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#neoliberalismo de esquerda
adriano-ferreira · 9 months
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Neoliberalismo e crise do Direito Social
1. Transformações econômicas no último quarto do século XX O último quarto do século XX foi um período de transição econômica marcado por inovações tecnológicas, globalização e mudanças substanciais no modelo de produção capitalista. Aqui, dissecamos essas transformações: a. Terceira Revolução Industrial e Pós-Fordismo: A Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Digital,…
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xxanosamil · 5 days
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Lista parcial dos termos demagogizados segundo o que até agora pensei. Interesse a todos os que querem se imunizar dos fatores abióticos causados pela socioetnia humanista e neohumanista e agir de maneira a valorizar a e-volução, realizar seu caminho pessoal e colaborar com os que possuem afinidade cósmica:
Politicamente correto = regras de etiqueta.
Esquerda = humanismo/neohumanismo.
Transformar a sociedade = modelar a sociedade.
Mudar o mundo = civilizar as pessoas.
Revolta armada = muitas vezes, ditadura militar, mas nem sempre.
Problematizar = estigmatizar.
Desconstruir = construir.
Democracia = status quo.
Ser contra o moralismo = moralismo.
Direitos = monopólio republicano.
Fascismo = individualismo e igualdade.
Racismo = individualismo e igualdade.
Machismo = individualismo e igualdade.
Igualdade = subarquismo.
Liberalismo/neoliberalismo = individualismo e igualdade.
Desigualdade = diversidade.
Não há essência humana = a essência humana é a plasticidade.
Não acho que a lista tenha fim definitivo mas também não penso que ela seja perpétua. Mas é preciso, para aqueles que querem se imunizar ao máximo e continuar a buscar a s-Verdade, compreender os conscientiais dos humanistas e neohumanistas; acessar o conteúdo demagógico dos mesmos e velhificar o que inventam que é absolutamente novo.
Se os julgarmos pelos próprios termos, ao invés dos zilhões de termos pré-existentes, termina-se concluindo que são a suprema luz na Terra contra os medievos conservadores e assassinos liberais. E alguns andam a e-confundir: como uma parte dos consumidores da Dinâmica em Espiral que supõe ser os neohumanistas, agentes de nível de consciência verde. Não. Eles são roxo e vermelho. Concedo tal ponto talvez para os eco-globalistas.
E estes continuam a pensar de maneira universal, só que desta vez, infrarquista (possivelmente).
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355fabioguerra-blog · 7 months
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Eu tenho ordem para seguir as políticas que deve ser seguida tô ajudando a Argentina ganhar as eleições assim como a Judeia ganhar a copa é certos que um jornalista derrotados das duas emissoras tentam querer passar a perna mas não consegue aí tentam querer criar situações para atingir minha família eu vou mandar um recado para vocês para todos vocês que nem a minha mente eu tô pronto para o combate para o jogo eu tenho armamento invisível não está sobre o meu controle mas tá sobre a minha disposição para afundar o rio de janeiro São Paulo ou qualquer outro país é um piscar de olho uma faísca de luz eu não tenho medo de mais nada treinado pelo senhor capa preta posso parecer bobo meigo mas aquele que nem a minha mente sabe tudo que acontece no meu redor aí tentaram atingir minha família porque eu tô ajudando a esquerda da Argentina ganhar as eleições neoliberalismo da mídia conservadora vai assistir a derrota do conservador não é o capitalismo da Argentina há uma política em andamento há um movimento espiritual dentro do planeta e fora do planeta coisas invisíveis acontece a todos os tempos nas profundezas do universo e nas profundezas dos sonhos coisa que você jamais verão o que vai ocorrer eu tô disposto a pagar o preço pela política estou disposto a botar o jogo da política pode esquecer vocês não vão mais me internar vocês podem até não duvidar mas se tá acontecendo eu não tenho mais nem a doença
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brasilsa · 2 years
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cultrevista edição do mês | Anos antes da chegada de Bolsonaro ao Planalto, um novo ativismo de direita passou a ocupar as redes e as ruas brasileiras, deixando atônitos analistas políticos acostumados a associar movimentos sociais e manifestações apenas a grupos de esquerda.
Houve quem dissesse que, a despeito do uso de técnicas contemporâneas de ativismo, as ideias defendidas pelos militantes seriam basicamente as mesmas da direita tradicional atuante no país: neoliberalismo e conservadorismo.
No entanto, o bolsonarismo, surgido entre 2014 e 2015, se apoiou em um outro fenômeno político de quase 15 anos: o surgimento de uma nova direita brasileira.
Antes de apontar como a nova direita brasileira surgiu, é preciso responder à pergunta sobre o que de fato haveria de novo na nova direita.
Leia trechos do ensaio de Camila Rocha em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-que-ha-de-novo-na-nova-direita-brasileira/
A Cult de novembro já está disponível em bancas, livrarias e em nossa loja virtual: https://www.cultloja.com.br/produto/cult-287-novembro-2022/
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portalcontexto · 2 years
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Livro explica o que Direita e Esquerda defendem
Livro explica o que Direita e Esquerda defendem
O que a esquerda e a direita defendem? “Ideologia: uma para viver” explica. Imagem: Divulgação A cientista política Juliana Fratini reuniu pesquisadores de diversos espectros para apresentar um panorama completo do atual pensamento político Em um ano de eleições, muito se fala sobre esquerda, direita, neoliberalismo, comunismo, fascismo e outros termos políticos. Porém, o que realmente essas…
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gladsontarga · 2 years
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Es hora de cambiarlo todo!
Viva Chile! Viva Boric! Es hora de cambiarlo todo!Gabriel Boric foi hoje empossado presidente do Chile! Que a vitória do povo chileno sobre o neoliberalismo e os puxadinhos do imperialismo euronorte-americano na América Latina, inspire novas vitórias, fortaleça as lutas e não permita que a esquerda latino-americana se corrompa e caia nas armadilhas limpinhas cheirosas do liberalismo…
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geralnasaude · 3 years
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Depressão: ‘Pessoas olham à própria vida como se fosse uma empresa a ser medida pelos resultados’, diz psicanalista
Autor do livro recém-lançado ‘Uma biografia da depressão’, o psicanalista e professor da USP Christian Dunker conversou com a BBC News Brasil sobre saúde mental em tempos de pandemia e por que o neoliberalismo também influencia a forma como sentimos tristeza. ‘Não precisamos de um batalhão de psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, especialistas em sintomas. Precisamos de muita gente atenta ao sofrimento’, diz Dunker sobre o que chamamos de depressão Cortesia/BBC Que nome tem o sofrimento de nossa época? Conversas do cotidiano, diagnósticos e levantamentos mundiais afirmam que é depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas no mundo convivem com o transtorno mental, cuja incidência aumentou mais de 18% entre 2005 e 2015. Demi Lovato revela dificuldade para ficar sóbria após overdose; entenda por que deixar a dependência química é tão difícil A depressão tem nomeado uma série de formas, descrições e vivências distintas, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que se sofria de outros nomes, mas a própria recorrência do diagnóstico da depressão oferece pistas de como está nosso sistema de desejos e escolhas nos últimos 40 anos, explica o psicanalista Christian Dunker. Professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Dunker acaba de lançar o livro Uma biografia da depressão (Paidós). Depois de falar por milhões, a depressão ganha voz para documentar sua história e apresentar seus familiares, colocando em narrativa sua existência e suas relações com trabalho, cultura e economia. O psicanalista, que é coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP, onde pesquisa as formas de sofrimento no neoliberalismo, afirma que o foco em tarefas e resultados tem inibido as perguntas sobre o desejo de cada um. As causas daquilo que faz sofrer deixaram de importar, e uma lista de sintomas passou a servir respostas onde deveria haver mais perguntas. “Depressão e ansiedade acabam sendo duas formas de sofrer que vão compactando a narrativa, a tal ponto que o sujeito