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#contos marginais
ceulajeado · 2 months
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dia desses, atravessando a rua que vai pra onde os coitados não têm vez, com uma garrafa de Santomé quente na mão, comentei com um falso amigo que o fim do amor é como um pai incompreendido que volta bêbado do bar, espanca, chuta, xinga, cospe, depois adormece no chão da sala, e quando acorda, vê o sangue nos dedos, a mulher com o olho roxo e os filhos chorando silenciosamente no canto do quarto, e percebe o que fez, então se levanta, toma um café meio amargo, fuma um cigarro, dá um beijo na testa de todos, diz que vai ficar tudo bem e sai pra trabalhar como se nada tivesse acontecido porque encarar os próprios atos exige uma certa estupidez humana, mas há a esperança de que ele nunca mais vai volte, e até que a superação se torne num singelo vôo de andorinha, suave e tranquilo, a ansiedade e o medo apita ao menor ruído da maçaneta.
de fato, certas coisas nunca vão acabar e certos fins sempre recomeçam, porque o amor sempre volta, o amor sempre volta, e às vezes traz flores, às vezes traz chocolate, às vezes dá um soco na costela antes de sumir, às vezes um chute no estômago. você nunca se esquece de quando foi amado e de como isso foi trágico no final.
de qualquer maneira, amor, quando for embora, tente apenas fechar a porta de casa, sem muito alarde, por favor, minhas costelas já foram quebradas antes.
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darkangel-realdevil · 10 months
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"Sou mestrado em... tirar você do sério
Oh meu bem... Desculpa, não me leve a sério
Ela tem... um beijo interestelar, leva a gravidade zero
Eu tenho Mary Jane, poemas, e um Ferro
Pique Lois Lane,
Mas de shortinho e chinelo
Furtamos uma Mercedes Benz
Banco caramelo
A filha do burguês,
E o pobre louco cadelo
Cenas de nudez, pura insensatez,
Um foda-se sincero
Boy e bico , não tem vez, manda busca, toma relo
Fumin paquistanês, e o oitao com tamborzao de seis
Se eu sacar, é cemitério,
Sou da guerra, vivo em paz, aí fica à seu critério
Quantas outras vezes???
Quantas vezes mais???
Vai fingir que não me quer
Pra eu fingir que não te quero
Me leva a lucidez, te roubo a paz ,
Menos é mais
Quartos de motéis,
Viram castelos
Contos de cine privê,
Romances marginais,
Versos autorais
Segredos que só conto pro caderno
Transando um pagodin nos litorais
Atos criminais
Fuga dos oficiais
Na Anhaia Mello
( A gente casa na Universo Paralelo)"
(ZS Mc)
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mechamoborboleta · 1 year
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Podia ser mais viceral
Título no Brasil: Assombro
Autor: Chuck Palahniuk
Número de páginas: 505 páginas
Editora no Brasil: LeYA
Ano da publicação da edição: 2016
Gênero literário: Ficção, contos, suspense, drama, realismo sujo, minimalismo
Primeiras impressões:
O trabalho feito na editoração do livro é bem feita. É um livro de capa mole simples a ilustração não é minha favorita, existem outros livros de ilustração minimalista e fácil de entender, não é a capa mais bonitas que vi a exemplo de Solaris que tem uma capa minimalista linda, mas intrigante ao mesmo tempo.
No entanto a capa é um detalhe comparado com o bom trabalho de diagramação do livro, o espaçamento é ótimo e a fonte facilita a leitura fluída, além do papel pólen, que em minha humilde opinião deixa a leitura mais agradável e não cansa os olhos como o papel branco. A organização também é excelente, ao final do livro há um mini sumário dos contos e poemas para que possa voltar ao seu conto favorito sem precisar folhear o livro sem necessidade, um detalhe bem carinhoso para o leitor ansioso, já que a divisão dos capítulos não é a mesma dos contos e poemas.
A leitura fica extremamente divertida também pelo trabalho de tradução, obviamente não será como o original já que em toda tradução um texto pode perder um pouco de sua essência, mas o tradutor não poupou esforços em deixar o texto o mais sujo possível sem deixar nenhuma situação leviana que é uma das propostas do autor original.
Contextualização da obra:
Para quem não conhece Chuck Palahniuk é o escritor do homônimo livro “O Clube da Luta” aquele que deu origem ao filme de mesmo nome. Para quem já leu “Clube da Luta” sabe que Chuck se concentra em personagens cheios de defeitos que fogem completamente do ideal do herói romântico, são personagens marginais e sujos. Eu não li “Clube da Luta” tão pouco assisti ao filme, em fato, a minha experiência com a escrita de Chuck foi com “Assombro”. E não adivinhei isso sobre “Clube da Luta” trata-se de uma aposta alta baseado na minha experiência com a leitura de assombro e com a descrição dada nos primeiros capítulos do livro “The Dirty realism duo: Charles Bukowski and Raymond Carever on the aesthetics of the ugly” de Michael A. Hemmingson.
”The caracters are usually run-of-the mil, Every day people – the lower and Middle class worker, the unemployed, the alcoholic, the beaten-down-by-life.”[1]
Em tradução livre, “Os personagens são normalmente pessoas ordinárias, a classe média e baixa trabalhadora, os desempregados, os alcoólatras, os ferrados pela vida.” Sobre a citação acima: Essa descrição de personagem me lembra muito a série Shemeless (a versão britânica, não assisti a americana), que na minha opinião é uma crítica muito bem-humorada as consequências que surgem depois do neoliberalismo de Tatcher, é difícil ficar bravo com os personagens, eles lembram mais eu e você do que qualquer personagem de Jane Austen (deixando claro adoro a Jane) ainda mais agora em tempos de 2020. De todo modo vale a pena assistir Shameless fica a dica.
