Cap. 33
A dor diminui. Enfio a mão sob a jaqueta para procurar a ferida.
Não estou sangrando. Mas, a força do tiro me derrubou, então deve ter havido algum tipo de munição. Passo a mão no ombro e sinto um calombo onde minha pele costumava ser lisa.
Ouço um ruído no chão ao lado do meu ouvido e ergo os olhos para ver um cilindro de metal que rola em minha direção. Antes que eu possa me mover, uma fumaça branca começa a sair da extremidade. Eu me engasgo e empurro o cilindro para longe, para o meio do salão, mas já é tarde demais. Aquele não parece ser o único e em menos de um segundo o salão inteiro está coberto por uma fumaça branca. Começo a tossir e fico de pé na tentativa de proteger os olhos, mas a fumaça faz com que eles comecem a arder de imediato.
Dou mais dois passos e a fumaça simplesmente desaparece, como se tivesse sido sugada.
Qual foi o sentido disso?
Olho ao redor e vejo meus amigos caídos, não te mais guerreiros traidores ao nosso redor, portanto posso ir até eles sem me preocupar em levar mais um tiro. Me aproximo e sacudo Mari, ela não se move, vou até Zeke, nem um sinal de vida, paro os encarando, eles não sangram, mas também não se movem.
Me aproximo de Bang Chan, o projetil do que quer que tenha sido atingiu seu estômago, pois posso ver um buraco em sua jaqueta preta. Ouço passos e volto a deitar ao chão, na posição em que estava antes de acordar, é melhor que não saibam que acordei.
-Por que simplesmente não atiramos na cabeça deles e acabamos logo com isso? – uma voz fria soa, eu aperto os olhos, não podem descobrir que estou acordada, não podem.
-Não seja idiota Frank, se matarmos todos como vamos ter população suficiente para o projeto de prosperidade.
Aquela voz, aquela voz eu conheço. Eric.
Os passos se aproximam mais de mim e eu sinto alguém abaixar ao meu lado.
-Olha se não é a garotinha do Know. – Eric, é ele que está ao meu lado, posso sentir o cheiro de seu perfume. – não achei que ele a deixaria sair sozinha, mas enfim, parece que não estão mais juntos.
Ele fica de pé e pisa em minha mão. Mordo a parte interno do lábio para evitar gritar, ele me paga.
-Agora vamos embora, esses quatro não são nada. Vamos!
Espero até os passos desaparecerem e abro os olhos. Eric, traidor miserável. Fico de pé e mais uma vez caminho olhando ao redor, quando os outros irão acordar e por que estou desperta e eles não? Algo passa pela minha cabeça. Sou divergente, é por isso que estou acordada, aquele gás, o que quer que tenha nele não surte efeito em mim, a caçada aos divergentes está a todo vapor, literalmente.
Escuto uma tosse e me viro para ver quem se aproxima, Bang Chan, ele está ficando de pé e me encara firme.
-Lizzy?
-Você também é diferente? – pergunto, não há tempo para me surpreender.
-Só não queria que ninguém soubesse. – é o que ele responde.
-Não se preocupe, vem, precisamos de uma dessas faixas brancas.
Tem guerreiros caídos ao chão, traidores na verdade, Zeke, Bang Chan ou até mesmo Tiele conseguiram derrubar alguns deles, conto seis.
-Por que? – Bang Chan me encara respirando com dificuldade.
-Porque todos os traidores possuem essa faixa no braço, é melhor para nos camuflarmos, certo?
-Por que não pegamos Zeke e Tiele e não sumimos daqui?
-Porque Eric está aqui, ele está tramando alguma coisa e não vou embora antes de saber o que está havendo.
-Lizzy isso é loucura.
-Se não quiser vir comigo fique a vontade, eu não vou desistir agora. Ele está sozinho, quer dizer, só tem um outro guerreiro com ele, não vou mesmo perder essa oportunidade, posso me livrar de Eric e ir até a divisão dos laboratórios disfarçada, posso libertar Felix, você está comigo ou não?
-Minho me pediu para cuidar de você.
-Então eu sugiro que você comece a andar, porque não vai poder cuidar de mim se não estiver por perto, e eu estou indo!
-Você tem MESMO um desejo de morrer, não tem?
Dou de ombros, não me importo, preciso ir até Eric.
Corro até a escada e Bang Chan me segue de perto. No meio do caminho começo a pensar no que pretendo fazer. Ir até Eric, exigir que me leve até a divisão dos laboratórios? A cada passo que dou percebo que não, não possuo um plano.
E então a ficha cai. Estou sendo imprudente. Estou fazendo o que Minho disse que eu faria, estou cavando minha própria sepultura, não sei o que vou achar por lá, mas com certeza não será nada agradável e estou levando Bang Chan para a morte comigo.
Mas o mais estranho é que não ligo.
-Eles vão subir a qualquer momento. – falo para Bang Chan e ele faz um gesto positivo com a cabeça.
-Você consegue dar conta deles? Está armada?
Lhe mostro a faca que tenho no bolso de trás e ele faz um gesto negativo com a cabeça.
-Arma de fogo Lizzy.
-Esqueci de trazer, desculpe.
-O que diabos você tem na cabeça? Vir a um lugar desses desarmada.
-Não estou desarmada Bang Chan, agora pare com isso por favor. Vamos!
Caminhamos juntos por mais alguns degraus, depois paramos em um corredor bifurcado.
-Você vai para a direita e eu para a esquerda. – falo.
-Nem pensar.
-Bang Chan eu disse que você podia discutir?
Aquela frase bate fundo dentro de mim, lembro de Minho e lembro também que talvez eu nunca mais o veja, pois estou agindo feito uma suicida novamente.
