que ela colocou, deve ter levado um tempo para preparar. Talvez este fosse um que ela havia preparado antes, mas a julgar pelo recibo, eu não achava que fosse. Mas ela realmente estava aqui um momento atrás. Ela realmente me criticou. Eu não alucinei isso.
Quanto mais eu pensava sobre isso, mais estranho parecia.
— Ei, posso te fazer mais uma pergunta, Ayano?
Eu poderia dizer que eu estava começando a deixar um pouco nervosa a minha anfitriã, mas ela assentiu com a cabeça, o sorriso ainda claro em seu rosto.
— Escuta, você tem... tipo, uma irmã gêmea ou algo assim?
Eu ri um pouco nervoso quando perguntei. Eu sabia que estava fazendo uma pergunta completamente ridícula.
Ayano congelou um pouco, talvez tentando descobrir o que significava. Eu não podia culpa-la. Se alguém me perguntasse do nada sobre um gêmeo secreto, eu faria a mesma coisa.
Mas depois de um momento, Ayano deixou escapar um “Hã?!” e arregalou os olhos, aparentemente percebendo algo importante. — V-você quer dizer que alguém entrou aqui enquanto eu estava cozinhando, talvez? O que ela disse para você?!
Ela trouxe sua cabeça para perto da minha, me pressionando de uma maneira diferente do que ela fez durante sua diatribe de “pensamentos sujos”. Desta vez, ela parecia mais como se estivesse em pânico. Eu instantaneamente me inclinei um pouco para trás em resposta, mas já que ela perguntou, decidi contar tudo a ela.
Como ela colocou a ideia em sua cabeça de que eu estava olhando maliciosamente para ela de forma engraçada. Como fui forçado a prometer que nunca faria isso de novo. E, finalmente, como ela saiu da sala com um humor totalmente sereno.
Comecei a sentir que estava fazendo algo ruim, porque o rosto dela ficava cada vez mais vermelho à medida que eu contava a história. Quando terminei, ela se levantou sem dizer um palavra e se dirigiu para a porta. Eu assumi que ela tinha outra pessoa que ela queria ver naquele momento, mas eu tinha mais um pedido para ela.
— Hum, não fique muito brava com ela, tudo bem?
— Se eu puder me segurar. — Ela respondeu suavemente enquanto saía. Eu ainda não consegui superar o quanto foi uma surpresa.
Então a coisa “meio estranha” sobre a qual ela estava falando era uma irmã gêmea, hum? Bem, isso esclareceu a confusão, pelo menos. Afinal, Ayano era uma boa garota.
...Agora, então.
Eu me acomodei na frente da minha tigela de arroz agora frio.
— Aqui vamos nós!
Assim que eu estava prestes a cavar o arroz, ouvi um grito no andar de baixo. Acho que a Ayano não conseguiu se segurar.
Enquanto eu apreciava o arroz nem muito macio, nem muito duro, eu me perguntava por que o grito tinha vindo de um menino invés de uma menina.
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mayura-chanz · 2 years
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Oi, tudo bem? As traduções da novel de Kagerou Daze ainda estão sendo feitas? Enquanto lia descobri que a 1° parte de Reminiscence Forest do 2° volume está indisponível no blog da Yuka. Haveria a possibilidade de traduzir essa parte indisponível?
Oi! Sim, as traduções ainda estão sendo feitas sim! Eu tento publicar ao menos 1 capítulo por mês, então sinto muito que demore tanto haha. Quanto a este capítulo, Reminiscence Forest, posso traduzir essa parte sim. Eu não sabia que estava indisponível, muito obrigada por me avisar ^^
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mayura-chanz · 2 years
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days II
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
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Fazia cerca de dez minutos desde que comecei a andar pela calçada, a qual estava carregada com uma variedade colorida de folhas vermelhas e amarelas. A sensação delas esmagadas sob cada passo era bem refrescante.
Levei uma mala de viagem bem pesada, mas entre as folhas e o clima agradável, não poderia ter me sentido melhor, tanto de mente quanto de corpo.
Era um dia de folga agradável, mas eu não estava indo para nenhum tipo de spa ou resort idílico. Eu mal estava passando por alguém, de fato. Em um bairro tão tranquilo como este, a maioria das pessoas que vi estavam em seus anos dourados. Dando a cada um deles um aceno amigável, eu me esquivei de um carrinho de bebê que avançava enquanto seguia em direção à casa do Sr. Tateyama.
Nós tínhamos apenas seis dias até o festival da escola e eu concordei em ficar na casa do Sr. Tateyama como uma espécie de sessão improvisada de “hora da verdade”.
O raciocínio era simples. Meu professor tinha o computador e os acessórios necessários para digitalizar, colorir e editar os gráficos do jogo.
O Sr. Tateyama mencionou que costumava fazer jogos “indie” durante algum momento esquecido no passado e, de qualquer forma, eu nunca poderia pagar todo o equipamento para trabalhar nisso. Então eu estava pegando emprestado — eu não podia exatamente carregar aquela coisa para casa comigo e seria rude de qualquer maneira.
Quando começamos a falar sobre a foto da Takane, acabamos nos desviando para todos os tipos de outros tópicos. Eventualmente, nossos planos aumentaram o suficiente para garantir uma festa do pijama do trabalho.
— Humm, vire à direita nos correios...
Dobrando a esquina de uma pequena agência dos correios, como meu professor instruiu, fui recebido pela força total do sol de outono, anteriormente bloqueado pelas árvores que ladeavam a calçada. Era outono, mas se eu continuasse andando sob essa luz direta do sol, poderia ser o suficiente para me bronzear. Não que eu me importasse. Eu sempre quis um pouco mais de cor na minha pele, mas nunca tive muita oportunidade para trabalhar nisso.
As rodas da minha mala chacoalharam enquanto eu seguia em frente, chegando finalmente ao parque que o Sr. Tateyama me disse para ficar de olho. Espiando por cima da cerca baixa que a cercava — entre a caixa de areia, o escorregador, os balanços e o resto dos equipamentos do playground — encontrei um conjunto de barras com suportes em forma de gorilas.
O fofinho e adorável Bear-Rilla que criei ontem à noite passou pela minha mente. Assim que o festival acabasse, o que eu ia fazer com todos esses personagens? Eu teria que pensar sobre isso. Depois de todo o amor que despejei neles, parecia um pouco triste para eles serem esquecidos sem ver a luz do dia novamente. Talvez eu pudesse fazer alguns botões de personagens com sua aparência e passá-los pela escola. Isso poderia dar certo.
Dizendo adeus as barras de gorilas, voltei para a calçada. De acordo com as instruções que eu tinha, a casa do Sr. Tateyama dava para este parque. Eu teria parado para me orientar, mas havia tão poucas pessoas ao redor que continuei enquanto avaliava as casas ao meu redor.
Ele descreveu sua casa apenas em palavras, mas quando a encontrei, não havia dúvidas. Tinha que ser o lugar.
— ...É, esta é a única casa de tijolos vermelhos aqui, afinal.
Verificando a placa de identificação no portão, vi que estava escrito TATEYAMA.
Sem perder o ritmo, apertei a campainha ao lado da porta da frente. Um ding-dong eletrônico tocou. Eu sempre tive problemas com momentos como esses. Era tão raro eu ir para as casas de outras pessoas que eu não podia deixar de me mexer, meu corpo procurando algum tipo de alívio da tensão no ar.
Mas enquanto eu esperava dez segundos... vinte... trinta, não tive a impressão de que alguém viria abrir a porta.
Que estranho. Tenho certeza de que ele me disse noite passada que se atrasaria com algumas reuniões, mas que sua filha viria me recepcionar.
Parecia rude da minha parte, mas arrisquei dar uma espiada por uma das janelas da frente. Uma coisa seria se as cortinas estivessem fechadas, mas se não fosse o caso, talvez eu pudesse ver o que estava acontecendo lá dentro. Claro, por mais ensolarado que estivesse lá fora, eu duvidava que veria muita coisa através do brilho.
Do meu ponto de vista, pude ver três janelas no andar de cima e no primeiro andar...
Alguém está lá.
Na janela da extrema direita do primeiro andar, havia uma figura, que parecia uma jovem de cabelos compridos. Ela estava olhando diretamente para mim.
Há quanto tempo ela estava olhando para mim? Ela tinha que estar ciente de que eu estava vindo para cá, mas ela não estava se movendo um centímetro.
— Ah...Ahhhhhh!
Quando percebi isso, gritei como se estivesse em uma cena de filme de terror e me vi caindo de bunda no chão. À medida que a dor dos meus quadris se registrava na minha cabeça, meu cérebro em pânico começou a evocar todos os tipos de cenários horríveis. Quem era aquela garota? A filha do Sr. Tateyama? Por que ela não atendeu a porta, então? O que há com ela?! Ah, mas ela é a filha dele. Eu tenho que pelo menos dizer olá para ela. Não posso simplesmente sentar aqui na frente da casa dele para sempre. Provavelmente eu deveria me levantar, pelo menos...
— ...Nossa! Ela se foi!
Só tirei os olhos da janela por um momento, bem quando perdi o equilíbrio. Não poderia ter sido nem um segundo. Isso foi o suficiente para que a silhueta congelada da garota perto da janela desaparecesse sem deixar vestígios. Eu podia sentir algo estremecendo no meu peito, uma sensação de medo, diferente do susto anterior.
