Capítulo 2, Dylan H. Jensen
Detenção? Durante toda sua vida Dylan manteve um histórico perfeito de não se atrasar, não faltou sem atestado médico um dia sequer, nunca nem viu o interior da direção.
Mas agora, nada disso importa, graças ao valentão Caíque ele foi injustamente castigado, se encontrando agora na porta da detenção com esse monte de selvagens. Jake o encarava de um jeito estranho, talvez ele estivesse com raiva pelo que aconteceu, MESMO NÃO SENDO CULPA DELE!
Ao entrar na sala, Dylan passou o olho por cada uma das pessoas, ficando poucos segundos hipnotizado por Helena Neuman, uma linda ruiva extremamente conhecida por todos ali. Os olhos verdes da popular garota o prendiam por diversas ocasiões, ela era uma cliente do spa da sua mãe, evidentemente, Dylan passou a pensar “O que essa beldade fez pra merecer estar aqui? Provavelmente foi um mal entendido”.
Passando os olhos para a próxima garota, era Elizabeth DuVerney, muitos diriam que era a mais linda da escola, mas Dylan só tinha olhos para Helena, a melhor amiga de Beth.
Elizabeth tem um cabelo longo e liso, um corpo esguio e um sorriso perfeitamente alinhado. Provavelmente seria uma modelo no futuro, pelo menos era a opinião do jovem Jensen.
Dylan parou de encarar as amigas conversando e viu rapidamente Lindsey Shelley, uma garota conhecida por ser avoada, nem se preocupou em analisar demais a loira e o que ela fazia. Vendo Milena Mahara, o rapaz abaixou a cabeça e se sentou perto do professor, sabendo que Milena era o tipo de pessoa que odiava muitas coisas e não gostava de nada em particular, apenas em fazer a vida dos outros miserável.
— Vai comer outro Big Mac, gordinha? — A irritante voz que dizia palavras cruéis para Dylan constantemente agora se dirigia a uma menina negra com seus cabelos longos e volumosos que estavam trançados em dreads.
Embora não fosse uma modelo como Beth, essa garota possuía uma beleza singular que não passava despercebida. Seu sorriso sarcástico exibia dentes alinhados perfeitamente e seus olhos encarando Caíque brilhavam não com ódio, mas com um sentimento de superioridade.
Dylan tinha certeza que ela não se sentiu diminuída pelo troglodita, já que a garota o xingou de analfabeto e deu o dedo do meio para o garoto, antes de sair da sala.
E sem nenhum motivo aparente, Jake se levantou e começou a caminhar, não antes de seu amigo Dylan o segurar pelo braço, questionando para onde ele iria.
— Lá fora. — Respondeu de maneira bruta, Dylan não podia acreditar que Jake estava realmente culpando a vítima? Ele foi provocado pelo Caíque, não tinha feito nada de errado.
Dylan só deu de ombros, ele não ia ficar mais tempo de detenção pra tentar conversar com o amigo e esse novo desejo repentino de finalmente tentar conversar com alguma pessoa.
— Olha, os esquisitos estão se conhecendo melhor. — Patrick Jeredy riu da própria “piada”, mas recebeu uma resposta pouco agradável.
— Cala a boca, riquinho. — Helena se fez presente, defendendo os meninos, além de linda, a ruiva tinha os olhos verdes mais gentis do mundo. — De fato, o clima ficou mais leve depois que os satanistas saíram.
— Helena, já chega. — Josh respondeu, com um tom de voz cansado. Dylan contraiu a cara com o jovem atleta cortando a garota de maneira tão grossa.
— É bem o seu tipinho proteger esse tipo de gente. — Caíque se fez presente e o jovem Jensen respirou fundo com medo de olhar para trás e ver essa cena se repetindo.
— Cara, fica quieto e não me enche! Eu já quebrei seu nariz, não me faça quebrar o resto da sua cara. — Josh respondeu, encarando Carlos, que se levantou, caminhando na direção de Josh, que o encarou de frente, quando o valentão tentou o intimidar, empurrando o atleta ao encostar as testas, mas o jogador de futebol nem se moveu.
— Gente, vocês já brigaram, é por isso que estamos aqui agora. — Thomas Tanaka se levantou, mais uma vez tentando se impedir a confusão que ia começar.
Então Dylan ouviu um barulho de explosão e sentiu o impacto no chão, por um breve momento se virou para os outros alunos, todos confusos, Caíque e os outros que antes estavam em pé, se encontravam caídos ao chão.