acaba se resumindo a ‘eu sou um depressivo’. Faz parte da depressão essa demissão de contar sua própria história e dividi-la com o outro”, afirma, em entrevista à BBC News Brasil. Isso trouxe consequências. “Durante 40 anos a gente olhou pra depressão como meramente um efeito de déficit de neurotransmissores. Portanto, não fazia diferença como você fala da sua vida, pra quem, como você se entende. Agora estamos pagando a conta desses anos que, entre outras coisas, não investiram no que podemos chamar de instâncias protetivas.” Se há uma profilaxia para a depressão, ela precisa passar pelo cuidado consigo e com os próprios limites, explica o autor. “Não precisamos de um batalhão de psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, especialistas em sintomas. Precisamos de muita gente atenta ao sofrimento, de práticas que transmitam para as pessoas que elas podem se cuidar e se prevenir, cada qual do seu jeito”. Confira os principais trechos da entrevista: BBC News Brasil – Como a depressão chegou ao posto de diagnóstico mais frequente para se descrever as formas de sofrimento mental em nossa época? Christian Dunker – Existem várias condições para que a gente eleja uma determinada forma de sofrimento como aquela que melhor nos representa. Isso aconteceu ao longo da História com a histeria, a hipocondria e a melancolia. Dá a impressão de que essa palavra vai representando cada vez mais gente até que se esgota e precisa ser substituída por outra, pois passa a representar tantas variantes de sofrimento que perde sua eficácia em termos das gramáticas de reconhecimento. “Depressão” foi eleita, e não outra, principalmente porque desde os anos 70 ela é uma forma de sofrimento onde o conflito não aparece como muito fundamental, mas, sim o jogo de intensidades: nossos afetos, ânimos, nossa motivação. Isso passa a ser muito valorizado justamente nesse momento histórico em que as pessoas começam a olhar para sua própria vida como se ela fosse uma empresa, como se ela pudesse ser medida pelos resultados; a gente entra numa cultura de avaliacionismo. Os anos 70 inventam a ideia do no limits [não há limites], de que a gente pode e deve ser feliz, como diz a definição de “saúde” pela OMS: o mais completo estado de bem-estar bio, psíquico e social. Se isso não é uma idealização do que alguém pode esperar da vida, então não sei o que é! Em comparação com isso, aqueles que têm outro modo de funcionamento, que estão em outro tempo, que não conseguem fazer frente à lógica do produzir e consumir, ganham visibilidade, porque é como se estivessem ofendendo não só a si mesmos e aos familiares, mas a todos nós e ao sistema. Alguém que se recusa a sair da cama, alguém que perdeu a vontade é alguém que perdeu o desejo numa cultura em que o desejo é farto, livre e identificado com o consumo; daí a visibilidade dessa forma de sofrimento. BBC News Brasil – Quais as consequências desse apagamento do conflito? Dunker – Tem teorias que valorizam o conflito, mas há também aquelas que vão dizer “olha, o conflito não é tão importante”. Acho que essas outras maneiras de pensar são adequadas ao momento atual. Vamos lembrar de 1989, ano em que o muro de Berlim cai. É o fim das utopias, da Guerra Fria, de um mundo em que a gente tinha uma geografia muito clara de direita e esquerda, Ocidente e oriente. Esse é o mundo do conflito. Essa premissa vai sendo reduzida e aparece uma nova forma, que diz assim: no fundo, o conflito só existe pra quem não sabe gerenciar as coisas e não sabe se organizar. Porque em uma vida em estrutura de listas, em que o objetivo é relativamente simples, o conflito que você tem é local, como realizar tarefas e entregar resultados. Se a gente se orienta pra isso, não tem motivo pra se perguntar o porquê dessa tarefa ou daquela outra; o foco é no resultado, no fim. Com isso, a gente perde o foco no processo. Se você entregar o resultado, está bom. BBC News Brasil – Como isso aparece no dia a dia? Dunker – Se for pra virar a noite pra entregar a pauta, você vira a noite; se for pra trabalhar no fim de semana, você trabalha; se for pra prejudicar alguém, você faz isso também. Ou seja, a gente foi criando um esquema de relações profundamente ofensivo pra nosso cuidado de si e para nossa subjetividade. A desativação do conflito deu muito resultado porque fez as empresas descobrirem que ao aumentar o sofrimento das pessoas, você aumenta o resultado e a performance. Mas isso também foi acelerado pela linguagem digital e a formação das comunidades virtuais. Se estou tendo um conflito com você, eu dou um delete, um unfollow, cancelo. São dois procedimentos básicos que têm muito a ver com a emergência da depressão: diante da contrariedade, module a realidade: então, mude de país, de casa, de relacionamento e de ambiente. O segundo é altere a paisagem mental: tome uma coisa, cheire outra, tome outra pra dormir, acordar, transar… Se você tiver uma boa realidade construída, tudo vai ficar bem. Não, tudo vai ficar deprimido! BBC News Brasil – Por que a narrativa contemporânea da depressão é marcada pela individualização do sofrimento, como “aquele que fracassa sozinho”, “fica à margem” e “não performa suficientemente”? Dunker – A depressão tem um mecanismo importante que é a autoavaliação. Freud falava que o supereu observa, julga e pune. O supereu é uma interiorização de uma certa versão da lei, frequentemente patológica e obscena. É uma versão da lei que é a sua lei. Deleuze, Foucault e vários críticos apontaram o momento em que você não precisa mais de um feitor te ameaçando e falando alto com você. Pelo contrário, o gestor é soft, ameno, tem valores humanísticos. Mas ele sabe ativar em você essa autoavaliação que já está em todos nós, mas vamos dizer, tem a preferência do deprimido. “Estou falando com ela agora, será que está sendo interessante?”. Quando me autoavalio, não estou mais com você, estou nesse circuito superegoico. Isso produz cansaço porque é como você levar uma vida dupla: estou com as pessoas e estou na paralela com essa contabilidade íntima. A gente sabe que o cansaço abre-se para uma correlação com a depressão. Nesse contexto, a ansiedade é como fazer valer essa lei de que “eu controlo”. Eu controlo fora. Se não controlo, é porque não tenho os meios, o dinheiro, o poder nem a fama pra fazer isso. E eu controlo dentro, tomando uma pílula, meditando. Essa ideia da controlabilidade vai transformar minha relação com o desejo, ainda a ser nomeado, numa relação com metas e coisas que posso contabilizar. Isso é terrível porque voltando ao processo depressivo, vou começar a me relacionar com meu desejo transformando-o em demandas, tarefas. Você começa a se perguntar cronicamente “mas o que será que eu quero?” e começa a se responder numa via tipicamente depressiva que é “eu não quero isso, eu não quero aquilo lá também”. Isso funciona como uma inibição do desejo e já não consigo sair da cama. Estou me produzindo uma inibição no desejo porque o desejo me provoca ansiedade, já que ela está ligada a métricas que não alcanço. Disso decorre um rebaixamento do eu, um sentimento de inferioridade e a progressão dessa culpabilização que tão frequentemente caracteriza o depressivo. Tem ainda a experiência com o prazer. Um depressivo cruza uma certa fronteira quando começa a perceber que tem um problema na capacidade de sentir prazer. Ele toma mesmo vinho, dança com mesma mulher, vai ao mesmo jogo, lê o mesmo livro e não tem aquela satisfação que teve algum dia. Muitas vezes isso é dado pela dificuldade do depressivo de sustentar cadeias mais extensas de satisfação, que envolvem você ir encontrando satisfação durante o processo e não só no fim. Uma coisa característica são os prazeres rápidos, curtos e que estão à mão. E aí você vai ter a coligação mórbida e tão frequente do depressivo com o álcool e com certas dependências, como a de pornografia. BBC News Brasil – No livro você aborda o quanto o conceito do que chamamos de ansiedade também foi passando por uma perda da historicidade. Dunker – Sim, e provavelmente a depressão e a ansiedade são uma coisa só. São partes de um mesmo processo em que você tem sujeitos que estão mais próximos de um polo ou de outro, mas a grande maioria trafega entre “eu me aproximo do desejo, isso me dá uma crise de ansiedade” e “eu recuo do desejo e daí faço uma crise depressiva”. Pra sair da depressão, eu volto para a ansiedade. São muitas as fórmulas que combinam essas duas coisas. Para a psicanálise, a ansiedade é uma forma específica da angústia, e angústia tem uma dupla função: ela pode ser o início de um desejo, ou o ponto de recuo. Encontrei a angústia: eu vou pra frente e me arrisco, ou eu volto e pelo menos protejo meu eu de sofrer. Esse circuito fica mais compreensível se a gente juntar as