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#falsa loura
framesdump · 3 months
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Fake Blonde (Falsa loura, 2007) Dir. Carlos Reichenbach
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celestialmega · 2 months
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Falsa Loura by Carlos Reichenbach.
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filmes-online-facil · 2 years
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Assistir Filme Falsa Loura Online fácil
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Falsa Loura - Filmes Online Fácil
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Silmara (Rosanne Mulholland) é uma bela operária que sustenta seu pai, Antero (João Bourbonnais), um ex-presidiário que foi deformado pelo fogo. Ela tenta a todo custo manter um relacionamento amigável com ele e com seu irmão caçula, Tê (Léo Aquilla), ao mesmo tempo em que mantém um relacionamento ambíguo com a professora de dança Regina (Luciana Brites). Na fábrica em que trabalha Silmara é incentivada a ajudar Briducha (Djin Sganzerla), uma mulher tímida e solitária. As duas e Regina vão ao show do grupo Bruno e os Andrés, onde Silmara conhece e se envolve com Bruno de André (Cauã Reymond), ídolo da banda. Logo Silmara se torna o sonho de suas amigas, por representar a chance de uma rápida ascensão social.
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soufleur · 4 years
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Felicidade clandestina
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Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser. ”Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse ” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Clarice Lispector
Imagem: Francine van Hove
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kcrev · 4 years
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some one word prompts: dance pra annelise x charlie
Qualquer pessoa que conhecesse Charlie minimamente podia dizer que ele estava cada dia mais apaixonado pela loura que não saíra de seus pensamentos por meses. Ele pouco se importava com as brincadeiras de Bernardo, August e Joshua, até porque ele sabia que sua vida amorosa, ironicamente, era melhor do que a de qualquer um dos amigos. Charlie poderia ser o mais certinho dos amigos, mas, pelo menos, não estava apaixonado pela falsa namorada/amiga colorida, nem pela sua ex-namorada, nem pela sua ex-melhor amiga. E essas eram coisas que ele não se atrevia a dizer para nenhum deles, então levava tudo na brincadeira e torcia para que, um dia, os amigos pudessem entender como ter um relacionamento saudável era muito melhor do que a confusão amorosa de suas vidas. 
Durante todos os outros anos, Charlie não gostava muito dos dias que antecediam o baile de inverno de Hogwarts. Mesmo que os amigos insistissem para que arranjasse um par, ele acabava sempre indo com Ezra e os dois não faziam tanta questão de ficar durante toda a festa. Porém, naquele ano o grifinório estava estranhamente animado. Esperava por Annelise na ponta da escada que dava ao Salão Principal e, quando a viu, não conteve o largo sorriso que apareceu em seus lábios; ela estava completamente deslumbrante. "How did I get so lucky?" disse em tom de brincadeira quando ela se aproximou o suficiente dele, selando os seus lábios nos dela em um beijo lento e apaixonado. "This dress is... You are..." riu, sem conseguir formular uma frase completa, entrando no salão de braços dados com a namorada. Charlie não sabia onde os amigos haviam se metido, no entanto queria ficar alguns minutos com a lufana antes que acabassem se encontrando novamente. Os dias anteriores haviam sido bem corridos para todos, então não tinham tido muito tempo sozinhos na última semana. 
A pista de dança organizada no meio do salão ainda não estava cheia, porém várias pessoas já se reuniam ali no som da banda que tocava uma música que Charlie desconhecia; gostava muito mais dos artistas trouxas. Entrelaçou sua mão na de Annelise, puxando-a na direção das pessoas que já dançavam. "Wanna dance?" indagou, olhando-a com um sorriso divertido. Charlie usualmente zoava, junto dos amigos, aqueles que dançavam música lenta com suas namoradas, porém ele agora pouco se importava sobre o que diriam. Pôs suas mãos ao redor da cintura dela e passou a guiá-la na melodia da música que tocava. Charlie não era exatamente um bom dançarino, mas havia pedido para que August e Celine o ensinassem alguns passos básicos no dia anterior, então esforçava-se ao máximo para se movimentar da forma como os amigos o tinham ensinado. Seu olhar cruzou o da namorada e ele levantou uma de suas mãos, pondo uma mecha dos cabelos louros dela atrás de sua orelha. "I'm so glad to be here with you, Annie." murmurou, depositando um beijo na bochecha esquerda dela e, então, na direita. "I just... can't put into words how I feel about you. Anything I could ever think... It's not enough."
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juliazeda · 4 years
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Os chineses
Acomodou-se na cadeira do terraço. A vista dava para os condomínios deslumbrantes de Laranjeiras, protegidos por janelas refletoras blindadas. Luziam no céu noturno aquelas construções envidraçadas, semiocultas por uma dúzia de palmeiras gigantescas, como se simultâneo à sua imponência desavergonhada viesse certo desconforto, uma timidez reluzente. O metal frio da cadeira aderiu às suas coxas. Fazia calor.
Era uma festa. Ou melhor, fim de festa. Todos tinham nome de artista e cecê.
Virgínia foi quem a trouxera. Ultrapassada a porta, desaparecera entre as cabeleiras e os floreios de fumaça. Mesclara-se perfeitamente. Ou quase perfeitamente. Percebia-se um nervosismo em sua gargalhada bêbada, uma vontade insuprimível de impressionar mas sem perder a postura, isto nunca, pois andaria corcunda com olhos caídos até morrer em algum quartinho mofado aos trinta e quatro — tudo como queria que acontecesse. O nariz de Virgínia se arrebitava numa curva delicada; era linda, lindíssima, e conversava com a anfitriã num canto da sala, resvalando o braço na cortina, dengosa. Após um cigarro fumado, esquecera-se dela.
Inês era o nome da anfitriã. Tinha uma cara redonda e corada, e olhos azuis, como um boneco. Oamordaminhavida quando referida por Virgínia. Inês gostava dela, sabe, num nível razoável. Era filha de algum mandachuva da música vanguardista brasileira, tocava prodigiosamente seis instrumentos e naquele ano estava prestando audiovisual para a federal do Rio. Era engraçada e quando bebia, falava cuspindo, socava a mesa e pegava no quadril de Virgínia com os dedos gorduchos, nos quais a menina bonita entrelaçava os dela.
O apartamento era meio pelado. O ar carregado de maresia enrugava o papel de parede bege e verde. Um espelho com moldura azinhavrada, ornamentos de prata velha, uma mesa de sinuca no centro bem iluminada e sofás empoeirados apontando para um pôster enquadrado que divulgava um show em mil novecentos e setenta e tanto. Inês era inexplicavelmente como a decoração interior. Meio bege, meio verde.  Usava chinelos de couro nos pés tortos e transpirava um charme junto com o odor de suor. Inêsplicável.
— Hoje fomos à exposição do Alécio de Andrade.
— É mesmo? — olhos caídos. Inêspressiva.
— Sim. Conhece?
— Ah, acho que sim, devo conhecer, sim.
— Era um fotógrafo muito talentoso. Intelectualíssimo.
— Boto fé.
— Aí, Inês. — era Tom, estrábico, comprido, esmilinguido. — Dá pra acender esse aqui dentro?
— Dá não, Tom, só lá fora.
— Quebra essa pra mim, tá um calorzão.
