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nanagoeswest · 9 months
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arquipélago nana
Há um dizer qualquer, do qual não gosto em particular, que diz “o homem não é uma ilha isolada”. Discordo. Eu sou uma ilha, nem que seja na minha mente. Ilha deserta, inabitada. Há sossego na ilha. Respira-se fundo na ilha.
Gosto da quietude, gosto de solidão na medida certa. Penso que um dos maiores desafios de viver em sociedade é efetivamente viver em sociedade. Saber lidar com os outros, que por vezes são-nos tanto de estranhos como instáveis. Nascemos a achar que a nossa percepção é a medida a usar na racionalidade das pessoas. Mas, se caímos nessa falácia na juventude, a entrada na vida adulta traz o acordar e aceitação que a vida é um pouco mais subjetiva do que acreditávamos possível. Este palavreado todo que acabei de aqui depositar é, basicamente, um “não controlamos os outros”. Uma vez aceite isto, voamos sem regresso para a nossa ilha privada. Deixamos de querer saber tanto, as coisas não nos afetam como antes. Sentamos na areia fina da ilha, sem preocupações.
A ilha, que nos pertence, é desenhada à nossa vontade. Se não gostamos da calmaria, da reflexão, então a ilha é de chão rochoso e o tempo, tempestuoso. A ilha ressente quem dela não gosta. Se dela gostamos, então preparamo-nos para umas férias intermináveis: a ilha é de água límpida, o tempo “sempre quente, mas não muito quente”, há árvores que projetam a sua grandiosidade em sombra, para que nos possamos resguardar.
De certeza que já se depararam com a típica pergunta “o que levarias para uma ilha deserta?”. Eu abriria o bolso do Doraemon e punha lá umas quantas coisas. Para comida, sushi de salmão e um eventual pacote de Oreos, para alimentar a criança interior. Livros sem fim para ocupar os dias com algo. Um cubo mágico para desafio intelectual, nunca fiz um, portanto parece-me apropriado. Os meus óculos para conseguir executar as anteriores atividades. Muitas camisolas compridas. Elásticos para o cabelo. Papel e caneta de cor preta. Uma câmara de filme instantâneo. Talvez com tudo isto, a minha ilha fosse um pouco desarrumada, culpo a alma que é maximalista. Monto um refúgio paradisíaco onde a única convidada seria eu mesma.
Se me permitissem animais na ilha, então levaria a Lira, para criar o seu pequeno caos de cachorra. Receando, no entanto, que a Lira tenha a sua própria ilha de cão, inventaria outros animais para uma visita ocasional. Inspirada pela Ilha dos Porcos nas Bahamas, teria na minha ilha não porcos selvagens, mas sim, porquinhos-da-índia. A ideia fascina-me, penso que seriam bons vizinhos. Haveriam borboletas pelo ar todo o tempo. Carpas e estrelas do mar na água translúcida. Por alguma razão, a água é magicamente compatível com ambas. Na costa encontraria búzios para apanhar, como nos antigos tempos de miúda. Sonhei que, nesta ilha, se afastasse a areia com os pés, encontraria selenites, quartzos e ametistas. Como tudo isto existe em simultâneo, não me cabe a mim saber. Pois existo nesta Terra não sabendo o porquê e o mesmo se aplica à ilha que habito na minha cabeça.
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dannybunny-br · 1 year
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Solitude
(Sol) itude: Um feixe de luz de dentro pra fora.
Que saudade tenho sentido de mim. Mas a cada dia que passa, em curtos passos, mas sempre em frente, se faz cada vez mais verão nesse inverno indolente.
Eu que vivo no descompasso desse mundo, venho florescendo em minha estação particular na mesma medida que aprendo.
E se a (prendo).
Agora liberto!
Deixar pra trás ou escolher exatamente o galho que é preciso podar, é a consciência máxima que nos permite criar raízes firmes em solo fértil. Quem pensa que isso é fácil, está completamente desconectado e roubado de si. Estar em si é resultado de um processo complexo e diria até de uma auto flagelação. Mas que, nesse caso, não o flagelo pela culpa, mas pela libertação. Dói e ainda exige manutenção.
Afinal, vivemos de ciclos, vivemos de fases, vivemos de estações. A efemeridade é a marca de tudo que está vivo, de tudo que é orgânico. Tudo no mundo é transformação!
Se felicidade passa, tristeza também passa.
E é nesse momento que enxergamos luz.
O feixe que esquenta a alma e erradia de dentro pra fora.
A força que que abre o broto pra renascer.
Estar em si é florescer!
