spell the coffee
masterlist | próximo
hong joshua x leitora
(de desconhecidos para amigos para amantes, ok, esse é o mais concreto strangers to friends to lovers)
com a chegada do halloween, o que mais deixava ____ e sua melhor amiga animadas era a abertura de uma nova cafeteria, onde passarão tempo o suficiente para notar que não há nada de comum nela. incluindo o gentil barista com uma experiência inexplicavelmente vasta em bebidas sem café e com ingredientes que ____ nunca havia visto.
notas: agora é a vez do shua. essa foi uma das primeiras que pensei, é bem bem bem bem clichêzinha. quer dizer, JOSHUA BARISTA. enfim, na minha cabeça é adorável e espero que esteja pelo menos agradável.
avisos: realmente acredito que não tenha nada demais. leitora tem uma amiga chamada violet. leitora gosta de gatos, mas não do gato que tem no seu prédio. quase temos dk, mas temos jun aqui, então... (hehe)
contagem: ± 5100 palavras (ok, não sei o que houve, eu culpo o jun)
「Capítulo 1 」
Adorável e comum, a tranquilidade das coisas normais...
Seria realmente adorável caso a descomodidade de morar em um prédio de habitantes questionáveis não atrapalhasse a normalidade de ____. Ela não era ingrata, pelo contrário, era bastante reconfortante ter sua própria renda, um diploma que lhe serve de algo e um apartamento cujo aluguel não esfola o seu bolso mensalmente.
Porém, as coisas poderiam sim ser mais convenientes. Embora morar apenas no segundo andar facilite o processo de ter que subir escadas, ____ estava alocada próxima a alguns vizinhos bastante estranhos.
Nem todos eram como a senhora do final do corredor que sempre tinha receitas de chá para quase toda e qualquer enfermidade que dispensa visitas ao médico. Com todas aquelas plantas de cores que iam além do tradicional verde vibrante na sacada da senhora Wytte, era esperado que ela tivesse um conhecimento ou dois.
Por exemplo, indo contra as regras do prédio de não ter bichos de estimação, um dos vizinhos — que ____ não tinha certeza de qual, embora suspeitasse que fosse a mulher do cabelo descolorido anormalmente macio — tinha um gato.
O tão repudiado pela sociedade e constantemente maltratado gato preto, longe da mulher causar algum mal a animais. ____ não tinha nada contra gatos pretos, muito menos gatos no geral (ela até gosta de pets). Ao menos até aquela criaturinha cruzar seu caminho. E não, ela não recebeu azar. Todos os pacotes deixados pelo zelador na porta do seu apartamento — o que era outra reclamação, mas para outro momento — foram massacrados por aquelas garras.
E quando não havia nada para arranhar, a porta era o seu alvo. Por causa do bichano, que estranhamente parecia vigiá-la na portaria do prédio quando chegava do trabalho todas as noites, ____ nunca pôde deixar um pequeno tapete de boas vindas em frente a própria porta.
E havia aquela família da porta ao lado, uma dupla com uma filha no auge da sua pré adolescência, cheia de ideias criativas e cores vibrantes no cabelo. Tinham se mudado há poucos meses e tudo seria normal, é claro, se não fossem pelos corvos. De primeira foi bastante esquisito, pois ____ viu a garota da família conversando com o animal penoso:
— A viagem é cansativa, mas terá lanches toda vez, seu esfomeado — sentada na escadaria, a menina, cujo nome ainda era uma incógnita, acariciou o topo da cabeça do animal.
É bastante comum os donos conversarem com seus pets, Violet, a melhor amiga de ____ tratava seu cachorrinho como um bebê, porém a anormalidade se deu no momento em que o animal respondeu. Não, não como corvos fazem. Corvos comuns não deveriam saber usar sarcasmo, ou deveriam?
— Não sou eu que como todo o sorvete em casa — a voz era um ganido perturbador, formando palavras e uma frase que, mais tarde, incomodou ____ até o segundo em que fechou os olhos.
Não depois, é claro. Pois, em mais de um ano, mesmo depois das piores maratonas de filmes de terror psicológico, ____ não teve nem um único pesadelo. Essa era uma das coisas que com certeza ficaria no "top três de motivos para se sentir grata" da jovem moradora, contudo até mesmo a paz durante o sono deixa sua mente a mil enquanto está acordada. Mas, seguindo a rotina constante e repetitiva, ____ ignorava isso e todas as outras coisas, quer fossem boas ou ruins.