Inêsorável. Tom não queria se mover para longe do ventilador. Mas Inês era incontestável — e surgiram rumores de que sua estadia na banda estava por um fio, e ela era a vocalista, e a guitarrista principal, e a empresária, e a produtora também. No terraço, contra sua vontade, acendeu o baseado com os dedos suarentos. Viu seu assento metálico tomado por uma figura esguia e imóvel, indistinguível da penumbra, que ele a princípio pensou que fosse assombração até que se pronunciou:
— Você é daqui do Rio?
— Era. Moro em Éssepê faz cinco anos.
— Por que se mudou?
— Porque meus pais quiseram, ué.
— E você fez o ensino médio todo lá?
— Fiz, ué. Não, imagina, parei de estudar no ensino médio. Que besteira.
Papo furado era algo que Tom superara anos atrás. Estrábico, comprido, esmilinguido e acima de tudo, direto, sem rodeios.
Contemplou o panorama enquanto fumava. Pensou em sua infância no Leblon, no lugar de lanches, nas padarias, nos prédios antigos azulejados, nas árvores robustas, na luz que se infiltrava pela folhagem, em sua locadora favorita, nas ruas que desembocavam na praia, no mar que o engolia, o mascava e o cuspia, nas caminhadas até a escola, seus amigos abastados e bronzeados, com suas empregadas que cozinhavam os mais saborosos manjares e suas moradias fresquinhas, brancas e aconchegantes, tudo cheirando a alfazema; como era feliz... E logo, a constatação de uma felicidade finda tornou-se um questionamento: por que tão infeliz esta noite? Estrábico, comprido, esmilinguido, direto, sem rodeios e acima de tudo, infeliz.
Sentiu dedos finos se emaranhando em seus cachos.
— Me dá um trago disso.
Uma voz rouca, cavernosa...
— Anda, Tom, me dá um trago disso, caralho.
Em tempos passados, Miranda costumava rir mais e quando ria, arreganhava suas pérolazinhas que na época eram brancas e adoráveis. À primeira vista não se apaixonara por ela, na verdade, ficara pouco impressionado. Magricela de cabelos longos, sorriso bonito, estampas florais, toda emperiquitada com colares de sementes, bijuteria barata, falsas intenções. Até que um dia Miranda raspou a cabeça, furou a língua e contraiu uma doença venérea. Algo destoou dentro dele. Tesão pelo viver, foi o que sentiu. E a pediu em namoro.
— Cê não tá sentindo algo estranho no ar hoje?
Ela cuspiu a fumaça em seu rosto.
— Como assim?
— Uma ominosidade, um pressentimento.
— Deve ser a Lua em Escorpião, que é a sua casa 8.
— É, deve ser.
Ele aspirou o cheiro acre que recendia dela. Miranda vestia uma bermuda com estampa de camuflagem e uma regata roxa-repolho que caía frouxa em seu corpo. Pés imundos. Mamilos zarolhos que não o desfitavam por nem um só momento. Já fora convencionalmente bonita, mas temia envelhecer materialista como seus pais e logo se desprendeu das amarras da vaidade. Tom ainda a apreciava. Que criaturinha estranha que escolhera para amar.
— Mica.
— Oi.
— Cê me acha feio?
— Acho.
Silêncio.
— E gosto.
— Gosta?
— Gosto.
Eles se entreolharam, apaixonados. Olhos caídos.
Enquanto isso, Lui se debruçava sobre o parapeito, distante, contando os carros que davam a volta na praça. Tinha um cabelo muito escuro, muito preto, quase azulado. Olhos pretos — castanhos em segredo. Branco, lábios reptilianos finos como navalha. Pensava no frio, recordava-se de uma menina loura e do seu desprezo. Foram um casal em Julho. Congelante como todas as mulheres francesas, cansou-se dele e agora aproveitava o fim de ano em sua comuna, igualmente congelante. Nesta noite, Lui se encontrava em um estado particularmente saudoso, no qual contava os carros que davam a volta na praça para abafar pensamentos de reencontrá-la naquele país das neves e cortar seu pescoço com os lábios finos como navalha.
Os prédios espelhados refletiam varandas douradas e sinalizadores vermelhos. Lembrava um céu estrelado. Lui pensava também no futuro, debruçado sobre o parapeito, inclinando-se ora para frente, ora para trás. Era um tecladista exímio. Mas também poeta. E Inês não aceitava suas composições, argumentando que era plágio do Nick Cave e que não cantaria em inglês (era uma atitude colonizadora). Vingativo, secretamente imaginava sua futura página da Wikipédia: Luís Afonso de Mello Pereira (São Paulo, 29 de Setembro de 1999) é um músico, escritor, jornalista e ex-vereador brasileiro, mais conhecido como Lui Pereira. A carreira, tanto artística como política, fez com que ganhasse notoriedade internacional, além de trazer marcos profundos de valor intelectual para a história e a cultura brasileiras. Cresceu em um ambiente mormente burguês, na Vila Leopoldina, com pai engenheiro agrônomo e mãe farmacêutica, ambos elementos repressores durante o desabrochar de seu talento criativo. Aos onze anos, pediu de aniversário um violão e ao invés de um instrumento de cordas, foi presenteado com um piano clássico. Apesar de contrariado no início, interessou-se por composições de Bach e Beethoven, aperfeiçoando seus estudos e tornando-se um prodígio musical notável. Os primeiros contatos com bandas alternativas coincidiu com a aproximação de Pereira com a maconha, na pré-adolescência, junção que resultou em seus trabalhos iniciais: músicas produzidas inteiramente no teclado, inspiradas nas composições experimentais da banda francesa Air e acompanhadas por ruídos gravados pelo próprio artista (barulhos urbanos, diálogos de festas, falas de professores e polêmicas gravações de encontros íntimos de consentimento duvidável). Pereira permaneceu sumariamente experimental até o amadurecer de ideias, ocorrido no último ano do colegial. Àquela altura, frequentava uma escola local que lhe apresentou seus primeiros companheiros musicais, Inês Assumpção e Tom Morais. Juntos, os três se apresentaram em incontáveis festivais e shows para amigos próximos. Pereira logo se distanciaria de seus colegas de banda e posteriormente serviria como grande influência em seus trabalhos futuros, uma vez que estes, cegos e extasiados pela fama de início de carreira, acabariam sucumbindo à indústria cultural para se arrependerem na maturidade, já excluídos há muito do topo das paradas. Em Abril de 2017, Lui conheceu Camille, uma estudante intercambista da França, que o cativou e o estimulou a escrever sua primeira boa canção, segundo ele. No final de Julho, Camille retornou à sua comuna natal, rompendo o breve romance. Em 2040, a francesa afirmou em uma entrevista à Rolling Stone que Pereira fora "o grande amor de sua vida e ao mesmo tempo, o maior arrependimento — por tê-lo deixado". Aquela francesa metida à Julie Delpy. Filhadaputa.
— Vamo perguntar ao nosso poeta. — Tom ia vindo em sua direção, muito estrábico. — Lui é o nosso poeta.
— Que é? — murmurou, de mal humor. Com o sopro de uma aragem fria, seu devaneio se dissipou.
— Que você acha dos astros hoje?
