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Um dia de Belchior
7 horas. Belchior acorda cedo, não reconhece o ambiente. Sua jaula está mais suja que na noite passada. Sem fezes ou outro tipo de secreção, talvez uma caixa de pizza, algumas bitucas de cigarro em uma lata de Polar ainda na metade, quente e já choca. No chão algumas recordações de algum relacionamento passado: Roupas, desenhos, colares, vidros de perfume, tampas de bebidas... Belchior se pergunta que tipo de sádico guarda tantos objetos de uma vida já inexistente. Faria mais perguntas se já não tivesse atrasado.
8 horas. Café no bar da esquina do trabalho com seu melhor amigo: “Bigode, um preto?” diz o balconista sem o menor clima de amizade, já apressando Belchior em sua escolha já rotineira e previsível. “Quer a coxinha de hoje então volta amanhã”. Belchior sabe que aquilo foi uma falta de respeito, mas para Belchior é quase um conselho de amigo. Vai ao caixa e aproveita para comprar um cigarro barato e algumas balas de amendoim, tão rejeitadas quanto Belchior.
9 horas. Que tipo de jaula é um escritório? Animais cercados em suas baias, pouco interagindo com o vizinho, seguindo a linha reta como cavalos de charrete. Levanta a cabeça, digita, imprimi, toma café e mija. Começa outra vez. Pausa para o almoço com uma falsa interação entre amigos de trabalho que combinam uma “gelada” às 17. Engole a comida, já é hora de começar tudo outra vez.
17 horas. Música alta, conversa alta, assunto sem sentido. O ambiente cheira cigarro mas não se pode fumar. Belchior não quer saber quanto gasta determinado modelo de carro ou quem transou com quem, seja na novela, BBB ou vida real, a verdade é que ele não quer ser social, Belchior não queria estar ali.
20 horas, finalmente retorna para sua jaula. Limpa tudo que não serve mais, abre uma polar e abre seu pulmão com um belo trago. Descongela qualquer coisa, morde, percebe que não é gostoso mas mesmo assim continua comendo. Mais um cigarro, liga o som. Tim Maia grita enquanto ele fecha os olhos para beber algo forte para aguentar o peso. No segundo gole já pensa na ressaca de amanhã. Na décima canção o pobre Belchior apaga sem saber para onde ela foi ou se Tim recebeu uma dica ou uma pista. Começa tudo outra vez.
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Talvez
Talvez eu seja aquele pé de meia sem par O último palito de fósforo Aquele cigarro do fim do maço O peixe beta solitário do aquário.
Talvez eu seja o sorriso na tristeza Uma lembrança boa em meio a tragédia O dia de sol no meio do inverno O cafuné debaixo daquela árvore em um sábado
Talvez eu seja minha própria comunidade Uma solidão em meio ao coletivo Ou quem sabe um coletivo de solidão
Talvez eu seja a página em branco O idioma indecifrável O ímpar que nunca será par.
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Uma vida que se vai como fumaça. Sem matéria, sem apego, sem lembranças.
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Não sentir saudade é a mesma coisa que assumir que não valeu a pena.
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Ignore o seu preconceito político e pense em alguém que perdeu o amor da sua vida.
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Mais triste que perder alguém é perder uma música.
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Queria ser Belchior
De vez em quando eu queria ser o Belchior, juntar as coisas e simplesmente sumir. Sem vestígios, sem amigos, sem lembranças e de preferência sem matéria do fantástico. Só eu e meu novo amigo, o recomeço. 
Vamos, me ajude com as malas! Dobre essa mágoa, guarde nas maiores malas, pois precisaremos de muito espaço. Os amigos falsos eu não levarei, deixarei aqui no portão junto com a reciclagem, para quem não tem nada, metade é dobro.
Pegue esses amores, vamos despachar eles para os respectivos lugares. Este aqui vai para Cuiabá, o frete vai por minha conta, sejamos gratos pelos sorrisos e lágrimas empacotados. Este cheio de sardas você manda por um taxista, mas manda em uma caixa grande, muitas lembranças e a família vai junto, não esqueça de pedir um recibo. Este de manchas roxas você deixa aqui, não sei se tô pronto para desapegar dele, se um dia voltar eu penso no que fazer com o mesmo.
Hora de tomar um banho, colocar uma roupa surrada, deixar o bigode, comprar óculos escuros e um boné. Sortear um destino e partir. Se um dia enjoar de lá como enjoei daqui, pode ser que eu volte, ou quem sabe eu me afaste mais daqui. Nunca se sabe o destino do Belchior.
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