Corro antes que Bang Chan diga alguma coisa, no fim do corredor tem uma porta, paro de frente a ela e encaro o meu reflexo, mas não estou sozinha como pensava, Eric está atrás de mim.
***
Olho para ver o reflexo de Eric na porta e ele me encara de volta. Se eu me mover rápido talvez consiga fugir, talvez ele não esteja preparado para me segurar. Mas, me dou conta de que não conseguirei correr mais rápido do que ele. E não conseguirei atirar nele, pois estou desarmada. Gênio.
Giro o corpo, erguendo o cotovelo e o lançando na direção do rosto de Eric, mas ele é mais rápido do que eu e desvia do golpe, me segurando ao redor dos ombros.
-Olha só se ela não está acordada. – ele fala enquanto me segura. – diferente, não é?
Não respondo enquanto Eric me imobiliza, me deixando impotente. Ele me gira, segurando meu braço esquerdo com uma das mãos e apontando o cano da sua arma para minha cabeça.
-Não entendo, como você aparece aqui sem uma arma?
-Não preciso que entenda nada.
Eric torce meu braço para trás, meus joelhos cedem com a dor, e ele me agarra pela gola da camisa de maneira quase descuidada, me arrastando na direção oposta.
Me debato, mas não consigo me soltar, Eric me arrasta na direção da divisão dos laboratórios, não quero ir pra lá, mas não consigo me soltar.
Quando entramos, há um exercito de guerreiros de pé no hall de entrada, como se já esperassem uma espécie de ataque. Eric me atira ao chão e encara um dos guerreiros.
-Quero uma arma em cima dela o tempo todo. – ele fala firme.
-O que é Eric? – debocho. – está com medo de uma garotinha?
-Não sou idiota. – ele fala me encarando. – já fui enganado por essa encenação antes, não vou ser novamente. Você por ser aparentemente fraca é um ótimo cão de ataque e por isso vou me certificar de que seja a primeira a ser abatida.
Fico ali de joelhos com uma arma em minha cabeça enquanto vários outros guerreiros entram carregando outras pessoas, começo a analisar e percebo que são todos divergentes, haverá uma chacina.
Escuto um grito e ergo os olhos para ver que Bang Chan acaba de morder o seu captor, não posso deixar de sorrir, ele é como eu, pode até morrer, mas não irá sem causar um estrago.
Eu deveria estar com medo. Mas, em vez disso, uma risada histérica borbulha dentro de mim, porque, de repente me lembro de algo.
Posso até não segurar uma arma. Mas, tenho uma faca no bolso de trás.
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A mulher no pântano (Parte 35)
Sob um tímido céu, escondido dentre um mar nuvens pouco acinzentadas, o pântano se via diante de grandes emoções, escondidas na sua habitual calmaria. Sobre o pier principal da casa amarela, os moradores competiam por espaço como os feixes de luz do céu competiam para chegarem à terra. Ansiosos pelas novas ordens e por mais o que fazer, o grupo esperava o transporte, que por razões anteriores, navegava com cautela pelas águas.
Correndo até o pier, depois de uma noite de sono agitada, cheia de “porquês” e “poréns”, Gregor compensava seu atraso e logo tomava suas preocupações cotidianas.
- Então... Eu ouvi dizer que você ia pro acampamento... tipo ficar nele... - Gregor, ligeiramente se aproximando de Selena, comentou.
- Aham... É meio dramático, mas é melhor assim, sabe? - Selena, levando consigo todos os seus pertences, uma pequena caixa, respondeu. - É mais seguro...
- Bem, eu não acho... Não acho seguro alguém ficar sozinho... Por mais arriscado que as coisas sejam... - Gregor respondeu.
- É, mas ainda assim é melhor... Ninguém corre risco de se contaminar... e ninguém me incomoda... - Selena retrucou. - E você? O que vai fazer tão longe?
- Bem, eu vou preparar as coisas pros testes com malha explosiva... O senhor Ulisses praticamente já terminou ela e precisamos saber se o sistema de ativação de Mirela está funcionando... - Gregor respondeu.
- Bem, então boa sorte... - Selena respondeu, voltando o olhar para as águas que corriam sob seus pés.
Frios, os dois voltaram o olhar para qualquer outro lugar que não fosse entre si. Quieto, mas não vencido, Gregor ocupava sua mente e seu coração, pensando se a decisão de Selena tinha sua lógica. Ficar sozinha num acampamento, rodeado dos mais adversos perigos, desde as criaturas do pântano, furiosas e orgulhosas por seu lar, aos próprios invasores, furiosos e orgulhosos por suas ideias, estava longe de ser uma decisão sensata, uma decisão da própria Selena. Para o Frantzer, ninguém deveria, independente do lado. Gregor não podia aceitar a decisão, mas parte dele gritava que aquilo não cabia a sua pessoa.
Por outro canto, Selena se irritava. Não era como se ela não gostasse daquilo. Da gentileza. Ela não gostava de como isso a fazia se sentir. Ninguém nunca tinha se preocupado tanto com ela, nem quando seus pais tinha morrido. A verdade era que Selena não estava acostumada ou até mesmo conhecia tamanha bondade. Ela não tinha uma origem amigável e ela não era uma pessoa amigável, então por qual motivo alguém seria amigável com ela? A troco de nada? Por motivo nenhum? Ela não sabia, e isso a irritava, mesmo que tentasse simplesmente ignorar.
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- Ei! - Catorze se aproximou.
- O que foi? Eu tô ocupado... - Quinze perguntou, incomodado.