coisas. Mas o DSM [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, sistema de classificação utilizado pela psiquiatria] separou e isso faz parte do universo que criou a depressão, ou seja, a ideia de que os nossos transtornos mentais já não têm mais estrutura narrativa, têm estrutura de lista. Tal e tal sintoma, então é depressão. Tal e tal sintoma, então é ansiedade. Qual é a causa? Não importa. Depressão e ansiedade acabam sendo duas formas de sofrer que vão compactando a narrativa, a tal ponto que o sujeito acaba se resumindo a “eu sou um depressivo”. Faz parte da depressão esse déficit narrativo, essa demissão de contar sua própria história, sua vida, e dividi-la com o outro. BBC News Brasil – Há alertas sobre a incidência de depressão durante e no pós-pandemia. Você acha que estamos discutindo as perdas o Brasil está vivendo? Dunker – Se por um lado o descaso na condução da crise sanitária pelo governo, o desdém pelo luto e a ausência de reverência com pessoas que pertenciam à cultura constituem uma tragédia particular brasileira, por outro marcam a negação do luto, que é uma das vias pelas quais a depressão também se instala. Tipicamente o sujeito diz “ah, não perdi nada, eu só ganhei. Isso são números, são curvas, isso aí não me afeta”. Mas afeta de um outro jeito, isso volta como uma depressão inexplicável. Vamos ver os lutos que você deixou pelo caminho. No começo da pandemia no Brasil, os primeiros dados de pesquisa foram de aumento massivo de depressão, mas, na clínica, curiosamente isso não se confirmou tanto assim. Há casos de exceção, como quem está na frente de batalha ou os jornalistas; aí eu vejo realmente um aumento substancial de depressão e ansiedade porque ligados ao contexto. Em outro grupo muito extenso, a gente tem vidas que diminuíram a sua aceleração e isso sempre tem um valor terapêutico para o depressivo, porque ele está lutando contra a autoavaliação e um atraso crônico em relação ao tempo do mundo. Estou sugerindo que muitos depressivos foram protegidos da sua depressão pela quarentena, pelo “fica em casa”. BBC News Brasil – Da mesma forma, muito tem se falado sobre depressão entre crianças e adolescentes. Dunker – Uma criança de 4, 5 anos que não se dá bem com a tela e que estava nesse momento de descoberta real do outro tridimensional. Ela teve acesso a um novo brinquedo e perdeu. Quando volta? E você vai ter no outro lado jovens que estão no momento de “vou sair de casa, estou começando um novo momento de vida, me formando, entrando na faculdade”. Você tinha uma grande idealização numa cultura já marcada por um forte sentimento de desempenho e felicidade obrigatória. “Uhu, entrei na faculdade! Mas isso não é uma faculdade. É uma telinha, em que o cara aparece de vez em quando, nem olha na minha cara. Não é o que foi prometido”. Você vai encontrar aí alguns elementos propícios para quadros ansiosos e depressivos porque não há partilha com o outro. Vou acrescentar um grupo a estes que você falou: o dos idosos, em que você tem, de fato, perdas que incitam a processos depressivos. Perdas reais, sem condição de elaboração do luto. Dependendo, claro, da condição de cada um, os idosos enfrentam situações em que um ano a menos não tem reposição. BBC News Brasil – Pensando nessa incidência tão massiva da depressão, qual a importância das políticas públicas de prevenção? Dunker – Durante 40 anos a gente olhou pra depressão como meramente um efeito de déficit de neurotransmissores. Portanto, não fazia diferença como você fala da sua vida, pra quem, como você se entende. Agora estamos pagando a conta de 40 anos que, entre outras coisas, não investiram no que podemos chamar de instâncias protetivas. Tem que olhar para as situações de sofrimento das pessoas. O sofrimento mal tratado vira sintoma. Não precisamos de um batalhão de psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, especialistas em sintomas. Precisamos de muita gente atenta ao sofrimento, de práticas que transmitam para as pessoas que elas podem se cuidar e se prevenir da formação de sintomas, cada qual do seu jeito. Veja como é difícil inocular uma saúde pública que não seja regra geral. Esse processo de encontrar os próprios mecanismos de proteção ainda não entrou na nossa cultura. A gente tem uma cultura de “vá à academia”, “coma verde”, mas quanto a cuidar de si, as pessoas não sabem por onde começar. Comece pela atenção ao sofrimento. Não é normal todo o sofrimento. Esse é suportável? De onde ele vem? Professores, pais, todo mundo tem implicação nisso. Esse processo de atenção ao sofrimento envolve, por exemplo, atenção a processos de isolamento. Nem sempre alguém que está num quarto jogando videogame está em isolamento, mas, às vezes está. Às vezes está fazendo isso para não ver os outros, e não como uma mediação para estar com os outros. Mas tem que ir lá ver, conversar, investigar, porque você não vai bater o olho e ver que tem um problema. Isso tem a ver com como as pessoas narram, nomeiam. E evitar nomeações fáceis como “isso é uma depressão”: vai tomar antidepressivo. Remédio sem palavra não é bom. Palavra, em relação, protege. Principalmente quando a relação consegue produzir certos efeitos protetivos, como intimidade (confiança, porto seguro) e comunalidade (pertenço a um coletivo, um grupo, uma família). BBC News Brasil – No livro você destaca a importância que o significante depressão adquiriu a partir da Crise de 1929. Qual a relação entre grandes crises econômicas e a depressão na saúde mental? Dunker – Aparentemente o significante depressão foi antes usado na economia e depois na psicologia. Ele existia, mas adquiriu grande popularidade depois que as pessoas interpretaram um estado de mundo – falta de emprego, inflação, perda de valor, decaimento – como isso é depressão. Não vamos ignorar as condições que temos de linguagem, trabalho e desejo. O ano de 1973 é quando pela primeira vez se aplica em um país – no Chile de Pinochet – as ideias do neoliberalismo da escola austríaca. Depois vieram Margaret Thatcher e Ronald Reagan e isso se tornou indiscutível – “a economia é isso, essa é a lei geral, você tem que aceitar”. Isso foi até 2008. Acho que podemos datar o reinado da depressão de 1973 a 2008. Não que o neoliberalismo tenha passado – pelo contrário, está mais vivo e exigindo mais de cada um de nós -, mas, porque, em 2008, parece que começamos a nos dar conta de que não está certo você impingir sofrimento ao outro para produzir mais e indefinidamente. VÍDEOS com novidades do Viva Você I Fonte g1.globo.com/ciencia-e-saude/ The post Depressão: ‘Pessoas olham à própria vida como se fosse uma empresa a ser medida pelos resultados’, diz psicanalista appeared first on Geral na Saúde .
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papoa · 4 years
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Decidi reproduzir aqui um texto que publiquei em minha conta pessoal em outra rede social acerca do processo de golpe contra a educação pública em curso no Estado do Paraná, Brasil.
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Sobre o atual golpe na educação do Paraná só tenho a dizer que é triste demais ver o caminho que os políticos criaram para a sociedade os seguir.
Militarizar colégios públicos na promessa da melhoria do sistema educacional com investimentos e o cultivo de valores, em especial disciplina e hierarquia, é a mentira mais bem orquestrada e vendida depois de anos e anos de ataques ininterruptos e sucateamento da educação pública.
O projeto para educação é claro, formar cidadãos totalmente passivos, que não se organizem para mudar seu país como no Chile, onde a população enfrentou o terror instaurado pelo Sebastián Piñera para enterrar a Ditadura de Pinochet de uma vez por todas e acabar com a imagem de perfeição do neoliberalismo que promoveu tanto sofrimento e causou essa explosão da população nas ruas.
É claro, no nosso caso esse movimento é feito para que nós não nos organizemos para acabar de fato com a farra da corrupção e do entreguismo do país. Muito mais fácil para eles - os políticos da situação e a ala da esquerda que faz o mesmo jogo da direita - gestar uma sociedade onde a maioria, inclusive aqui no "Sul Maravilha", cultive um senso de apatia e desinteresse em relação à política.
A realidade é que os problemas que existem vão se aprofundar, mesmo com esse discurso de que uma nova "Era de Ouro" está surgindo no país e no Estado.
O fato é que, na história, nenhuma "Era de Ouro" é real. Os problemas existem e não deixam de existir com promessas e manobras politiqueiras como essa que o Ratinho Júnior e a Assembleia do Estado do Paraná estão fazendo às pressas em condições favoráveis à eles e seus interesses que nada têm a ver com o bem estar da sociedade de fato.