Então correu para fora da sala e foi esbarrado pelo professor da detenção, que passou por Jake e a garota com ele, indo embora da escola.
— Dylan, que porra é essa? — Jake correu até o amigo com um olhar espantado, nunca viu tamanha emoção no olhar do amigo. Dylan tentava entender o que aconteceu para explicar ao amigo, mas ele mesmo não sabia.
— Por que você está de batom? — Foi o melhor que conseguiu pensar, mas era uma dúvida completamente válida, já que Jake nunca usou nenhuma maquiagem.
— Ei, vocês! Vão para suas salas e fiquem lá! — O zelador apareceu correndo e trancando a porta perto de Jake. — Vão logo, lá fora não é seguro.
— E quem vai nos obrigar? — A garota perguntou, desafiando o zelador que só estava cumprindo suas obrigações.
— Ninguém pode sair! — Gritou David Turner, o diretor. Suas palavras passavam pelo bigode bem aparado que o dava um ar de seriedade. — Não podemos permitir que ninguém saia até recebermos ordens do estado. Pode ser um ataque à cidade, e esta escola é uma estrutura forte.
Dylan encarava Jake e Janet em choque, tentando processar o que acabara de acontecer. Uma explosão, tão perto da escola... Era difícil acreditar que algo assim poderia acontecer em seu próprio bairro.
— O que está acontecendo? — Perguntou Dylan, sua voz trêmula de ansiedade.
— Não faço ideia. — Respondeu Jake, olhando ao redor com nervosismo. — Não vi nenhuma notícia antes de sair de casa
Janet permaneceu em silêncio, sua expressão tensa enquanto observava a movimentação ao seu redor. Dylan ponderava se os alunos deveriam seguir as ordens dos adultos competentes da escola.
O diretor David Turner respirou fundo, tentando manter a calma diante da situação caótica.
— Professor Ibrahim! — Ele chamou, sua voz ecoando pelo corredor. — Por favor, acompanhe os alunos até uma sala segura. Precisamos garantir que todos estejam protegidos.
O professor de história, George Ibrahim, um homem negro alto, forte e imponente, avançou com confiança em direção ao grupo de alunos. Em situações normais, Dylan acreditava que o professor tinha um senso de humor notável, mas agora seu rosto estava sério, refletindo a situação. O professor Ibrahim usava uma roupa social com três botões abertos.
— Vamos, pessoal. — Disse o professor Ibrahim com uma voz firme, mas tranquilizadora. — Sigam-me até a sala. Precisamos manter a calma e nos manter seguros.
Enquanto os alunos se acomodavam na sala, o professor Ibrahim fechou a porta atrás deles e tomou seu lugar na frente da classe, pronto para manter a ordem e proteger seus alunos da melhor maneira possível.
O Professor Ibrahim entrou na sala de aula seguido pelos alunos, incluindo Caíque e os outros que estavam na detenção anteriormente.
— Professor, o que está acontecendo lá fora? Por que não podemos sair da escola? —
Assim que todos se sentaram, Caíque levantou a mão e começou a fazer uma série de perguntas ao professor.
— Houve uma explosão na rua. Não sabemos o que está acontecendo, mas parece sério. — Jake respondeu, encarando o chão como se todas as respostas que precisasse estivesse ali.
Um murmúrio de medo se espalhou pela sala enquanto os alunos absorviam a notícia. O medo estava palpável no ar, mas o professor permaneceu calmo e controlado.
— Escutem, todos! Entendo que todos estejam preocupados, mas estamos em segurança aqui na escola. Vamos aguardar por mais informações e confiar que as autoridades estão cuidando da situação lá fora. Enquanto isso, vamos manter a calma e esperar tudo isso passar.
Dylan percebeu uma aura de calma se espalhando entre os alunos. O professor Ibrahim se sentou, cruzando as pernas e tirando o próprio celular do bolso.
Depois de meia hora de inquietação, com os alunos mexendo freneticamente em seus celulares em busca de notícias, o diretor David Turner entrou na sala com uma expressão grave. Ele segurava o tablet oficial da escola.
— Alunos, recebemos instruções do governo através do canal de emergência. — Anunciou o diretor, sua voz carregada de seriedade. — Fomos orientados a nos mantermos trancados, evitar o uso desnecessário de energia e aguardar um resgate. A cidade está em lockdown completo, sem exceções, não podemos voltar para casa.
Jensen respirou fundo, sentindo um aperto no peito, não conseguia regular sua respiração e muito menos forçar suas mãos a parar de tremer.