Já deu pra entender que para falar de “Assombro” e Chuck Palahniuk precisamos retomar realismo sujo, Estados Unidos e Bukowski. Não irei dar uma de pseudo-cult e falar que li Bukowski e achei genial, pois eu não li e não tenho como omitir uma opinião pessoal sobre seus textos. O que posso falar de opinião pessoal é que esse subgênero de texto flerta muito com coisas que gosto muito, talvez por gostar muito de punk e movimentos subversivos, entretanto precisei pesquisar já que não tenho uma vivência com o gênero.
Tratando primeiro do realismo sujo na literatura e Bukowski que são temas inseparáveis, conhecido como velho safado, Bukowski vivia na boêmia, viciado em álcool e traumatizado pela violência projetada por seu pai durante sua infância escrevia obras com um linguajar fácil e por vezes obsceno, mostrava a vida da classe trabalhadora com seus vícios e violência cotidiana, querido pelos mais jovens e não tanto pelos intelectuais, essa é a obra de Bukowski. Falar de sexo abertamente, escrever sobre os defeitos do ser humano médio, o trabalhador, escrever sobre as violências que permeiam no dia a dia, fizeram sucesso e conversam muito com uma mente jovem, no entanto, mesmo tendo seus méritos sua obra bem como usa pessoa não eram perfeitos, perfeitos não digo pelo fato de expor os defeitos e sujeiras do ser humano, mas a misoginia é um dos fatores que podem causar certo desencanto por sua obra, é um reflexo da época e principalmente da pessoa desiquilibrada que Bukowski era.
Entretanto, não pensemos em “cancelar” Bukowski, é importante lermos esses autores sobre outras lentes, essas obras em especial, devem ser lidas com muito cuidado, pois não são exemplo para ninguém. Uma opinião impopular, não devemos colocar no esquecimento.
O realismo sujo que pode ser definido por violência e sexo de forma extremamente grotesca, vemos isso a exaustão nesse tipo de literatura (note que falamos de meados do século XX, é um choque social) e quando achamos que nada mais pode nos surpreender e achamos que o autor chegou no limite, somos surpreendidos e ficamos em choque, algo muito visível no primeiro capítulo de assombro que será tratado mais à frente do texto.
Nessa segunda parte da análise “pré-história” vou tratar um pouco de Estado Unidos, veja, eu sou americana, mas vivo na América Latina, num lugarzinho chamado Brasil, realidade muito diferente do vizinho Estados Unidos, além de suas populações falarem línguas diferentes em diversos aspectos, a gramática é outra e as origens, por aqui digo família linguística, mesmo sendo oriundas da Europa são diferentes. O segundo aspecto que nos diferencia é a democracia executada, formas de executar leis, como o racismo se estruturou em cada um dos países é bem diferente também, e as desigualdades sociais são diferentes. Tem vários aspectos diferentes em ambos os países. Minha reflexão será do ponto de vista de uma mulher latino americana, que sempre consumiu mídia americana desde pequena, que vem de um pais que renega ser parte da américa latina e reverencia os EUA, vem de uma pessoa que cresceu com a ideia que os Estados Unidos é perfeito. Que seus pais, tios, avós, colegas e até mesmo essa mulher latino americana por muito tempo, compraram a ideia de “American way of life”. Dito tudo isso digo que o livro de Assombro mergulha em outros Estados Unidos que esconderam debaixo do tapete, os Estados Unidos do trabalhador comum, os Estados Unidos dos loucos, algo que se aproxima mais da realidade brasileira, mas que sinto ainda distante em certa medida. O principal trunfo vai realmente para desmistificar os Estados Unidos da família de margarina. Pessoas enfrentando suas dificuldades, pessoas viciadas em dinheiro como foram ensinadas a ser, pessoas no ápice e na queda de suas vidas, isso é excitante, esses Estados Unidos que Chuck quis mostrar ao mundo.
Impressões do livro:
O livro em si me fisgou no primeiro conto, é tão perverso e nojento que te prende. Algo tão banal como a masturbação é demonizado em diversos locais, e nos Estados Unidos não é diferente, apesar das séries e filmes mostrarem sexo o tempo todo. O fato brutal é a imaginação que faz o personagem buscar outras formas de prazer e vira uma carnificina que me deu pânico em vários níveis, sou uma pessoa com muita imaginação e quando leio passa um filme na minha cabeça, ler o primeiro conto não foi uma das experiencias mais agradáveis, mas me surpreendeu pelo fator estranheza, surpresa e absurdos, um dos meus favoritos.
Retomando do inicio, o livro conta a história de escritores anônimos buscando desenvolver suas histórias em uma espécie de retiro. Todos possuem um codinome que estão intimamente relacionados com suas histórias reais de vida, no começo é confuso pois é difícil ainda entender quem é quem, mas assim como em um reality show depois de um tempo já sabe o nome de todos. O que me intrigou nos seus nomes é que pude prestar uma atenção especial em cada história para entender a escolha de cada nome.
Acabamos em uma metalinguagem, é um livro que fala também sobre processos de escrita, temos três realidades, a vida real, que está envolta em um mistério sobre o que aconteceu com os autores anteriores, a poesia que introduz cada conto e o conto escrito por cada um dos autores.