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Sintomas Mórbidos - Sabrina Fernandes
Declamação: Os resumos de livros e textos serão, doravante, mais frequentes. Me permitirão, mais do que compartilhar com um eventual paraquedista digital, guardar, ordenadamente, as lições, as ideias, os olhares para dentro que arranquei das páginas que me aventuro a ler. É mais um auto exercício de organizar, lembrar, sintetizar e redigir. Se aproveitar a alguém, bom proveito. Se não, aproveito a mim.
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 Título: Sintomas Mórbidos – A encruzilhada da esquerda Brasileira
Autora: Sabrina Fernandes
Ano: 2019
Editora: Autonomia Literária
Formato: Digital
Estilo e Temas: Ciência Política. Marxismo. Atualidades
 Meu primeiro contato com a Sabrina Fernandes foi através de seu canal no youtube, Tese Onze. Fiquei encantado com a forma que ela abordava os temas, a atualidade, a simplicidade. Mais que isso, fiquei maravilhado de achar uma “blogueira” da esquerda em tempos que hordas de trolls, robôs e influenciadores digitais guinam rumo ao neo-fascismo. Suas análises marxistas, atuais e embasadas foram uma lufada de ar fresco. O sentimento foi de alívio: “que bom, alguém está fazendo isso!”.
 Uma coisa levou a outra, entre vídeos e acompanhamentos esporádico de sua trajetória, adquiri seu livro. E que bela aquisição e bem-vinda aquisição.
Antes de iniciar a resenha, importante esclarecer que as referências numeradas remetem a citações diretas do livro, cuja função é ajudar a definir conceitos, contextualizar e melhor expor o livro.
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O livro da Sabrina propõe-se a ser um guia, sucinto, da conjuntura da esquerda desde as manifestações de junho de 2013. Sua tese central é de que, a crise da esquerda é uma crise de práxis e que os desdobramentos dessa crise vieram se consolidando de maneira mais repentina a partir da ruptura do evento que foram as jornadas de junho. Onde multidões[1] diversas e despolitizadas se encontraram e alteraram o status quo.
Aliás, para ela, as interpretações são múltiplas e por meio de diversas entrevistas de campo com diversos atores da esquerda, a autora dá voz à todas as interpretações do fenômeno de junho de 2013.
De base teórica fortemente inspirada em Gramsci, a autora afirma que estamos vivendo num interregno onde o velho ainda não morreu e o novo não está ainda pronto para nascer. Ou seja, nem a esquerda consegue organizar e nem o projeto da direita está coeso, apesar de hegemônico[2].
Hegemônico porque a correlação de força, por sua vez, girou nitidamente para a Direita[3], que se aproveitou das políticas petistas nos governos Lula e Dilma para se consolidarem[4]. Nesse sentido, Sabrina não poupa o PT de críticas, pelo contrário, mas também imputa considerável responsabilidade à Esquerda Radical.
Aliás, esse é um dos méritos mais consistente do livro, um didatismo esclarecedor, com conceitos bem destrinchados que nos ajuda a interpretar melhor os acontecimentos de junho de 2013 até a eleição do Bolsonaro.
A autora faz questão de delimitar os conceitos do que para ela seria uma Esquerda Moderada (PT, PCDoB, MST, CUT) e Esquerda Radical (PSOL, PCB, MTST)[5].
Igualmente, introduz e separa conceitos chaves como Pós-Política[6] e Ultra-Política[7]. Crítica e dialética, com o olhar firme na realidade, a autora não poupa a esquerda e analisa alguns casos em que os próprios revolucionários moderados e radicais usaram da pós-política[8] ou até da ultra-política como ferramenta.
Vanguardismo[9]. Sectarismo[10]. Trabalho de Base. Hegemonia. Progressismo. Todos os termos, e mais dezenas de outros comum ao jargão de esquerda, são trabalhados de uma forma didática e com os pés no chão, ligando diretamente os conceitos à questões que vivenciamos diariamente. Dessa forma, o livro ajuda a decifrar e entender os sentidos por trás de frases que ouvimos no dia a dia como:
- A esquerda precisa de unir.
- O PT não faz autocrítica (e ela explica por que)[11]
- Precisamos estar nas ruas para derrubar o _____ (governante de direita da sua escolha)[12]
- PSOL é capacho do PT[13].
- O PT fez conciliação de classes[14] e deixou de ser esquerda.
- O PCdoB é stalinista.
- Votei no Ciro como voto útil para não eleger Bolsonaro.
- PDT é esquerda?[15]
Suas referências são diversas no campo da esquerda. Mas os que mais aparecem são o já citado Gramsci, além do Paulo Freire, Slavoj Zizek e Jodi Dean.
Por fim, Sabrina trabalha o conceito de Melancolia na nossa esquerda, fragmentada[16] e canibal[17]. A Melancolia teria afetado tanto a ala moderada e a ala radical, o que levou ambas à uma espécie de limbo, cada um por seus motivos, no atual cenário brasileiro.
Idealista, utópica, como qualquer bom revolucionário, Sabrina propõe, ao final, uma organização mosaica[18] das esquerdas. Através do debate franco, entendendo as contradições, fazendo sínteses, a esquerda seria capaz de encaixar-se num azulejo de mesa para formar um bloco histórico capaz de mudar o rumo do país nesses tempos de interregno, porque “O novo, afinal, é, de certa forma, herdeiro do velho num interregno. É possível que carregue ainda traços problemáticos e viciosos. Não há garantias de virtude no novo.”
P.S. Essa resenha prenuncia meu retorno aos blogs, à produção de conteúdo, àquilo que me atraiu há mais de dez anos a ter criado o primeiro Relatividade Restrita, ainda no blogspot.
[1] (..) “a multidão não tem política. É a oportunidade para a política. A determinação de se uma multidão é uma multidão ou o povo é resultado de uma luta política”.283 283 Jodi Dean, Crowds and Party, Verso (London, 2016)
[2] O papel do socialismo é de construção de hegemonia, e, portanto, é necessário abordar mais que formas, mas também conteúdos, precisamente o do poder: sua tomada, sua destruição, sua reconstrução.
 [3] Provavelmente, o maior triunfo na luta política da direita pelas multidões em Junho foi a sublimação de uma crise classista politizada de representação (das tarifas à rejeição da política tradicional oligárquica) em uma questão moralista e antiesquerda contra a corrupção.
 [4] A despolitização no Brasil é o resultado indireto da conciliação de classes, dos métodos de coerção e da construção do consentimento na base do senso comum no poder, bem como do resultado direto do projeto de direita para remover, diluir ou contorcer a ideologia, alterar a consciência de massa, controlar a produção cultural e seus resultados, divulgar informações manipuladas e preconceituosas como legítimas (posteriormente elaborado como fake news e a era da pós-verdade), reter o pensamento crítico e impedir a organização e mobilização coletiva, desde a ação de partidos políticos até comícios locais.
 [5] A esquerda radical opõe-se ao capitalismo e se empenha na luta contra ele através dos explorados e oprimidos, enquanto a esquerda moderada opera sob as regras do neoliberalismo e frequentemente divide e coopta grupos radicais para neutralizar suas atividades.
 [6] A pós-política, modo de despolitização que descola a realidade material dos projetos e conflitos políticos da sociedade sob a ideia de que é tudo uma questão de gestão e de ética predominou por um tempo
 [7] Slavoj Žižek, em uma nota de rodapé em um livro de 1999: “A ultrapolítica recorre ao modelo de guerra, a política é concebida como uma forma de guerra social, como a relação para com ‘Eles’, para com um ‘Inimigo’.”314 314 Žižek, The Ticklish Subject, 241.
[8](...) a pós-política tem uma incompatibilidade inerente com a política da esquerda, porque cria um falso dilema, postulando que o problema do conflito não seria o conflito em si, mas a recusa da esquerda em se comprometer e se engajar em debates de conciliação tecnocrática com as estruturas do capital e da opressão. Žižek em Dean, “Žižek against Democracy,”
 [9] (...) vanguardismo, pois a tarefa crítica é delegada para lideranças que concentram a tomada de decisões e o exercício intelectual em seus grupos. Esse vanguardismo pode acabar gerando desconfiança não somente nas outras organizações, mas também internamente – mais uma vez, retroalimentando a lógica da cisão.