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Eu colapso toda vez que perco a dominância dos meus sentimentos. O descontrole interno é letal e me deixa à deriva, morrendo aos poucos no meu oceano particular de caos. Nem sempre me atrevo a tentar nadar contra as correntes; às vezes apenas desfaleço silenciosamente até meu coração parar de palpitar. Confesso que as vezes só queria desligar, para de pensar, só um pouquinho só quero parar um minuto, silenciar os gritos ecoando as vozes destoando em minha cabeça e sentir o silêncio, mar calmo... Mas sempre que acredito que vou conseguir alcançar a superfície e respirar, outra onda e eu colapso novamente...
Como aqueles filmes totalmente previsíveis, sei prever em meios cenas diferentes tudo que está por vir, (mais uma onda).
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deixaram · 10 months
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o que mais doeu em mim não foi você ter ido embora, mas sim a forma de como tudo aconteceu.
— deixaram
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cuidado-fragil · 1 year
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tenho medo de me abrir e mostrar onde dói e a pessoa bater justamente ali. minha dor não deveria servir de alvo para os outros descontarem o ódio que guardam em seus corações.
— cuidado-frágil
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encorajador · 8 months
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normalizem mudar e não ter que ficar se justificando toda vez que isso acontecer.
— encorajador
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colapsointerno · 9 months
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nenhuma dor se mede, apenas se sente.
— colapsointerno
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segundachance · 1 year
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segunda chance
a oportunidade para recomeçar deve ser aproveitada e abraçada com força e vontade. ninguém sabe prever se aquela chance será a última; na verdade, ninguém sabe de nada. tantas pessoas jogam fora as chances recebidas, e também há muitas que se arrependem pelo resto da vida por tamanho desperdício e autossabotagem. sim, desperdício de chances é um dos piores exemplos de como se autossabotar. não perca o privilégio de poder recomeçar e fazer tudo diferente, não perca quem muito te ama, e que por isso, te deu mais uma licença para tentar de novo, de tentar fazer dar certo. agarre e não solte por nada. aproveite! segundas chances não foram feitas para te tornar um viciado em erros e acomodado com eles. elas servem para você se tornar um ser humano melhor; servem para que você sempre dê o seu melhor, sempre. uma segunda chance é uma porta aberta para outras, é uma esperança. em muitas das ocasiões será você quem se dará uma segunda chance, e ela dependerá única e exclusivamente de você. será o mesmo que se perdoar por tudo, então nunca se prive disso! recomece onde achou estar tudo perdido, recomece onde disseram ser o seu fim.
— segundachance
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substanciado · 10 months
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você não perde nada por ser uma pessoa incrível;
você não perde nada por ser uma pessoa incrível;
você não perde nada por ser uma pessoa incrível;
você não perde nada por ser uma pessoa incrível;
você não perde nada por ser uma pessoa incrível;
você não perde nada por ser uma pessoa incrível;
repita isso até entrar na sua cabeça...
— substanciado
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cartasnoabismo · 11 months
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eu serei o teu amor agora e também quando tudo em tua vida estiver em ruínas, porque o amor tudo suporta. amar é ser suporte, amar é se importar e ficar.
— cartasnoabismo
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dissipou-se · 1 year
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uma pena que a nossa vida juntos tenha sido apenas um pequeno conto de capítulo único.
— dissipou-se
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nanagoeswest · 9 months
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medo de dizer
Há que escolher bem as palavras. Não pensar duas vezes, mas sim dez, no que se vai dizer. Bem vindos aos tempos de hoje. A nossa sensibilidade coletiva evoluiu tremendamente e agora somos todos vítimas e culpados pelo clima de censura.
Para quem escreve, ter “medo de palavras” é constrangimento meio que vergonhoso. Falamos, comunicamos, temos voz. As palavras são crianças da humanidade. Sabemos que há palavras e palavras, que há umas próprias e outras impróprias. Na sua obscenidade ou inconveniência, ligamo-las a uma falha na educação. Há que educar. Como na minha infância, quando os meus pais repreendiam-me por repetir um palavrão que eu não sabia que era palavrão. Como quando, um dia decidi recriar em papel um graffiti pelo qual passava todos os dias, e a minha educadora disse que era um “símbolo feio” e que não o devia fazer (era, na verdade, um dos maiores símbolos de ódio). A pequena Ana não sabia a conotação negativa das palavras nem dos símbolos, para ela pairavam numa neutralidade, sem significado. Mas houve quem lhe explicasse, não culpando a curiosidade da experimentação. Houve essa paciência.
Como seres vivos cada vez mais ligados, com maior consciência de outras existências, aprender e educar deveria ser uma atividade obrigatória da democracia. Independentemente da idade. No entanto, paira no ar um ambiente de tolerância zero. Ao mínimo deslize, parte-se logo para o castigo. “Cancelamos”. “Cancelamos” porque agora não passamos de subscrições uns dos outros. “Não se esqueçam de seguir-me nas redes sociais”, diz a vozinha com o texto já decorado, pois a verdadeira moeda do digital são os seguidores.