Um fato que achei interessante e trouxe mais dinamicidade para a obra foi como cada personagem se expressava diferente, não era Chuck escrevendo, mas o personagem, da sua forma, se apresentando da sua forma, temos desde poesia, até descrições de filme e cartas.
Alguns contos são melhores do que outros, uns despertam o pior, outros nem impactam, já outros chegam ao senso de ridículo e foi difícil de ler, como a da bola de boliche assassina (estamos falando de terror trash por acaso?)
A história principal que é o refúgio dos escritores na vida real, não me pareceu crível todas as ações e reações dos personagens, a forma como eles agiam era muito abrupto e forçado, senti falta de ver os impactos psicológicos de forma gradual, entender o porque agiam assim e como foram sucumbindo a loucura. Tudo que aconteceu na história principal, não me impactou e sinceramente queria pular essas partes, os contos eram mais interessantes. Seria mais fácil escrever um livro de contos do que inventar o enredo sem lógica e gastar papel e tinta.
Alguns pontos do livro me incomodaram, pela misoginia e LGBTQfobia de algumas histórias, não sei se foi a melhor forma de abordar muitas coisas, eu não sei a sexualidade do autor, mas a forma como ele tratou certos elementos da cultura queer foram muito vicerais. Em minha singela interpretação posso dizer que esse tipo de caracterização nos diz muito sobre o americano, se dizem donos da liberdade, que é a terra da liberdade, mas a liberdade é para quem? Será quem realmente precisa de mais liberdade para ter o ditreito de viver e não apenas sobreviver tem essa oportunidade em solo americano? Ou será que apenas o homem cisgênero e branco consegue essa tão sonhada liberdade? Já sabemos a resposta, e isso pode nos dizer porque é uma linguagem tão chula, sem politicamente correto, que ofende minorias sociais.
Alguns destaques vão para o conto da senhora rica, que me deixou irritada, o do são sem pança, a da doida por bonecos que me deixou chocada e da filha desaparecida que me deixou querendo saber mais sobre o que aconteceu e o que deixou sua filha desequilibrada, mas achei esperto usar o artificio lovecrafitiano de não revelar o objeto de loucura, pois cabe a cada leitor imaginar o que deixaria uma pessoa tão artomentada, se ele descrevesse não teria o mesmo efeito. E o conto final que me surpreendeu por não estar relacionado diretamente com a história, mas ter dado o desfecho final e ser um ponto sobre a reflexão da nossa sociedade do absurdo.
Classificação:
Coesão e coerência: 4
O autor atinge seu objetivo ?: 4
O texto se mantém interessante para o leitor ?: 4
Há aprofundamento das ideias ?: 3
Construção de personagens: 5
★ ★ ★ ★(4)
Fontes: [1] HEMMINGSON, Michael A. The Dirty Realism Duo: Charles Bukowski and Raymond Carver on the Aesthetics of the Ugly. p.11. Borgo Press, 2008
[2]DECLERQ, Marie 100 anos de Bukowski: O velho safado que resiste ao cancelamento Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/08/23/100-anos-de-bukowski-velho-safado-ainda-resiste-ao-cancelamento.htm
[3] Santos, Daniele Ribeiro dos. Do Realismo Sujo Ao Realismo Vazio: Um Estudo Comparativo Entre a Ficção De Rubem Fonseca E Pedro Juan Gutiérrez. 2007.
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lirismodaalma · 2 years
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Minha veracidade Atribuo a Leminski Meus medos a Van Gogh Meus misticismo a Robert Johnson Meus ar de rebeldia a Bakunin Minha melancolia a Bukowski Minha lascividade a Hilda Hilst Minha cara de pau a Piva Sou um amontoado de haikais Pinturas pós - impressionistas Sons estridentes de blues Sentimentos revolucionários Tudo mistura a grandes pitadas De poemas e contos marginais
Autor: William Lopes
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pnkyg · 4 years
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O pós-apocalipse de Jup do Bairro
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A lógica sem juízo da multiartista que destrói modelos mofados de entender o mundo
Tem uma cena do filme Donnie Darko na qual a professora Drew Barrymore discute com os alunos um conto do escritor Graham Greene, chamado Os destruidores. Na história, uma gangue de moleques decide causar. 
Só porque podem, eles decidem destruir a casa de um senhor que eles chamam de Velho Miserável. 
Os meninos invadem o lugar e acabam encontrando dinheiro. Questionado sobre se vai ficar com a grana, o líder do grupo responde que eles não são ladrões. O dinheiro é destruído junto com a casa.
No filme, Donnie Darko explica para a classe que a destruição ali é uma forma de criação: "Eles só querem ver o que acontece quando destroem o mundo. Eles querem mudar as coisas".
Assim como a gangue do conto, a multiartista Jup do Bairro também quer mudar as coisas. Seja através da sua parceria musical com a Linn da Quebrada; seja através do programa Transmissão, que ela apresenta também com a Linn, no Canal Brasil; ou seja através da estréia do seu primeiro EP, Corpo Sem Juízo, lançado no meio da pandemia e com produção da BADSISTA, Jup quer destruir através do rap, do funk, do rock e do trap. Destruir para criar.
Sim, ela precisa destruir, porque, para uma travesti preta e gorda do Valo Velho, zona sul de SP, a construção só é possível por cima dos destroços de uma sociedade que a quer musa fitness. Ela destrói modelos mofados de entender o mundo & a lógica branca de dominação. Como para os moleques do conto do Greene, a destruição da Jup é uma forma de criação. É transformação.
Ela se atreve a criar em meio ao caos, enquanto corpos como o dela são rejeitados todos os dias, assim como o do modelo Demetrio Campos, um homem trans que encontrou no suicídio uma forma de curar sua dor.