- Nossa, Senhor doçura, eu só ia fazer uma pergunta! - Catorze rebateu.
- O que é? Já não basta o Dois encher meu saco com essas planilhas, ainda tem você... - Quinze respondeu.
- Bem é que como agora somos um “trio”, achei que teria pelo menos esse direito! - Catorze disse. - De qualquer jeito, eu só queria saber o que tá acontecendo entre você e o Doze... Vocês dois estavam bem juntinhos ontem...
- Não te interessa... Você mesma não disse que não quer que fiquemos no seu caminho? - Quinze rebateu.
- É, não me interessa mesmo, mas interessa ao nosso caro amigo Oito... - Catorze respondeu.
- O que? - Quinze perguntou, freando a massante tarefa.
- Olha, eu não ligo pro que vocês estão fazendo... provavelmente vai dar errado... Mas eu seria um pouco mais esperta nisso... - Catorze respondeu. - Não se esqueça do que tá acontecendo aqui... Oito agora é um falcão! Ele tem vigiado tudinho por aqui... todo mundo... e não vai querer ficar atrás de ninguém... Então é bom estar preparado pra caso alguma coisa aconteça...
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Na poderosa vegetação, de árvores altas e arbustos cortantes sobre as rígidas porções de terra, um ponto branco se destacava pela velocidade que atravessava o meio. Ofegante como um animal que supervisionava uma presa, Doze saltava pelo território, movido muito mais por seus temores, que pelos hormônios que tinha injetado em si mesmo.
" Eu não posso perder essa", O soldado pensava, se esgueirando pelo arredores do acampamento, o principal simbolo do poder da resistência.
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Inocente da real situação que se formaria, uma visão se soltava do retrato do momento. Sobre os braços da mãe, Pandora se enrolava nos finos cobertores e estreava seus jovens olhos, recém abertos, aproveitando a paisagem cheia de luz. Sem culpa de todo aquele panorama, flashes que logo se tornariam linhas desconexas conforme a evolução de sua memória, a bebê se reservava apenas a não se preocupar. Bem diferente de sua mãe.
Sobre o pier quase lotado, Rosa, inocente dos problemas de um futuro bem próximo, resumia suas preocupações a aquele curto momento. Distraída, ela se perguntava como procederia o dia guardando uma coisinha tão vulnerável. Não tão vulnerável quanto seu marido naquele instante.
- Ah, que fofinha! - Ângela, que competia a visão com o gigantesco carretel de tecido que carregava, disse, se aproximando de Rosa. - Ela vai passear?
- Ela tava aí dentro por muito tempo! - Rosa, ainda insegura, respondeu. - Sair um pouco pode fazer bem...
- Hum, não acha melhor deixar ela com Maria? - Ângela perguntou, soltando o carretel.
- Não, eu não quero incomodar ela! Ela já está ocupada demais cuidando do Lucas... - Rosa respondeu, mimando a bebê. - Além do mais, cuidar dela agora está mais fácil que cuidar dele...
- Faz sentido... Se precisar de ajuda... - Ângela, sempre cordial, respondeu.
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- Quero que preparem o acampamento, vou levar o jantar... - Doze ordenou, fazendo sua voz ecoar pelo pequeno rádio transmissor que carregava, uma das poucas coisas que o cauteloso soldado tinha consigo. - Eu não posso perder isso! - Ele repetiu para si mesmo.
De fato o soldado não tinha como perder a oportunidade. Com a promoção do agora Oito, que de certa forma esperava mais por seus grandes atos, e uma possível melhora de Dez, que mostrava sua coragem, todos partiam para uma postura ainda mais agressiva. Soldados e fiéis queriam a atenção do líder e não permitiam espaço a aqueles que como Doze, não tinham sentido a real gravidade da situação até aquele momento. A concorrência já não era mais uma criaturinha inofensiva, motivada pelas desavenças fúteis entre soldados, e sim um monstro faminto, que não toleraria um único tropeção sem devorar alguém.
O trio de Quinze era a salvação, o alvo dos olhares do líder, mas o soldado teria que se provar, não poderia perder a chance.
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- Júlio, você tá aí? - Jessie, cuidadosamente por cada cômodo, perguntou ao chegar no quarto do irmão.
- Não! - Uma voz abafada, sob calombo de cobertas, respondeu.
- Para de graça! - Jessie rebateu, desmanchando o refúgio.
- Ah, o que foi? - Júlio, do mesmo jeito que no dia anterior, perguntou.
- Nada, eu só queria conversar... - Jessie respondeu, deitando na bagunçada cama junto ao irmão. - Tá sendo bem mais solitário sem o Felipe... Tirando que tá todo mundo com ódio da gente, é claro...
- O ódio deles não me incomoda... Eles sempre vão ter alguma coisa com a gente... - Júlio respondeu. - O que mais me deixa bolado é como eu consegui falhar desse jeito...
- Ah, de novo não... - Jessie suspirou.
- Eu não acredito que eu deixei isso acontecer! Eu realmente não acredito! - Júlio respondeu. - Eu tinha uma aliada! Era quase como um relacionamento abusivo, mas ainda era uma aliada! O que aconteceu?
- O que aconteceu é que não deu! Não era nossa vez... E acho que não deveria sido... - Jessie respondeu, admirando o teto cheio de rabiscos.
- Acha que não devíamos ter feito o trato? - Júlio respondeu.