Então senti algo vibrando no meu bolso.
— Aaahhhhh!!
Meus sentidos já estavam no limite, então esse pequeno zumbido em volta da minha cintura foi o suficiente para eu gritar mais uma vez. Em termos de volume, pode ter sido ainda mais alto do que antes. A percepção subsequente de que era meu celular me deixou insuportavelmente envergonhado. Eu preciso mesmo me desculpar com os vizinhos por agir como uma aberração.
Verificando o celular, encontrei uma mensagem do Sr. Tateyama. Ele estava preocupado que eu não conseguisse entrar? Bem, perfeito. Agora eu poderia perguntar a ele por que ninguém estava atendendo a porta.
Abri a mensagem, esperando ansiosamente alguma orientação sobre tudo isso, mas o conteúdo me fez congelar em choque.
“Acabei de receber uma mensagem da minha filha. Estou lá em cima. A porta está aberta, então pode entrar.”
....Havia muita coisa de que eu poderia reclamar aqui, mas uma pergunta arrogante ocupava minha mente. Se a filha dele percebeu eu aqui, por que ela não abriu a porta?
— ...Ela me odeia ou algo assim?
Ah qual é. Nós nem nos conhecemos. Isso é bobo. Enquanto eu silenciosamente me repreendia, puxei minha mala junto.
Voltando-me para a janela, não vi ninguém do outro lado. A conclusão natural foi que eu acabara de me encontrar com a filha do Sr. Tateyama. Eu não era fã de entrar em uma casa sem alguém me mostrando o caminho, mas se era isso que ele queria de mim, era isso que ele conseguiria.
Chacoalhando meu caminho até a porta da frente, respirei fundo e a abri.
— Hum, com licença. — Chamei para ninguém em particular. — Meu nome é Kokonose e sou um dos alunos do Sr. Tateyama. Uhh... eu estou entrando, tá?
O interior da casa parecia muito mais escuro do que o exterior banhado pelo sol. Encontrei um corredor limpo e bem mobiliado que se estendia diante de mim. A palavra TOILET marcava uma porta ao lado e uma escada levava para cima. Do outro lado da escada havia uma porta com uma placa, levando ao que imaginei ser um quarto de criança. A porta do outro lado tinha um mosaico de vidro, que revelava a entrada de uma sala de estar brilhantemente decorada.
Esperei um pouco no saguão, mas parecia que ninguém vinha. Na mensagem, o Sr. Tateyama disse que estava no andar de cima.
Podia muito bem ver o que está acontecendo lá em cima.
Tirei meus sapatos, peguei minha mala e segui em frente.
Ao fazê-lo, comecei a perceber o quão atraente esse lugar realmente era. Se você passasse tanto tempo no depósito da sala de ciências da escola tanto quanto eu, saberia que “limpeza” e “organização” não eram os pontos fortes do Sr. Tateyama. Sua esposa e filha devem ter feito um esforço dedicado para manter as coisas limpas. Se não, se isso fosse tudo feito por ele, faria eu realmente desejar que ele se importasse um pouco mais com a nossa sala de aula.
Caminhei até a porta da escada e parei. Tinha uma placa de QUARTO DAS CRIANÇAS, exatamente como imaginei. Fiquei um pouco surpreso por acertar de primeira. A julgar pelo layout da casa, a janela que me chamou a atenção antes tinha que ser deste quarto. O que significava que ela também estava.
Pensei por um momento em dizer alguma coisa, mas optei por não, achando que não deveria me intrometer. Então subi as escadas para o segundo andar. O corredor apresentava uma janela grande e elegantemente decorada e uma planta muito mais aberta do que o andar de baixo.
Olhando em volta um pouco, percebi que das muitas portas ao meu redor, a do outro lado estava aberta. Meus dedos estavam começando a ficar um pouco dormentes de segurar minha mala, então fui direto. Ao obter minha primeira visão da sala, fiquei congelado de fascínio.
— U-uau...
Era uma sala cheia de livros.
Do lado de fora da porta, vi que a sala, que devia ter uns bons 23 metros quadrados, estava forrada de parede a parede com estantes, todas cheias a ponto de explodir. De uma variedade de dicionários de idiomas normalmente encontrados em livrarias a grossos volumes encadernados em couro que pareciam que um demônio poderia sair se aberto, todo o caminho para folhas soltas de papel amarradas com barbante, tinha quase tudo o que uma pessoa poderia imaginar. A visão desses livros coloridos correndo do chão ao teto como papel de parede era nada menos que inspiradora.
Coloquei minha mala de lado para que as rodinhas não marcassem o chão e entrei na sala de livros. Depois de um passo, o cheiro de tinta atingiu minhas narinas. Meu coração pulou com a sensação. Era como entrar em algum reino mágico. Foi a primeira vez que vi tantos livros, tão densamente embalados juntos.
Mas a atmosfera desta sala não gritava exatamente “Sr. Tateyama”. Meu professor preferiria um espaço de trabalho que fosse um pouco mais... descuidado. Desordenado. Este era o escritório da esposa dele? Com todos esses livros em mãos, ela trabalhava como pesquisadora científica ou algo assim? O Sr. Tateyama nunca falava muito sobre sua família, então eu não conseguia lembrar qual era a carreira dela.
...Hum. A esposa do Sr. Tateyama. Como ela era, eu me perguntei.
Fiquei ali, ponderando sobre isso, quando de repente a escuridão envolveu a sala.
Assim que exclamei um “Hã?” surpreso, um ka-chin de som sólido ecoou pela sala. Por um momento não consegui compreender o que aconteceu, mas não demorou muito para se resolver. A porta tinha acabado de ser fechada e trancada.
— Eu... estou preso aqui?!
Em uma sala sem janelas como esta, simplesmente fechar a porta era o suficiente para me mergulhar em um mundo de escuridão. Procurando uma saída, tateei com as mãos, rastejando pelo chão. Sem janelas, não parecia provável que uma rajada de vento tivesse fechado a porta. E também estava trancado. Eu não tinha visto ninguém ainda, mas alguém deve ter feito isso deliberadamente.
Olhei para os meus arredores, ainda de quatro. Eu tinha que pelo menos descobrir onde estava a porta se eu fosse chegar a algum lugar.
Girando minha cabeça ao redor, eu finalmente percebi uma tênue lasca de luz entrando por uma fenda na porta. A fonte de luz era tão fraca, entretanto, que não consegui descobrir a que distância estava. Eu não queria bater minha cabeça contra a porta, então, muito cautelosamente, fiz meu caminho em direção à luz.
— A-alguém...!
Tentei pedir ajuda, mas não consegui falar com uma voz muito alta. Eu sempre fui assim, mas sempre que eu precisava gritar ou me fazer ouvir, eu simplesmente nunca estava à altura da tarefa.
Finalmente chegando à porta, bati várias vezes. Não houve resposta.
Suspirei, a porta atrás das minhas costas, e caí no chão.
Quem fez isto? E por quê? Eu tentei pelo menos fingir pensar nisso, mas agora, apenas um suspeito em potencial veio à mente.
Aquela garota. A filha do Sr. Tateyama.
Eu ainda não tinha ideia do porquê, mas devo ter feito algo para irritá-la até os ossos. Eu não me importei de que ela me esnobasse tanto quando cheguei, mas me trancar em um quarto como este? Isso foi meio malvado.
Além disso, eu nem sabia o que tinha feito de errado. Odiar alguém que você nunca conheceu me parece meio injusto. Qual foi a motivação dela?
Fiquei sentado ali por um tempo, angustiado com a pergunta, quando ouvi passos.
Meu corpo saltou para a vinda repentina. Quem é? Espero que seja a esposa dele, pelo menos. Eu tenho que sair daqui!
— Humm, com licença! — Tentei gritar. — Você poderia abrir esta porta?! Não sou um intruso nem nada assim. Por favor!
Os passos pararam imediatamente. Então, como se estivessem no lugar, eles se aproximaram da sala de livros em que eu estava. Parecia que eu ia conseguir sair.
Mas e se fosse a filha dele? Se ela me trancou aqui, seria estranho ela me deixar sair novamente. Então era a esposa dele? Eu acho que ela não estava em casa ainda...
De repente, ouvi o ka-chin de antes novamente. Saltei para longe da porta bem na hora em que ela se abriu para dentro, apenas para me encontrar cara a cara com uma garota de pijama. Ela esfregou os olhos, como se tivesse acabado de acordar, seu longo cabelo preto indo em direções estranhas por todo o lado. Ela não parecia muito mais nova do que eu. Afinal, essa era a filha dele?
— Céus, você não vai calar a boca?! Do que você está falando?! Além disso, papai disse que você não deveria entrar no...
A garota aparentemente tinha toda a intenção de me xingar no começo, mas quando ela olhou para mim, ela parou, me dando um olhar incrédulo.
— Ahn, Shuu... ya...?
— Sh-Shuuya...? O que você quer dizer?
Eu quase me encolhi sob seu olhar ameaçador.
— Uh... — Ela respondeu, congelando no lugar.