O assassinato de Demetrio me pegou muito. E digo assassinato pois ele foi vítima de um 'CIStema' que nos espanca, esfaqueia e carboniza física e mentalmente todos os dias. Tive momentos com Demetrio de muita alegria e celebração, o que não suaviza a falta de empatia sobre nossos corpos. Uma vez que nossas vidas, na visão de quem nos genocida, é descartável e indigna, ela não merece sua afeição.
O single All You Need is Love, que Jup canta em parceria com Linn e Rico Dalasan, por exemplo, é uma tentativa de reverter isso. Mesmo afirmando na letra que não sabe o que é amar, ela tenta ressignificar o sentimento, mostrando que corpos como o dela também podem desejar e ser desejados com a luz acesa.
Muitas vezes colocam expressões marginais — como o funk, falas explícitas sobre sexo e o corpo como matéria de capitalização — no lugar de uma arte menor ou sem importância. Mas existe algo mais político do que falar de tabus como a sexualidade? Expressões do desejo e extensões de nossos prazeres? É pra além de mim, de nós. Em 'All You Need is Love' são 3 pessoas pretas, profetizando afeto, carícias e tesão sobre as nossas matérias.
Se, para algumas pessoas, o corpo trans é uma incógnita, Jup mostra que o futuro pode renascer justamente deste embaraço.
O corpo trans não é caduco, decrépito. É o mais vivo corpo. O corpo que renasce, transgride, transita e transcende. Acredito que seja o único corpo possível pós-apocalipse justamente por essa corredeira tentativa de adaptação ao seu próprio tempo; passado, presente e o futuro, pra mim. Mas as estigmas criadas em torno do corpo trans ameaçam a nossa existência no presente. Assim como os esteriótipos em torno do corpo negro são uma criação do branco, os esteriótipos em torno das pessoas transgêneras podem ser vistos como uma criação de pessoas cisgêneras. Infelizmente, não tenho o controle do meu destino, por isso sigo tentando burlá-lo.
Ao desafiar a lógica tradicional, a lógica travesti mostra que outras realidades são possíveis. Ela não é, portanto, uma ameaça, como acreditam os reacionários, pois traz uma brisa de liberdade e esperança a uma sociedade completamente sufocada pelo racismo, pela transfobia e pelo culto à imagem.
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(Imagem: divulgação)
Além disso, a lógica travesti também é contra o tempo. Isso ficou claro pra mim numa aula que assisti da professora Helena Vieira, escritora e ativista transfeminista, na qual ela explica que, por terem seus símbolos apagados da história, corpos travestis precisam inventar um novo passado em seu presente a fim de projetar um futuro possível. Ao desafiarem essa ideia linear de tempo e entender que todos os tempos convivem no agora, uma ancestralidade travesti, portanto, poderia vir do futuro. E não deve eeu não consigo pensar em nada mais esperançoso do que travestis ancestrais futuristas.
Imagino que seja essa ideia que faz com que a Jup diga que o seu EP passe por um ciclo narrativo de nascimento, vida e morte. Porque, no Universo, esses processos acontecem ao mesmo tempo e O-TEM-PO-TO-DO. Provavelmente, tá acontecendo agora dentro do seu corpo, se você não for um leitor defunto.
Também imagino que seja essa ideia que faz a Jup dizer que seu corpo já morreu inúmeras vezes, mesmo que ele continue vivo. Apaixonada pela professora Helena Vieira, a Jup concorda:
Sim, o corpo trans, o corpo travesti passa por outra lógica cronológica. (...) Quando falo que já morri inúmeras vezes, quero falar sobre os sacrifícios que já tive que fazer de muitos eu’s para me reconhecer. Já tive que sacrificar o filho que meus pais planejaram que eu deveria ser, sacrifiquei o cidadão que a sociedade esperava que eu fosse e venho sacrificando todas as outras características desde ao acordar até me olhar no espelho. Morro e renasço todos os dias e de todas as formas, pessoal ou profissionalmente. O tempo me atravessa em todos os lugares, desde as referências de mulheridades que constroem a artista que venho me tornado, das que já passaram pela minha vida, até admitir que posso construir a minha própria mulheridade, a minha própria performance.
A sua sanidade depende disso:
O tempo e o corpo são muito presentes no meu vocabulário, pois são as palavras-chave para a negociação da minha saúde mental. O momento agora é de muita dor, muita tristeza, muito medo e estou sentindo tudo isso. E isso é bom. Significa que me comovo e me preocupo com o que está acontecendo. Não acho que precisamos nos alienar. (...) Nós precisamos sentir o que está acontecendo, entender que não são números e sim vidas que estão desencarnando. E, claro, muito importante filtrar essas informações para que possamos nos proteger pra não pirar de vez, escolher fontes confiáveis de informação, mas não se isentar. E, assim, levo pra minha vida uma maneira de pertencer ao meu tempo, entendendo as urgências, respeitando as minhas sensibilidades, as minhas potências e principalmente esse tempo, que já é outro.
A construção da forma como Jup se entende como ser humano passa pela construção da forma como ela entende o grande mistério que está para além do ser humano. Jup cria a sua mulheridade, assim como cria também seus deuses.