— Entendo que isso pode ser assustador, mas devemos confiar nas autoridades para lidar com a situação. Nossa prioridade agora é permanecer seguros e seguir as instruções. — Disse o professor Ibrahim, ficando de pé.
— Precisamos ficar unidos como uma comunidade escolar e seguir as orientações do governo. Vamos fazer o nosso melhor para garantir que todos permaneçam seguros e protegidos até que seja seguro sair. — O diretor complementou, passando seu cabelo para trás, exibindo as duas entradas no seu cabelo.
Só restou aceitar a situação, não tinha nada a se fazer, os professores eram os adultos e aqueles que tinham responsabilidade de cuidar dos jovens, por mais que todos sentissem saudade de casa e daqueles que amam… Pelo menos isso que se passava na cabeça de Dylan H. Jensen.
— Bom, obrigado… Mas eu vou para minha casa. — O maldito do Jake Wilson se levanta e decide ir contra a maré, sendo impedido pelo professor Ibrahim. — Eu não estou interessado em ter uma aula de história então me dê licença.
— Claro, assim que o lockdown acabar eu deixo você ir para onde você quiser. — O professor cruzou os braços encarando Jake com um certo desdém. — Mas até lá, eu duvido que você passe por mim.
Jake respirou fundo e encarou o professor Ibrahim, travando o maxilar com as mãos fechadas e se inclinando na direção do adulto, estava se coçando para começar uma briga com ele, mas pensou melhor ao ver que o professor não estava nem um pouco intimidado.
— Agora que já nos entendemos, vamos buscar os colchões do ginásio para podermos dormir. — O diretor Turner se pôs a frente da turma, levantando as mangas e andando para fora da sala. — Eu vou ver o resto da segurança da escola.
— Jake, posso falar com você por um momento? — Jake olhou para o professor com cautela, lembrando-se da tensão que havia entre ele.
— Claro, professor Ibrahim. O que deseja? — No entanto, ele se aproximou.
— Eu só queria dizer que estou orgulhoso de você, Jacob. Sei que as coisas ficaram um pouco tensas entre nós na última vez, mas você mostrou coragem ao se impor. E mais importante ainda, você soube quando parar. Isso é uma qualidade admirável. — Dylan viu seu amigo ficar surpreso com as palavras do professor, não esperava ouvir um elogio vindo dele depois do incidente anterior.
— Obrigado, professor. — Jake colocou as mãos no bolso e parecia… Tímido?
— Eu sei, Jake. E você não causou. Às vezes, é necessário saber defender seus limites. Só lembre-se de escolher suas batalhas com sabedoria. — Ibrahim colocou as mãos no ombro do garoto e se afastou.
Enquanto isso, Jensen e os outros alunos começaram a conversar entre si. Discutindo sobre o que poderia estar acontecendo lá fora e o que deveriam fazer em seguida.
— Acho que deveríamos seguir as instruções do diretor e ir buscar os colchões de ginástica no ginásio. — Milena surgiu do nada.
— Concordo. Pelo menos teremos algo para nos manter confortáveis enquanto esperamos por mais informações. — Elizabeth concordou sorrindo, o grupo se dirigia ao ginásio, num silêncio perturbador.
— Ei, Josh, você não passa de um perdedor, sabia? Eu podia te descer a porrada agora e nada ia acontecer.. — Carlos Henrique se fez presente, irritando a quase todos, especialmente Josh.
— Cala a boca, Caíque. Você só sabe falar, mas na hora de agir, é um covarde. — O atleta havia quebrado o nariz do dito cujo, afinal.
— Ei, Beth, por que não damos uma volta depois disso tudo? Vai ser divertido, prometo. — Caíque decidiu não responder o atleta, se virando para a linda modelo da escola.
Elizabeth simplesmente virou a cabeça, ignorando-o completamente, e continuou sua conversa com a mais que perfeita Helena.
Enquanto isso, Dylan observava Jake, notando que ele estava particularmente quieto naquela situação. Além disso, ele percebeu algo curioso: o batom que ele havia questionado antes que estava nos lábios de Jake era da mesma cor que o usado por Janet.
— Jake, você está bem? Parece um pouco distraído. — Dylan se aproximou enquanto o amigo tirava sua jaqueta para se preparar e puxar cada colchão.
Jake apenas grunhiu e balançou a cabeça positivamente, era um rapaz quieto comumente e mesmo nessa situação da explosão e lockdown, ele continuava calmo.