Então esta é a filha dele, ou o quê...? Tinha que ser, falando da situação, mas ela não parecia combinar com a garota na janela de antes. Aquela garota tinha uma silhueta parcial, mas entre o comprimento do cabelo e a estrutura facial, ela parecia... diferente disso.
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Além disso, essa garota...
— Hum... eu acordei você? — Perguntei.
— Eu... — a garota começou, seu rosto ficando vermelho. — Eu... ha-ha-ha... — Então, sem aviso, ela correu a toda velocidade.
— Hã?! Ei, espera... O que você está fazendo?!
Recusando-se a ouvir, a garota desceu as escadas com uma força surpreendente.
Pulei para fora da sala, na esperança de persegui-la, mas me vi parado pelo grito de um menino do andar de baixo.
Um grito de menino? O Sr. Tateyama tem um filho? Eu estava rapidamente cada vez mais incapaz de compreender tudo isso. Essa garota, aquela na janela e um garoto gritando... O que tinha essa casa?
Quando eu gradualmente entrei em pânico, a garota de antes subiu de volta, ofegante. Combinado com o grito do menino, eu estava começando a ficar seriamente preocupado com minha segurança. Apesar disso, ela ainda estava com um sorriso no rosto, sua respiração ofegante.
— Desculpe-me te deixar esperando. Você é Kokonese, certo? Papai me contou sobre você. Eu sinto muito; acho que alguém mexeu no meu despertador... Meus irmãos estavam pregando uma peça em você, mas vou brigar com eles sobre isso mais tarde, então...
Mexeram com o despertador dela? Seus irmãos? ...Isso estava fazendo ainda menos sentido do que imaginei antes. Eu tinha uma montanha de perguntas para fazer a ela, mas imaginei que esperar até que nos acalmássemos um pouco seria aconselhável. Por enquanto, era melhor deixar isso para uma questão só. Manter as coisas em ordem é primordial em momentos como esses.
Tossi levemente, sinalizando a próxima mudança de assunto.
— Hum, meu nome é Haruka Kokonose. Você é...?
A garota me deu um olhar vazio no início, então me deu um sorriso, um autêntico desta vez.
— Eu sou Ayano... Ayano Tateyama.
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mayura-chanz · 2 years
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days I
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
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Verão indiano.
Eu balancei uma caneta em torno de meus dedos preguiçosamente enquanto olhava indiferentemente para o pátio da escola do meu assento ao lado da janela. As cores fracas do outono começavam a se aprofundar, suas sombras se aproximando, transformando as folhas das árvores de efêmera no gramado da frente em um deslumbrante tom de vermelho.
O outono é sempre a estação mais colorida do ano e por isso eu gosto mais dela.
O céu azul claro estava marcado de lá para cá com nuvens brancas fofas como algodão doce, enquanto os raios suaves do sol que espreitavam, não ostentavam mais sua força do verão...
Para onde foi o verão deste ano, afinal? É como se tivesse sumido em um piscar de olhos.
Todos os anos, a questão de quando exatamente o verão termina me cativa.
Algumas pessoas consideram isso em meados de agosto, no final do feriado de Obon. Outros aguentam até o fim do mês para oficialmente declará-lo uma coisa do passado. Outros ainda, especialmente os da minha idade, atribuem isso sempre que as férias de verão terminam, enquanto outros simplesmente têm uma visão vaga de “sempre que fica mais frio” das coisas. Tem gente que até fala que é quando as cigarras param de guinchar de seus postos de sentinela nas árvores.
Considerando todos esses pontos que as pessoas usam para marcar o fim do verão, parece sensato que cada um tenha sua própria definição do que realmente é o verão.
Pensei nisso: mesmo que algum político subisse ao pódio e dissesse: “O verão termina a esta hora deste dia deste mês”, ainda dependeria do clima, dos costumes locais. Nunca iria a lugar algum. Ninguém daria ouvidos a esse fanfarrão. Eu tenho certeza disso.
Então, o que o verão realmente significa para mim? Eu também não tive muita chance de sair durante este que passou. Algo sobre a estação nunca parece clicar comigo.
Seria bom se eu pudesse sair e me divertir um pouco mais no próximo verão, no entanto. Talvez ir para a praia ou algo assim. Com os amigos.
Ou ir acampar também seria bom. Não gosto da sensação de insetos zumbindo ao meu redor, mas se todos prepararmos um pouco de curry e arroz ao redor do fogo, aposto que teria um sabor muito especial.
Se eu pudesse realmente me soltar e aproveitar tudo o que o verão tem a oferecer... talvez isso me ajudasse a encontra-lo. O meu próprio “verão”.
Ano que vem, né...? Meio longe.
...Ah bem. Não vamos só pensar nisso.
Quero dizer, vamos. Eu tenho outras coisas que eu tenho que pensar de qualquer maneira.
Além disso, já são três da tarde...
Espera. Três?
...Huhhh?! Três da tarde já?! Ah merda, o que eu vou fazer?
A sexta aula está prestes a terminar! Ugh. Não cheguei a lugar nenhum com isso...! Tudo bem. Tudo bem. Só se acalme e…
— Então você já desenhou alguns inimigos para nós? Algo que vai se sentir muito bem de matar?!
— Uh...
A silenciosa sala de depósito da sala de ciências foi subitamente sacudida por uma voz rouca. Agitada era o termo certo para ela — era bem alta. Qual era o problema com isso? Devíamos estar no meio da aula também.
Enquanto ponderava sobre isso, me virei para a mesa do professor e encontrei meu professor de sala de aula, Sr. Tateyama, caído sobre ela, roncando com toda força. Foi o que eu imaginei, de verdade.
Mas considerando que nossa classe consistia em exatamente dois alunos, isso significava apenas uma coisa: havia apenas uma única saída para ela continuar a choramingar.
Resignando-me ao meu destino, me virei para a voz. A garota sentada ao meu lado, com seu cabelo preto preso em maria-chiquinha, retornou meu olhar com um sorriso malicioso.
Seus olhos um tanto amendoados eram acompanhados por algumas olheiras bastante escuras na parte inferior. Eu podia ouvir fracamente uma música de rock saindo dos fones de ouvido em seu pescoço.
Takane Enomoto. Minha única colega de classe.
Eu a chamava de “colega de classe”, mas o âmago da questão por trás disso era na verdade um pouco mais complexo. Tecnicamente, eu deveria estar na classe E e a Takane na classe B. Não deveríamos estar frequentando nenhuma das mesmas aulas. Mas aqui estávamos nós, nossas mesas juntas — tudo porque nós dois tínhamos uma certa “doença” e porque isso era “educação especial”.
Takane tinha uma doença rara que aparentemente a faz cair no sono instantaneamente, sem aviso prévio. Fosse o que fosse, era sério o suficiente para que ela fosse transferida para esta classe. Não que ela realmente tenha mencionado isso, e não que eu tenha me incomodado em perguntar a ela sobre isso diretamente, então isso era praticamente tudo o que eu sabia.
Mas com um rosto tão travesso quanto o da Takane, eu sabia o que viria a seguir. Aquele rosto emergia apenas quando ela encontrava um ponto fraco — algum pedaço macio de carne exposta que ela poderia esfaquear.
Eu sabia porque tinha uma ideia bem decente de qual era o meu ponto fraco. Takane, talvez sentindo o pânico se desenrolando dentro da minha cabeça, me cutucou por uma resposta.
— Ei, sabe, eu tenho certeza que você disse que desenharia os gráficos do inimigo hoje, né? Como vai indo? Não me diga que você não desenhou nada agora.
Desviei meus olhos de seu olhar travesso e encarei o papel em minhas mãos. Não continha nenhum dos “inimigos” que ela pediu, nem qualquer outra evidência de que eu já tinha tocado com um lápis nele ainda.
E por que seria? Eu não tinha memória de desenhar nada em primeiro lugar. Se houvesse alguma obra de arte ali, eu teria sido o mais surpreso de todos.
— Ummmm... Bem, não muito ainda, eu acho. Ha-ha…
Tentei virar o papel enquanto dava aquela resposta sem graça. Eu estava atrasado por uma milha do país. Takane esticou o pescoço, deu uma boa olhada no papel, depois bufou para mim.
— Pft. Então, “não muito” significa absolutamente nada em seu vocabulário, né? Vou manter isso em mente para o futuro.
Havia algo teatral no ato, quase. Ela se sentou de volta em seu assento e bocejou como um urso pardo sonolento, a palavra “restrição” totalmente ausente dela.
— Isso é tão ridículo. — Ela murmurou.
Seu ato de dominação foi tão praticado quanto devastador para minha psique. Eu não tinha confiança em mim mesmo para começar, mas mesmo se tivesse, acho que teria sido explodido em pedacinhos.
Nem mesmo isso foi o peso total de seu abuso, no entanto. Eu só poderia desejar que ela deixasse por isso mesmo, mas é claro, eu percebi que essa garota não faria nada disso. Ela provavelmente diria algo para mim novamente em breve. Nah, não “provavelmente”. Ela totalmente faria. Takane já terminaria com apenas uma observação fulminante como essa? Não. Nunca.
Fiquei tenso, esperando o inevitável. Sem surpresa alguma, ela logo fez outra pergunta:
— Ei, você poderia me lembrar quem era que estava “Aaah, eu meio que gostaria de fazer uma barraca de tiro” há pouco?