Eu digo que sou ateia não praticante, mas também sou inúmeras outras religiões não praticante. Eu tenho um exercício muito particular com crença. Já flertei com espiritismo, fui evangélica enquanto criança, simpatizo muito com a umbanda... Às vezes ouço playlists para me concentrar pra algo e lá tem reiki, ponto de macumba, gospel... Assim vou criando minhas fés. Uma vez a MC Tha disse uma coisa que sempre bate muito na minha cabeça: “A religião existe para acreditarmos que podemos ser mais felizes”. Com isso crio maneiras de me encontrar, me desencontrar. Ela faz a religião dela.
É um decreto importante esse da MC Tha, porque faz com que a gente rejeite qualquer tipo de organização que nos oprima, nos entristeça, nos sabote, nos engane, nos sugue e nos impressa de acreditar no cristalzinho raro que nós somos.
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(Imagem: divulgação)
Quando a própria sociedade faz isso, então é preciso rejeitá-la também. E o seu nível de rejeição, provavelmente, vai ser inversamente proporcional ao quanto você é aceito por essa sociedade. Os corpos transgêneros têm uma urgência maior, uma urgência que os cisgênero talvez nunca entendam.
Uma vez me apresentaram ao capítulo 'A máscara', do livro 'Memórias da Plantação', da Grada Kilomba, e pude perceber que possuímos uma máscara em nossos rostos, como interpretações. A cisgeneridade é imposta a partir de uma genitália, logo com papéis de gênero que devem atuar a partir de sua geografia, cultura e sociedade. (...) Sexualidade e gênero são campos abertos das nossas imaginações que preenchemos ao decorrer da vida. Meu corpo é possibilidade de vida, de ser e estar. Vivo me perguntando quem sou eu, onde quero chegar, o que posso ser. Não tenho respostas, mas faço das minhas perguntas um lugar que eu caiba.
Essa ideia da máscara da Grada Kilomba dissolve meu espaço-tempo e me leva de novo a Donnie Darko, numa cena em que, durante uma ilusão, um homem vestido com uma fantasia assustadora de coelho aparece do lado do Donnie e ele pergunta: "Por que você está vestindo essa fantasia ridícula de coelho?". O coelho maldito rebate: "Por que você está vestindo essa fantasia ridícula de homem?". De certa forma, é a mesma coisa que berram todas as músicas do EP da Jup.
*Por Nathan Elias-Elias
Esta entrevista foi publicada originalmente na newsletter PunkYoga (assine aqui). 
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Tempestade Para os Vivos e Para os Mortos (Português) Capa comum por Charles Bukowski . Charles bukowski escreveu prolifica mente durante toda a sua vida centenas de contos, romances e, principalmente, poesia. A maioria desses poemas eram publicados em revistas marginais, de pequena circulação, e muitos permanece ram não publicados ate hoje. Em tempestade para os vivos e para os mortos, abel debritto, especialista e biografo do autor, vem preencher essa lacuna. Aqui estao reunidos os melhores desses poemas ineditos que ficaram na gaveta e outros que jamais foram compilados em livro. Encontramos poemas do inicio da carreira, nos quais e possível ver o autor em busca de sua verve, e também põe mas da velhice, no auge da maturidade como escritor. Reunidos e ordenados cronológica mente, os versos compoem como que uma autobiografia acidental de bukowski. não faltam a abrasão, a autocomi seração e a franqueza característica, que revelam em toda sua gloria a sordidez que faz parte do ser humano. também esta incluído aquele que e considerado o ultimo poema escrito por bukowski, #1 , semanas antes de sua morte. Nunca o assombro diante da existência foi retratado em versos ao mes mo tempo tao cotidianos e tao geniais. Nunca um poeta conseguiu expressar de forma tao marcante e tao simples o fato irrefutável de que, por dentro, todo ser humano e um perdedor . #tempestadeparaosvivoseparaosmortos #charlesbukowski #bookstagram #books #livros #loucosporlivros #quantomaislivrosmelhor #vendaonline #literaturacomteporanea #literaturaclassica #livros #leitura (em Sebo itinerante O Cavalheiro da triste figura) https://www.instagram.com/p/B_9fZ8hgebn/?igshid=5i6pyh9lgnpn
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ceulajeado · 9 months
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nunca um pai de família
Assim como Rimbaud, minha linhagem comportou muitos otários malucos e vagabundos em sua maioria. Mas também muitos trabalhadores honestos, pais de família, severamente apegados às suas rotinas infernais, obedientes a um sistema que funciona muito bem quando a ideia é que os pobres sejam miseráveis. Só que eu não. Eu não era trabalhador. Não queria casar muito menos ter filhos. E não por falta de vontade. Deus sabe que eu seria um trouxa fascinado por alguma ideologia, mataria pelo conservadorismo das obrigações. Acordaria todo dia, quando o sol ainda dormisse, tomaria um café escasso e comentaria com a minha mulher como a crise tá acabando com a gente, veja só, o dinheiro não vale mais nada, eu trabalho igual uma mula pra ter grana e me deprime não ter a maldita grana, e ela secaria as mãos no pano de prato, dizendo que me odeia, que eu estraguei a vida dela, e eu direi que a odeio de volta, e, secretamente nos perguntamos porque continuamos com esse casamento desgraçado se um dia nossas crianças crescerão e farão questão de morar bem distante de nós, e quando acontecer, seremos condenados a passar o resto dos anos sendo dois velhos que se odeiam ainda mais. Eu quebraria o copo ao terminar o café, e diria que se soubesse que ela ficaria tão feia, teria comido a irmã mais velha, e aí eu pegaria minha marmita e sairia pra mais um dia, meu corpo pesando pela falta de uma boa noite de