 [10] Para Gramsci, o dano do sectarismo relaciona-se com o conteúdo político das lutas: “Sectarismo é ‘apolitismo’ e, se você olhar para ele, o sectarismo é uma forma de ‘apadrinhamento’ pessoal, ao passo que falta o espírito partidário que é o elemento fundamental do ‘espírito público.’”426 426 Gramsci, The Modern Prince & Other Writings, 145
 [11] (..)autocrítica como um processo de formação de sínteses e transformação da prática que impactaria inclusive as regras vigentes do “jogo” dessa democracia liberal, tomavam a crítica como danosa – daí a confusão destrutiva entre crítica à esquerda e ataques pela direita.
 [12] A rua é meio, raramente é fim, quase nunca é começo.
 [13] O PT continua a homogeneizar o espaço de esquerda e a trabalhar com a esquerda radical somente quando espera instrumentalizá-la para a manutenção do projeto moderado.
 [14] Segundo Lula, “um governo de conciliação é quando você pode fazer mais e não quer fazer”.
 [15] Apesar das organizações aqui classificadas como esquerda moderada serem identificadas em outros espaços como centro-esquerda, mantenho aqui a distinção justamente porque na centro-esquerda, e em espaços gerais centristas, também se encontram organizações com viés progressista, mas cuja visão política não se atrela ao antagonismo da luta de classes.
 [16] Hoje em dia, a esquerda mal consegue se assegurar para a maioria da população como representante da luta por direitos básicos democráticos, quem diria pautas mais concretas que exigem a execução de um projeto político por parte da esquerda.
 [17] A fragmentação é ruim como parte de uma crise de práxis: ausência de sínteses entre a crítica e a autocrítica, o engajamento com despolitizações e a permanência da lógica da cisão como central ao desenrolar das várias organizações diante de dilemas.
 [18] (...) se faz necessário imaginar uma configuração que reconheça as diferenças legítimas de posição na esquerda brasileira, ao mesmo tempo que combata a melancolia, a lógica da cisão e permita um engajamento mais coordenado e consensual em tarefas de politização.
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dcvitti · 4 years
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A alternativa de esquerda pode ser assim compreendida: construir maioria ativa em torno da saída do presidente por via legislativa ou jurídica, intervir com um programa de proteção social e de reorganização da economia em oposição ao neoliberalismo e resgatar a soberania popular frente à crise do governo da extrema-direita. Ela exige ousadia e radicalidade democrática.
Por isso mesmo, a frente de esquerda, com a participação decisiva do PT, é fundamental e necessária para a solução democrática da crise nacional: só ela pode construir a resposta imediata e histórica à ordem burguesa dependente e regressiva.
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Recentemente [Algum tempo atrás], um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados”.
Continue a leitura em:
 https://bit.ly/2ttOUvN
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revistazunai · 5 years
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O ovo da serpente
Editorial Volume 4 Número 2
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Charge em jornal francês
Desde o golpe de estado de 2016, que derrubou a presidenta legítima do Brasil, Dilma Rousseff, eleita com 54 milhões de votos, por um movimento de direita liderado pela grande imprensa – sobretudo a Rede Globo de Televisão – e pelo Judiciário, teve início a implantação de um regime autoritário no Brasil, sustentado por grandes empresários, proprietários rurais, banqueiros, militares, pastores neoevangélicos e setores da classe média alta. A prisão sem provas do ex-presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e a  vitória de Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército, defensor da tortura praticada na ditadura militar, nas eleições presidenciais de 2018, deram a esse regime autoritário uma coloração semifascista. É possível verificarmos várias afinidades entre os métodos violentos e o discurso de ódio de Jair Bolsonaro com os de Franco, Hitler ou Mussolini, mas há também diferenças importantes. Se a ideologia é similar – negação da diversidade sexual e dos direitos sociais, anticomunismo, antifeminismo, irracionalismo, afirmação da supremacia masculina, branca, cristã e heterossexual, defesa de valores tradicionais em relação à família e à religião, “nacionalismo” (ainda que caricatural) – e também as práticas de intimidação violenta, o projeto econômico do líder autoritário brasileiro é muito diferente. Os regimes fascistas clássicos europeus estavam baseados no modelo do estado nacional forte, para fazer frente ao hegemonismo anglo-americano nos campos econômico, político, cultural e militar; havia intervenção estatal direta na economia e algumas concessões foram feitas aos trabalhadores, como a Carta del Lavoro, na Itália, em nome de uma unidade de classes em defesa da “raça” e da “nação” contra a “ameaça comunista”.  Já o modelo bolsonazista vai em outra direção: defensor do “estado mínimo” neoliberal, pretende extinguir os direitos trabalhistas e previdenciários, permitir que as empresas privadas explorem os trabalhadores sem qualquer tipo de proteção legal aos assalariados, eliminar qualquer barreira protecionista, abrir o mercado brasileiro para o grande capital internacional, privatizar bancos públicos (responsáveis por programas sociais e projetos de desenvolvimento), entregar nossas riquezas naturais – como a Amazônia e as reservas de pré-sal – a investidores estrangeiros, cortar drasticamente os investimentos públicos em educação, saúde, ciência, tecnologia, esportes, além, é claro, de golpear fortemente os sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda, até colocá-los na ilegalidade, utilizando para isso a bizarra lei antiterrorismo e a força policial-militar, incluindo os métodos da tortura e do assassinato de opositores. O obscurantismo do novo regime, cujo principal ideoleógo, o radialista e astrólogo Olavo de Carvalho (que se apresenta como “escritor” e “filósofo”), acredita que a terra é plana – inclui ainda a retomada das terras de índios e quilombolas para a atividade econômica, a legalização da posse de armas e da prática da caça, o desrespeito ao meio ambiente, a restrição xenofóbica à entrada de imigrantes no Brasil e a retirada do país de acordos internacionais em relação ao meio ambiente e ao clima (questões consideradas pelos novos detentores do poder como formas de “marxismo cultural”). No campo da educação, o novo regime defende a redução orçamentária, a privatização de universidades públicas, o fim das cotas para afrodescendentes, o ensino à distância desde o fundamental e ainda a extinção de cursos de humanidades, a censura  aos professores, o fim da aplicação do método Paulo Freire, o controle ideológico da bibliografia educacional, a concessão de bolsas de mestrado e doutorado de acordo com o perfil político de cada estudante, entre outras práticas ditadoriais. A implementação desse projeto, evidentemente, só será possível pela destruição do estado democrático de direito e sua substituição por uma ditadura militar-policial. Claro, tudo com as bênçãos dos pastores neoevangélicos do chamado “sionismo cristão”, que colaboram com a disseminação de preconceitos contra negros, mulheres, gays, índios e outros setores sociais e fazem o proselitismo político direto pró-Bolsonaro em seus “templos” e emissoras de rádio e televisão. A brutalidade neofascista (ou semifascista) brasileira está a serviço de um neoliberalismo radical, com vestimenta messiânica, que abre mão da soberania do país, inclusive oferecendo nosso território para bases militares dos Estados Unidos, para atender aos interesses da grande burguesia imperialista. Neste sentido, o que se passa no Brasil está mais próximo do que ocorre no Leste Europeu, e em particular a Ucrânia, após a queda do bloco socialista e sua substituição por regimes autoritários de direita. Com os Estados Unidos liderados por um gorila como Donald Trump, Israel por Netanyahu, o Brasil por Bolsonaro e a possível vitória da Frente Nacional na França, o mundo viverá um longo período de trevas. 
Claudio Daniel
Links com exemplos da violência praticada no país pelos adeptos de Bolsonaro:
CAPOEIRISTA é morto com 12 facadas por eleitor de bolsonaro
PROFESSOR é ameaçado de morte por eleitores de bolsonaro
GAY é morto em Curitiba por eleitor de bolsonaro
JORNALISTA é agredida e ameaçada de estupro, por eleitores de bolsonaro
ELEITORES de bolsonaro postam fotos com armas nas urnas
IRMÃ DE MARIELLE É AGREDIDA, COM A FILHA, por eleitores de bolsonaro
JOVEM É AGREDIDO por estar vestindo vermelho, por eleitores de bolsonaro
MILITANTE é agredida por eleitor de bolsonaro
FUNCIONÁRIA da campanha de Boulos é amaçada com arma por simpatizantes de bolsonaro
CACHORRO é morto em carretata, por eleitores de bolsonaro
JOVENS SÃO EXPULSOS de condomínio por eleitores de bolsonaro
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Esquerda: como proceder com governos incômodos?