Sobre os astros, não tinha nada a dizer. Mas Lui achava Tom o maior bocó. Miranda se escorava em seu ombro, linda e torta, e ele não conseguia (ou não parecia) valorizar uma coisa dessas. Com a falta de uma resposta, insistiu, ainda mais estrábico:
— Que você acha sobre ser o cara mais bonito da banda?
— Tem o Fred também.
— O Fred não vale.
— Por que não vale?
— O Fred é japonês. Chinês, sei lá.
Lui voltou o olhar à vista. Conseguia escutar o mar. Ou talvez fossem os carros.
— Chinês é feio. — e então arregalou os olhos, agora muito estrábico de tão nervoso, apercebendo-se da sombra à sua esquerda, empertigada na cadeira. — Sem querer ser racista.
Inês enfiou a cara pra fora. Seu rosto redondo esboçava um início de emoção.
— A Vivi vomitou no banheiro todo. Uma ajuda seria bacana.
Tom, entendendo a insinuação como uma ordem, marchou até o toalete e chafurdou os pés naquela água azeda. Inês olhava as costas magrelas de Virgínia, encurvadas sobre a privada, contraindo-se a cada regurgitação. Era impossível dizer se sua expressão denotava desprezo ou apreensão. Inêscrutável.
Lui hesitou antes de deslocar-se ao banheiro. Virou para Miranda. Olhou-a de cima a baixo.
— Acho que você deveria largar dele e ficar comigo.
— Com ficar você quer dizer transar?
— Sim.
Ela baixou a cabeça. Só se via a ponte de seu nariz oleosa, brilhando. Estava magoada.
— Não sei, Lui. Aquela gonorréia foi braba.
— Tudo bem. — lambeu os lábios, finos que nem navalha. — Eu entendo.
E foi até o banheiro para pairar inerte, como Tom. Mesmo que o achasse o maior bocó, prosseguiu em co-escrever uma música com ele, a respeito de gorfo e desejos sexuais reprimidos.
Miranda sentou no chão e cruzou as pernas. Viu-se subitamente sozinha, com a Lua amarelando em Escorpião e o som das ondas quebrando na areia. Ou talvez fossem os carros no asfalto. Sentiu a pressão da atmosfera mudar ou um calafrio atravessando seu corpo. Notou uma presença no canto esquerdo da varanda, que por um instante, quase tomou forma, até se erguer da cadeira de metal e adentrar o apartamento. A presença, que estivera escutando tudo com um silêncio aquiescente, ultrapassou a porta do banheiro e despediu-se mentalmente da amiga. A cena do lavabo era como uma pintura a óleo barroca: uma luz alaranjada jorrando sobre a virgem pura encurvada e semi-nua, e anjos espreitando-a do negrume, suas testas maceradas e semblantes austeros. Encostou a porta atrás de si, cautelosamente. Entrou no elevador — uma luz clara e insípida que atordoa os sentidos. Deixou de pensar na varanda enquanto atravessava a rua. Que desastre havia sido aquilo. Nas vitrines das lojas, os manequins vestiam trapos. Em sete minutos, chegou à porta de seu apartamento, girando as chaves no dedo. Acendeu as luzes, cumprimentou o gato, serviu-se um copo d'água, mas a inquietude não passava.
Como eram brancas aquelas paredes.
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thiego · 4 years
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Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Clarice Lispector
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princesoguerreiro · 5 years
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O som das falanges se chocando contra a porta do quarto de @sigriids pareceu ecoar como o tiro de um canhão aos ouvidos de Xeno, contudo, ele tentou manter a expressão calma em face. Aquela não era uma visita que ele queria fazer e, se o que as cartas que havia recebido fossem verdadeiras, imaginava que também não iria alegrar a sueca. O louro pode sentir os músculos tensionarem ainda mais quando pensou nas cartas ( se é que em algum momento conseguia esquecer de  seu conteúdo aterrorizante );; estas vinham de fontes confiáveis em solo grego, contudo, a verdade é que o príncipe queria desesperadamente acreditar que eram falsas, alguma espécie de brincadeira doentia. Mas a ignorância não era mais um luxo que ele poderia ter e a única pessoa que poderia lhe fornecer as respostas era sua ex-cunhada. A porta de madeira se abriu antes que sua determinação se esvaísse, fazendo o se remexer de modo tão discreto que poderia ser imperceptível para os olhos menos treinados. Ao encontrar a face conhecida da princesa, no entanto, um sorriso sincero se desenhasse em face, porém este não alcançou seus olhos. ❝ — Sigrid, god natt (1) ❞, a pose transparecia serenidade quando a cumprimentou, utilizando o sueco — fora um habito que adquiriu após a chegada da loura na corte grega, imaginando que algo familiar pudesse lhe ajudar um pouco em um ambiente novo. ❝ — Perdoe, queria poder ter te recepcionado quando chegou, mas não tive ❞, coragem, pigarreou, ❝ — oportunidade. Será que poderíamos conversar um pouco? ❞
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chayalispector · 5 years
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Felicidade Clandestina
Clarice Lispector 
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser. ”Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse ” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
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naoehamamae · 3 years
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      ༄      família grande já é difícil, imagina quando sua irmã troca a cauda pela voz com uma bruxa do mar? a nossa nova habitante costumava se chamar 𝐀𝐋𝐀𝐍𝐀, do conto THE LITTLE MERMAID, e antes da névoa da maldição arrastá-la até storybrooke, ela estava no REINO DE ATLANTICA, lá na FLORESTA ENCANTADA. aqui na cidade você talvez a encontre se procurar por uma tal de DARYA WALLER que trabalha como BLOGGER, ESTUDANTE DE BIOLOGIA MARINHA E BIBLIOTECÁRIA.
𝑹𝒆𝒔𝒖𝒎𝒐. (tw: gravidez na adolescência).
Sua vinda da Rússia para a pacata e isolada cidade de Storybrooke é um mistério, mas fora bem acolhida pelos Waller aos sete anos de idade. Não foi uma adaptação fácil, sequer sabia falar inglês direito, e suas memórias no país natal ainda eram muito frescas para permitirem uma conexão imediata entre a loura e os Waller.
Darya tinha diversos pesadelos quando criança que perpetuaram sua vida adulta, embora em menor recorrência. Era sempre o mesmo cenário: o fundo do mar. Isso impediu que ela se interessasse completamente pelos assuntos da família, que eram e ainda são bem engajados em tudo que envolve o mar. Ela tentou e se esforçou bastante até, mas desistiu e ficou apenas com a parte teórica dos negócios da família, como a faculdade de biologia marinha e a administração interna do Canto da Sereia.
Na adolescência, sofreu com a morte da mãe. Tentou lidar da pior forma: com uma sequência de ações impulsivas que resultaram em uma gravidez aos dezesseis para dezessete anos de idade. O pai, igualmente jovem, não quis assumir e partiu para longe de Storybrooke com seus parentes, alegando ter um futuro brilhante pela frente e que não deixaria Darya atrapalha-lo. 
Ser mãe foi e ainda é um misto de sensações. Por ser uma nova e infida experiência, sabia pouco a respeito do mundo da maternidade e teve que lidar com julgamentos nada indiscretos pelo modo que criava sua filha, Athena. Darya resolveu criar um blog de apoio para mães solo ou de primeira viagem, um safe espace para exporem suas opiniões e dúvidas, enquanto também mostra sua rotina como uma mãe que trabalha, estuda e tenta conciliar com seus desejos e vontades.