sono, já que a cama velha foi comprada numa loja de móveis usados e eu nem quis descobrir porque o colchão tinha tantas manchas brancas. Em pouco tempo, estaria na estação do trem que já vem lotado, rumo ao trabalho, oito horas por dia mais extras, numa loja de departamento, vendendo coisas que nunca poderia comprar, não com esse salário, não com a cesta básica tão cara, e teria que escolher o que é menos agonizante: trabalhar feito maluco por uma miséria no fim do mês e ter que aguentar um gerente que passa a mão nas minhas bolas em troca de me deixar usar a cafeteira do escritório, ou ir pra casa e ter que encarar os olhos da minha mulher, enquanto ela diz que eu sou um fracassado, um molenga, e que só está comigo porque a outra opção é voltar pra casa do pai que a violentou desde os três anos de idade. Ela juraria que ia deixar as crianças comigo, já que nenhum de nós dois consegue amá-las. Essas crianças desgraçadas, eu pensaria, subindo o zíper da calça, sentindo o cheiro do cafezinho, me culpando por ter ficado de pau duro com a mão quentinha do gerente. Já fiz muita coisa terrível e inútil, mas um menino raivoso que destrói os brinquedos aos chutes e matou o Damião e o Anderson, os dois hamster que comprei pra ele, com um barbante no pescoço, e uma garota esquisita que sempre corta os pulsos acidentalmente, vomita tudo o que come na privada e deixa a casa com a mesma atmosfera dos contos de Edgar Allan Poe, foi, de longe, o pior dos meus feitos. E eu pensaria no quanto esses filhos bizarros e essa esposa triste e esse gerente tarado e esse emprego de merda, fazem da minha vida um inferno. Odeio a todos, pensaria. Acordar vivo é torturante, por isso hoje eu vou no bar, de novo, e vou beber em homenagem a injustiça que meu destino é. E então eu descobriria as apostas também, o jogo no bicho e o carteado, e pegaria empréstimo com o agiota pra poder jogar mais. E me endividaria. Iria pra casa, perto das cinco da manhã, chapado e bêbado, sem meus sapatos e com a camisa manchada de sangue, e bateria tanto na minha mulher que ela teria saudades do papai. Depois iria pro quarto do menino, e lhe daria a surra da sua vida. Então eu acordaria a garota, arrastaria seu corpo de peso pena pelos cabelos e a faria ver sua mãe ensanguentada, seu irmão chorando, e quebraria os móveis enquanto ela grita de pânico, mas deixaria ela intacta porque, de todos os covardes coexistindo naquela casa, ela seria a única capaz de me odiar o suficiente pra um dia me matar. E eu a faria desejar isso. E esperaria, até que estivesse pronta.
Mas, infelizmente, tudo o que me resta é ser um otário maluco e vagabundo.
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detetives-blog · 4 years
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Você já ouviu falar em "golpe do amor?" Pois é. Somos especialistas em desvendar esses marginais que usam da internet para ludibriar pessoas com falsos namoros virtuais. Acredite! Ainda tem pessoas que caem nesses golpes e perdem fortunas. Em regra a grande maioria das vítimas são mulheres com idade entre 40 e 70 anos com vida financeira estabilizada. Se você está se relacionando pela internet com alguém nós podemos buscar toda verdade e descobrir se seu príncipe não é um conto do vigário. Atendimento 24 horas. #golpedoamor #scammer #scammers #scammersofinstagram #golpistas #golpistasaprision #estelionatarios #amor #namorovirtual #vocêfoienganado #namoro #noivado #traição #relacionamentoabusivo #adultério #relacionamentovirtual #golpe #mulheres (em Central Única Federal dos Detetives do Brasil - Ltda) https://www.instagram.com/p/B_SoIv3ndID/?igshid=11j8ua51rrtm
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oparaleloblog-blog · 5 years
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Cronista do provincianismo
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Marcus Messner narra a época em que trabalhava no açougue do pai. Antes de ser estudante de Direito, lavava latões de gordura e atendia fregueses com estranhas manias – cheirar os bicos dos frangos antes de escolhê-los, por exemplo. Olivia Hutton fica vidrada em tais relatos. Pede mais histórias para seu narrador. Marcus (protagonista do romance “Indignação”, de Philip Roth) não entende o fascínio daquela jovem sofisticada por micronarrativas tão prosaicas.
A matéria-prima utilizada por Dalton Trevisan em “Novelas nada exemplares” é justamente essa trivialidade cotidiana. Lançado em 1959, os contos do primeiro livro do Vampiro de Curitiba apresentam elencos repletos de marginais, habitantes de bairros periféricos, frequentadores de terminais rodoviários.
Menino adoece e sua família não consegue curá-lo. Salafrário vive de mentiras, engravida duas mulheres, trapaceia até definhar na prisão. Jovem apaixona-se por prostituta idosa.
São enredos similares às manchetes que estampavam as páginas do Notícias Populares, jornal sensacionalista cujo público-alvo eram trabalhadores do baixo clero, homens e mulheres que têm como dieta básica arroz, feijão, ovo frito.
Conforme Álvaro Costa e Silva lembrou em crônica publicada na Folha de S. Paulo, Otto Maria Carpeaux, dos maiores estudiosos da literatura brasileira, viu a escolha desse conteúdo como algo defeituoso. Para ele, “Novelas nada exemplares” era obra inútil.
Trevisan considerou desfeita imperdoável. Ser cronista do provincianismo é sua maior qualidade. Histórias conduzidas por dicção cortante e expansiva nos significados poéticos o colocaram entre os maiores contistas do país. Afinal, mostrar o detalhe que poucos veem é das principais funções da literatura – que o digam os diários de Carolina Maria de Jesus reunidos em “Quarto de despejo”.