— Esse foi... hã, eu, certo?
— Claro que foi! E agora falta apenas uma semana para o festival escolar. Ainda estamos em sintonia aqui?
— S-sim... mas…
— Ok, então por que você está apenas olhando pela janela em vez de trabalhar? O que você é, idiota?
A chicotada de duas pontas ainda não era tão afiada quanto da que ela era realmente capaz. Eu realmente queria que ela parasse de usar palavras como “idiota” e “estúpido” o tempo todo. Não era legal usá-las nas pessoas. Você pensaria que ela estaria mais ciente disso, sendo uma garota e tal. Quero dizer, se isso se tornar um hábito dela, o que vai acontecer quando for a hora dela de se casar?
...É uma pena eu ser incapaz de dizer isso na cara dela. Em vez disso, apenas gemi um pouco em resposta. Não era nada que a Takane estivesse disposta a perdoar.
— Então, Haruka, você tem algo a dizer em sua defesa?
— ...Eu estava apenas distraído. Desculpe.
Falta uma semana para o nosso primeiro festival escolar. Isso estava começando a parecer sombrio.
O festival da nossa escola tem uma boa quantidade de história. Ao redor da região, aparentemente, era um evento bem conhecido. Ou assim me disseram. A escola também investia muito esforço nisso a cada ano. Fiquei um pouco surpreso quando eles realizaram algum tipo de assembleia de “Levante-se E Ajude Sua Escola” no dia em que a preparação do festival começou.
Tudo isso foi em parte porque no ano passado a escola conseguiu sediar um show de rock de alguma banda que você ou eu realmente tinha uma boa chance de conhecer. Foi um tumulto pelo que ouvi. Takane era fã deles e ela até pagou o seu próprio ingresso para o show como não estudante no momento. Se isso a motivou a ingressar em nossa escola ou não, eu não saberia dizer.
E agora estávamos na metade do período de prepara��ão do festival. Cada turma teve sua quarta, quinta e sexta aula livres para usar o que quisessem durante essas duas semanas, então, assim que o almoço terminava, os corredores ganhavam vida com os alunos preparando barracas de comida ou outras estruturas. Na última semana antes do festival, muitos cursos cessaram completamente ou fizeram apenas um esforço simbólico, liberando a maioria das turmas para dedicar todo o dia escolar ao trabalho do festival.
A maioria das aulas normais, de qualquer maneira.
Como a nossa era colocada em circunstâncias um pouco diferente, dependia de nós, como indivíduos, participar de coisas como o festival ou o encontro de trilhas da escola. Isso foi em consideração aos nossos problemas de saúde, é claro, mas, como estudantes, não éramos exatamente os participantes mais ansiosos dos eventos escolares. Também não havia como tentarmos participar proativamente neste evento. Isso mal foi registrado na mente da Takane no começo e quando ela disse “Eu não quero uma barraca de tiro”, imaginei que era o fim de tudo ali.
A minha expectativa, pelo menos, era que fosse normal em nossa classe — que não precisássemos nos preocupar em nos preparar para qualquer tipo de festival. Esse era o plano inicial, pelo menos. Achei que nossas principais preocupações seriam em que ordem iríamos ver todas as barracas ou quantas porções eu me permitiria pegar de cada um dos vendedores de comida.
Até ontem de manhã, de qualquer forma, eu não tinha planos de ser subitamente forçado a construir uma barraca de madeira compensada e encontrar algum tipo de prato barato que eu pudesse vender por um preço enorme.
— Bem, acho que não posso culpar apenas você por isso. — Takane ofereceu relutantemente. — É na verdade culpa do nosso professor, sabe? Surgindo com tudo isso do nada.
Ela apontou o dedo para o Sr. Tateyama, ainda esparramado sobre sua mesa.
Algo em mim queria dizer: “eu sei que isso se chama dedo indicador, você não precisa apontar com tanta força para ele”, mas me impedi com um sorriso irônico.
Isso porque, em geral, eu concordo com a Takane. A razão pela qual tivemos que inventar algo em tão pouco tempo tinha a ver principalmente com um pouco de sucção que o Sr. Tateyama fez no outro dia.
— Ugh! Por que temos que aturar o Sr. Tateyama tentando ganhar um monte de pontinhos para si mesmo? Só porque ele quer impressionar o diretor não significa que ele tinha que dizer: “Aah, vamos acabar com você!” Fale sobre aumentar o nível sem uma boa razão. Tipo, se não fizemos nada para nos preparar, não saia por aí agindo como se fôssemos os deuses supremos do universo!!
Takane sacudiu sua mesa para enfatizar seu discurso de alto decibéis. Senti a necessidade de acalmá-la.
— Bem, eu não sei, estou meio que ansioso por isso. Além disso, é meio divertido trabalhar nisso assim.
A expressão de beicinho no rosto de Takane suavizou um pouco. — Bem... tanto faz — ela disse, caindo sobre sua própria mesa. — Vocês que são os que estão fazendo todo o trabalho duro.
Todas as outras classes estavam chegando ao clímax de seus esforços para a exibição do festival. Para ser franco, começar o jogo tão tarde era insano. Estávamos muito além de pouco tempo. Pensando nisso racionalmente, não tinha como tirar leite de pedra. Eu não tinha certeza se poderíamos até mesmo remendar o mínimo para uma exibição.
Mas, assim como Takane colocou, se fôssemos fazer algo, não queríamos fazer meia-boca. Tinha que ser a coisa mais animadora no terreno da escola. Não pude deixar de concordar com ela. Eu até me peguei dizendo “Claro”.
Em meio a toda a competição que teríamos em termos de exibição, eu não queria algo que parecesse ter sido montado com tachinhas e fita adesiva. Se estamos nisso, vamos até o fim.
Mesmo assim, porém...
— Mesmo assim , porém... Takane...
— O quê?
— Bem, digo... criar um jogo de tiro inteiro no intervalo de uma semana? Isso parece meio impossível.
Takane tinha acabado de passar meio minuto reclamando dos obstáculos que o Sr. Tateyama colocou para nós. Mas o que ela colocou — a “coisa mais animadora” — era mais alta do que qualquer coisa que nosso professor tinha.
Ele provavelmente estava dormindo a noite toda que não pode dormir, se eu pudesse adivinhar. O que parecia lógico o suficiente. Não tinha como conseguir cumprir o prazo de outra forma. Afinal, o Sr. Tateyama tinha que programar um jogo completo de tiro, do começo ao fim, no decorrer de uma única semana.
Mesmo da minha perspectiva intencionalmente ignorante de “quão difícil poderia ser”, não parecia ser uma tarefa fácil. Era culpa dele por puxar o saco de seu chefe, basicamente, mas eu ainda me sentia meio mal por ele.
Takane, enquanto isso, não poderia se importar menos.
— Do que você está falando? Foi o Sr. Tateyama que nos colocou nessa confusão, lembra? E você queria fazer a barraca de tiro, certo? Não é como se nenhum de vocês fosse do tipo faça-você-mesmo, então fazer um videogame é tudo o que temos.
Depois ela olhou para mim, como um cachorro tentando descobrir por que seu dono estava balançando um molho de chaves na frente dele.
Eu tive que admitir: ela estava certa. Eu disse isso. Mas não tínhamos experiência em criar o tipo de adereços que uma barraca de tiro exigia e, em termos de pessoal e orçamento, estávamos trabalhando com quase nada.
Um videogame, por outro lado, parecia ao nosso alcance. Se tivéssemos alguns gráficos e um programador, parecia possível, pelo menos. Supondo que pudéssemos parar o tempo por alguns meses.
— Mas... veja, se você tiver tempo para reclamar dessa porcaria, comece a desenhar! O relógio está correndo!
Takane bateu as mãos algumas vezes para me apressar. Eu rapidamente recalibrei o cabo da minha caneta. Certo. Nós realmente não temos tempo. Afinal, eu tinha uma cota de vinte personagens de inimigos que apareceriam no jogo, e até agora eu tinha desenhado exatamente zero deles.
Duas horas desde uma da tarde e eu ainda não tinha feito nada além de olhar para o meu papel. Se eu não conseguia nem desenhar um personagem, vinte antes do final do dia não passava de apenas um sonho.
Mas... eu simplesmente não conseguia.
Eu não conseguia desenhar.
Não que eu fosse ruim em desenho. Acho que faço um bom trabalho, na verdade, quando se trata de paisagens e coisas assim. Mas tentar criar personagens — ou qualquer coisa, na verdade, que combinasse com a palavra-chave “inimigo” com a qual eu estava trabalhando — parecia criar um bloqueio mental.
Todos esses gemido e queixas auto direcionados levaram a uma Takane irritada a me cutucar novamente.
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— O quê, você não consegue nem desenhar um cara mau?
— Acho que não consigo, na verdade. Eu não jogo muito esses jogos, então é meio difícil imaginar como esses inimigos deveriam ser.
Tentei ser honesto com ela, mas Takane respondeu com um leve suspiro e um dedo apontando diretamente para mim.
— Olha, não importa como eles se parecem. Contanto que pareça divertido destruí-los, está tudo bem. Os jogos são de qualquer maneira para aliviar o estresse, então a ideia aqui é criar personagens para ajudar com isso. Sacou?