Haviam mais coisas, porém nada daquilo a afetava tão negativamente — com exceção do gato. Portanto, não havia motivos para alarde. Passava longos momentos divagando sobre isso, porém a regularidade de todas as outras coisas mantinha ____ com os pés no chão.
Sua profunda imersão na monotonia da vida adulta, entretando, estressa Letty. Uma vez que Violet conheceu ____ — há anos atrás, quando as maiores preocupações de ambas eram as provas semestrais —, a mulher fez tudo ao seu alcance para trazer um pouco mais de diversão à vida da amiga. Letty sempre diria que a ____ da universidade era enérgica demais, e que a de agora, era de menos. O suficiente para que ela tenha que agir, como naquela semana.
— O café?
— Sim, olha, é tão lindinho! Acho que é a nossa cara, não é exatamente fofo, mas é fofo.
Posicionadas confortavelmente tortas na cama de Violet — em posições que fariam todas as vértebras de suas colunas sofrerem mais tarde —, ambas olhavam o Instagram da jovem. O perfil havia sido criado há pouco tempo atrás e Letty vinha acompanhando cada atualização como uma fã oficial. Desta vez, ____ estava sendo atualizada sobre a data de inauguração.
— Eles foram inteligentes — ____ comentou, observando os escuros e arroxeados da decoração de Halloween.
— Demais! Moonlit Mug abrindo na véspera do Halloween? Estrategistas de verdade… Olha o gatinho, que fofo! — O muito possível pet oficial do café apareceu em mais um dos stories, outro gato na vida de ____.
Pelo menos ele parece dócil e não do tipo que come minhas caixas.
— E na noite seguinte as ruas vão estar cheias bem no horário que estão abertos. Pais com fome depois de andar pela vizinhança, crianças ficando encantadas com os chocolates quentes e doces temáticos.
— Sem contar que a própria temática deles é meio…
— Mística? — ____ ergueu as sobrancelhas, tendo encontrado a palavra exata que Violet procurava.
— Você poderia, por favor, parar de ser o parasita do meu cérebro? — Os cílios de Letty tremeram, os olhos pidões encarando a amiga.
— Não se preocupe, sua paixão secreta pelo irmão mais novo do seu chefe está segura comigo, palavra de escoteira!
— Você nem sabe fazer uma fogueira, que escoteira o quê.
Foi durante as novidades sobre o tal do adorável Seokmin, com o sorriso mais lindo e todas as outras características marcantes que Violet martelava nos ouvidos de ____. Enfim, foi no meio da divagação de Letty que o celular da mesma notificou, mais algo sobre a Moonlit Mug. De repente, as conversas extremamente descritivas sobre Seokmin pareciam em segundo plano, dando lugar a um suspense empolgante que pairava no ar, ligado aos planos futuros que os donos do estabelecimento preparavam para a cafeteria.
Enquanto ____ já havia passado os olhos por tudo que estava descrito no post, Letty o lia em voz alta:
— Bebidas não presentes no cardápio, específicas para cada tipo de fantasia. Colaboração com o labirinto assombrado… poderão aceitar o desafio na entrada… aos que desvendarem o mistério com maior precisão e rapidez… caramba, prêmio surpresa!
— Ok, quem quer que tenha pensado nisso foi longe.
— Longe e espertamente, todo mundo vai no labirinto. Até nós duas planejamos ir!
— Acho que isso vai complementar o movimento… O engajamento deles é bastante razoável, mas essas ideias devem fazer o lugar encher realmente.
— Então, senhorita ____, agora está mais animada pra encontrar uma fantasia melhor do que a sua ideia mixuruca de fada?
Embora fosse arriscado sair em busca de fantasia apenas dois finais de semana antes da data comemorativa mais esperada da cidade, as mulheres decidiram encarar o desafio. O resultado, no entanto, foi — por falta de melhores palavras — trágico.