Já o “inimigo” do digital são os algoritmos. Falam-se muito mal dos algoritmos, pobres coitados. Mas, o que importa a este texto são os filtros que são as redes de pesca dos algoritmos. O que começou por ser uma mãe carinhosa e protetora, virou uma mãe-zilla. Já não importa aos filtros se o que se diz é positivo ou negativo, se a palavra é feia faz-se má cara. Daí ter aparecido a tão famosa palavra “unalive” (“não vivo”, “não viver”, em português?). Tem um certo ar poético, não vou mentir, embora a sua anormalidade faça-me rir. Temos medo da morte, algoritmo? Morrer, morto, matar. Acionemos as bandeiras vermelhas. Eu cá adoro expressões de grande dor. Por exemplo, “matar a fome” e “a morte do artista”. Não me venham dizer que a “não vivência da fome”, tem murro estrondoso no estômago, porque não tem. Este contorno aos filtros cria lacunas comunicacionais. Querem-se partilhar experiências negativas - porque viver é uma bonita vontade de comunicar -, contudo o filtro é hipersensível, então - ideia genial! - chamamos-lhe por outro nome! O resultado? Péssimo. Exemplo disso é o incidente “Julia-Fox-mascara”.
É esquisita esta autorregulação que criámos para nós mesmos. Queremos falar, mas sentimos aversão a certas palavras. Instalou-se este medo. Vê-se uma palavra, parece uma aranha peluda. Acumulamos traumas e tensões desnecessariamente. Mecanismos de defesa para que a nossa existência na esfera pública não seja posta em causa. As palavras não são o problema. O problema é a ignorância e/ou a falta de correção educativa. O problema é de tanto querer proteger, chegámos ao ponto de recalcar a memória. Não vale a pena vivermos num mundo sem esta memória, num mundo de ilusão. O resultado seria trágico, pois repetiríamos os erros do passado. Preferia viver num mundo de troca e partilhas de ideias, para que de uma vez pudéssemos todos caminhar na mesma direção. Cancelar e apagar, temo, não serem a solução.
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dannybunny-br · 1 year
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Tumblr media Tumblr media Tumblr media
► Aquilo que apenas parece um simples café da manhã, hoje me serve de banquete!
Não têm sido um período fácil!
Não sei ao certo onde foi que me perdi, apenas senti a avalanche dos fatos que me embargou.
Quanta energia tenho despendido pra conseguir derreter o gelo que remanesce. Pra sentir, mais uma vez, no corpo, na minha pele, no meu sangue e nas entranhas, toda a potência chamada vida.
▻ Thanatos na Mitologia Grega era a personificação da morte. Com coração de ferro e as entranhas de bronze. Na psicanálise essa energia de Thanatus é o que chamamos de pulsão de morte ou pulsão agressiva de morte (desprazer), é o princípio profundo do desejo de não separação e de retorno à situação uterina ou fetal, que deseja o repouso e a aniquilação das tensões. Está vinculada às pulsões da morte, pois somente esta poderá satisfazer o desejo de equilíbrio, repouso e paz absoluto. (Que ilusão!)
► Mas segundo meu psiquiatra; “se você não estranha o mundo, talvez você precisa se conhecer melhor. Pensar sobre si no mundo é viver um estranhamento. É ver algo faltando!
Algo incoerente, algo diferente”.
E eu, questionadora que sempre fui, quando não questiono as coisas, as coisas questionam à mim, duramente. Me passam a rasteira e fico submersa na realidade dos fatos.
▻ Já Eros na Mitologia Grega representa a paixão, o amor à vida. Na psicanálise, princípio do prazer, pulsão de vida. Tudo que busco, questionando ou questionada, nesses últimos tempos.
Pois a morte não é a maior perda da vida. Mas o que morre dentro de nós enquanto vivemos.
► E o quê tem findado em nós!?
▻ Se, “Penso logo existo”, como disse Descartes, (um filósofo que questiono),
“ Penso, logo desisto”, eu diria.
Afinal, existir é difícil porque resistir tem sido cansativo. E muitas vezes adoece! Ô se adoece!
► Hoje me recolho como migalhas pelo chão.
Entre diagnósticos, internações, remédios, terapias, tempo… Ah! O tempo!
Aos poucos vou me libertando do gelo que adormece. Encarnando e animando em meu próprio corpo e cabeça num espaço em que pequenas conquistas são motivos de comemorações.
Como a fome que inspirou a escrever meus “versos”.
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poarus · 9 days
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Se alguém te perguntar
Ainda te lembras de mim?
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deixaram · 11 months
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sinto sérias saudades de conversar comigo...
— deixaram
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cuidado-fragil · 10 months
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pessoas frágeis são as mais solitárias, porque ninguém gosta de ter uma bomba-relógio sempre por perto. fragilidade gera instabilidade e instabilidade é gatilho para o caos.
— cuidado-frágil
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