Eu não entendi o que era divertido em surpreender alguém, mas mesmo um não-jogador como eu podia ver a lógica na explicação de Takane. O Sr. Tateyama disse que ela era uma espécie de gênia atiradora 3D e agora eu podia acreditar.
Mas eu não tinha experiência com jogos de tiro, muito menos com explodir coisas. Eu não tinha como descobrir que tipo de inimigos estariam prontos para serem preenchidos com balas.
— Hmm... Então, tipo, que tipo de inimigos geralmente aparecem nesses tipos de jogos?
— Bem, por exemplo... em termos de alguns mais populares, não sei... tipo, zumbis?
Zumbis.
A mera palavra foi o suficiente para me fazer estremecer. Porque isso me fez lembrar de um filme de terror e pânico repleto de zumbis que vi na TV há um tempo atrás.
Cara, aquilo foi assustador. Todos aqueles aldeões, indefesos contra a multidão de mortos-vivos que rastejavam para fora de seus túmulos e formavam hordas gigantes...
E então...
— Uh, me desculpe, Takane, mas... algo fora isso seria melhor…
— Hã? Qual é o problema com zumbis? Você tem algum problema com eles?
— Não é bem um problema, mas... quero dizer, z-zumbis não existem na vida real, então é meio difícil imaginar como eles se parecem e... outras coisas também.
Takane ergueu uma sobrancelha para minha dolorosa tentativa de autodefesa, mas não por muito tempo. Logo ela olhou para cima, de repente percebendo algo, e apontou um dedo para mim novamente.
— Bem, por que você não os baseia em animais e coisas? Quero dizer, os monstros nos videogames geralmente são inspirados em partes de animais e outras coisas.
— Monstros animais...? Hmm. Talvez eu consiga fazer isso.
O conceito me lembrou de um anime na TV à tarde, aquele com um garoto e os monstros que voavam das cápsulas que ele jogava por aí. Eu gostava de como os menores se transformavam em maiores, ou às vezes eles se combinando para formar monstros mais complexos. Lembrei-me de ser apaixonado pelo anime quando era criança. Na verdade, eu não desenhava basicamente nada além das criaturas daquele anime naquela época? Sim. Eu criei alguns originais meus também.
...Isso pode funcionar. Se ela não se importar com criaturas assim sendo os inimigos neste jogo, eu poderia ter algumas ideias. De fato, talvez vinte em uma única tarde não fosse um sonho, afinal.
— Sim... Obrigado, Takane. Acho que posso fazer alguma coisa com isso!
Eu coloquei meu punho no ar. Takane bufou com aprovação em resposta.
— Bem, vamos lá! Não pode ter nenhum problema arruinando nosso festival, sabe.
Nosso plano para o festival escolar era criar uma espécie de jogo de tiro competitivo. Invés de tentar atingir um certo total de pontos, os desafiantes tentariam acumular uma pontuação maior do que a campeã da classe, ou seja, a Takane.
A razão pela qual optamos por essas regras foi porque tínhamos apenas um prêmio para dar — um único espécime de taxidermia de um peixe no qual o Sr. Tateyama gastou todo o orçamento do festival. Com isso em mente, se mesmo um único desafiante vencesse, seria o fim bem rápido do nosso evento escolar desajeitadamente sombrio se isso acontecesse.
Isso significava que não podíamos dar o nosso prêmio até o final do festival. Mas se definíssemos os requisitos muito altos, o potencial para reclamações dos clientes me deixaria nervoso.
Foi daí que surgiu a ideia “competição” da Takane. Como ela disse: “Se uma garota fofa como eu for sua oponente, ninguém vai reclamar se perderem muito”. Do ponto de vista social, ela tinha razão, acredito. Isso ainda significava que tudo estaria acabado se ela perdesse, mas a Takane estava tão confiante em suas habilidades que, contanto que ela não pegasse leve com ninguém, ela nunca perderia. Então foi o que ela alegou, no fim.
Então, na verdade, a atmosfera em torno da classe naquele momento era mais ou menos assim: “Poderíamos passar o dia todo contando as coisas que estamos pirando, mas isso não vai ajudar a fazê-las”.
Nós tínhamos que fazer um jogo de tiro em uma semana para o festival da escola. Não tínhamos tempo e nem muitas pessoas para trabalhar. Achei ridículo até mesmo tentar, mas era estranho como eu me sentia com tudo isso:
Eu estava totalmente entusiasmado.
— Sim... Vamos fazer deste o melhor festival que pudermos, Takane.
— Bem, dã. Essa é a única coisa que podemos fazer.
Takane sorriu para mim. Eu pude sentir meus próprios lábios fazendo o mesmo.
— ...Ah certo. — Ela continuou, batendo as palmas da mão de repente. Ela claramente se lembrava de alguma coisa enquanto olhava para mim.
— Como devemos chamar ele, afinal? Você disse que pensaria nisso ontem.
Ah. Sim eu pensei. Eu esqueci de contar para ela... Peguei uma pasta da minha bolsa e entreguei a Takane um único pedaço de papel.
— Hã? O que é isso-? Nossa! Você desenhou um logo? Nossa, você realmente pode fazer esse tipo de coisa! Hum, vamos ver...
Passei grande parte da noite anterior pensando em um título adequado, mas agora que penso sobre isso, Takane seria a primeira pessoa a realmente dizê-lo em voz alta.
Como soaria saindo da sua boca? Isso meio que me empolgou.
Segurando o papel para cima, a música de rock ainda vazava do pescoço dela, Takane falou:
— Headphone Actor.
*
De repente, notei o som do ponteiro dos segundos no relógio de parede do quarto forçando seu caminho para o silêncio.
Olhando para cima, vi que era uma da manhã.
Devo ter cochilado um pouco...
Eu me inclinei contra o encosto do meu assento e estiquei meus braços para cima. A cadeira, um novo presente para este ano letivo, rangeu em resposta. Pensando bem, eu tinha crescido um pouco na última vez que medi minha altura, não tinha? Não que eu precise de muito mais. Por que meu corpo continua fazendo isso, afinal? Isso me faz me destacar demais; eu continuo esbarrando nas coisas... Não tinha nada de bom nisso.
Mudando meu peso do encosto para o assento, eu grogue esfreguei meus olhos, minha visão embaçando enquanto fazia isso. Minha mesa, iluminada por uma pequena lâmpada, tinha uma enciclopédia de coisas da natureza tirada da prateleira e um pedaço de papel sobre ela, cheio de lascas de borracha. No centro estava o Meowtarus, o último inimigo que eu tinha acabado de desenhar. O número dezenove.
— ...Legal. Sim, isso funciona.
Eu realmente tinha que bater palmas para a Takane, eu creio.
Depois de todas aquelas horas gastas pensando no design dos personagens, a simples sugestão de baseá-los em animais foi como tocar na mina de ouro da minha imaginação. Achei que fiz um bom trabalho refletindo as características únicas de cada animal que escolhi para a galeria do meu ladino. Todos eles pareciam ganhar vida no meu papel, embora provavelmente fosse apenas o orgulho do seu criador vindo à tona.
À medida que eu trabalhava, todo o processo ficava cada vez mais divertido. Eu mal conseguia impedir que minha mão se movesse, tudo ocorrendo tão bem. Eu não conseguia nem imaginar quanto tempo fazia desde que eu me perdi desenhando. Foi ótimo.
— Bem, mais um e serão vinte. Cara, a Takane vai ficar louca quando ela ver o quão rápido estou indo...
Ela não parecia, mas você poderia realmente animá-la com bastante facilidade. Eu salivei com o pensamento de que tipo de reação ela teria. Só de imaginar o olhar de choque em seu rosto fez minhas bochechas esquentarem um pouco. Ela ainda não tinha me feito nenhum elogio, mas talvez esse portfólio a fizesse mudar um pouco de ideia.
Refletir sobre isso me encheu de sucos criativos, apesar da hora.
Certo. Hora de enfrentar o último cara. Minha respiração acelerou quando virei para a próxima página da enciclopédia.
— ...Hã. Que estranho.
A página tinha parado em uma vaca. Eu já cobri ela com “Heiferheave”, número onze, então não ia adiantar. Pulei uma página quando não estava prestando atenção? Virei a página novamente, mas já tinha usado o urso naquele para meu híbrido “Bear-Rilla” (número três), então também não ia rolar.
...Espera.
Atingido por um pressentimento sinistro, aproximei a enciclopédia e virei para o índice, examindo a lista de animais que percorria a página. Cachorro, falcão, porco, tartaruga... Dahh! Eu sabia!
—    Ah, cara, eu já usei de referência todos os animais daqui...
Bem, isso foi descuidado da minha parte. Eu ainda tinha um monstro para fazer, mas tinha usado todos os animais deste livro como referência. O que faço agora? Eu já tinha declarado para mim mesmo que iria desenhar vinte monstros antes de parar. Eu não poderia simplesmente dizer “Desculpe, não posso fazer isso” agora.
Além do mais, o monstro final deveria ser o último chefe, por assim dizer. Uma criatura mais forte do que qualquer um dos personagens que vieram antes dela. Eu não podia abordar ela da mesma maneira que as outras.