Com o nascimento de sua filha, pairou no ar uma dúvida acerca dos motivos de ter sido abandonada em um país longe do seu de origem. Queria saber o porquê. Apesar da incerteza inicial com sua gravidez, ela soube desde o momento em que viu sua filha que jamais seria capaz de abandonar a pequena. Darya necessitava entender se haviam motivos maiores que fizeram seus pais biológicos desistirem de ficar consigo, ou se ela nunca tinha sido desejada de verdade por eles. Contudo, por sentir uma dívida com seu pai e irmãs, não seguiu adiante com a busca por qualquer pista em relação ao seu passado.  A verdade é que tudo que Darya precisa é de um empurrãozinho para que a maldição manipule toda sua história falsa mais uma vez, o que é um prato cheio para os vilões.
𝑪𝒖𝒓𝒊𝒐𝒔𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒔.
Darya é apaixonada por livros desde que se entende por gente. Por ser uma ótima aluna, ficava no cargo de responsável pela biblioteca da escola, e agora é a bibliotecária da cidade. Sua ala favorita é a sessão de livros infantis, onde muita das vezes passa o tempo com Athena, de sete anos. 
Seu blog se chama SpaceMoms, uma analogia a sua banda preferida, Spice Girls.
Tem vinte e cinco anos e é do signo de sagitário.
É um pouco tímida, mas costuma se soltar em assuntos que tem propriedade/facilidade para falar. 
Sua cor favorita é púrpura.
Não gosta de chegar muito perto da praia ou do cais.
𝑨𝒏𝒅𝒓𝒊𝒏𝒂 𝑻𝒓𝒊𝒕𝒐𝒏.
Andrina é uma das irmãs mais velhas de Ariel, filha do rei Tritão, e era descrita como uma sereia bastante energética, que adorava praticar esportes e provocar suas outras irmãs. Andrina seguiu os passos da curiosidade de Ariel, mas não acerca do mundo dos humanos; Neverland era detentora de toda sua atenção. Não que Atlantica não fosse mágica o suficiente, mas a sereia estava acostumada demais com o lugar e sabia onde dava cada extremidade do reino. Neverland era um suspiro de novidade e, assim que descobriu o portal para lá, próximo do cativeiro da Bruxa do Mar, viajava entre os mundos quase todo dia. Quando Úrsula descobriu, fechou o portal ela mesma, afim de que Andrina nunca voltasse para ver sua família. Por sorte, encontrou um modo de voltar para Atlantica, mas algo estava errado; sentia-se sufocada nas águas que lhe eram tão familiares, sem saber que era por ter estado tanto tempo nos ares de Neverland. Antes daquilo tirar-lhe a vida, a maldição varreu todos para Storybrooke.
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celestialmega · 2 months
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Falsa Loura by Carlos Reichenbach.
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reginaldodpg · 3 years
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Prova de Amor Resumo da novela de 23 a 27/08/2021,
capítulo 69, segunda, 23 de agosto,
Daniel avisa para Bira que vai fugir com Clarice na hora do casamento com Lopo. Felipe avisa para Joana que vai fazer fotos de Ana Hickmann. Elza arruma a casa e as crianças para a visita da assistente social. Dudu tenta escapar de Pestana. Ele consegue fugir, mas cai e machuca o joelho. Pestana consegue pegar Dudu. Lúcia avisa para Marília que Dona Amália, a viúva com sete filhos, vai ser despejada. Lúcia corre para pedir ajuda para Velho Gui. Jonas conta para Velho Gui que Lúcia disse estar interessada em outra pessoa. Daniel fala com Clarice por telefone. Daniel avisa que o helicóptero estará pronto para a hora da fuga e diz que estará no casamento usando um disfarce. Diana e Júlio estão prontos para o casamento. Júlio avisa para Diana que ainda tem intenção de prender Daniel.
Diana fica irritada. Vitor está preocupado com o casamento. Ele conversa com o Lopo sobre o resgate de Nininha. Lopo avisa para o pai não se preocupar. Velho Gui chega para ajudar Amália, que está chorando. Velho Gui decide que Amália e os filhos irão morar em sua casa. Felipe começa a tirar fotos de Ana Hickmann. Teresa conversa com Raquel e diz que não admite que ela brinque com o sentimento de seus filhos. Teresa, Rafa e Gabriel saem para o casamento. Clarice está ansiosa para saber se Nininha vai voltar. Beatriz, Janice e Clarice vão para o casamento. Nininha decide contar para a assistente social que é obrigada por Elza a pedir esmola. Elza fica nervosa. Alice começa a desconfiar de Joãozinho e avisa para Joana que ele está realmente diferente. Gerião encontra com Lopo e avisa que conseguiu uma menina loirinha, com sete anos, para enganar Clarice.
capítulo 70, terça, 24 de agosto,
Os convidados começam a chegar no casamento de Lopo. Pestana aguarda com Dudu a saída da assistente social. Elza diz para Eleonora que Nininha adora inventar história. Joãozinho avisa para Joana que não conseguirá fazer a prova de matemática porque nunca foi à escola. Lopo percebe que Diana e Júlio estão na festa. Lopo fica irritado ao perceber a presença da família Avelar no casamento. Lopo pede para Gerião dar um jeito em Rafa e Gabi depois do casamento. Elza tenta convencer Eleonora de que é ótima mãe. A assistente não acredita, mas vai embora. Dudu e Pestana chegam na casa de Elza. Joãozinho pede para Joana para ir à casa de Elza recuperar Dudu. Joãozinho chora porque Joana não acredita nele. Júlio quer achar Daniel no casamento, mas Diana está concentrada na menininha loira.
Júlio passa perto de Daniel disfarçado, mas não o vê. Rafael decide procurar Pati no casamento. Daniel ouve Lopo armando plano para Gerião dar um jeito em Rafa e Gabi. Felipe chega para fotografar o casamento. Rafael pede perdão para Pati, mas ela não aceita. Clarice chega e pede para Janice perguntar para Lopo se Nininha está na festa. Janice encontra Daniel disfarçado e confessa que sentiu saudade. Daniel pede para Janice avisar para Rafa e Gabi só saírem do casamento com a polícia. Lopo pede para Gerião descobrir quem é o cabeludo desconhecido. Pestana tem uma ideia para encontrar Joãozinho. Zezinho liga para Joãozinho na casa de Joana. Pestana fala com Joãozinho e pede para ele não levar a polícia na casa de Elza. Eleonora confessa para Alexandre que não teve boas impressões da casa de Elza. Lopo avisa para Janice que Nininha está na festa.
capítulo 71, quarta, 25 de agosto,
Lopo avisa que só mostra Nininha depois que Clarice estiver no altar. Joana pega o telefone da mão de Joãozinho, mas já estava desligado. Joãozinho avisa que era Pestana. Alice diz para Joana que acredita em Joãozinho. Elza toma a boneca da mão de Nininha e começa a ouvir vozes. Eleonora diz para Alexandre que as crianças se queixaram de fome. Alexandre decide ir à casa de Padilha e Velho Gui para saber se eles têm condições de ter a guarda provisória das crianças. Lúcia confessa para Jonas que está gostando de Lopo. Janice avisa para Teresa, Rafa e Gabi sobre os planos de Lopo. Fala para eles só saírem do casamento com a polícia. Vitor chega para pegar Clarice. Beatriz tenta dizer para Vitor porque ficou chateada no jantar, mas ele não entende. Júlio vai ao banheiro e Diana aproveita para se aproximar de Daniel. Diana avisa para Daniel que Júlio quer prendê-lo. Antes de se afastar, ainda diz que sente saudade. Pati encontra Felipe no casamento. Pati avisa que ele foi escolhido para fazer as fotos dela em um comercial.