Função que, em 1959, Carpeaux não conseguiu enxergar.
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456955 · 7 years
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Contos Marginais
Era tarde e ainda discutiamos sobre a relevância das experiências pessoais como propulsor de novas ideias nas obras dos artistas que, por acaso, descobrimos gostar em comum, quando ela interrompeu a conversa para dizer que alguém tocava a campainha. Por conta dessa paranóia de não querer incomodar, sugeri que terminássemos o papo outro dia e ela concordou dando–se por satisfeita. Desliguei primeiro, mas confesso que fiquei com um pouco de ciúmes por não saber quem poderia ser àquela hora. Eis o porquê do meu receio por amizades femininas: me apaixono rápido, mesmo sabendo que essa não deve ser a finalidade desse tipo de relação. Mas porra! Se ela tivesse chegado um pouco antes. Antes da minha vida ter se afundado nesse buraco de vez. Antes de ter me fudido assim. Você também já deve ter pensado como eu: a situação perfeita acontecendo no momento errado. Espera. Deixa eu explicar melhor: provavelmente lhe ocorreu que o universo estivesse sendo demasiado caridoso se aquele encontro casual, aquela aposta ganha, aquela foda bem dada, não fossem nas condições atuais, mas, quem sabe, em um momento mais propício.
A vida é uma bola de merda. Uma grande e fedorenta bola de merda e nós somos escaravelhos rolando essa merda enorme por aí. Há ainda os que se orgulham da sua própria bola de merda, ostentando essa enorme e fedorenta desgraça como um troféu. Enquanto a mim, ainda nem imagino o que esses besouros fazem com essa merda toda. Apenas continuo rolando, rolando e rolando. Talvez, desse bolo de merda, saia alguém que descubra as respostas que tanto procuro. Enquanto não, vivemos nesse show bizarro, subindo e descendo e subindo de novo a montanha, atrás de uma bola de merda, nesse trabalho sisífico humilhante.
Amanheceu.
Domingo de ressaca. Com gosto de café. Com gosto de vômito. Com gosto algum. As teclas estão pesadas, meus olhos estão pesados, mas com algum esforço ouço novamente a sua voz:
— Esse telefone não existe…
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malicataartista02 · 5 years
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Vai haver uma história policial na trama! Uma garota que se suicidou!
Supostamente,até então,sendo averiguado...e essa segunda namorada problemática,resolve investigar sozinha!
Enfim... Cenário na favela!
Todo machismo envolvido de marginais...e a repressão sexual! Juntamente com a infantilidade e desafeto,desamor! Tudo oq a desumanidade vem causando na vida!
Uma história que te prende do começo ao fim,impossível se dar spoiler!
Isso é livro!
É cada um ver uma coisa diferente da outra,no mesmo conto! Esta ficando lindo!
Tenho ctz que vai vender como água!
(((':
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hellodanielsantana · 5 years
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Sera que mas um conto depressivo ,adolescente  e aclamado por alguém, sentimentos reais ,  que são expostos em  redes sociais!!! 
Opa ,Tudo bem?! Me chamo Otávio , tenho 17 anos ,  moro  em Brusque Santa Catarina, Não faço a minima ideia de como preencher esse vazio em branco do tumblr, sem antes preencher um  vazio que carrego em mim, Existe um clichê que se fala assim ‘’ você só começa a viver depois dos 30′’ nunca aclamei tanto pelos trinta em minha vida (risos)....Acho que estou em  começo de Depressão ou já estou nela,pelas minhas pesquisas no Google meus sitomas são tristeza e inicia de depre..Mais ‘’ala’’ vocês vão manda eu procura um  especialista , ou conversa com algum responsável, mano quando  a gene e pobre, a unica pessoas que a gente sabe conversa e pede algo  e Deus , por que so  de olha para os meus pais eu já tiro essas tristeza de lado,acordando as 05:00  da manhã para poder deixar almoço feito   para cinco filhos  e indo bate o seu ponto no colégio ,eu tenho a consciência de  não entrega mais um fardo pra minha guerreira ,  que já carrega o fardo  de ter três filhos seus nas drogas indo marginais na sua porta cobra dividas, e ela retirando seu dinheiro  suado ,de  esfregar chão  de colégios ,  sendo capacho de  todos ,  chegando em  casa com mais uma lagrima descendo , doí o peito aperta  ,  por mim  eu sentiria essa dor por ela, mas mano  papo reto,a cada dia mais estou em um livro diferente, preciso muda o  destino da minha coroa tlgd?! Nasce pobre não e uma escolha,  mais continua e uma opção,  sua vida e construída a partir da  suas escolhas, visão geral,  nos somos pobres ,  mal visto pela sociedade isso  e fato ,  mais se iguala a todos os outros e uma  opção ,  visão aos menor da favela!! SALVE COMUNIDADE 
-BONIFÁCIO 
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transcreaciones · 6 years
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O Metrô - Alejandro Dolina
 O Metrô[1] 