Ugh. Se eu soubesse que isso ia acontecer, não teria ficado tão animado em combinar características de diferentes animais em cada um. Quero dizer, qual é — Bear-Rilla? Por que não fiz um ou o outro?
Enquanto minha mente descia em espiral por esse poço sem sentido de insegurança, ouvi um toque de uma campainha do outro lado do quarto. Virando-me, vi meu celular piscando no meio da cama.
Levei o celular ao ouvido, sem me preocupar em verificar o número.
— Hum, alô?
— Ah, imaginei que você ainda estaria acordado. Desculpe por estar ligando tão tarde.
Era o Sr. Tateyama. Ele não parecia muito perturbado, mas ainda havia um pouco de constrangimento nisso. Sentei-me na cama e estiquei um pouco as pernas para ficar mais confortável.
— Ah, não, tudo bem... mas aconteceu algo?
— Mm? Bem, uh, é apenas algo sobre o festival da escola. — Ele soou evasivo. “Algo” sobre o festival? O quê? Antes que eu pudesse perguntar, ele mergulhou direto na sua história. — Ei, então eu ouvi da Takane que você estava trabalhando até tarde ontem à noite nisso também, né? Então... uh, eu só pensei que talvez você estivesse se esforçando de novo esta noite.
Ah. Esse tipo de coisa. Tentei soar o mais brilhante possível em resposta.
— Não, não, não tem nada difícil nisso. Na verdade, é muito divertido, parece que meu corpo está se movendo sozinho.
Também não era mentira. Era exatamente assim que eu queria descrever como as coisas estavam indo bem. Mas eu também sabia que esse não era o ponto principal da pergunta do meu professor.
Como esperado, o Sr. Tateyama continuou, claramente tendo dificuldade em encontrar as palavras certas para enquadrar o tópico.
— Bem, sim, mas não faz sentido destruir seu corpo por causa disso, sabe? Se você quer aproveitar o dia do festival, é importante que você descanse quando você—
— ...Você realmente não precisa se preocupar, Sr. Tateyama. — Interrompi antes que ele pudesse terminar. Em vez de responder, meu professor deu um pequeno suspiro.
O silêncio continuou por um momento, fazendo o ponteiro dos segundos do relógio parecer ainda mais alto do que o normal. O ritmo bem regulado de seu clic, clic, clic era um pouco assustador. Não sei como ou quando isso começou, mas foi o que aconteceu.
Falando em segundos, consegui calculá-lo no fundo da minha mente uma vez. Eu só tinha cerca de 30 milhões de segundos restantes. Isso fez parecer muito tempo, alguém poderia pensar, mas é estranho como era difícil estimar o comprimento do tempo, a menos que você realmente o experimentasse por si próprio.
Ugh. Está tarde. Eu não posso mantê-lo no telefone para sempre. Decidi apenas dizer à queima-roupa ao Sr. Tateyama o que queria dizer.
— Digo, quer eu descanse ou não, tenho um ano antes de morrer.
Minha doença certamente gostava de seguir um cronograma, pelo menos.
Quando ela matou minha mãe, aparentemente esperou até o momento exato em que os médicos disseram que aconteceria no diagnóstico. E eles disseram “um ano”, então pensei, ei, isso é o que tenho que esperar também. Por enquanto, pelo menos, nada sobre isso me fez lamentar ou chorar sobre meu destino. Eu provavelmente tinha que agradecer ao meu pai por isso.
Meu pai era um tipo de cara bastante excêntrico.
Ele trabalhava em algum tipo de laboratório de pesquisa e, até onde eu saiba, ele sempre tocava a vida no caminho certo — sem mentir, sem contar piadas, nada disso. Mas ainda foi um grande choque quando ele veio até mim, quando tinha dez anos, olhar para mim com uma cara séria e dizer: “você provavelmente vai morrer daqui a seis anos”.
Ainda morávamos juntos, nós dois, mas meu pai estava tão ocupado com o trabalho que raramente nos víamos muito. Então, um ajudante residente tratou de coisas como comida e idas ao hospital para mim.
Isso era tudo o que eu sabia sobre meu pai, de fato, mas pelo que eu tinha ouvido, meu pai tinha começado a ficar um pouco... “estranho”, como as pessoas diziam, na época em que minha mãe morreu.
Pensando em todas essas várias coisas — claro, admito que faz parecer que vivi uma vida bastante solitária. Passei muito tempo sozinho, e ainda há muita coisa de que sou totalmente incapaz.
Eu já tinha minha dose de mulheres de meia-idade que eu nunca tinha conhecido antes derramando lágrimas e dizendo coisas como “coitadinho, pobrezinho”, então imaginei que era o que a maioria das pessoas pensava de mim.
Mas, na verdade, eu não achava que minha vida fosse tão ruim assim.
Ultimamente, especialmente, havia muito mais coisas para aproveitar na escola.
Havia coisas que eu realmente queria fazer agora.
Falar sobre como eu tinha x meses de vida ou sei lá... Olha, você poderia morrer em um acidente de carro amanhã, pelo que todos sabem. Nunca houve uma garantia de que você viveria sua vida só naturalmente.
Era só isso... algo sobre o som do “um ano para ir” realmente me atingia. Isso significava que este próximo festival escolar também serviria como meu último festival estudantil.
Eu não achava que havia algum sentido em se voluntariar para dirigir essa coisa de jogo de tiro se houvesse uma chance de não termos de fazê-lo. Agora, porém, nós realmente temos a chance.
— Então, sabe, eu realmente quero trabalhar duro para este festival.
O Sr. Tateyama gemeu cansado em resposta. Não era o tipo de coisa com a qual ele poderia simplesmente dar de ombros: “Ooh, isso é difícil. Aguente firme, garoto” ou qualquer coisa do gênero. Como ele poderia? Se eu fosse ele, provavelmente teria problemas para responder a isso também. Desculpe por coloca-lo nessa posição, eu acho.
Mas o Sr. Tateyama nunca me repreendeu ou disse “Apenas lide com isso” ou algo assim. Eu acho que eu tinha uma boa ideia de por que ele não o fazia também.
— ...Sr. Tateyama, você disse que estava tentando parecer animado com o diretor. Isso foi meio que uma mentira, não foi?
Meu professor não respondeu. Então continuei.
— Você tinha que dizer isso para motivar a Takane a agir, não é? E se ela não estivesse a bordo, eu teria apenas dito “esqueça” para não balançar o barco. Você criou toda essa configuração de propósito, não foi?
Eu realmente vi o Sr. Tateyama falando com o diretor da escola no corredor uma vez. Como eu descreveria a conversa? Foi... sombria. Turbulenta. O diretor era sem noção, o tipo orientado para resultados, aparentemente, e ele estava discursando palavras-chave como “taxa de avanço” e “apelo do candidato” e assim por diante como uma metralhadora. O Sr. Tateyama resistiu silenciosamente a essa barragem antes de responder com duas ou três palavras de despedida claramente hostis e sair correndo.
Todo aquele episódio tornou difícil imaginar o Sr. Tateyama curvando a cabeça para o diretor, tentando bajular ele para ter seu favor de repente.
Takane gostava de destruir seu bom nome de vez em quando, mas o Sr. Tateyama era um bom professor. Ele cuidava de nós. A única razão pela qual entrei nesta escola foi porque meu pai era um velho conhecido dele, e quando se tratava disso, ele era o único adulto com quem eu podia discutir meus problemas.
Fosse verdade ou não, a única coisa que eu conseguia imaginar era que o Sr. Tateyama havia deliberadamente tentado criar uma situação em que a Takane e eu trabalhássemos juntos para participar do festival da escola.
— Além disso, é preciso muito dinheiro para fazer um jogo. — eu disse. — Tipo, muito mais do que nosso orçamento permitiria, mesmo que você não gastasse tudo antes. Você não está gastando muito dinheiro com isso por nossa causa, está?
O Sr. Tateyama riu. — Ei, eu não sou um cara tão caridoso quanto você aparentemente pensa. Além disso, eu realmente tentei impressionar o diretor. Ele é tão chato com a nossa classe que eu não consegui mais me conter.
— Ha-ha-ha... Agora, isso eu consigo imaginar. Mas Sr. Tateyama, se você está colocando dessa forma...
Minha pressão para que ele respondesse aparentemente convenceu o Sr. Tateyama de que a brincadeira estava na hora de acabar. Depois de uma pausa, ele começou a falar.
— Bem, sim, o que você achou que era? Não tem um professor sequer com pelo menos algum tipo de expectativa para seus alunos... Claro, gostemos ou não, temos apenas uma semana para trabalhar. Espero que você esteja pronto para dar o melhor de nós, Haruka.
— ...Farei o que puder!
“Dar o melhor de nós”, gostei desse termo. Parecia terrivelmente perto de “continue vivendo”, em minha mente. Suponho que já sabia que não poderia fazer muito em um ano. Não havia nenhuma viagem pelo mundo na minha agenda e eu era muito novo para me casar de qualquer forma.
Mas, além disso, a ideia de que eu poderia alcançar algum tipo de objetivo presente se me aplicasse o suficiente parecia mais como uma bênção do que qualquer outra coisa na minha vida.
— Certo… Nossa, já são uma, né? Você vai ir dormir agora?