Joana liga para o número que ficou gravado na bina e descobre que é de um orelhão na Cidade de Deus. Joãozinho confessa para Joana que não quer que Pestana vá para cadeia. Gerião conta para Lopo que Clarice está com vestido bege. Lopo fica decepcionado. Vitor conduz Clarice para o altar. Clarice vê Daniel disfarçado. Clarice chega perto de Lopo e pergunta por Nininha. Lopo avisa que não irá decepcioná-la. Lopo mostra para Clarice onde está a menininha loira. Clarice corre para abraçá-la. Lopo vai atrás. Clarice pergunta para a menina qual o nome dela. Ela responde: Nininha. Lopo pede para Clarice voltar ao casamento. Gabriel se aproxima de Clarice e pergunta se a menina é mesmo a Nininha. Daniel observa tudo, emocionado. O helicóptero pousa no gramado. Lopo fica surpreso. Clarice pega a menina e tenta fugir, mas ela não quer. Lopo tenta segurar Clarice, mas Gabriel e Rafael conseguem segurá-lo. Gerião luta com Rafa. Clarice sobe no helicóptero com Daniel e a falsa Nininha. Júlio corre para o helicóptero com a arma em punho.
capítulo 72, quinta, 26 de agosto,
Daniel pede para Bira levantar vôo. Diana separa briga de Lopo e Rafa. Lopo chora de raiva. Mulher loura se aproxima de Lopo e grita que quer sua filha de volta. Elza ouve e vê o padrasto. Alice pede para Joana acreditar em Joãozinho. Joana diz que vai levar Joãozinho ao psicólogo. Barroso ameaça Telma, achando que fala com Diana. Barroso avisa que Diana vai morrer porque matou Barão. Mãe da menina loura avisa Júlio que sequestraram sua filha. Ela explica na frente de Pati, Janice, Beatriz e Vitor que Lopo pagou para sua filha dizer que se chamava Nininha. Beatriz se decepciona com Lopo e Janice o chama de assassino. Mãe da menina loura pede para Beatriz ligar para Clarice para trazer sua filha de volta.
Beatriz deixa recado no celular de Clarice contando sobre a farsa da menina loura. Lopo diz para Vitor que todo o amor que ele sentia por Clarice se transformou em ódio. Beatriz liga para Teresa e avisa que a menina loura não é a Nininha. Jonas conta para Lúcia que Lopo estava de casamento marcado, mas foi largado no altar. Alexandre chega na casa de velho Gui com Eleonora e encontra Amália e seus sete filhos. Alexandre pergunta sobre o passado de velho Gui e ele se irrita. Joana fica com ciúme de Felipe quando Eduarda conta que Pati elogiou o trabalho dele. Joana pergunta para Felipe se a melhor solução não é a separação. Telma avisa para Diana que Barroso ligou. Clarice ouve recado de Beatriz e chora. Gerião pergunta para Lopo se ele quer que “apague” Clarice.
capítulo 73, sexta, 27 de agosto,
Lopo confessa para Gerião que ainda não desistiu de Clarice. Gerião avisa para Lopo que o helicóptero que posou no dia do casamento é de Flávio Alencar. Lopo pede para Gerião descobrir onde Flávio Alencar mora. Daniel pergunta para a menina loura se ela mentiu. A menina diz que sim. Daniel liga para Teresa e avisa que Clarice quer fazer exame de DNA na menina. Clarice avisa Beatriz pelo telefone que vai devolver a menina. Telma insiste em perguntar se Diana está namorando Júlio. Dudu lembra da prova de matemática e pensa em fugir. Elza quer que Dudu e Joãozinho fiquem com ela. Felipe pensa em vender as fotos do casamento para a imprensa. Alice pede para Eduarda parar de implicar com Felipe. Joãozinho conversa com Tia Alice e diz que está preocupado com a prova de matemática.
Nininha diz para Dudu que, às vezes, Elza esquece de trancar as portas. Dudu tenta abrir as portas, mas está tudo trancado. Velho Gui fica preocupado com as perguntas de Alexandre sobre seu passado. Jonas puxa Lúcia e consegue mais um beijo. Alexandre chega na casa de Padilha, que está bêbado. Elza avisa para Pestana que vai armar um plano para ficar com Joãozinho e Dudu. Elza pensa em pegar Joãozinho no colégio. Clarice entrega a menina loura. Mãe da menina loura conta para Clarice e Janice que Lopo pagou 5 mil reais para a menina fingir que era Nininha. Beatriz finalmente fica convencida de que Lopo é um canalha. Júlio insiste com Clarice para que ela diga o esconderijo de Daniel. Ela avisa que nunca vai contar. Vitor pergunta para Pati se ela acha que Lopo tem envolvimento no sequestro de Nininha. Gabi encontra Raquel na cozinha e tasca um beijo nela. Júlio leva Diana para casa. Júlio beija Diana no carro, enquanto Barroso se aproxima apontando uma arma engatilhada.
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ecoamerica · 25 days
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youtube
Watch the American Climate Leadership Awards 2024 now: https://youtu.be/bWiW4Rp8vF0?feature=shared
The American Climate Leadership Awards 2024 broadcast recording is now available on ecoAmerica's YouTube channel for viewers to be inspired by active climate leaders. Watch to find out which finalist received the $50,000 grand prize! Hosted by Vanessa Hauc and featuring Bill McKibben and Katharine Hayhoe!