- Acho que o que aconteceu meio que responde isso... - Jessie explicou. - Não estávamos lidando com nossos primos... ou com essa cidade idiota... Eles não são do tipo que caem em qualquer conversa... - Ela fez uma pausa. - Nós pensávamos que fazer os nossos truquezinhos ia resolver a situação como sempre... Como quando queríamos alguma coisa... Mas esquecemos que essas pessoas não são daqui, não são ingênuas, do tipo que acredita em qualquer um que fale uma palavra bonita... A gente deu confiança a qualquer um... temos que admitir isso...
- Eu dei confiança... - Júlio respondeu. - Tio Ronald tava certo... Era uma competição desleal... Como pensei que eles iriam cumprir alguma coisa? A única coisa que eles respeitam... é eles mesmos...
- Paciência... - Jessie respondeu. - Agora temos que sobreviver...
- E a mamãe? - Júlio perguntou.
- Eu não sei... Eu tô evitando ela, ela tá me evitando, então... Eu acho que tá fluindo legal! - Jessie respondeu.
- Argh, pelo menos isso... - Júlio retrucou. - Algo me diz que esse dia vai ser mais longo do que eu tava esperando...
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“- Lendo mais um desses livros? Cada vez mais me pergunto porque escolheu essa profissão… - Vinicius comentou, se sentando no mesmo sofá que o colega de trabalho praticamente tinha adotado.
- Curiosidade, meu caro! Conhecimento nunca é de mais! - Oliver respondeu.
- E o que é dessa vez? Poções? Fadas? - Selena perguntou, se apoiando numa das poltronas.
- Estou lendo sobre rituais para divindades… mais específico aqueles de sangue! - Oliver respondeu. - Aqui diz que as cerimônia como festas, teatros e rituais sempre eram de agrado para os deuses… Mas vocês sabiam que eram os sacrifícios com sangue e dor eram os mais eficazes pra conseguir coisas?
- Nossa, eu fico imaginando o motivo… - Selena comentou.
- Eram como provas de religiosidade! - Oliver respondeu. - Por exemplo, os povos do norte, os Yakus, faziam cerimônias “pacíficas” para garantir boas safras… Coisas como festas e oferendas! - Ele fez uma pausa, sorrindo maliciosamente. - Mas quando eles precisavam de coisas sérias, como chuva, eles usavam de rituais dolorosos… um deles consistia em colocar um parasita no corpo de um fiel e assisti-lo morrer no templo sagrado, aos olhos dos céus… e isso sempre dava certo… eles sempre tinham chuva!”
“Eles sempre tinham chuva...”, as palavras do antigo amigo ecoavam por Selena, que admirava suas lembranças passarem conforme as águas do rio se chocavam contra o barco.
- Atenção! Chegamos! - Freddy anunciou, tirando qualquer um da ocupação que tinha tomado para si. - As ordens continuam as mesmas! Vamos ir embora antes do entardecer, então aproveitem ao máximo!
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Como tantas outras vezes, coisa quase rotineira, a movimentação pelo acampamento foi intensa e focada. Pelos limites, Rony e sua pequena equipe se esforçavam para entender os mistérios das torretas que protegiam o território. Dentro das barracas, Ângela e as meninas faziam mais trajes de proteção. Ao Sul, Gregor, Flinn e os Brint, testavam a mais nova defesa da resistência, animados com os resultados satisfatórios. Na cabine de comando que tomaram para si, Freddy e mais alguns garantiam a segurança de toda a organização. Era certo de que algo os preocupava, a falta de mais pessoal, mas eram íntegros de compensar como podiam. A única coisa solitária, a estrela sozinha em meio as várias constelações, era Selena, que não estava surpresa por sua situação. Ajeitando a tenda que se tornaria seu novo lar, ela se confortava na independência que tinha conquistado.
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Da calmaria que se formava depois de poucas horas da chegada, um agudo alarme soava pelos megafones espalhados pelo acampamento, chamando que quer que fosse, ou pelo menos quem deveria. Chegando à barraca onde as cunhadas se encarregavam de um importantíssima tarefa, tão importante que pouco percebiam o mundo lá fora, Gregor, sempre cortês, vinha para avisar um chamado.
- Ei meninas, hora de ir! - Gregor, desviando dos tecidos espalhados no chão, anunciou.
- Ah é, ouvimos um alarme, o que é? - Ângela, ocupada demais para entender o ocorrido, perguntou.
- É que vamos fazer mais um teste com as torres! Não temos gente só pra isso, então, todo aqui vai participar! - Gregor, respondeu.
- Ah, que bom, do jeito que estávamos só faltava ser outro problema! - Ângela respondeu, aliviada. - Bem, então acho melhor fazermos uma pausa! Rony vai precisar de todo mundo mesmo...
- É, como a maioria de nós tá cuidando da Casa Amarela o pessoal tá realmente pouco! - Gregor respondeu. - Bom, espero vocês lá!
- Já iremos! - Ângela respondeu, confirmando o encontro.
Gregor deixou o ambiente, ansioso para espalhar as novidades.
- Então vamos deixar tudo aqui pra resolvermos logo isso! - A líder anunciou, ajeitando a oficina para a volta ao trabalho.
- Acho melhor deixar a Pandora aqui... - Rosa comentou, apalpando um berço improvisado para a bebê. - Não é bom que ela fique perto daquele mato todo... mas, hum... será que é bom deixar ela sozinha?
- Acho que não tem problema... - Ângela respondeu. - Não vamos ficar tanto tempo assim fora.., talvez uns cinco, dez minutos? E também, esse lugar tá rodeado de gente! Se alguma coisa acontecer, certamente alguém vai nos avisar!
- Verdade... - Rosa respondeu.
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Dos limites do território reconquistado, apreensivo, Rony admirava todo o planejamento que tinha montado desde que tinha tomado a missão de proteger o acampamento para si.