Dylan apenas sorriu e se manteve quieto, sabendo exatamente o motivo do amigo estar tão alegre, Janet era uma moça bonita, mesmo o tipo de Jensen sendo mais ruivo.
— Você precisa parar de se fazer de sonsa, garota. — A voz de Natasha tirou Dylan dos seus pensamentos ao gritar com sua irmã.
— Garota, me erra! Eu fiquei de detenção por sua culpa. — Devíamos ser irmãs, mas você é uma piranha egoísta babaca.
— Chega! Parecem crianças brigando no parquinho. Vamos logo pegar esses colchões. — Jake interrompeu a discussão das gêmeas, chamando a atenção delas para a tarefa em mãos. Apesar de não serem amigos próximos, ele conhecia o suficiente de cada uma para saber que a briga estava prestes a se intensificar.
Natasha e Naomi trocaram olhares irritados, mas decidiram deixar a discussão de lado por enquanto, concentrando-se em ajudar Jake com os colchões, levando até a mesma sala da detenção.
— Nat, Dylan. — Jake chamou a dupla e se afastou do grupo.
— O que foi, moleque? Parece que viu um fantasma. — Natasha respondeu cruzando os braços. Jake por sua vez respirou fundo antes de falar, tentando organizar seus pensamentos.
— Eu... eu beijei a Janet. — Disse com uma feição desconfortável. Dylan encarou os olhos de Natasha Davis, vendo sua reação de surpresa espelhada.
— Eu sabia que tinha algo estranho no ar. Desde quando vocês dois… — Jensen começou, porém o amigo o interrompeu.
— Foi só um impulso, eu não sei explicar direito. Estávamos na detenção, e aconteceu… Mas depois caiu uma bomba na cidade e a gente não conversou mais. — Jake parecia bastante fora de seu lugar, sua postura se assemelhava a de um animal em uma jaula.
— Isso é... inesperado. — Natasha começou. — E como ela reagiu?
— Ela... ela devolveu o beijo. Parecia... gostar. — Wilson respondeu.
— E agora? O que você vai fazer? — A delinquente se encostou no chão e tirou um cigarro para acender.
— Eu não sei. Acho que preciso de um cigarro… — Jake pegou um da garota e eles começaram a fumar.
Dylan por sua vez se afastou, caminhando sem rumo pela escola com vontade de tossir por conta do tabaco que eles fumavam. Logo ele passou pela sala do diretor e ouviu uma conversa dele.
— Frank, George, obrigado por virem tão rapidamente. Precisamos discutir o que aconteceu lá fora. — Dylan não queria, mas acabou por ficar lá, em silêncio.
— Claro, diretor Turner. Estou aqui para ajudar no que for necessário. — A voz do zelador Johnson se fez presente, mas Dylan não ousou espiar na janela.
— Depois da explosão, houve relatos de mutações estranhas entre os humanos na rua. Não sabemos explicar exatamente o que está acontecendo lá fora. — A voz imponente do diretor era confiável, mesmo o jovem Jensen estando em choque com essa afirmação… Mutações? Isso só podia ser piada.
— Como assim mutações? Que tipo de mutações? — Sim, o professor Ibrahim estava lá, como Dylan esqueceu um homem desse tamanho? Ele estava em silêncio, mas estava lá.
— Não temos detalhes precisos ainda, mas parece que alguns estão manifestando um comportamento agressivo e incomum, com uma força sobre-humana ou até mesmo mudanças físicas. — David Turner não era um homem de fazer piadas com coisas sérias, então só restava aceitar aquilo como verdade.
— E o que faremos? — A voz do zelador estava pacífica, como se fosse só mais um dia da semana e nada de novo ou perigoso estivesse acontecendo ao seu redor.
— Por enquanto, só nós três sabemos disso. Não podemos criar pânico entre os alunos ou outros funcionários. Precisamos manter a calma e agir com cautela. Infelizmente, não sabemos como serão os próximos dias. — O diretor se levantou da cadeira, Dylan soube pelo barulho de seus passos. — Mas devemos manter a ordem, ninguém sai da escola e NINGUÉM entra, nossos alunos são a prioridade e nenhum mal pode recair sobre eles… Em tempos difíceis muitos homens decidem saquear ou até pior e nós não podemos permitir isso assolar nossos alunos, entendido?
Um comandante, era isso que Dylan H. Jensen via no diretor, talvez anteriormente ele seria apenas um educador, um jogador de xadrez, mas agora ele era um comandante distribuindo ordens para seus soldados.
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