— Hum, sim... acho que deveria ir. Eu também fiquei acordado até tarde ontem e estou começando a perder o fôlego bem rápido...
Então me lembrei.
Espere um segundo. Preciso de uma ideia para o meu vigésimo personagem.
Eu ainda não tinha pensado em nada útil.
Mantendo o celular no ouvido, levantei-me e olhei para minha mesa. Eu não podia mais confiar naquela enciclopédia de coisas da natureza. O que mais eu poderia encontrar de inspiração...?
— ...Ah!
Uma ideia me ocorreu que me fez exclamar em voz alta. — Nossa, — respondeu um assustado Sr. Tateyama — pensei que você estava me sacaneando! Aconteceu alguma coisa?
Ceeeerto. O Sr. Tateyama pode ter, na verdade. De fato, ele deve ter. Isso era parte do seu trabalho. Mas eu não sei... Ele ficaria com raiva de mim?
Bem, posso muito bem perguntar.
— Hum, eu poderia te pedir um favor, talvez?
— Claro. Qual é?
— Você tem uma foto da Takane que eu possa pegar emprestado?
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mayura-chanz · 2 years
Text
Kagerou Daze VI — over the dimension — Daze I
Enfim chegamos ao sexto volume! Eu amo todos os volumes de Kagerou, mas este aqui é o meu favorito. Estou muito feliz de poder trazê-lo para o português. Boa leitura.
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
____
— Por que eu estou assistindo TV agora?
Eu me peguei murmurando a pergunta para ninguém em particular enquanto me sentava diante da televisão analógica.
Minha mente não parecia particularmente nebulosa. Eu não tinha memória alguma de adormecer e também não achava que tinha desmaiado ou algo assim.
...Espera um minuto. Eu na verdade não lembro de nada.
O que eu estou fazendo aqui? E por que eu estava olhando para esta TV? Por algum motivo, achei completamente impossível lembrar.
Não só deixei de me lembrar de uma única coisa sequer sobre o programa que supostamente estava assistindo, como realmente não havia nada na memória, até o momento em que abri a boca para falar. Era como se alguém estivesse operando uma esteira rolante em meu cérebro, transportando as memórias antes que eu pudesse pegá-las.
Concentrei minha mente distraída de volta para a TV. Linhas de texto fluíam pela tela como o rolar dos créditos de um filme, acompanhadas por uma melodia graciosa, porém distorcida, de um violino.
Então eu estava assistindo algum tipo de filme?
...Isso me pareceu bastante improvável. Filmes nunca foram algo em que eu estivesse particularmente interessado. Os mais recentes que eu conseguia lembrar eram as versões cinematográficas daquele anime de “garota lutadora fofa” que ia ao ar nas manhãs de domingo. Mas me imaginar olhando fixamente para os créditos de um filme, por sabe lá quanto tempo, era difícil de imaginar. Não importa quanto tempo livre eu tivesse na minha vida — e acredite em mim, eu tinha muito — me parecia um incrível desperdício.
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Se o que eu estava vendo tinha créditos, então, deve ter algum tipo de, sabe... um filme também. E eu devo ter assistido por um número x de minutos antes, mas... o que eu assisti?
— Nossa, não consigo me lembrar de nada. Tipo, onde eu estou, mesmo...?
Sim. Bom ponto, ser. Melhor descobrir isso primeiro. Existe alguma coisa aqui que eu possa usar para me ajudar a me orientar? Algum tipo de edifício, ou janela, ou pessoa? Espero que procurar algo assim não me tire do meu quarto por muito tempo.
Isso foi o que passou pela minha cabeça enquanto girava minha cabeça ao redor, tentando absorver meus arredores—
—só para encontrar algo além de acreditar.
— Você tem que estar brincando comigo.
Estendendo-se pelo que deve ser centenas de quilômetros... era um mundo de puro branco. Era impossível descobrir até onde ia.
Não havia pessoas, nem prédios, nem mesmo um único galho morto. Nada para delinear o chão do céu e claramente nada como um sol ou uma lua. Nem mesmo minha própria sombra.
Exceto pela velha TV desgastada pelo tempo, tudo na frente, atrás, acima, abaixo — tudo que eu podia ver — era um único tom uniforme de branco.
Era uma visão impiedosamente surreal — que me deixou tremendo.
Lembrei-me da escuridão me aterrorizando quando era criança. Essa brancura era totalmente o oposto, mas ainda tinha exatamente o mesmo efeito na minha psique. Talvez até pior.
Pelo menos no escuro, eu podia imaginar algo de bom existindo lá fora, alguma esperança escondida na qual me agarrar. Uma sensação de expectativa. Eu simplesmente não conseguia ver, afinal.
Aqui, no entanto, não havia nada. Esse tipo de nada claro e branco fazia a esperança parecer impossível.
Minha mente estava enterrada em desespero, não conseguindo encontrar qualquer base para explicar esse estado das coisas. Eu não me lembro de como vim aqui e nem uma única criatura viva estava por perto. Mesmo que eu tentasse sair, não havia nenhum ponto de referência distante para olhar. Tudo o que eu via era um constante branco, branco, branco — projetando nada além de uma desgraça cruel e indiferente.
O que tinha isso? Alguém pode fazer um lugar tão grande, tão além da compreensão? Não pode ser. Simplesmente não era possível.
Mas até onde eu saiba, nada disso era uma “criação”. Era simplesmente um vasto espaço vazio, desprovido de qualquer coisa natural ou mesmo artificial. Eu só conseguia pensar em uma explicação que era que eu...
— Ah, droga! É melhor que não seja....!
Minha voz tremeu enquanto eu tentava parar minha mente acelerada.
Não. Não adianta tentar pensar racionalmente sobre um mundo surreal.
O que de bom isto faria? Eu nunca encontraria uma resposta.
Por enquanto preciso começar a investigar. Tem que haver algo, em algum lugar, que eu possa me agarrar que ofereça uma dica para escapar. Mas não tem alguma coisa? Nada mesmo? Como eu saio deste lugar bizarro? Não, deve ter uma pista por aqui em algum lugar...
A primeira coisa em que me apeguei, é claro, foi a TV analógica colocada na minha frente.
A única esperança que eu realmente tinha para continuar neste lugar era aquela televisão. A qual não era importante para mim. A minha mente ansiava por informações, por mais ridículas que fossem. Com uma sensação cansada de expectativa, virei meus olhos para a tela — e encontrei minhas esperanças frustradas pelo que só poderia ser descrito como desespero na forma textual.
— Que diabos de linguagem é essa...?
Os créditos que rolavam para cima na tela eram compostos de uma mistura errática de sequências de palavras, como se alguém pegasse idiomas de um punhado de regiões, os passasse por um processador de alimentos e publicasse os resultados. Eu tentei o meu melhor para lê-lo, concentrando toda a minha capacidade mental no esforço. Mas não havia nada consistente ou regular em nada daquilo.
Eu tinha pelo menos um pouco de confiança quando se tratava de idiomas, mas isso não oferecia nada para continuar.
Soltei um suspiro forte e me sentei no que eu supunha ser o chão.
Olhando em volta novamente, eu ainda não vi ninguém. Nada além daquela TV.
A última memória que eu conseguia lembrar era estar no meu quarto mexendo no computador. Era isso mesmo? Era tudo o que eu conseguia evocar e mesmo isso era nebuloso.
Independentemente disso, eu definitivamente não tinha saída.
Esta TV com os créditos finais... O que ao menos isso quer dizer?
Olhar para a tela me fez sentir, aos poucos, que eu realmente tinha assistido... algo aqui. Algo com significado real.
Algumas partes me fizeram rir, pensei, e outras eram mais solenes, quase melancólicas. Esses foram os pequenos fragmentos de recordações que surgiram na minha cabeça e desapareceram com a mesma rapidez.
Certo. Não há dúvidas sobre isso. Eu assisti... o que quer que seja que esses créditos dizem.
Mas havia algo sobre aquele “o quer que seja”...
Por razões além da compreensão, não conseguia me lembrar de nenhum de seus aspectos centrais, como se estivesse envolto por uma neblina. Por que estou esquecendo a coisa mais importante aqui?
— Era... meio, algo que eu não queria lembrar?
No momento em que disse o pensamento em voz alta, encontrei algumas palavras entre a lista na tela que pude finalmente decifrar. Corri apressadamente até a TV, colocando meus olhos na tela para não perder de vista. Minha primeira lasca de esperança. Eu instintivamente li:
— Vamos ver... “Estrelando... Shintaro Kisaragi”?
Em toda a minha vida, nunca encontrei alguém com o mesmo nome. Mesmo se tivesse, não tem como essa pessoa misteriosa aparecer agora. Não com esse meio tempo.
Não havia dúvidas. A estrela do filme que estava sendo listado era... meu nome.
Então eu estava interpretando o papel principal ou algo assim? Beleza, certo. Eu nunca estive perto de um set de filmagem, muito menos estrelei em um.
Talvez algo além de um filme, então? Mas o que mais teria créditos completos como esse? Produções de teatro televisionadas, dramas de TV, animes... De qualquer maneira, nada que eu lembrasse de ter feito. Além disso, eu duvidava que tivesse a chance de estrelar algo assim.