- Espero que o pessoal dê... - Rony disse a mesmo. - Nenhuma torre pode ficar sem supervisão.
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De repente, de um vívido acampamento, tudo se esvaziava. Um tanto assustado com o sumiço de seus prováveis oponentes, Doze se via numa grande oportunidade, tão grande que só poderia ser uma dádiva dos Divinos para sua missão. Caminhando entre as tendas, incapaz de perder sua posição de atenção, o soldado não deixava perder nada vista. Existiam muitas coisas interessantes ali, mas não tão interessantes quanto uma coisinha pequena e inquieta, dentro de uma barraca cheia de tecidos.
- Isso... é interessante... - Doze comentou.
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Quieta em sua mais recente casa, Selena se privava de qualquer contato com outra pessoa ou qualquer coisa que a desvirtuasse de sua real tarefa. Perdida em meio as amostras que tinha colhido e que tanto trabalhava, a mulher se perguntava qual seria a melhor forma de usar todo aquele conhecimento. “Paz mundial?”, ela pensava, imaginado, em seguida, o quão impossível isso seria em seu mundo tão competitivo. “Uma cura?”, ela prosseguia, fantasiando as possibilidades do soro no panorama em que era obrigada a estar. “Ah, quem eu quero enganar? Não tem ninguém que precise disso... “, ela concluiu, certa de que, naquela situação, com aquelas pessoas, sua descoberta não tinha tanta relevância quanto queria. O soro não serviria de nada para pessoas que não queriam a cura. “Mas será que é só uma cura?...”, Selena imaginou mais uma vez, só que agora, não teve como continuar o raciocínio.
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh - Um grito estridente soou, puxando Selena dos devaneios.
Tão estridente quanto o alarme que soava minutos atrás, a voz continuou a gritar e seu choro era ouvido através das distâncias. Fugindo da reclusão, Selena não teve como ignorar a situação desesperadora que se formava e deixando sua nova casa, ela era assombrada por uma preocupante visão.
- Mas o quê? - Selena tentou explicar, enxergando, distante, um ponto branco correr para fora do território, levando consigo Pandora nos braços.
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A dispersão de pessoas não resistiu à tragédia que se formava. Aglomerados e assustados, os voluntários rodeavam a oficina de Ângela, tentando entender o que tinha acontecido. Da visão desesperadora de Rosa, aos prantos no chão, enquanto chorava pela filha, a resistência era abalada de novo.
- Como isso aconteceu? - Gregor assustado, seguia o irmão mais velho, que recuperava a ordem entre os voluntários.
- Eu não sei, Gregor! - Freddy respondeu, preocupado em manter seu desespero sob controle. - A única coisa que temos é esse bilhete! “Venha me buscar”...
- Gente, o que tá acontecendo? - Selena, que parecia serena, mas estava inquieta como qualquer outro, perguntou. - Eu vi um soldado de branco levando a Pandora! Ele até deixou essa mensagem aqui!
- O que?! - Gregor e Freddy perguntaram, finalmente notando a presença da mulher em meio ao tumulto.
- Deixa eu ver! - Freddy disse, tirando o papel da mulher. - “Nos encontre no lago das agulhas...”
- Ah, que merda! - Gregor gritou.
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- Senhor, tem certeza que só gente basta? - Uma fiel, perguntou, notando que o restante de seus colegas estavam sendo dispensados da súbita missão.
- É claro! Não temam, não vai ser quantidade que vai nos garantir a vitória! Eu tenho uma coisa muito boa em minhas mãos e vocês... são os melhores dos melhores.. então, aproveitem! - Doze respondeu, admirando uma possibilidade que garantia para si.
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- Toda vez que estamos de um novo avanço eu te vejo aí... agarrado essa caixa... - Um, sutilmente guardando os aposentos do líder, comentou.
- Vejo que seguiu meus conselhos... está mais interado... - O líder respondeu.
- Se me permite, senhor, posso saber o que tem aí? - Um perguntou.
- São coisas da minha antiga vida... - O líder respondeu, mexendo em alguns papéis e fotos. - O renascimento é o único caminho, mas aprender com o passado nunca deixa de ser uma opção...
- Me pergunto quais seriam os erros de alguém tão esclarecido... - Um perguntou.
- Muitos... - O líder respondeu. - Havia uma época em que eu tinha confiança nas pessoas, nesse mundo... Achava que integrar uma seleta equipe, com maiores mentes do mundo seria o ápice da minha vida...
- E não foi... - Um prosseguiu.
- Não havia dignidade naquilo... - O líder respondeu. - Viver praticamente sob cárcere privado, bem debaixo do olhar vigilante de um regime autoritário e corrupto e convivendo com as pessoas mais podres e poderosas do mundo... não era como eu esperava... Eu fico feliz de ter acordado a tempo, mais ainda queria ter levado outros comigo...
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Antes do Sol alcançar o resplendor do céu, as trevas já pairavam sobre a resistência.
- Eu sinto muito mesmo, Rosa! Se eu não tivesse inventando de me ocupar com essas torres idiotas nada disso teria acontecido! - Rony disse, tentando provocar alguma reação da gélida mulher.
- Não se culpe, Rony, não é hora pra isso! - Freddy respondeu. - Estávamos esperando um grande ataque... não uma pequena invasão... - Ele suspirou.
- E agora? - Rony perguntou.
- Vamos atrás da Pandora e não vamos voltar até que ela seja nossa de novo! - Freddy respondeu. - Vocês tem que sair daqui! Não sabemos o que pode vir em seguida! Reúna a todos e vão embora!