 A posse de Nicolás Maduro, em seu segundo mandato presidencial, enseja um importante debate entre várias vertentes da esquerda: como tratar administrações que – sem serem de direita ou neoliberais – apresentam tantos problemas que se tornam incômodas para as forças democráticas e progressistas?
Vale a pena examinar alguns exemplos.
O CASO VENEZUELANO
O caso v enezuelano é complicado. Hugo Chávez (1999-2013) jamais caminhou rumo a uma ruptura socialista. Antes, realizou uma política de desenvolvimento centrada no Estado e na riqueza petroleira, cujos preços atingiram recordes históricos na década passada. Teve condições de expandir programas sociais importantes, melhorar a vida da população e sua inteligência política e carisma pessoal o transformaram em líder global. No entanto, durante sua gestão, a dependência econômica em relação ao petróleo aumentou. Para um país sem indústrias – é um debate complexo verificar os motivos de não se ter avançado nesse quesito – trata-se de aposta arriscada. A economia e o orçamento público flutuam ao sabor das cotações internacionais. Com a grande queda dos preços entre 2014-16, as contas públicas implodiram.
 MADURO LUTA PARA SE MANTER NO PODER
Não faz uma gestão democrática. Há denúncias de corrupção e a ineficiência dá o tom em vários níveis de governo. Mas nem mesmo o melhor dos “gestores” conduziria melhor a economia, nas condições dadas. O desemprego decolou e as condições de vida despencaram em sentido vertical. O colchão de proteção social dos anos Chávez praticamente desapareceu.
O problema maior está no autoritarismo e na violência. O governo perdeu as eleições legislativas, em 2015. Conseguiu evitar – valendo-se de artifícios jurídicos – que a oposição não obtivesse maioria qualificada para promover alterações constitucionais, mas perdeu a maioria simples.
Sem força no Legislativo, o mandatário apelou para um expediente de duvidosa eficácia: convocou uma Constituinte, sem esclarecer a necessidade de uma nova arquitetura institucional. A Carta de 1999, elaborada no governo Chávez, até agora não sofreu qualquer mudança estrutural para melhor.
Na verdade, buscou-se ali virar o jogo institucional com a Assembleia Nacional e ganhar tempo para colocar a casa em ordem, enquanto os preços do petróleo não subiam.
 MEDIDAS DESESPERADAS FORAM TENTADAS
O país passou a vender à China cerca de 30% de sua produção petroleira, com vários contratos no mercado futuro, alguns com vigência de 40 anos. O interesse de Pequim na Venezuela não é fortuito: o gigante asiático defende ali SEU petróleo, já pago, que ainda se encontra debaixo da terra.
Apesar de todos os percalços, a Venezuela controla sua produção, mantém o petróleo sob controle nacional, não adota o neoliberalismo como diretriz e não mudou sua política externa. Há excessos contra a oposição, mas o cerco econômico, político e comunicacional é brutal, bem como ações explícitas de sabotagem.
Detalhe: não há alternativa imediata à esquerda de Maduro. A queda do governo conduzirá o país – sob a batuta da extrema-direita local – à condição de semiprotetorado dos EUA, com a alienação das maiores reservas petrolíferas do mundo.
 NICARÁGUA
Para não nos alpngarmos, uma menção á Nicarágua: o governo Ortega é indefensável. Uma gestão que investe com mão pesada sobre manifestantes e provoca quase duas centenas de mortes em poucos meses nada tem de popular.
Nos dois casos, a esquerda não pode agir com o cinismo do Departamento de Estado, que sempre manteve seus “friendly dictators” tratados a pão de ló. Mas importa saber que algumas linhas não podem ser ultrapassadas.
Aos que se incomodam com o repúdio ao movimento golpista imperial contra Maduro e o apoio à sua posse, vale a pena recordar um caso muito próximo.
 DILMA
Dilma Rousseff realizou uma gestão abertamente neoliberal e de direita, em especial em seu segundo mandato. Sob nenhuma hipótese era possível apoiar um governo cujas marcas maiores foram mentir em campanha (2014), aplicar um duríssimo ajuste fiscal que tinha o objetivo de provocar uma recessão, dar uma guinada na política externa de Lula, retomar as privatizações, reduzir os assentamentos de reforma agrária a um patamar mais baixo do que os de FHC e legar disparates como a Lei Antiterrorismo, entre outras coisas.
O estelionato eleitoral de Dilma levou ao rompimento do PT com sua base social tradicional e a um desencanto geral de largas parcelas da população com a atividade política. Isso sedimentou o terreno em que vicejaram o golpismo e a extrema-direita. Essas duas vertentes são muito piores do que a gestão da petista jamais foi, mas não se pode deixar de vislumbrar que entre 2014-16 foram criadas as condições objetivas para a situação agora enfrentada no Brasil.
Mesmo assim, praticamente nenhuma força séria de esquerda deixou de se colocar contra o golpe de abril de 2016 e de denunciar seu caráter antidemocrático, antipopular e antinacional.
 QUEDA DE DILMA
A queda de Dilma foi um desastre para a democracia brasileira – com impacto global – e a derrubada de Maduro implicaria uma supremacia avassaladora da Casa Branca sobre o continente, com o isolamento ainda maior de Cuba, Bolívia e Uruguai. Talvez o mesmo se possa dizer da Nicarágua (embora eu tenha sérias dúvidas a respeito).
A defesa da legitimidade do mandato de Nicolás Maduro, em um mundo no qual a direita joga sujo para conquistar espaços, é iniciativa sobre a qual a esquerda não pode vacilar.
A política não é o reino da pureza e nem dos nítidos contrastes entre o bem e o mal. É o território das nuances e das alianças difíceis e intrincadas. É o território do pragmatismo. Em situações-limite, há que se tomar lado.
Não fazê-lo clara e concretamente agora implica abrir caminho para o inimigo.
 Fonte: Por Gilberto Maringoni, no Jornal GGN
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escritordecontos · 6 years
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Dias melhores virão, ou não.
O que está acontecendo com Justin Bieber? Preocupante. Amy Winehouse passou por fases terríveis, dente quebrado e tal. Briga com fãs. Bieber também briga com fãs. Seria um desejo de não ser desejado? Talvez. Bieber está assustadoramente estranho.
O presidente americano está traindo eleitores. Hoje foi a vez de Caitlyn Jenner tuitar desapontada com o homem que ajudou eleger. O ex-marido de Kris Jenner foi uma eleitora entusiasmada de Trump que agora não quer reconhecer a condição de gênero, o sexo é o do nascimento, nasceu com pinto entre as pernas vai ser do sexo masculino para sempre. Nada de escolher outro gênero depois de viver um tanto com um gênero. Barack Obama havia dado aos transexuais o direito de mudar de sexo. Aqui no Brasil não vai ser diferente, em poucos dias entraremos numa nova era, uma era conservadora regida pela direita. Direitos conquistados ao longo de anos e com muita luta poderão perder o efeito legal. Mas essa não é uma sina exclusivamente brasileira, o mundo pendeu para a direita nos últimos anos, a extrema direita não estava extinta, estava adormecida e no embalo da direita também está mostrando suas garrinhas.
Particularmente não sei se faz muita diferença no mundo atual ser direita ou esquerda, socialismo ou capitalismo selvagem, liberalismo ou neoliberalismo. A menos que o país se feche e se torne uma Coreia do Norte, mas nem a Coreia do Norte quer ser uma Coreia do Norte. Estou convencido pelas ideias do historiador Yuval Noah Harari que vivemos tempos de logaritmos, que são também tempos líquidos, de Zygmunt Bauman. Bauman e Harari, meus dois mentores espirituais. O mundo caminha para um caos controlado. Uns poucos viverão muito bem, mas muitos serão parias vivendo uma vida medíocre e sem nenhuma utilidade, serão vistos quase como que ladrões de coisas preciosas (água, alimentos e talvez até ar respirável). Certamente será preciso ter um controle dessa população ociosa, inconveniente e inútil, os valores humanos não serão de grande serventia para resguardar direitos (entende porque não fará muito diferença se o governo será direita ou esquerda? O que importará é a direção/destino-caminho para onde ser vai).