Sim. Isso é loucura. Praticamente a única coisa que eu poderia estrelar é... a minha própria vida, basicamente.
Minha própria vida...?
— …Não.
Não. Não, não. Não!
Não pode ser isso. Isso é um sonho. Estou apenas tendo um sonho ruim, é isso!
O frio estranho passando pelo meu corpo, a falta de ar — era apenas parte do pesadelo. Sim. Não há “créditos finais” na minha vida. Não pode ter...!
— Que diabos é esse merda...? Droga!
Levantei-me e rapidamente chutei a TV para dizer exatamente o que eu pensava de tudo isso. Minha perna foi esmagada, forte o suficiente para que pudesse quebrar um dedo do pé.
E ainda assim... Qual é o problema? Não dói nada e não estou sangrando?
Certo. Agora sim isso era assustador. Não consigo entender nadinha. A ansiedade ameaçava me matar. Mas apesar de tudo isso... Por que eu não estava chorando?
O que aconteceu comigo, afinal? Por que eu não consigo me lembrar de nada?
Eu realmente sou “Shintaro Kisaragi”?
Por favor. Qualquer um. Apenas me fala.
O que vai acontecer comigo agora?
Eu vou simplesmente desaparecer?
Isso significa que tudo acabou?
Ou isso vai continuar até o infinito? É assim que vai ser? Eu sozinho, neste vazio para sempre...?
...Ugh. Qualquer coisa menos isso. Este é o pior sonho de todos.
Eu me senti prestes a perder a cabeça. Se isso é um sonho, então me acorde logo... Rápido...
— Acalme-se, Shintaro.
 ...Uma voz.
A voz que ouvi do nada fez com que os circuitos sobrecarregados do meu cérebro congelassem no lugar. Talvez a rapidez foi demais para uma surpresa, mas a verdadeira razão pela qual isso me parou de forma tão fria foi porque o dono da voz era a única pessoa que eu menos esperava estar me chamando.
Seguindo a voz, um tom eletrônico estridente começou a apitar em intervalos regulares. Continuava ecoando um ritmo de bipe constante com seu tom frio e gerado por uma máquina. Algo sobre isso... eu conheço. Este era o som usado em programas de TV para representar o pulso de alguém.
Algum tipo de eletrocardiograma...? Já tinha ouvido sabe-se lá quantas vezes antes. Quando meu avô foi internado no hospital. Quando minha irmã quase se afogou no mar. Daquela e mais uma vez.
Erguendo minha cabeça de volta para prestar atenção, descobri que uma porta metálica apareceu diante de mim do nada, um pouco à minha frente.
Não tinha paredes em volta— era apenas uma porta, parada ali no meio do nada.
Se eu fiquei doido ou se a minha mente por fim estava me testando, eu realmente não sei — mas ver essa visão não gerou nenhum tipo de choque ou surpresa.
Dei uma olhada mais de perto na porta.
Levava a uma sala de cirurgia, talvez? Havia um painel de luz vermelha acima da porta que me lembrava os de hospitais que indicam cirurgias em andamento.
Entre isso e a voz que acabei de ouvir...
— …Você quer que eu entre?
…Essa era a única interpretação que eu consegui chegar.
A voz de antes era definitivamente familiar. De jeito nenhum, pensei, que poderia ser qualquer um além do cara que eu estava imaginando que fosse.
Se fosse esse o caso — por mais irônico que fosse — ser uma porta de hospital OU a porta que faria de repente algum tipo de sentido. Mas... esse tipo de coisa era possível?
Quero dizer, se eu pudesse vê-lo novamente, eu adoraria. Havia muito sobre o que precisávamos conversar. Nos últimos dois anos, lamentei não poder ouvir o que ele realmente tinha a dizer, ou dizer a ele o que eu realmente queria. O que realmente aconteceu naquele dia dois anos atrás? Por que eu fui o único que ficou para trás? A pergunta me consumia constantemente.
Se esta é a minha grande chance de falar com ele de novo...
— ...Abra.
No momento em que eu sussurrei as palavras na frente da porta, houve um clique alto e o painel de luz vermelha se apagou. Ao mesmo tempo, a porta de metal se abriu silenciosamente.
A primeira coisa que notei foi o cheiro. Aquele cheiro de antisséptico único que parece permear todos os cantos de um hospital soprou pela porta entreaberta.
A próxima coisa que passou pela minha visão foi um número vasto, quase incontável de soros intravenosos, espalhados por todo o espaço branco puro. As inúmeras linhas de plástico estavam ligadas a uma bolsa separada cheia de um líquido incolor, mas os tubos finos que saíam delas se estendiam para dentro em direção a um único ponto invisível. Eles numeravam a dezenas, até a centenas, fazendo com que se assemelhassem a uma espécie de teia de aranha aleatória.
E no terminal... havia algo que eu não podia ver da entrada. Mas a julgar pela direção de onde veio o bipe, deve ter sido gerado por quem estava do outro lado.
Não adianta ficar deprimido na porta. Respirando fundo, eu fui em frente.
Agarrando os soros, caminhei pelo labirinto, tomando cuidado para não derrubar nenhum deles enquanto dava passo a passo relutante. Quanto mais avançava, mais forte se tornava o cheiro de antisséptico. Tentar abrir caminho através dessa massa interminável e fervilhante de tubos era como tentar atravessar uma selva metálica.
Tilintando e tinindo no meu caminho, o destino no final desse emaranhado retorcido finalmente veio à vista.
Apesar do fato de que esta era supostamente uma sala de cirurgia, não havia outros dispositivos médicos visíveis além dos soros. Nem um único médico ou enfermeiro presidia também.
Tudo o que via era uma cama de solteiro, envolta em lençóis brancos que pareciam se derreter no pano de fundo igualmente branco.
Inesperadamente, encontrar os olhos do paciente naquela cama, exatamente do jeito que eu me lembrava dele antes, me fez suspirar.
O que você está fazendo aqui?
O que aconteceu com você por todo esse tempo?
Onde estamos, aliás?
Estou aqui porque você me chamou?
...Apesar da torrente dessas e de outras perguntas que passavam pela minha mente, aquela que, por reflexo, chegou aos meus lábios foi um pouco mais comum.
— Há quanto tempo, Haruka?
— ...Hum, faz muito tempo, eu acho, né?
Haruka Kokonose, um estudante de um ano a mais que eu, sentou-se na cama, sua voz tão suave quanto antes.
...Isso nunca deveria estar acontecendo, mas lá estava ele — bem ali — acordado.
— Hum, eu... uhh...
Minha voz estremeceu até parar. Quem poderia me culpar? Eu não tinha um único tópico alegre que eu pudesse usar para uma conversa casual com ele. Haruka deve ter notado porque ele foi o próximo a falar:
— Meio fácil ficar nervoso depois de todo esse tempo, né?  Quero dizer, eu nunca sonhei que nos encontraríamos novamente assim.
— Ah! V-você também, né? Eu me sinto do mesmo jeito.
Haruka respondeu com um baixinho “sim”, depois baixou os olhos, seu rosto revelando um pouco de tristeza.
...O silêncio veio rápido demais. Eu não conseguia adivinhar quanto tempo fazia desde a última vez que falei com alguém. Minha mente parecia lembrar que eu tinha falado com minha irmã não muito tempo atrás, mas fora isso, eu não tinha a menor memória fragmentada de falar com outro ser humano.
Esse é o tipo de cara que eu era. E isso significava que não tinha como poder manter uma conversa sozinho.
— ...Hum. Então! Tipo, tem muita coisa que eu quero falar com você! Tipo, onde estamos, e e-essas coisas...!
Como eu esperava, saiu muito mais alto do que eu pretendia. Pelo menos a minha voz teve o bom senso de não rebater nas paredes.
Supondo que houvesse paredes, o que — agora que notei — não havia.
Mas Haruka não pareceu nem um pouco desanimado.
— Acho que você não se lembra afinal, né? Você não se esqueceu de... sabe, todo mundo, não é?
Afinal? Todo mundo? Eu não tinha lembranças. A que “todo mundo” ele quis dizer?
— Uhmm... me desculpe, eu acho que não lembro mesmo.
— Não? Aposto que sim... Bem, por onde devo começar?
Haruka estava agindo como se soubesse de alguma coisa. Eu queria extrair o máximo que pudesse dele... ou essa era a minha intenção, pelo menos. Mas eu também não podia me forçar a empurrá-lo demais.
Sempre foi assim. Haruka tendia a correr em seu próprio ritmo. Eu apelidei isso de “Hora Haruka” em minha mente, antigamente.
Nunca me incomodou muito.
— ...Sabe, eu... sempre quis te perguntar sobre... você.
Ugh. Eu sou inútil. Eu mal consigo encadear uma frase. As pessoas costumavam me repreender o tempo todo por quão malvado e desanimador eu era com as pessoas, e agora olhe para mim. É como se minha língua tivesse atrofiado por falta de uso.
— Bem, obrigado. — Haruka disse se desculpando. — Na verdade, há algo que eu preciso esclarecer. É uma longa história, mas...
Então ele começou a contar uma história do passado, que levou mais tempo do que eu esperava para chegar ao fim.
Sua voz estava tão clara quanto dois anos atrás — naquele verão quando ele  morreu.
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