Os corredores das lojas estavam repletos de opções limitadas, predominantemente inclinadas para o lado provocante, suas opções se resumiram a repetitiva variedade de opções sexy: enfermeira, pirata, mágica, bruxa (pois, de acordo com o lojista, era necessário ter as duas opções), vampira… Nada contra expôr uma parte ou outra do corpo ou à própria expressão da sensualidade, mas tanto Violet quanto ____ eram mulheres decididas que buscavam algo além dos clichês.
— Acho que a gente devia pintar você de violeta, comprar uma peruca chanel loira e um moletom azul. Seria infalível — ____ suspirou, realmente começando a cogitar a ideia e pensando se suas habilidades de persuasão seriam o suficiente para convencer Violet de se fantasiar como sua homônima.
— Sim, claro, ____. Infalível, inflável e você seria o Willy Wonka. Ou melhor, um Oompa Loompa.
Acho que ela não gostou… As possibilidades iam e vinham na mente de ____, aquilo era difícil.
Aos poucos as opções de lojas se esgotaram, portanto foi necessária uma pausa para recarregar as energias: o que significava um pequeno lanche com sobremesa, de preferência um sundae. O melhor da cidade ficava praticamente escondido numa das duas transversais às mais movimentadas do bairro, nada que uma boa garimpagem de Violet nas redes sociais não pudesse descobrir. E era aquilo que ela estava fazendo agora: buscando em cada canto da internet por alguma loja. Qualquer coisa para que não retornassem ao terror das enfermeiras sexy.
Foi dessa forma que, navegando pelos becos repletos de pequenos comércios nos arredores do centro, ____ e Violet descobriram uma verdadeira jóia escondida. Essa loja, conforme indicava o Instagram e as indicações recém dadas pelos lojistas próximos , era um estabelecimento peculiar cuja marca fora fundada pelo talentoso Ji-Young.
Naquela época específica do ano, a DRAKO, temporariamente deixando de lado o lançamento frenético de coleções inovadoras, dedicava-se a algo mais mágico: fantasias que transcendiam a oferta convencional das grandes lojas de departamento. O ambiente acolhedor da loja, a decoração caprichada e a atenção aos detalhes eram evidentes logo na entrada, proporcionando uma experiência de compra única. O local prometia não apenas trajes para o Halloween, mas uma imersão em criatividade e originalidade, características que ressoavam com as mulheres determinadas a encontrar algo especial para a festividade.
A descoberta inesperada foi mais que agradável, assim que passaram pela porta do local, ____ e Violet foram bem recebidas e guiadas a sessão que precisavam.
A loja não era pequena, porém também não era uma enorme loja de rede. Na área indicada, as prateleiras possuíam os mais variados acessórios, com pequenas placas com sugestões de com que fantasias usar.
— Esse é o chapéu do chapeleiro mais fiel que eu vi na vida — Letty experimentou a peça e encarou seu reflexo no espelho.
— Parece que finalmente encontramos um lugar que pode suprir nossas expectativas…
— Suprir? Isso vai muito além! Você por acaso viu a fantasia do Batman? É uma clássica, mas parece que a pessoa que vestir vai virar o cavaleiro das trevas de verdade! — A menção ao universo dos quadrinhos deixou-as animadas.
Ainda mais quando encontraram dois expositores com personagens que adoravam.
— Letty, precisa ser essa…
— Mas é masculina, vai ficar larga nos lugares errados.
— É, você tem razão…
O suspiro audível e simultâneo das mulheres não passou despercebido.
— Boa tarde! Já foram atendidas?
— Sim, mas tentamos explorar a loja primeiro.
— Bom, agora vocês estarão sob os meus cuidados. Me chamo Ji-Young — enquanto apertavam as mãos cordialmente e se apresentavam, as jovens puderam cair na percepção que o próprio fundador da marca estava atendendo-as. — Então, Violet e ____, há algo que tenha chamado a atenção de vocês?
O homem riu ao notar a direção em que as duas olharam.
— Temos as mesmas com ajustes para todos os tipos de corpos, querem que eu traga para experimentarem?
— Sim!
Não houve arrependimentos quanto às fantasia, a qualidade era impecável, obtiveram os tamanhos corretos e bem ajustados, e o preço correspondia às peças. E, bom, poderiam usar novamente. Mesmo que precisassem ir em algum evento de cosplay para isso. Letty e ____ saíram do estabelecimento satisfeitas, garantindo que voltariam novamente.