Talvez nesse dia o SER HUMANO não precisará mais de sexo físico, o prazer sexual poderá ser atingido de forma mais plena por outros meios. Não, não pense numa super masturbação, o homem do futuro não um punheteiro.
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afastemsevacas · 2 years
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Brasil, construtor de ruínas - 100 dias de governo
1) Perversão
Tanto a oposição quanto a imprensa, a sociedade civil organizada e até mesmo grande parte da população viveram os primeiros cem dias no ritmo dos espasmos calculados que o bolsonarismo injeta nas horas. (...) Os perversos corromperam o poder que receberam pelo voto para impedir o exercício da democracia. (...)
O que Bolsonaro aprontará hoje? O que os Bolsojuniores dirão nas redes sociais? Qual será o novo delírio do bolsochanceler? Quem o bolsoguru vai detonar dessa vez? Qual será a bolsopolêmica do dia? Assim é determinada a agenda do Brasil. Bolsonaro fez uma espécie de sequestro da mente dos brasileiros e tornou-se onipresente no cotidiano do país. (...)
O bolsonarismo vai muito mais longe (do que Trumpo). Ele simula também a oposição. A sociedade compra a falsa premissa de que há uma disputa. E assim qualquer disputa real é barrada ou mesmo neutralizada. (...)
Enquanto ele é ao mesmo tempo situação e oposição, não sabemos qual é a reforma que a oposição real propõe para o lugar desta que foi levada ao Congresso. Se ela existe, e há setores da esquerda que afirmam que ela existe, não consegue se fazer conhecer junto à população. Não há crítica genuína nem projeto alternativo com ressonância no debate público. E, se não há, é preciso reconhecer que então não há oposição de fato. Quem ouve falar da oposição? Alguém conhece as ideias da oposição? Quais são os debates do país para além dos lançados pelo próprio Bolsonaro e pelo seu clã em doses diárias calculadas? (...)
Outro exemplo é a demissão do ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez. Bolsonaro fritou o ministro que ele mesmo nomeou e o demitiu pelo Twitter. Ao fazê-lo, agiu como se outra pessoa o tivesse nomeado — e não ele mesmo. Chamou-o de “pessoa simpática, amável e competente”, mas sem capacidade de “gestão” e sem “expertise”. Mas quem foi o gestor que nomeou alguém sem capacidade de gestão e expertise para um ministério estratégico para o país? E como classificar um gestor que faz isso? Mais uma vez, Bolsonaro age como se estivesse fora e dentro ao mesmo tempo. Como se fosse, simultaneamente, governo e opositor do governo. (...)
Mesmo as minorias que promoveram alguns dos melhores exemplos de ativismo dos últimos anos passaram a assistir à disputa do governo contra o governo como espectadores passivos. Quem lutou pela ampliação dos instrumentos da democracia parece estar se iludindo que berrar nas redes sociais, também dominadas pelo bolsonarismo, é algum tipo de ação. A participação democrática nunca esteve tão nula. (...)
O mecanismo se reproduz também na imprensa. Aparentemente, parte da mídia é crítica ao governo Bolsonaro. E, sob certo aspecto, é comprovadamente crítica. Mas a qual governo Bolsonaro? Se Bolsonaro é mostrado como o irresponsável que é, o contraponto de responsabilidade, especialmente na economia, seriam outros núcleos de seu próprio governo, conforme apresentado por parte da imprensa. Quando o insensato Bolsonaro atrapalha Guedes, o projeto neoliberal ganha um verniz de sensatez que jamais teria de outro modo.
(comentário meu: é estratégico para a mídia hegemônica colocar Bolsonaro como “tresloucado”, pois isso fortalece a imagem de Guedes - do do projeto neoliberal criminoso que ele defende - como “sensato”, correto. O papinho “existem muitos governos, não se pode generalizar, tem gente quelificada trabalhando com ele” = as pessoas ditas “qualificadas” estão em áreas fundamentais como a economia)
Diante do populismo de extrema-direita de Bolsonaro e de seus colegas de outros países, o neoliberalismo é apresentado como a melhor saída para a crise que o próprio neoliberalismo criou. Mas Bolsonaro e seus semelhantes são apenas os produtos mais recentes deste mesmo neoliberalismo — e não algo fora dele. Onde então está o contraditório de fato? Qual é o espaço para um outro projeto de Brasil? Cadê as alternativas reais? Quais são as ideias? Onde elas estão sendo discutidas com ressonância, já que sem ressonância não adianta? (...)
As pesquisas de opinião têm mostrado que ele é o presidente pior avaliado num início de governo desde a redemocratização do país. Mas Bolsonaro aposta que é suficiente manter a popularidade entre suas milícias digitais e age para elas. Bolsonaro governa a partir de seu clã, com sua corte e seus súditos. Governa contra o governo.
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logos71 · 6 years
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O 'Deus Mercado' e a religião capitalista
Segundo especialista (Jung Mo Sung), a narrativa religiosa do neoliberalismo coloca a fé no Mercado como única possibilidade de salvação e culpa os pobres por sua pobreza
Os aspectos religiosos do neoliberalismo e o proselitismo na comunicação foram temas debatidos pelos professores da Universidade Metodista, Jung Mo Sung (Ciências da Religião) e Magali Cunha (Comunicação). Eles participaram do seminário “A Metafísica do Neoliberalismo e a Crise de Valores no Mundo”, promovido pelo Fórum 21, no último dia 2 de julho (sábado), no auditório da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP).   O evento é o primeiro de uma série de debates voltada à discussão do neoliberalismo hoje. A escolha do tema, explica Anivaldo Padilha, presidente do Fórum 21, deve-se ao caráter sagrado atribuído ao mercado que congrega os atributos da “onipotência, onipresença e onisciência”. Uma espécie de “deus Mercado” que vem fracassando, sistematicamente, “em termos de justiça social e de igualdade entre os homens”.    Daí a pergunta: por que o capitalismo atrai tanto?    Segundo o professor Jung Mo Sung, a compreensão dos aspectos religiosos do capitalismo é fundamental para o entendimento não apenas de sua atração, mas também do que se passa hoje no Brasil. Mostrando, a partir de imagens, os ícones (Ferrari, bolsas Louis Vuitton), templos (shopping centers), igrejas (institutos von Mises) e mitos do neoliberalismo, Sung destrinchou a narrativa religiosa - e sedutora - por trás do discurso neoliberal.    “Antes, quando as pessoas se sentiam pecadoras ou impuras, elas iam à Igreja para recuperar a humanidade e a pureza. Hoje, quando se sentem tristes, elas vão ao shopping. Verdadeiras catedrais modernas”, apontou. Não é de se estranhar, portanto, a forte semelhança arquitetônica entre as catedrais e os shopping centers (confiram a imagem acima).   Os mitos do desenvolvimento   Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a teoria econômica (da esquerda e da direita) foi embalada por dois mitos principais. Primeiro, a crença de que o “bom da vida era aumentar o poder de consumo”. Sung destacou que, frente a essa ideia, a modernidade promoveu uma inversão: o “bom da vida” passou a ser possível dentro da história (via consumo) e não mais restrito ao pós-morte”.    O segundo mito era que “o padrão de consumo dos países ricos poderia ser universalizado”, fortalecendo “a ideia de que todos os seres humanos têm direitos”. Sung também mencionou que a discordância entre os economistas marxistas e liberais capitalistas se deu aos caminhos para se atingir essa universalização: o mercado ou a planificação estatal.    O exemplo é simples: “Quando se privilegia o ajuste econômico no Brasil e se corta o dinheiro da Educação e da Saúde, por exemplo, é preciso justificar essa decisão. Quando se corta o pagamento de juros aos bancos, para privilegiar programas sociais, também é preciso justificar. Essas duas justificativas, porém, são completamente diferentes porque trabalham com duas estruturas míticas diferentes”.    Em 1970, porém, esses mitos caíram por terra, quando da publicação de “Os Limites do Crescimento” (1972), pelo Clube de Roma. A obra reconhecia os limites do crescimento do sistema capitalista e a impossibilidade da universalização do padrão de consumo. “A primeira reação dos capitalistas foi dizer ´isso é bobagem´. Depois não deu mais para negar”, lembra.    