- Encontrei um barco! É pequeno, mas nós três cabemos nele! - Gregor revelou, ofegante depois de tanto correr.
Na agitação nada mais importava. Não importava o que tinha sido deixado pra trás. Não importava os outros. Não importava como eles estavam ou como ficariam. No meio da correria nada importava. Para a doce Rosa nada mais importava. Nada que não fosse ter sua filha, sua única filha, de volta.
Sobre um barco qualquer, Gregor, Freddy e a inerte Rosa se preparavam para partir, mas não estavam preparados para o que viria a seguir.
- Espera, eu quero ir junto! - Selena gritou ofegante, tentando embarcar.
- Agora não, Selena! Não temos tempo pra qualquer merda sua! - Freddy respondeu, aprontando a embarcação.
- É, não é hora pra isso! E por que quer ir junto? - Gregor, irritado, respondeu, consolando a cunhada.
- Por que pode ser que nem da outra vez! - Selena respondeu, agarrando a corda que prendia o barco.
- O que? Não, não vai ser que nem da outra vez! - Freddy rebateu.
- Eu sou o que eles querem! - Selena gritou, silenciando o trio, que não esperava uma reação tão vívida da mulher. - Talvez eu possa resolver isso... fazer uma coisa realmente certa... - Ela continuou, admirando os olhares atenciosos. - Eles não querem nada com uma bebê... nem podem... mas comigo... talvez eles deixem vocês em paz!
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Pelo barco silencioso, que nunca tinha conhecido tamanha tensão, o quarteto navegava sob as águas mais sujas do pântano. O Lago das agulhas, como era conhecido, era uma das várias paisagens que faziam parte de todo aquele território debaixo da cúpula. Porém, a única coisa que o diferenciava, que tornava aquela lugar tão inóspito, era que ele não pertencia às vastas terras dos Frantzers, e sim as piores criaturas de lá, os jacarés, muito irritados com as mudanças em seu lar.
- Cuidado, Gregor... - Freddy disse, ajudando o irmão a guiar o barco.
- Lá está! - Selena sussurrou, observando uma construção nova ocupando as margens de uma ilha.
A chegada ao ponto de encontro foi assustadora, apesar da ausência completa de alguém. Esmagados pelo constante risco de suas presenças, o quarteto não demorou a desbravar as trilhas de pedras pontiagudas que se revelava como indicador da direção a se seguir.
- Acho que chegamos... - Freddy comentou, ajudando Rosa a atravessar a última parte do percurso.
- Acho que estamos sozinhos... - Gregor comentou, admirando a gigantesca tenda branca que destacava nas cores tão terrosas da região .
- Olá, meus visitantes! - Uma voz ecoou por um solitário megafone. - Entrem! Não percam tempo...
- Vamos todos entrar... É tão perigoso aqui fora, quanto lá dentro... - Gregor comentou.
A entrada na tenda foi sutil e por um longo e largo corredor, todos se viam obrigados a seguir um único caminho. Aglomerados e assustados eles percorriam um trajeto que parecia não ter fim.
- Pandora! - Rosa gritou ao notar as vestimentas da bebê no que se mostraria como o fim do passeio. Como os ventos daquele dia, ela voou na direção da filha. - Ah! - A mulher grunhiu ao se chocar com uma divisória espessa de vidro.
- Rosa, você tá bem? - Gregor, que correu atrás da cunhada, perguntou.
- Tenha calma! - Freddy disse, ajudando a mulher a se levantar.
- Parece uma sala de contensão... - Selena, a última a chegar, comentou, notando a barreira, a única coisa que mantinha o grupo longe de seu prêmio.
- Você realmente é muito esperta! - Doze surgiu pelo outro lado do vidro, carregando Pandora, que chorava. - Não é atoa que o líder quer tanto você!
- Olha cara, o que quer você queria, deixa ela ir! - Selena disse, pressionando o vidro.
- E por que você acha que você seria uma opção? - Doze perguntou.
- Então leva eu, ou qualquer um de nós, qualquer coisa! - Gregor respondeu.
- Nah, não acho interessante o que vocês tem a me dar! - Doze respondeu.
- O quê?! - Selena perguntou, assustada.
- Vocês não tem nada aí dentro de vocês?! Vocês estão com uma criança! Minha filha! - Rosa gritou. - Devolve ela!
- É, eu sei... por isso eu a peguei... Nunca é cedo de mais pra buscar o renascimento! Imagine... um novo membro para a nossa organização! Que vai crescer seguindo os nossos princípios! - Doze respondeu. - E ela só precisa de um beijo pra isso!
- Que merda você tá falando?! Não pode fazer isso com uma criança! Ela não sobreviveria a isso! - Selena disse, pressionando ainda mais o vidro.
- Ah, mas isso nós vamos ver! Vai depender do Divino! - Doze respondeu.
- Se afastem! - Freddy anunciou, apontando uma arma para a barreira.
- Não, não, não! Esse vidro é muito mais forte que suas munições de papel! - Doze, calmo, respondeu. - Se você dar um tiro, eu vou tirar minha máscara! Então é melhor você se acalmar...
- Porra, cara, o que você quer? - Selena perguntou. - Eu tô com soro aqui! - Ela continuou, tirando o frasco da cura do bolso.
- Selena, espera! - Gregor gritou.
- Por que eu ia querer uma coisa tão trivial? - Doze perguntou.
- Hã?! - Selena perguntou, confusa.