Continuaram a explorar a cidade por mais um tempo. Enquanto passeavam, puderam ver o local onde o labirinto estava sendo elaborado, situado a cerca de duas quadras de distância do possivelmente novo local favorito das duas mulheres, o Moonlit Mug. O que justificava o tal enigma que seria entregue ao final do labirinto, a proximidade alimentando a intrigante promessa do que seria desvendado ao final do percurso.
No caminho, inevitavelmente passaram em frente ao dito café, mas não podiam ver nada do que havia do lado de dentro. Apenas a visão limitada ao letreiro com o nome do estabelecimento intensificava a curiosidade das mulheres, incapazes de espiar o que se desenrolava no interior, o que aumentava a curiosidade de ambas, aguardando com ainda mais expectativas pela inauguração.
— Eles postaram fotos sobre como vai ser o lugar nos stories, mas mantêm tudo escondido. Sem graça.
— Bom, nem todos os moradores daqui acompanham eles como você, Letty. Talvez a graça seja essa, pelo menos alguém pode ficar genuinamente surpreso quando vir a decoração.
Violet reclamou sobre a demora para a abertura do lugar, era engraçado ver a amiga tão ansiosa para “finalmente” ter um local adequado para os passeios recorrentes delas, um que não fosse o apartamento de uma das duas ou a única lanchonete da cidade que tinha uma boa variedade de sobremesas no cardápio. Porém, além da ansiedade, ____ identificou rapidamente que todas as reclamações envolvendo comida estavam atreladas ao fato de que já havia algum tempo que fizeram uma refeição decente — qualquer uma excluiria o lanche do intervalo da caça às fantasias como uma refeição.
— Que tal ir lá pra casa e fazer pizza? Tenho algumas massas congeladas da última vez que fizemos demais. E, como bônus, eu deixo você me contar mais sobre o tal Dokyeom…
— Você já tinha me convencido na pizza.
Foi um pedido inesperado que tirou a segunda-feira de ____ da monotonia cotidiana. E curiosamente ele não veio de Violet, que, dentre muitas coisas, a mais recente que havia implorado era arranjar um encontro duplo para que ela pudesse ter uma desculpa para convidar Dokyeom como seu acompanhante. “Convida logo ele pra sair”, foi a única resposta sensata que ____ pôde dar em meio à breve indignação com a desnecessária elaboração de planos de Violet. Era incomum ver a mulher confiante ser reduzida a um espírito adolescente, com todo o medo da rejeição e nervosismo.
De qualquer forma, isso havia sido resolvido e o possível futuro casal sairia naquela sexta-feira. ____ se deu alguns tapinhas no ombro pelo bom trabalho como conselheira amorosa.
Após mais um dia qualquer no trabalho (reestruturando toda a escrita de um autor cuja criatividade compensa a falta de organização ao usar o Word. ____ não poderia cobrar do homem uma sabedoria avançada em diagramação quando ele tinha um emprego fixo e ainda assim conseguia cumprir prazos com a editora.), ____ chegou ao saguão do prédio em que residia desejando apenas alcançar o conforto do seu sofá o mais rápido possível, porém seu rival não humano a estava esperando. Educadamente sentado, o rabo balançando hipnoticamente e ela jurava que havia sim um sorriso naquelas feições felinas. Assim que deu o primeiro passo rumo às escadas, ele miou melodiosamente e se levantou.
— Ok, pequena criatura, o que quer de mim hoje? Eu só tenho uma bolsa cheia das minhas coisas, nada pra gatinhos adorados da vizinhança.
Então a guerra silenciosa começou, ele ficou dançando irritantemente no primeiro degrau da única escada que levava aos andares superiores, desafiando-a a passar por ele sem pisar em sua frágil cauda ou ser cruelmente atacada. Não que ele tenha a atacado alguma vez, mas ____ se sentia assim.
— Sabe, eu gostava de gatos até te conhecer. Agora eu acho que gatos podem destruir meus pertences a qualquer momento.
Mais alguns miados. E nenhuma mudança na dinâmica. Daquela vez, ____ desistiu da luta. Ela só precisava esperar alguns momentos até que o porteiro retornasse, afinal.
