Tumgik
frequencia-de-onda · 2 years
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As gotas do mundo pingam, lentamente, enchendo um novo oceano. Entre o Atlântico e pacífico, reside o meu. Cautelosamente formado por todas as vezes que meu peito transbordou, alastrando seu mar salgado pelo meu rosto. Mas, sou filha de pescador e antes mesmo de falar, aprendi a nadar. Não nego, de vez em quando engulo um pouco d'água, entope um ouvido ou me machuco com alguma coisa que estava no fundo, escondido entre areia. Porém, ainda mergulho, porque mergulhar nas profundezas é sempre o primeiro passo pra voltar a superfície, também é o mais difícil.
Mar aberto, Flô.
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frequencia-de-onda · 2 years
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No meio da noite, mesmo contra a minha vontade, não consigo evitar pensar sobre você, como um arrepio incontrolável que sobe a minha espinha. O mesmo arrepio que se tornou natural desde que você se foi. Assim como as minhas noites, ironicamente, se consistiram em tentar lhe deixar ir. Porém, os resquícios do que não fomos me assombram, e na volta pra casa, apesar de não ser mais a pessoa que você leva até a esquina, o seu fantasma ainda me acompanha. Eu sei, patético.
As coisas que eu não consigo lhe dizer, Flô.
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frequencia-de-onda · 2 years
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Por alguns minutos, no caminho, quando abro a janela do carro e o vento começa a soprar os fios do meu cabelo. Eu começo a pensar sobre a fragilidade da nossa existência, o quão facilmente o fio da vida pode se arrebentar e o nosso amanhã é roubado do tempo. A morte, parece uma velha dívida que recebemos ao nascer, um limite, prazo. As quantidades de laços que fizemos serão irrelevantes, apenas alguns importaram de verdade. Mas ainda me questiono, no fim, quem vai passar por nossas mentes? Quais momentos vamos lembrar? Do que vamos arrepender? Eu confesso, não acredito que só ações valham, pra mim, as palavras não se perdem, tudo que dizemos fica, importa, porque muitas vezes, falar o que sentimos é a coisa mais difícil no mundo. A lucidez, se desvai calmamente como veio, o tempo passou, o céu azul se misturou com as folhas verdes vibrantes da terra no horizonte, enquanto o carro parava. Talvez a vida só valha a pena quando vivida com o coração.
Janela do carro, Flô.
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frequencia-de-onda · 2 years
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Meu bem, no meu peito reside, entre as costelas, tão perto do coração como possível, uma vontade de construir mundos inteiros e destruí-los três segundos depois. É que minha alma é pássaro solto e eu vou pra onde ela me levar, afinal, o amanhã pertence aos precavidos, não a quem se lança em qualquer brecha de loucura. Mas, não venha achando que eu me contento com pouco, porque comigo é tudo, desde o mais fervente amor até a mais tranquila solidão. Não se preocupe! Eu não espero que você se arrisque.
Meu bem, Flô.
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frequencia-de-onda · 2 years
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Eu me sinto vazia, como um poço sem fundo lotado de vários nadas eternos. Cada um organizado em uma caixinha, amontoados que nem tijolos, formando muros gigantes, impossíveis de pular. Não que eu tenha perdido alguma bola ou pipa do outro lado, foi pior, eu perdi a mim mesma.
Onde é que estou? Flô
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frequencia-de-onda · 2 years
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Tem dias, que as coisas ruins vêm de pé a pé, passo a passo, mas nunca só. Chegam devagarinho, como quem não quer nada. E a gente só percebe que ela invadiu a nossa casa, quando já fomos consumidos. Tão poeticamente como um omelete no almoço, depois de um dia longo no serviço. Restando somente a casca, a camada de proteção do ovo, quebrada e jogada no lixo. As vezes, eu sinto que tenho mais coisas em comum com um ovo, do que com o resto da humanidade. De qualquer forma, no final, prefiro triturar a casca e jogar na terra de algum vaso. Para que possam nutrir o solo na sua decomposição. Quem sabe? Talvez, no meio dessa tragédia, nasça uma plantinha.
Casca de ovos, Flô
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frequencia-de-onda · 3 years
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Os seus dedos são como floristas abrindo caminhos entre a minha pele, a cada toque eu floresço um pouco mais desde a última vez. Não consigo impedir, o gosto adocicado do errado parece certo, se os pensamentos se perderem o suficiente, dentro dessa bagunça que você cultiva em mim. E assim, delicadamente, as linhas inéditas são traçadas em direção a minha primavera. Por favor, não pare.
Você, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Os raios de Sol atravessam uma minúscula brecha na janela, tocando gentilmente o meu rosto e calmamente iluminando os cacos soltos no meu peito. Não quero mais tentar ser inteira, como um vaso que nunca caiu se despedaçando no chão. Eu não quero me arrepender de absolutamente nada na minha vida, só desejo acolher cada pedacinho de dor. Pois eu sei que não sou nenhum desses pedaços, mas eu não seria a mesma sem eles. A verdade é que eu não vou fingir esquecer alguma lembrança, até porque minha memória sempre foi uma das minhas melhores qualidades, mas não vou levar comigo o peso de dores passadas. Só carregarei amor! E no fim, com sorte, talvez eu seja só amor também.