- Sabe o que eu sempre te achei, “portadora do elixir da vida?”? Sempre te achei superestimada! Como se você fosse a única resposta! - Doze explicou. - Foi assim quando viemos pra cá! Foi assim quando perdemos nossos amigos naquela inundação! E é assim quando eu estou diante de você! - O soldado continuou. - Quer saber o que eu quero? Além de entrar naquele trio? Eu quero fazer que todos vejam você não passa de nada! Conseguir provar isso para os outros, seria muito mais eficaz que conquistar essa porra toda!
- Então você quer provar isso? - Selena, sombria, perguntou. - Que tal uma troca? Você devolve ela para eles e eu entro aí... sem proteção... não teria como provar que sou tão fraca que eu me permitindo ser contaminada...
- Verdade... - Doze respondeu. - Pelo seu histórico... não teria humilhação melhor! Vamos preparar a negociação! - Ele respondeu, isolando os dois lados ao deixar a barreira fosca e sem som.
- Você tá maluca? - Gregor perguntou.
- Eu tenho que fazer isso! - Selena, movida por emoções que há muito tempo não sentia, respondeu.
- Deixa ela, Gregor... - Freddy comentou.
- Não, por que?! - Gregor perguntou, agitado.
- Por que esse cara é maluco! Ele não obedece as leis de nada, nem do tal líder dele! - Selena respondeu. - Não posso arriscar com isso!
- Não, você não tem! Se esse cara é maluco, o que vai garantir que ele vai cumprir o trato? - Gregor questionou, mais certo do que nunca de seus instintos.
- Gregor... - Freddy disse, tentando conter o irmão.
- Não, Freddy! Nós viemos aqui para nos juntar de novo.... Do que vai adiantar se alguém ficar pra trás? - Gregor respondeu.
- Eu não sei, Gregor! Mas não posso deixar a Pandora lá! Não sabendo que eu posso resolver isso... - Selena respondeu. - Hã, o que tá acontecendo? - Ela disse, notando que a sala perdia a iluminação.
- Fiquem juntos! - Freddy ordenou, enquanto o quarteto era cercado pela escuridão.
- Ei! - Selena grunhiu.
- Gregor, se prepara, se esse vidro abrir, temos que pular pra dentro dele... - Freddy comentou aos pés do ouvido do irmão.
- Hã... o que é isso? - Selena disse a si mesma, percebendo uma brisa de ar gelado soprar por uma abertura quase escondida, coisa que tinha passado completamente despercebido. - É uma ventilação... deve estar refrigerando ali dentro...
- Rosa, eu sei que pode ser difícil, mas caso nós entremos lá, precisamos que você seja rápida em procurar sua filha! - Freddy disse.
- Faço tudo por ela! - Rosa, reprimindo a tristeza, respondeu. - Selena, volta aqui, onde você vai?
- Selena! - Os irmãos e Rosa gritaram, notando que a mulher tinha fugido da aglomeração.
- Tem alguma coisa aqui! Uma ventilação... - Selena respondeu. - Acho que isso leva lá pra dentro! Eu preciso de ajuda pra subir!
- Eu vou! - Gregor respondeu, saindo também da aglomeração.
- Vocês dois, voltem aqui! - Freddy, esperando o grande momento, gritou.
- Eu não posso perder tempo! - Selena respondeu, subindo nas costas de Gregor. - Entrei!
- Pega isso! - Gregor disse, entregando um pequeno revolver.
- O que eu vou fazer com isso?! - Selena perguntou, se espremendo na passagem.
- É um revolver, Selena, você atira! - Gregor respondeu.
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Pela curta tubulação, Selena experimentava uma sensação mais tensa que agonia de se movimentar por um ambiente tão perigoso. Se arrastando por um lugar tão estreito quanto gelado, a mulher era esmagada por um turbilhão de novos sentimentos, que já muito tempo ela não se lembrava e a aqueciam como uma camada extra de roupas. “Por que caralhos eu estou aqui?!”, Selena se perguntava, incapaz, por forças maiores, de retroceder.
- Finalmente! - Selena sussurrou, saindo. - Parece que eles estão em economia de energia... Por isso aqui tá tão escuro... eu tenho que muuuito cuidado agora..
No armazém escuro que tinha desembocado, Selena prosseguiu tão sutil quanto já era. De dentro do território inimigo, onde muitos perigos além de ser morta existiam, ela pode aprender mais sobre seus oponentes.
- Aqueles malditos jacarés comeram os cabos de novo! - Um contaminado comentou, não percebendo que uma mulher se escondia debaixo de uma mesa por onde caminhava. - Esse é, literalmente, o pior lugar pra estar! Onde aquela vaca da Dez estava com a cabeça quando decidiu colocar um acampamento aqui?
- Eu não sei, só sei que quando agente resolver aqui, eu vou por fogo nesse lugar! - Uma contaminada respondeu, ajeitando o traje de proteção improvisado.
“E tenho que ser rápida! Logo vão sentir a minha falta... ”, Selena pensou.
Tão sutil quanto antes, Selena chegou ao seu destino, atraída por um forte cheiro de talco de bebê. Da única sala aquecida em meio ao inverno de dentro da tenda, boas notícias finalmente chegavam.
- Pandora! - Selena disse, admirando a bebê através de uma encubadora. - Ah, graças, você parece bem! Não te fizeram nada!
- Oh, você veio mais cedo! - Doze comentou ao entrar na sala. - Bom pra mim!
- Ah, não! - Selena respondeu, apertando aleatoriamente o gatilho da arma que lhe foi entregue.
*TAMM!!!*, a arma fez, derrubando o alvo.
- Merda! Merda! - Selena, tremendo, disse, tirando Pandora da encubadora e deixando a sala. - Ah, meu céus, eu matei alguém! Eu matei alguém! E agora eu tenho um bebê
- Ei! - Um contaminado gritou, alarmando a todos sobre a queda do líder e sobre a invasão.