Foi em seu momento de espera que ____ foi abordada pela senhora Wytte. A mulher sempre saía para comprar coisas pouco antes do sol se pôr ou bem cedo de manhã, havia dito que o sol muito forte no meio da tarde faz mal para sua pele idosa. ____ se preocupou alguma vezes, vendo-a voltar no começo a noite, porém a senhora a tranquilizou mostrando seu pequeno kit de sobrevivência na cidade: um botão de pânico e um canivete no chaveiro, além de um spray de pimenta poderoso sempre ao seu alcance. Como presente no primeiro aniversário que ____ comemorou no prédio, senhora Wytte deu a ela um batom que, na verdade, era um canivete.
Violet adorou e perguntou à senhora onde ela achou, ao invés de contar a ela, na semana seguinte Letty também ganhou um.
Senhora Wytte animou-se assim que avistou ____ sentada numa das poltronas macias do saguão.
— Que bom ver você, querida! Chegou agora do trabalho?
— Tem um tempo, na verdade… — a mais velha acompanhou o olhar que ____ lançou ao felino em guarda na escada.
— O que o pequenino fez desta vez? — Pronta para ouvir as reclamações recorrentes da mais nova, a Wytte acomodou-se na outra poltrona, deixando seu carrinho cheio no espaço entre as duas.
— Ah, eu simplesmente não queria passar pelo processo de subornar ele para sair dali.
— Oh, não se preocupe, Adonis vai deixar essa velha senhora aqui ser acompanhada pela sua vizinha favorita, não é?
E mais uma vez o infeliz miou. Como ele pode ter tanta educação para responder, mas ser tão inconveniente?
____ apenas suspirou ao vê-lo abanar seu rabo escada acima. A mais nova tomou o carrinho pesado das mãos da senhora, que agradeceu docemente e guiou o caminho até o andar das duas.
— Já falei à Selene que ele deveria ter algum entretenimento, mas ela deixa ele vagando como um gato de rua.
— Se ela cuidasse tão bem dele como cuida do cabelo…
— Oh, eu empresto uma erva ou outra para os shampoos dela. Não acho que você precise, mas talvez aceite como parte da compensação pelo que pretendo te pedir.
Já haviam passado do primeiro andar de apartamentos, o infeliz Adonis havia desaparecido antes mesmo delas alcançarem o próximo lance de escadas, para a alegria de ____. A companhia da senhora Wytte era agradável e ela sempre pedia coisas bastante simples à mais jovem, ____ sempre precisa recusar quaisquer pagamentos monetários, se contentando com chás, ervas, pães ou doces.
— Eu faria muitas coisas por mais um pouco daquele blend de passiflora, camomila e capim-limão.
— Para isso você só precisava me pedir, querida. Enfim, venha, entre aqui comigo.
Foram poucas as vezes que ____ adentrou o aconchegante lar da senhora Wytte, porém tinha muito apreço pelo espaço. Era inesperadamente moderno, mas ainda assim parecia com uma "casa de vó", com um sofá macio, bugigangas fofas, plantinhas e bordados.
Já tendo aprendido que não precisava de convite, ____ seguiu com o carrinho da vizinha até o espaço que delimitava a cozinha, separado da sala por uma bela mesa de madeira.
Juntas começaram a desempacotar as compras do passeio de Amelia Wytte. Haviam pacotes que ____ identificou como parte das misturas para fortalecedoras usados nos inúmeros vasos de plantas da varanda. Além disso, havia itens mais pessoais.
— Vou viajar em breve, pretendo chegar na casa do meu filho antes do que normalmente faço, queremos fazer uma surpresa pra ele. Minha nora providenciou tudo, ela é um doce, me mima bastante. Normalmente eu peço a Selene para que ela cuide das minha coisas, mas ela tem estado ocupada desde o início do ano. E agora em outubro, está ainda mais. Entenderei se você não puder, mas gostaria que cuidasse das minhas plantas por algumas semanas, posso pagar a você.
— Nem pensar! — Amelia se assustou com a breve indignação de ____. — Desculpe o susto, mas nunca que eu vou aceitar dinheiro pra cuidar das suas plantas. Não é só regar e usar seus preparos? Só vou precisar saber o que usar em cada uma e em que horários devo fazer.