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pcezarpaz · 3 years
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Excerto do livro HOMENS TRABALHANDO, que faz parte de uma série denominada JORNADA, na qual o autor relata a caminhada de um rapaz desde o seu começo como operário de obras, até à sua formatura na universidade. Toda vez que eu me embriagava na noite anterior, nem tentava disfarçar os sinais da bebedeira, de manhã. Eu não conseguia rir. Não agüentava ficar sem um encosto qualquer e jamais olhava para a frente. Só para o chão. A maior vítima de tudo isso era o trabalho. O rendimento ia a zero. A toda hora eu parava pra descansar e, quando tinha certeza de que o Puxa-Saco não apareceria no meu setor, sentava-me em uma lata de tinta, dobrava os braços sobre os joelhos, deitava a cabeça sobre os braços, e ficava horas a fio sem me mover. Quando era inevitável que fizesse qualquer coisa, eu procurava algum acontecimento bom da minha vida e o ficava relembrando durante o expediente, de modo a não me lembrar da obrigação do dia. Naquela manhã, eu tinha chegado arrasado à obra. Pensei: -- Vou ficar me lembrando, até mais não poder, da trepada mais gostosa que já dei até hoje! Ao chegar perto do guincho, Zé Maria perguntou: ---- Você bebeu ontem? ---- Enchi o rabo! ---- Tá se vendo! Cara com olheiras, bochechas inchadas e olhos injetados, avermelhados! Oh, ressaca! Ah, ah! Não achei graça. Fiquei parado por algum tempo, esperando que o guincho levasse o maior número possível de pessoal prédio acima. Quando a plataforma desceu para buscar a última leva de homens, respirei fundo e pensei: ---- Lá vou eu! Veio-me um enorme desânimo! A manhã estava sombria, o tempo, fechado. Ventava. Fazia frio. Eu não queria trabalhar. Eu queria era me deitar. Tomar uma copada de chá de boldo gelado. Encostar meu corpo nu no corpo fofo de Gracinha. Queria que ela me passasse as mãos nas costas, no rosto, na bunda. Queria que ela me apertasse entre as pernas. Queria que ela me esfregasse com força a xoxota! Queria sentir os cabelinhos macios da pererequinha de Gracinha esbarrando em minhas coxas! Comecei a me lembrar daquele fevereiro:                                                  Eu fora à Zona. Havia uma mulher parada, com os braços cruzados, encostada à porta de uma das muitas casas velhas e decadentes da vila. Era baixa, falsa-loura, meio coroa de olhos castanhos meigos. Estrias profundas sobre os lábios. Em volta dos olhos, mil e um pés de galinha. As pelancas já começavam a dar trabalho. Dentes amarelados postiços aparecendo por detrás dos lábios carnudos. Boca toda lambuzada de baton. Brincos de latão ou alu¬mínio. Vestido surrado vermelho. Sapatos também vermelhos, esfolados, bicudos, feios.   ---- Quer dar uma trepada de noite inteira comigo, amorzinho? - perguntei. ---- Não posso, querido! - ela respondeu, educada - toda terça-feira um cara dorme comigo. Se pudesse eu ia mesmo! ---- Pois é, eu tô a fim de uma perereca! ---- Eu posso dar uma olhada pra ver se uma colega minha tá desocupada. Ela é bonitinha. Quer? ---- Quero! Ela desceu uma escada que dava pro subsolo da casa. Voltou dizendo que a colega estava no banho. Vinha já. ---- Tchau! - despediu-se. ---- Tchau! Quando coloquei o pé na plataforma, senti a mão de alguém em meu ombro direito. Olhei. Era Coquinho.  ---- Zé Antônio tá chamano ocê lá no iscritório. ---- Pra quê? ---- Sei lá! Entrei no escritório e me sentei à frente do Puxa-Saco. ---- Júlio César? ---- Hein? ---- O que tá acontecendo aí na obra? ---- Hein? ---- Essas conversas que estão saindo aí?                                                           ---- Sei não.  ---- Como não sabe?! Eu tô sabendo! ---- É? Mas eu não tô! ---- E não é só isto, não!  ---- O que tem mais? ---- O Coquinho chegou aqui falando várias vezes que virou rotina de hora de almoço a peãozada meter a língua na sociedade! ---- Tô sabendo não!                                      ---- Você sabe que o doutor Amorim é membro do Lions e do Rotary?   ---- Eu não. Ele é membro dessas coisas chiques mesmo?!  ---- É! ---- Nossa! ---- E o Coquinho disse que é sempre você quem começa dizendo:- vamos contar histórias, minha gente? ---- Esse cara é maluco, porra! ---- Ele não ia inventar uma coisa dessas! A conversa do Puxa-Saco já me incomodava. Voltei correndo pra lembrança da mulher. Fiquei sentado com a mão escorada no queixo, olhando pra cara do moço, e ele ficou falando sozinho. Apareceu a mulher. Era baixinha, magra, morena-clara, risonha. Cara chupada. Estava enrolada num roupão de banho. Os cabelos anelados, negros e molhados, caindo sobre parte de seu rosto não impediam que se notasse sua feiúra. Trepar com ela não era uma perspectiva das mais animadoras, mas, como estava com fome, decidi-me por ir com ela.  ---- Você é o cara de quem minha colega falou? ---- Eu mesmo! ---- Vem comigo! Descemos a escada. Ela abriu a porta do quarto. Entramos. O cômodo era pequeno. O teto já fora branco. Estava encardido e mofado. As paredes eram pintadas de verde-claro e estavam desbotadas e úmidas. Uma cama de casal calçada com tijolos, uma cômoda caindo aos pedaços com um espelho manchado e um abajur velho eram as únicas mobílias.                                                            Sentei-me por um momento na cama forrada com um lençol encardido. A mulher tirou o roupão. Os peitos eram pequenos, durinhos. As pernas lisissímas, e a penugem da boceta, exuberante. Sentou-se ao meu lado esquerdo, enfiando a mão direita entre meu braço e minha perna. Comecei, lentamente, a desfazer os nós dos sapatos.  ---- Há quanto tempo você mora aqui na cidade mesmo, Júlio César? - acordei com o Puxa-Saco perguntando. ---- Cinco anos, já disse. ---- Veio da roça, lógico! ---- Da zona metalúrgica. ---- Hã... perto da capital!? ---- Isso! ---- Então, não conhece direito o sistema desta cidade? Eu quase gritei: --- NÃO ME ENCHE O SACO, PORRA!, mas me contive.  ---- Que sistema? Depois de tirar os sapatos e as meias, fiquei de pé e despi as roupas. Estiquei-me de barriga pra cima sobre a cama. A mulher se esticou ao meu lado.  ---- Quanto você vai me dar pra ficar comigo? ---- Não se preocupe! ---- Às vezes, alguns homens descem pro quarto comigo,  trepam comigo, não tratam preço, exigem que eu chupe o pau deles, exigem que eu rebole na ponta do peru deles, comem minha bunda, regaçam minha perereca, fazem até calos em minha xoxota, gozam a mil, não me pagam, ainda ameaçam me bater se eu reclamar, vão embora, e eu fico na pior, cara. Isso é sacanagem! Eu preciso de grana, porra! ---- Não se preocupe!                        ---- Agora, por exemplo, eu tô morrendo de fome e                               não tenho um tostão! Levantei-me da cama, tirei algumas notas da carteira, enfiei - lhe nas mãos: ---- Compre o que quiser comer no bar aí em cima. Traga - me três cervejas e uma garrafa de vinho.  A mulher vestiu o roupão, subiu a escada, e sumiu.  ---- Esta é uma cidade antiga, Júlio César. O pessoal não tá acostumado com determinadas coisas! - o Puxa-Saco continuou.  ---- Você está falando de que, afinal? ---- A respeito de que!? Dessas críticas que estão saindo na obra! Em voz alta! E só com nomes de pessoas da sociedade! ---- Que sociedade, cara?  ---- As pessoas importantes! ---- Huumm...! O meu saco já estava arrastando lá no chão. Logo antes do almoço, aquela bosta vinha me encher a paciência! Era dose! ---- Zé Antônio - eu disse - tudo que eu faço dentro da obra ou fora dela está dentro da constituição. São atos legais. Além disso, a liberdade de expressão é garantida na Declaração Universal dos Direitos do Homem. ---- Ah, é? Pode até ser, mas o doutor não gosta! E ele não gostará de saber que isto acontece aqui dentro da obra! E o pessoal da cidade, o povo mais antigo, persegue as pessoas que tenham tendências e opiniões contrárias às suas, principalmente políticas! ---- Foda-se! Tá escrito na constituição! ---- Júlio César, posso lhe contar uma história? ---- Real?                                      ---- É! ---- Não! Não me interessa! ---- Mas eu vou contar assim mesmo! ---- Oh, saco! Pouco depois, a mulher voltou. Em uma das mãos, trazia uma sacola com as cervejas e o vinho. Na outra, trazia um pedaço de frango, que mastigava. ---- Quer dar uma dentada? ---- Não. ---- Bobo!  Colocou a sacola no chão, segurou o frango nos dentes, abriu o vinho e uma cerveja. Pôs cerveja em dois copos e vinho em apenas um. Depois, recomeçou a mastigar o frango, tirou o roupão, e se esticou outra vez ao meu lado.  ---- Como é seu nome? - perguntou. ---- Júlio César.  ---- O meu é Gracinha.  Gracinha ficou olhando fixamente pra mim, depois se pôs a alisar a minha cara, enquanto eu permanecia deitado, de barriga pra cima. Às vezes, eu me levantava levemente e dava uma golada nas bebidas. ---- Você é bonito, sabia? ---- Acha? ---- Acho!  Tomamos uma cerveja.  ---- Você é de onde? – perguntei. ---- Deixissopralá! ---- Garanto que é da cidade, mesmo! ---- Deixissopralá! As putas não gostam de dizer de onde são: se fizerem cagadas – e elas são mestres em fazê-las! – desaparecem e fica muito difícil de serem encontradas.  Gracinha acabou de comer o frango, deu uma lambida nas pontas dos dedos, e os enxugou na ponta do lençol. Depois, começou a me passar a mão pela barriga, pelas coxas, pelas pernas. Meu pau endureceu.  ---- Apareceu aqui uma vez um rapaz...  ---- Aqui onde? ---- Na cidade. Apareceu aqui e trabalhou aqui e estudou. Ele tinha as mesmas idéias suas.                                                            O que o sujeito sabia de minhas idéias, porra?! ---- Estudou na universidade?                                                                                                     ---- Isso! E vivia criticando a sociedade: fulano é isso, sicrano é aquilo, beltrano é assim...  ---- Mas pode! Tá na constituição! ---- ... criticava o pessoal que ia à reunião do Lions... ---- ... e a constituição? ---- ... o pessoal que ia à reunião do Rotary... ---- ... e a constituição? ---- ... os doutores... ---- ... e a constituição? ---- ... os professores...                                           ---- ... e a constituição?  O Puxa-Saco ficou exasperado! Encheu a boca de ar, suas bochechas inflaram enormemente, ficando como as de Dizzy Gillespie ao tocar seu trompete de campana virada pra cima, e ficou vermelho (até onde sua creoulice permitia), me olhando fixamente. Depois, começou, lentamente, a soltar o ar da boca, e suas bochechas gilllespianas começaram a desinflar. Eu fiquei olhando praquele otário, a mão escorando o queixo, indiferente. ---- Vamos começar? - Gracinha perguntou. ---- Vamos. Você por baixo ou por cima, primeiro?            ---- Por baixo. Gracinha se deitou de costas e abriu as pernas. A mulher me pegou no meio das coxas. Passava os membros lisos, lisos, entre¬laçados em volta de meu tórax, para cima e para baixo. A gente se amava. ---- Ai, Júlio César, sua pica é gostosa demais! Ai! - gemia ela, nos meus ouvidos. Nós trocamos beijinhos, de olhos fechados, na penumbra do quarto. Só o abajur estava aceso. Quando eu a pe¬netrava, ela firmava a sola dos pés sobre o colchão e levantava o corpo. Trazia a boceta para encontrar o meu pau. Nós ficamos nos socando até que eu a empurrei com força sobre a cama. Ela gozou e gemeu. Me apertou com mais força ainda. Me passou vagarosamente a mão pela nuca. Eu desfaleci em cima dela. Fiquei exausto, com os dois braços estendidos ao longo de sua cabeça. Ficamos, depois, dei¬tados em silêncio. Ela fumou um cigarro. Fiquei de barriga pra cima e de olhos fechados. Lá de fora, vinha o barulho do vento soprando as folhas das bananeiras, do farfalhar das folhas das bananeiras, das águas do rio que passava logo atrás da casa se chocando contra as pedras do leito.  Após algum tempo de descanso, recomeçamos. Eu disse recomeçamos; na verdade, foi Gracinha quem o fez. Ela ficou de lado na cama. Eu continuei de olhos fechados. Ela, então, começou a me alisar o rosto. Mordiscou-me a ponta do nariz. Foi descendo com as mãos pelo meu peito, enfiou o dedo indicador no meu umbigo. Abri os olhos. Seus peitos estavam na altura de minha boca. Apertei-os com carinho. Mordi-lhes os bicos com os lábios pra não doer. Gracinha continuava me passando a mão. Outra vez, meu pau endureceu. Gracinha o segurou, ficou olhando em silêncio pra ele por um momento, depois, disse:                                  ---- Hummm, grande!                               Ela se levantou, agachou-se sobre o meu corpo, dirigiu meu peru pra sua xoxota e abaixou o corpo. Eu fiquei com¬pletamente desperto. Coloquei um travesseiro sob a cabeça, entrela¬cei minhas mãos às suas, cruzei as pernas para que ela encaixasse melhor seu corpo. Ela, então, começou a se abaixar e a se levantar em cima de mim.  ---- Mexe, bem! - pediu-me ela. Eu repeti o que ela havia feito na vez anterior. Quando ela se levantava, eu a acompanhava com o corpo e a aparava no ar quando descia. Ela insistia. Eu abaixava, ela acompanhava. Me es¬premia sobre a cama. Eu remexia dentro dela, ela gemia, dobrava o corpo sobre mim e dizia: ---- Chupa meus peitos! Eu lhe soltei as mãos. Comecei a lhe acariciar o rosto, a região sob as orelhas. Gracinha debruçou o corpo sobre mim, me deu uma mordida no peito. Eu a abracei, carinhoso. Ela ficou quieta por um longo tempo. Depois, caiu de lado e cochilou. Pouco mais tarde, nós acabamos de tomar as cervejas. Eu tomei o vinho sozinho, porque ela não quis.  As bebidas nos deixaram bastante bêbados. O cansaço favoreceu. Apaguei a luz do abajur, dei um último beijo em Gracinha. Adormecemos.                                                   O Puxa-Saco se acalmou e continuou: ---- Então, entrou um prefeito na prefeitura. Sabe o que ele fez? ---- Não! E nem me interessa! ---- Pois ele proibiu o povo da cidade de conversar com o rapaz! ---- O QUÊ? - eu verdadeiramente me interessei pela conversa do Puxa-Saco - é mentira isso! ---- É verdade! ---- É mentira! ---- É verdade! E proibiu o povo de dar serviço pro cara! ---- Ele trabalhava de quê? ---- Sei lá! O prefeito queria fazer ele sair da cidade! ---- Mas isso não existe!                                   ---- Como não existe? Aconteceu aqui! ---- Como foi o nome dessa punição? ---- Isolamento! O rapaz foi isolado socialmente! ---- Mas num regime democrático isto não existe! ---- Existe! Pois se todo mundo isolou o rapaz! Dizem que ele entrava em bares, conversava com alguém, mesmo com o dono, ninguém respondia! ---- Meu Deus! - eu exclamei - e a constituição? ---- ... entrava no alojamento da universidade, se dirigia a alguém, algum colega... ninguém respondia...  ---- ... e a constituição?  ---- ... entrava na biblioteca da universidade, pedia algum livro... os funcionários o ignoravam completamente! ---- ... e a constituição? ---- ... e ele ia ao departamento do curso que fazia, falava com os professores, os sujeitos abaixavam as cabeças... e não respondi¬am! ---- O quê?! Mas é um absurdo! A função das universidades é transmitir conhecimento e desenvolver o senso crítico nos alunos! ---- Não, senhor! Nas univeresidades, as pessoas aprendem a ler a a escrever corretamente e a se sujeitar às imposições e às  convenções da sociedade! Elas devem ficar boazinhas e amáveis!  ---- Nossa! Mas isso não pode! Quanto mais se estuda, mais indepen¬dente se fica! O moreno ergueu o dedo indicador direito e, com ar professoral, afirmou:   ---- Nada disso! Quanto mais estudado, mais obediente, mais educado, mais sociável! Eu estava achando aquele papo realmente inacreditável!  ---- Mas que bando de carneirinhos! E a constituição, cara, pra que ela foi votada? O  Puxa-Saco ficou vermelho outra vez, encheu a boca de ar, as bochechas inflaram e, se levantando num salto, soltou o ar da boca, apoiou as duas mãos sobre o tampo da mesa, ergueu um pouco a bunda da cadeira, e berrou:                                                       ---- A CONSTITUIÇÃO É UM PEDAÇO DE PAPEL, PORRA! O QUE EXISTE É UMA HIERARQUIA QUE VOCÊ TEM DE APRENDER A OBEDECER! ---- E a Declaração Universal dos Direitos do Homem? ---- É OUTRA MERDA! Acordei de madrugada. Gracinha dormia. Achei-a bonita como um anjo. Não quis acordá-la, mas, como eu me movesse abruptamente na cama, ela despertou: ---- Tá pronto pra outra? ---- Mas foi bom assim?                                          ---- Demais da conta!  ---- Então, vamos!  Transamos até o dia amanhecer. Quando saí da cama, achava difícil andar. Minha cabeça girava, meus músculos doíam, minhas pernas não davam firmeza, meu pau estava dormente. Eu sentia câimbras no corpo inteiro. Lavei minha boca de qualquer maneira. Gracinha, fazendo troça, falou que nunca mais ia lavar a sua, tão gostosos foram os beijos que trocamos. Dei-lhe um último beijinho e parti. Fiquei em silêncio, esperando que o eco da voz do crioulo se dissipasse dentro da casa velha. O Puxa-Saco estava deveras com raiva! Depois, eu disse: ---- Essa hierarquia a que você se refere é inconstitucional!  O Puxa-Saco ficou olhando pra mim com cara-de-bosta. Eu fiquei olhando pra cara do Puxa-Saco com cara de não-tô-nem-aí. Então, depois de termos ficado alguns minutos nos analisando, eu lhe perguntei:                                                                                              ---- Escute, esse sujeito que inventou essa lei especial de isolamento pro rapaz era o prefeito da cidade, você disse? ---- ERA! - gritou ele. ---- Mas isso é ditadura, moço! O isolamento era um siste¬ma usado no comunismo da extinta União Soviética. Os dissidentes, os linguarudos, apodreciam nos campos gelados da Sibéria! (As coisas não apodrecem no gelo, mas, o bobo provavelmente nem sabia disso!)  ---- NÃO INTERESSA! ELE ERA O PREFEITO! ---- Mas como o pessoal da cidade votou nele? Eu perguntei e fiquei encarando o Puxa-Saco. Ele ficou, durante algum tempo, olhando pra mim com cara-de-bosta. Eu fiquei olhando pra ele com cara-de-não-tô-nem-aí.  ---- Como? - insisti. O Puxa-Saco, então, ficou sem graça e virou a cara-de-bosta pro lado da estante encostada na parede à sua direita e não me respondeu. Eu, então, me lembrei da reunião na garagem: a pressão! Era de praxe!  Ficamos em silêncio por um instante. Por fim, eu disse: ---- Já tá quase na hora do almoço. Vou embora pra obra. Tem mais alguma coisa? Quando eu comecei a me levantar, o Puxa-Saco me disse, com raiva:                                           ---- Júlio César, eu acho melhor você parar com estas histórias, esses deboches. Você tá incomodando - e muito! Caso contrário, vou ser obrigado a dizer ao doutor! Pense nisso! Eu encostei a cadeira à mesa, saí pela varanda, dei a volta à casa e peguei o guincho pro oitavo andar.  Eu nunca mais vi Gracinha. Algum tempo depois, alguém me disse que ela saíra da Zona e se juntara com um velho grã-fino da periferia da cidade. E que ela passara as mãos nos pertences do velho e até o chapéu panamá legítimo que ele usava pra cobrir a careca tinha desaparecido. E que ela xuxara a perereca com tanta fúria no velho que ele entortara o esqueleto pra frente e pro lado e andava com dificuldade, arrastando os pés e trombando pelas paredes e estava com voz de taquara rachada, falando guinchando como um rato quica. E que, mesmo quando estava usando dentadura, a boca muchibenta do velho ficava chupada pra dentro, parecendo um cu de galinha.CurtirComentarCompartilharComentários
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betelgeusepixie · 6 years
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Felicidade Clandestina - Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser. ”Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse ” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
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bazzverse · 4 years
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𝒘𝒊𝒕𝒉 𝒈𝒘𝒚𝒍𝒊𝒎 ( @lovebvmb​ ) :
Bastou que o professor de poções anunciasse que o trabalho seria em dupla para que Alina corresse em saltitos apressados até a mesa do ( pseudo ) gótico bonitinho da sala. Normalmente imploraria para Liesbeth para fazer o trabalho com ela, ou então direto para o a mesa do docente, implorar que lhe deixasse fazer com seu ( agora ) adorado príncipe Maven — tudo bem que ele não participava daquela turma, mas ora, era a oportunidade perfeita para ele perceber que a amava e assim finalmente conseguir seu felizes para sempre!!!! Só que era justamente ele se fazer de difícil que tornava aquele trabalho útil. ❛ Oi, ei. Você é o Gwylim, certo? ❜ Primeiramente, Pyotr livre, costumava ser a primeira coisa que pulava de seus lábios, mas graças ao Narrador a justiça havia sido enfim cumprida e seu irmão descansava livre, leve e solto no Pólo Norte. ❛ Então, como vai. Eu sou a Alina, mas isso você provavelmente já sabe. ❜ Fingindo ( e mal ) falsa modéstia, ela revirou os olhos com leveza, logo abrindo um sorriso de orelha a orelha. E sem esperar por permissão ou qualquer resposta, a loura se sentou ao seu lado. Não tinha tempo a perder, afinal. ❛ Então, companheiro, eu vou direto ao ponto. Tenho uma proposta í-rre-cu-sa-vel só pra você: que tal eu e você, nós dois juntos, fazermos esse trabalho, heein?? ❜
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