A Fé no Mercado   A partir de então, novos mitos foram construídos. Em 1974, em plena crise do petróleo, F. von Hayek, um dos teóricos do capitalismo, ganhava o Prêmio Nobel de Economia com a obra “A Pretensão do Conhecimento”. Hayek sustentava que a crise do sistema tinha como principal causa a “pretensão dos economistas de saberem como o mercado funciona, porque toda intervenção pressupõe conhecimento”.   “A raiz de todas as crises”, explicou Sung, passou a ser a tentativa de compreensão do funcionamento do Mercado. Em termos míticos, “esse discurso neoliberal é uma reeleitura do mito da Gêneses”, que interditava a Adão e Eva os frutos da Árvore do Conhecimento. “Se não podemos conhecer as leis do Mercado, o que podemos fazer? Temos de ter fé no Mercado”.   Uma fé, destacou, de que “o mercado sempre vai produzir outros melhores resultados possíveis”. “Essa é a base epistemológica do neoliberalismo” que apresenta uma contradição lógica: “se você não pode intervir, porque não pode conhecer o mercado, como pode afirmar que ele sempre vai produzir melhores resultados possíveis? O salto lógico se tornou uma questão de fé”.    Anos depois, ou prêmio Nobel, Milton Friedman, afirmaria: “os que são contra, no fundo, têm um problema de falta de confiança na liberdade do mercado”. Uma narrativa, frisou Sung, disseminada em todos os cantos do mundo, a partir da mídia e, também, da proliferação de institutos, como os institutos von Mises.   Sobre a obra de L. von Mises, “A Mentalidade Capitalista”, o professor avaliou: “é uma maravilha de livro de teologia”. Nela se defende a ideia de que “todo adulto é livre para montar a sua vida de acordo com os seus próprios planos, a partir de um conceito de liberdade pelo qual não existe o outro: sou eu e o meu desejo. É puro indivíduo”.    Captura do desejo   Para L. von Mises, no sistema de mercado livre, “os consumidores são soberanos” e “desejam ser satisfeitos”. Mas, apontou Sung, “consumidor não é qualquer indivíduo” nesta lógica. “O nível é: todos somos humanos, mas nem todos os humanos são cidadãos, e nem todos os cidadãos são consumidores. O desejo soberano [se restringe] aos consumidores”.   Com base na impossibilidade de satisfação dos desejos - conforme alguns vão sendo satisfeitos, surgem novos desejos – von Mises chega a defender a avidez como “impulso que conduz o homem em direção ao aperfeiçoamento econômico”. Afirma, ainda, que “ manter alguém contente com o que já conseguiu ou pode facilmente conseguir, sem interesse por melhorar suas próprias condições materiais não é uma virtude”.     “Essa é a tese teórica”, salientou Sung, lembrando que a sociedade vem criando mecanismos para, justamente, controlar a avidez do desejo individual.  “Nós somos seres infinitos na condição de finitude e o nosso desejo é infinito, mas, em uma economia escassa, não há satisfação para todos”.    E se não há satisfação para todos, então, como lidar com a frustração?  “A saída neoliberal é a criação de uma verdadeira teologia da culpa”. No capitalismo, todos somos alimentados pela frustração”, apontou.   Teologia da Culpa   “Se você não consegue ser o rei do chocolate, o campeão de boxe ou a estrela de cinema, você é o culpado. Essa é a teologia da culpa: o indivíduo passa a ser culpado pela sua própria frustração”, explicou. E trata-se de uma culpa que atinge a todos, começando pelos mais pobres.    “Por que pobre é pobre? Porque é culpado. Ele merece a sua pobreza”. Segundo essa lógica, “o pobre que não pode comprar brinquedo para o filho assume a culpa duas vezes: pela pobreza e por sentir culpa em ser pobre”. Enquanto isso, o Mercado se consolida enquanto juiz transcendental.    “Se a culpa é de todos, por conta da distribuição de riqueza, quem é o juiz que faz essa destruição? O Mercado. Mas, eu posso questionar o mercado? Não. Ele é inquestionável, está além do bem e do mal, do injusto e do justo”. Na medida em que não está sob o juízo humano, o Mercado se torna algo sagrado. “E o sagrado é aquilo que é separado do sistema profano, acima do juízo e do questionamento da justiça”, explicou.    Sung também alertou: para o capitalista e para o neoliberalismo, o verdadeiro o problema “está nas pessoas que acreditam que os seres humanos têm direitos”.   Direitos Humanos   Ele explicou que o pensamento liberal moderno foi fundado na tradição neotestamentária. Segundo essa tradição, primeiramente, “todos os homens são iguais perante a Deus. Depois, todos os homens passaram a ser iguais perante as leis; e, de acordo com a razão moderna, a essência humana traz consigo direitos implícitos”.    São justamente esses direitos implícitos, denunciou, que estão sendo rejeitados pela teoria pós-moderna ao defender que “tudo é cultural”, inclusive, “afirmar que a natureza humana dá direitos é cultural”. Sob essa ótica, “o grande erro das esquerdas e dos humanistas é acreditar que ser humano tem direito por natureza. Não tem. Quem não conseguiu direitos no contrato do mercado, não tem direito nenhum”.   Essa é a narrativa dos que criticam programas sociais como o Bolsa Família ou o Mais Médicos. “Se pobre não tem direito a comer, porque não tem direito, o que é um programa social como o Bolsa Família? Um roubo. Você tira de quem tem direito – e o ganhou justamente via Mercado - e passa para quem não tem direito”.    Daí a inversão, situou Sung, já que “os defensores dos direitos dos pobres e dos programas sociais tornam-se os grandes malfeitores da humanidade”. A violência explode: “eu estou frustrado porque esse desgraçado de esquerda continua querendo o meu imposto para dar para esses pobres desgraçados. De quem é a culpa da minha frustração? Da esquerda e dos pobres. Aí eles colocam fogo no mendigo”, destacou.    Deveres    Quando o então ministro Alexandre Padilha (Saúde) comemorava o sucesso do Mais Médicos, ele estava reafirmando não apenas o direito das pessoas à Saúde, mas o dever do Estado para com elas. No entanto, muitas pessoas foram contra o programa e retrucaram: “eles não têm direitos e nós não temos deveres. Isso é um roubo”. “Tratam-se de duas estruturas de pensamento diferentes. Saber isso nos ajuda a compreender a agressividade”, explicou.   Em sua avaliação, sempre existiram egoístas exagerados, a diferença é que antes, “as pessoas tinham vergonha de ser publicamente egoístas, porque havia uma pressão cultural. Hoje, elas têm orgulho. Depois que passar a vergonha do Temer, vai continuar esse orgulho e ele vai continuar enquanto esse modelo civilizatório prevalecer”.    A lógica da Responsabilidade   Segundo Sung, “nós retornamos a um debate surgido no século XVIII: o ser humano tem direitos? Para os defensores do neoliberalismo, esses direitos são vistos como ´coisa de bandido´. O processo tecnológico chegou ao ponto de destruir as bases humanistas do mundo moderno”.   A saída, apontou, “está na luta social”. Uma luta que, em última instância, pressupõe “a descoberta dos direitos fundamentais de todos os seres humanos”. Sung também alertou: “culpa e humilhação não acabam quando você come. Quando você come, você mata a fome. Isso vai aparecer em violência familiar, em neuroses, loucuras. E quem se sente culpado não luta”.    Em sua avaliação, “para sair desse entrave é preciso lembrar que apenas um mito combate outro mito”. Citando a experiência do apóstolo Paulo de Tarso que, em pleno Império romano, conseguiu criar comunidades de resistência, Sung avaliou que “Paulo tem algo a nos ensinar”, sobretudo, quando afirma:    “Enquanto ainda éramos inimigos de Deus, Deus se reconciliou conosco” (Rom 5,10).    Essa citação, analisou, é uma “crítica radical à ideia de Deus norteadora das culturas de opressão, que pressupõem um Deus que culpa e pune. E não um Deus – não importa aqui se existe Deus ou não – que humaniza o ser humano e se reconcilia. Antes de qualquer articulação cultural, todos os seres humanos têm direito à vida”.    A proposta de Paulo, avaliou, abre uma fenda na “lógica da culpa” e nos permite entrar em outra lógica: a da responsabilidade. “É preciso responder aos problemas sociais. A lógica da responsabilidade nos chama à ação. A lógica da culpabilidade apenas aponta o culpado. E apontar culpados não resolve nada”, concluiu.
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