A senhora Wytte não se sentiu exatamente surpresa, conhecendo a vizinha, era esperado que ela aceitasse. Contudo, havia muitas diretrizes a serem seguidas e sua única preocupação era que a jovem pudesse se confundir. O que as levou a uma longa conversa e uma lista com especificações por cores, horários e muitos nomes de plantas que ____ jamais saberia pronunciar corretamente. Tendo em vista que Amelia já havia colhido tudo que estava na pequena estufa que havia montado no terraço do prédio, bastava que ____ cuidasse dos vasos na parte interna e externa do apartamento.
1 - Posicionar os vasos internos para que peguem sol por algumas horas, de preferência pela manhã;
2 - Estimulantes devem ser colocados seguindo as cores indicadas, no caso de trocar, ligue e avise.
3 - Sempre regar as plantas indicadas com a cor vermelha durante o dia;
4 - Regar as indicadas com a cor azul durante a noite;
5 - Podar as plantas suspensas;
6 - Usar o spray do vidro preto em todas as plantas (caso acabe, há uma receita no mesmo armário em que todos os suprimentos para as plantas estarão, junto dos ingredientes);
7 - Sempre expulsar o Adonis, basta convencer ele com alguns snacks do armário de suprimentos, já há uma caixa preparada;
8 - Manter as janelas da varanda fechadas, apenas abrir as frestas de ventilação.
Foi no sábado, mesmo dia em que a senhora Wytte viajou — após alguns bons dias do que ____ chamou carinhosamente de treinamento botânico intensivo —, que Violet descobriu a nova vocação da amiga.
— É meio fofo você ser babá de plantas.
— Não sou babá. Quer dizer, são vivas, mas são plantas.
— Não deixa de ser fofo.
— Que seja, apenas fique aqui e seja meu apoio moral. Eu nem sei bem como é esse tal de Junhui.
Dentre as simples tarefas que a sua adorável vizinha havia lhe dado, a única que causou algum tipo de estranhamento foi aquela. Entregar uma caixa fechada a um dos “clientes” da senhora, o único com o qual ela n��o conseguiria remarcar a entrega, visto que ele precisaria dos ingredientes dentro do período em que ela estaria fora da cidade.
____ não tinha medo, exatamente. Ela teve aulas de defesa pessoal o suficiente para conseguir se defender e também tinha aquele presente da senhora Wytte consigo o tempo inteiro. Mas ainda assim era um desconhecido. Nem mesmo as muitas descrições sobre a personalidade agradável dele convenceu ____ de que ela estaria segura recebendo-o no apartamento da mais velha, uma vez que a dita caixa não poderia ser transportada por outro senão o tal Junhui. Tudo bem que era pesada, porém com a ajuda de Violet ela certamente teria conseguido carregá-la, mas fora quase proibida de fazê-lo. Algo sobre prejudicar o que quer que havia na caixa.
Tais circunstâncias levaram ____ à conclusão que ter Violet consigo era uma boa garantia.
— Será que a gente vai ter que esperar muito tempo por ele? — O problema era que Letty se entediava com muita facilidade.
— Bom, se for melhorar sua situação, deixo você falar sobre todo o seu encontro de ontem mais uma vez.
— Você é muito boazinha, então vou me certificar de me aproveitar disso pra que ninguém mais faça — Letty foi acertada por uma das almofadas com cheirinho de lavanda da senhora Wytte, mas deixou sua vingança vir em forma de uma longa e detalhada narração.
____ podia resumir Seokmin como um adorável pretendente para sua melhor amiga, alguém que, aparentemente, estava à altura do quão bem tratada ela deveria ser, considerando que ele memorizou o restaurante favorito, a sorveteria próxima ao parque em que ela gostava de fazer caminhadas noturnas.
— Eu pensei em convidar ele pra ir na nova cafeteria, mas não quero estragar nossa experiência. Fico com medo de que, caso dê errado, o lugar ficar atrelado a coisas negativas.
E Letty estava fazendo novamente, era uma atitude que frustrava ____ em todas as vezes.
— Primeiro, obrigada pela consideração. Segundo, você tá sendo pessimista de novo e antecipando situações negativas que você nem sabe se vão acontecer, Violet. Se você sentir que é algo que combina com os dois, ótimo, só chame. Senão, nós duas aproveitamos.