Agora pouco sutil, Selena não poupou esforços na fuga. Entre caminhadas e tiros aleatórios, ela abriu seu caminho até a saída, certa de que jamais teria outra experiência como aquela.
- Gente! - Selena disse, entregando Pandora pela minuscula abertura que tinha entrado.
- Pandora! - Rosa, disse, correndo para resgatar a filha.
- Eu preciso de uma ajudinha aqui! - Selena disse, sentido que o tronco tinha ficado preso.
- Licença! - Gregor e Freddy disseram, tomando as rédeas da situação.
- Puxa! - Gregor gritou, enquanto ele e o irmão puxavam cada braço da mulher. - É muito forte!
- Ai! Eles estão me puxando pelo outro lado! - Selena gritou, agonizando pelas múltiplas forças tensionando seu corpo.
- Força! - Freddy respondeu.
- Ah! - Selena gritou, caindo sobre Freddy.
- Eles estão abrindo o vidro! - Rosa disse, notando que a passagem se abria para um perigo ainda maior.
- Vamos sair daqui! - Freddy ordenou, enquanto Gregor ajudava Selena a se levantar.
O quinteto, agora, não tinha mais motivos a temer e furiosos, eles atravessaram o corredor certos de que mais conflitos ainda viriam a acontecer. Antes mesmo do final do percurso as armas se aprontaram e o tiroteio começou.
- Cadê sua arma, Selena? - Freddy perguntou.
- Aqui! - Selena respondeu, jogando o revolver.
- Você acabou com a munição? - Freddy perguntou.
- Ah, sei lá! - Selena respondeu.
- Como você fez isso?! Essa arma estava cheia! Pronta pra um tiroteio - Freddy respondeu.
- A saída! - Gregor gritou, empurrando os portões que guardavam o lugar.
Saindo da tenda, o perigo aumentava.
- Vocês duas continuem pela trilha, eu e Gregor vamos cuidar da retaguarda! - Freddy respondeu. - Não cheguem perto de nada com água que não seja o lago e o rio!
- É! Se estivermos certos, logo as coisas vão ficar mais difíceis! - Gregor completou.
Pela trilha, gritos e tiros atravessavam as árvores acinzentadas. Cautelosos, os Frantzers se mantinham atentos aos dois perigos da situação.
- Eles são mais poucos do que pensávamos! Eu derrubei dois e você, quatro! Parecem ter quinze agora! - Gregor comentou, enquanto grupo parava pra recarregar.
- Eu sei, mas temos que continuar! Se for como é, logo, logo esse lugar vai estar cheio de jacarés! - Freddy respondeu.
Tão rápido quanto antes o grupo chegou às margens, já acompanhado de uma gigantes plateia de dentes furiosos.
- Ah, merda! - Selena comentou, notando as várias bocas abertas.
- Subam logo, nós vamos atrasá-los! - Gregor disse.
- Atrasá-los pra quê?! - Selena perguntou, embarcando.
O resto dos contaminados logo chegou e satisfeitos de deixar seu tão horrível acampamento, agora eles se viam arrependidos, visto que agora eles eram minoria, e presas.
- Pra aquilo! - Gregor respondeu, observando o primeiro ataque. - Temos que sair daqui! Agora!
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Quando o Sol já dava espaço à escura noite, o dia dava últimos suspiros antes de descansar. No entanto, para aquela singular vez, ele não se permitiu uma calma transição, como sempre fazia antes e depois da cúpula. Em mais uma de suas dádivas, dessa vez merecida, do horizonte se via uma aproximação quase irreal e Casa amarela ganhava um motivo a mais para comemorar. Dos seus vários píeres, uma frota de barcos grandes e luxuosos vinham completar a resistência.
- Olá, Ronald, é muito bom ver você de novo... - Donibel disse, sendo o primeiro a cumprimentar os recém chegados, ainda embaraçados com a repentina mudança de suas vidas e princípios.
- É bom voltar a Casa amarela...- Ronald comentou, imediatamente autorizando que sua família desembarcasse.
- É, fazem quase 40 anos! - Sabrina respondeu.
- Eu sei... sinto muito pela demora... - Ronald, tomado pela nostalgia de voltar a um lugar tão cheio de história, respondeu.
- Bem, antes tarde do que nunca! - Sabrina, também tomada pela nostalgia, comentou. - Mas ainda assim é bom ver vocês... Não tinha hora melhor pra vocês chegarem!
- Digo o mesmo... vocês sempre foram bons em manter as coisas em ordem! Inclusive lutar! - Ronald respondeu, admirando ao fundo seu pessoal descarregar as coisas.
- E você também! Sempre teve o melhor gancho de direita! - Donibel respondeu.
- É, somos todos muito bons! - Sabrina respondeu.
De repente, num curto segundo entre os sorrisos do trio, o tempo retrocedia décadas, revelando um encontro. Há quase 50 anos atrás, os três jovens, que representavam cada um dos três filhos de Kristen, se reuniam depois de dias sob o céu avermelhado de bombas e tiros da Guerra de Ferro. Felizes de reencontrar com mísero pedaço da família, em meio ao caos da destruição de tantas outras, e vivos para lutar mais batalhas, eles prometiam jamais abandonar a formação. Agora, 50 anos depois, os três representantes, um filho de Aurora, um filho de Joffrey e um filho de Odin, se juntavam para repetir o feito, certos de que apesar de tudo, tinham cumprido a promessa.
- Queridos! - Kristen gritou, se apressando para receber os netos.
- Vó Kristen! - Os filhos de Odin abraçaram a senhora.
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