Não vou esquecer, Flô
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frequencia-de-onda · 3 years
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Durante esses últimos dias tenho caminhado entre lacunas de palavras. Aqueles pequenos espaços vazios que impedem a conexão do passado com o presente. Meu estômago se contorce em uma reprovação ácida "onde estão as sentenças?". É como se eu tivesse suturado dores com álcool e o chão parece dançar uma música que eu não entendo a letra, como eu vou saber onde estou pisando?
Perdidas flores, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Em alguns momentos eu me sinto como se estivesse brincando de esconde-esconde comigo mesma. Mas, não quero encontrar uma parte de mim, não quero ter que encarar aquela pequena e vulnerável florzinha que eu tento fingir que não existe, talvez eu queira que não exista. Eu não gosto de quão assustada ela é, de quantos medos ela coleciona ou de quão facilmente ela murcha. Eu digo a ela "as pessoas não te entenderiam" "não cuidariam bem de você", então eu te escondo, conto até dez e finjo te procurar, quem escondeu, escondeu! Lá vou eu.
Esconde-esconde, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Você me perguntou se eu tinha medo da morte, eu não sabia o que te responder antes, mas acho que eu sei agora. Eu não tenho, pelo contrário, tenho medo da vida, mais especificamente de não aproveitá-la, de não amar as pessoas que eu quero amar, de nunca arriscar porque as coisas podem dar errado, de temer o que vão pensar de mim e de não dizer tudo aquilo que fica entalado na minha garganta como espinho de peixe. As vezes, eu acho que eu só tenho medo de não viver uma vida pela qual se vale a pena morrer. Então sim, você pode me chamar de "intensa" se quiser, acredite, não vai ser a primeira vez que eu escuto, mas eu simplesmente não vou gastar um segundo se quer dessa vida esperando alguma coisa acontecer.
Espinho de peixe, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Eu gosto de cartas. Eu gosto de imaginar os questionamentos torturantes sobre "Como começar?" "O que dizer?" "Será que está legível?". Assim como, me apaixono lentamente em cada borrado provocado pela tentativa inútil de apagar sentenças que não expressão o que realmente queria ser dito. Me seguro, para não sorrir descaradamente, pensando nos rascunhos amassados em pequenas bolinhas de confusão perto da lixeira. Talvez eu não goste das cartas afinal, mas da inquietação do escritor ao tentar encaixar em palavras sentimentos quase indescritíveis.
Com amor, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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O teu colo é o mais confortável para o meu coração partido, principalmente quando as lágrimas tornam a minha visão turva e o caminho parece um beco sem saída. Mãe, a senhora é uma das melhores coisas da minha vida. Desde criança, quando era um dia difícil e a senhora deitava na minha cama minúscula e cantava até eu dormir.
Eu tenho tanto medo de te perder, porque ninguém nesse mundo todo vai cuidar de mim como a senhora, mexer nos meus cabelos, cantar aquela única música de Natal, ficar brava quando eu não comer e sempre me ajudar quando a vida parecer pesada demais pra carregar sozinha. Eu posso nunca ganhar na loteria, mas eu sou a pessoa mais sortuda desse mundo todo, porque eu sou a filha da mulher mais incrível que eu já conheci.
Eu te amo, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Meu estômago é do tamanho de uma cidade, mas seus habitantes não são calmos, eles gritam, batem panela e esperneiam de fome. No mesmo instante que avisam, é fome de tempo, um tempo com prazo de validade, que não nutri o corpo, mas o consome. A cada mordida, mais fome e menos tempo.
Alimento que consome, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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As minhas costelas não são carcereiras dos meus sentimentos, não vou prender um minúsculo desejo se quer. E quando a dor vier, porque ela sempre vem, a porta vai estar aberta e eu não vou recebê-la com malícia, mas com a certeza de que não vou levar nenhum arrependimento desta vida, de que explorei cada momento e não me privei de nenhuma felicidade com medo de uma visita.
Bem vinda, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Os olhos desciam aos pés, e a voz se encaixava nos becos marcados da sua testa. Naquele instante, a pele que lhe recobria as memórias, se queimava pelo ardente amarelo do dia. Ao mesmo tempo cujo o molde, que o mantinha em pé todo amanhecer, era derretido pelo vento dos ponteiros, pingando lentamente por seu antebraço, como sorvete de criança.
Os sintomas dos dias, Flô.
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frequencia-de-onda · 3 years
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Meus pés reclamam devido ao cansaço, tão docemente como imploram pelos lençóis distantes. A porta está trancada e eu perdi as chaves em algum canto escuro por aqui. A ventania gelada canta sobre tempestade. Me lembro dos seus passos curtos, vidro quebrado e das suas batidas. Não posso abrir! Perdi as chaves.
A casa dentro de mim, Flô.
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