Ambas ficaram pensativas por um curto período, uma pensando em meios de ajudar a amiga a não pensar tão negativamente sobre uma relação que tem parecido genuína e a outra pensando algumas autocríticas por estar sendo tão descrente, logo quando tudo está indo bem. O momento reflexivo foi longo apenas o bastante para que a campainha tocasse.
A dupla se encarou, diferente de quando é há o impasse de quem vai ir buscar a pizza, ____ era a única opção para abrir a porta. Não sem antes conferir através do olho mágico. Dentre as características estavam: altura acima da média, o cabelo um pouco longo, castanho e com mechas loiras na frente, pele um pouco bronzeada. E, aparentemente, o diferencial seriam as marcas de nascença no rosto, um próxima ao lábio e outra em alguma região abaixo do olho e ao lado do nariz. Entretanto, observar tantos detalhes pela mínima abertura circular na porta era uma tarefa que ____ comprovou ser impossível.
Com um pouco de incentivo de Violet, ____ finalmente abriu a porta.
A troca estranha de cumprimentos foi superada quando ____ convidou Junhui para entrar no apartamento.
— A senhora Wytte deve ser falado, mas sou ____…
— Eu sou a Violet, e acho que te conheço… — para aumentar os constrangimentos daquela tarde, Letty passou alguns bons segundos encarando o, aparentemente, tímido homem.
— Ok… Obrigado por tirar um tempo pra me receber, realmente são produtos importante. A senhora Wytte é a única na região que produz essas coisas com qualidade.
— Sem problemas! Ela tem bastante cuidado com tudo que faz aqui, mas acho que você já sabe disso — mais alguns segundos de silêncio estranho se seguiram, sob o olhar semi-atento de Violet, cuja atenção era mais dada a tela do celular. — Enfim, a caixa está aqui perto do armário de suprimentos, vem.
Junhui era educado, porém parecia tão travado quanto ____ naquela estranha interação. Com um pouco da ajuda da jovem, Junhui acomodou a caixa em seus braços antes de se dirigir a ____ novamente.
— Seria falta de educação pedir ajuda com as portas? Eu pretendia vir com o Shua-hyung, mas ele estava bastante ocupado… — sem saber detalhes, nem precisar deles, ____ apenas concordou.
Contudo, seu caminho foi barrado depois de alguns passos pelo corredor. Faltava menos da metade do caminho até a porta que levava às escadas, mas aquela criaturinha resolveu aparecer.
— Adonis, não é hora de me atrapalhar — curiosamente, Junhui foi quem havia se pronunciado.
— Finalmente, achei que fosse a única que ele perseguisse — o homem riu, desviando do gato, que os seguiu de qualquer forma.
— Eu sempre tenho que tomar cuidado pra ele não enfiar as garras nas minhas roupas…
— Só roupas? Ele ataca tudo que me pertence, acho que ele me odeia…
— Você acha, ____? — Violet, que antes havia estado em silêncio, pareceu ter voltado ao mundo real. — Com certeza ele tem algo contra você.
— Ele realmente só tem algum respeito pela senhora Wytte, acreditem — e, tendo observado a interação da mais velha com o felino várias vezes, ____ realmente concordava com Junhui.
Com Adonis em seu encalço, os três alcançaram o carro de Junhui, estacionado em frente a portaria. O estranhamento foi levado embora assim que a compatibilidade no quesito “ser vítima de Adonis” foi encontrada. Portanto, a despedida não seria tão estranha.
— Sabe, ainda não tenho certeza de onde te conheço, mas vou descobrir.
— É assim que você dá tchau? — Bufando pra Violet, ____ se voltou para o homem, que achava a situação engraçada.
— Talvez a gente só tenha se esbarrado pela cidade, não é tão difícil de acontecer.
— Mas seu rosto tá tão nítido da minha memória… Você trabalha perto da rua doze? — E Letty continuava sua investigação.
Mesmo sob o olhar desestimulador de ____, se Junhui não se incomodava com as perguntas, Violet não via motivos para parar.
— Na verdade, nem perto nem longe. Mas é impossível que você tenha me visto lá, o lugar ainda não abriu, espera…
Abrindo a porta do carro, Junhui alcançou com facilidade o porta-luvas, tirando de dentro dele um cartão de visitas, que foi rapidamente pego por Violet. Após uma breve olhada, ela pegou o celular novamente.
— Eu sabia! — Para saciar a curiosidade de ____, o cartão foi estendido a ela.
A logo de uma xícara em um pires, com o desenho de uma pequena lua minguante. As letras estilizadas indicavam o nome do estabelecimento: Moonlit Mug.
Que mundinho pequeno. Pensou ____. A mulher desconhecia que tipos de probabilidades poderiam ser calculadas pra isso, então se contentou com o prazer da coincidência. Violet, por outro lado, estava cintilante. Coisas como essa sempre deixam ela alegre, quer seja encontrar acidentalmente uma moeda no chão ou a situação que havia acabado de acontecer, ____ sempre observou que a amiga se deixava levar pela satisfação que os momentos causavam.
— Tá vendo, o instagram me recomendou a conta e eu sigo desde então…— a mulher mostrou a tela do smartphone pra Junhui.
Ele ficou curiosamente feliz com a descoberta, teria algo a contar aos outros quando voltasse ao lugar. Eles estavam atualmente um tanto desanimados com as poucas interações nas redes sociais, provavelmente os que passavam mais tempo cuidando disso até saberiam quem era Violet, sendo ela a pessoa que mais curtia e comentava as postagens.
— É a primeira vez que encontro alguém que saiba do lugar sem ter sido um de nós que contou! Espero que possam aparecer na inauguração.
— Não se preocupe, na inauguração e no labirinto dia 31 pra ganhar o que quer que seja o prêmio! — Aquilo animou Junhui ainda mais.
Afinal, foi um dos que pensou que seria uma boa ideia se associarem ao labirinto dos 3racha, frequentado por quase todos da cidade há quatro anos. Foi uma novidade agradável na época e o projeto cresceu continuamente, mesmo que indiretamente, todos que os conheciam haviam ajudado de alguma forma. Portanto, eles não tardaram a aceitar a proposta quando Mingyu e Minghao proporam. Seria uma ajuda mútua. Uma ideia nova para o labirinto e um marketing criativo pra Moonlit Mug.
— Ok, é a primeira que dou um desses também — disse Junhui entregando um voucher pra cada uma.
— Bolinhos grátis! — Desta vez, ____ demonstrou a animação. — Geralmente a Letty me mostra as coisas que tem na conta, e se forem os mesmos bolinhos que eu vi…
— Provavelmente são, ficamos testando algumas receitas. Os sabores são meio que surpresa, na hora só vão te perguntar se você tem alergia ou odeia algum dos sabores do cardápio.
— Ok, qual a chance de você dar mais um, hein? — Por mais bobo que parecesse, Violet era ótima em persuadir pessoas pra ganhar coisas assim.
Cupons, amostras. E vouchers.
— Ok, mas vão comprar as bebidas, pelo menos? — As duas concordaram, rindo. — O segredo é usarem um no primeiro andar e outro no segundo. Ou em dias diferentes, já que vale só por uns dias a partir da inauguração.
— E a gente promete também não contar pro seu chefe, tá? — Violet fingiu sussurrar.
Foi a vez do homem rir.
— Ah, relaxem. Dificilmente vou ter problemas por isso!
— Agora que não estamos mais no clima desconfortável e você conseguiu sua caixa misteriosa, acho que podemos nos despedir de verdade!
Com alguns acenos e tchaus, e um Junhui falando sobre estar atrasado para levar os ingredientes para a cafeteria, uma quase — e muito peculiar — amizade foi criada.
Agora, além de um gatinho fofo, uma festa à fantasia e um possível prêmio misterioso, o Halloween de Violet e ____ na Moonlit Mug contaria com bolinhos gratuitos e, como dizia no cartão que ele as entregou, um “Moon Junhui – barista e padeiro” como o que ambas classificaram mais tarde como conhecido próximo.
notas: primeiramente, sim, violet e dk (criei ela na minha cabeça e, no momento, ela estava cheia de lee seokmin pra todos os lados, então temos isso). moon junhui. não há necessidade de mais palavras. essa é bem HALLOWEEN, mas segue-se para depois da data também, então tudo ok, tudo beleza. de novo, clichê. é strangers to lovers (um friends no meio do caminho também). amo gatos, porém a função do adonis é essa aí. revisado, porém, caso alguém leia e ache algum erro...
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