Todos na cidade nos orgulhamos do nosso metrô.  Quando eu era pequeno, os professores me ensinaram que era o maior do mundo. Esta afirmação é verdadeira, embora já faz muitos anos que a cabal extensão de nosso trem metropolitano é desconhecida. As autoridades não permitem o acesso aos planos e documentos, pois consideram que tratam de segredos relacionados à segurança pública.  Ninguém sabe quando foram escavados os primeiros túneis, mas todos se lembram de Ivan Lânski, o prefeito louco, que destinou toda a verba da cidade para a construção do metrô. Segundo a lenda, o primeiro dos trens atravessava a cidade de leste a oeste. Havia somente duas estações, localizadas em subúrbios distantes.    Algumas pessoas contam que a seguinte linha foi construída paralela à primeira a cem metros de distância. Hoje em dia certamente não existem evidências desse túnel, ou melhor, maneiras de identificá-lo já que existem mais túneis que ruas.  Muitas estórias contam sobre Lânski. Quase todas são falsas. Seus inimigos mencionam quadrilhas de presos políticos que cavavam a terra com suas próprias mãos. Os engenheiros ortodoxos apontam, enquanto riem escandalizados, os desatinos daquelas obras: galerias que abruptamente terminam em rios, esgotos que fluem sobre os trilhos, estações cujas entradas estavam no interior das casas dos hierarcas do partido.     Dizia-se que a corrupção era incontrolável. Cada chefe tomava para si sua porção e, conseqüentemente, nem os materiais, nem os procedimentos chegavam à qualidade prometida. Em uma das linhas do norte, os vagões ficaram maiores que o túnel. Muitas estações careciam de iluminação, de azulejos e, segundo alguns exagerados alunos, de escadas. Como sabemos, se acusara a Ivan Lânski de construir túneis privados em que corriam luxuosos vagões com a companhia de suas queridas. Nada disso é verdadeiro, embora é provável que o prefeito estivesse envolvido com a emissão clandestina de passagens que em 1948 alcançaram um volume duas vezes maior às passagens oficiais.     Uma lei inexplicável de 1950 outorgou que cada linha tivesse dois túneis com idênticos traçados mas com diferentes profundidades. Dizia-se que o governo desejava oferecer a cada usuário a possibilidade de escolher entre uma viagem rasa e outra profunda. Em 1952 se construiu uma rede que previa a circulação de trens a mais de duzentos metros de profundidade. As impraticáveis escadas, ou talvez a falta de ar, causaram seu rápido abandono.     De toda maneira, o entusiasmo oficial crescia.    Provavelmente Lânski não era mais o prefeito, mas seus sucessores continuavam escavando. Esgotados os recursos, a administração decidiu vender alguns prédios públicos para poder prosseguir com as obras. Os poetas governistas cantavam a glória de dez mil ocultos trens que vacilavam nossos passos. Na universidade, explicava-se que a escadaria da estação Drummond, que cortava o globo terráqueo sem nenhuma interrupção, tinha degraus que nos faziam passar do subsolo à superfície. O segredo estava no degrau do centro da Terra. Ali o plano vertical passava a ser horizontal. Ainda guardo entre meus papéis o desenho que o defunto professor Kopa fez para mim, antes de cair em desgraça.    Em 1960, quando todas as linhas já estavam interconectadas numa confusa trama, algumas medidas decisivas foram tomadas. Em primeiro lugar, impôs-se um itinerário imprevisível para o trajeto dos trens. Sequer os próprios condutores podiam conhecê-lo. Para completar essa lei decidiu-se abolir o nome de todas as estações e sumir com quaisquer características que permitissem seu reconhecimento. Desapareceu a conexão referencial entre a superfície e o metrô. O governo explicou que a demasiada previsão dos destinos era um vício ocidental que deveríamos começar a banir. Os jovens saudaram com entusiasmo esse novo regimento. Os estudantes escreviam nas paredes da universidade: “o metrô não é um meio de transporte”.   Há muito tempo que existem vagabundos e mendigos em nossa rede, mas com o tempo a população subterrânea foi crescendo. Alguns comerciantes que vendiam seus produtos em pequenos espaços das estações resolveram ficar e viver ali. Certos supervisores do sistema enriqueceram emitindo autorizações para estabelecer moradias familiares provisórias nos corredores, curvas e escadarias. As construções procedentes geraram enormes inconveniências já que invadiram lugares que eram indispensáveis para a circulação dos viajantes e em alguns casos chegaram a avançar sobre as linhas férreas. De toda maneira, algumas dessas residências eram bem confortáveis. Eu mesmo aluguei uma no entrepiso de uma estação. A já assinalada dificuldade para diferenciar uma estação de outra modificou meus hábitos. Desde então quase não saio de casa. Soube que alguns grupos marginais têm uns símbolos secretos que lhes permitem saber onde estão. Eu não me atrevo a aprendê-los, prefiro andar perdido, mas seguro.   Os anos de crise e seca afetaram profundamente nossa república. A luta entre facções do exército e o partido acabou empobrecendo a todos.   O Bairro histórico da cidade foi incendiado por suboficiais nacionalistas. A universidade foi fechada. Faz alguns anos que me aventurei na superfície para ir à Biblioteca Nacional. Não existia mais.     Muitas fábricas fecharam suas portas e a peste de 1971 reduziu drasticamente a população.   Contudo o metrô continuou crescendo até hoje. Decerto quase já não circulam trens. Devido à falta de energia elétrica, muitos deles circulam graças a uns motores de caminhão que envenenam o ar das galerias. Nenhum vagão possui assentos e em alguns as paredes desapareceram completamente. Naqueles nichos ermos, quase no limite das locomotivas, o povo constrói seus próprios túneis. São simples buracos na terra viva que continuamente desmoronam. Muitas crianças nasceram nas galerias e jamais viram a cidade. Quando lhes conto sobre a grandeza do Teatro da Dança ou a graça das pombas da Praça Grande olham-me com uma agradecida incredulidade.   Sônia, a bela moça que vende as passagens, perto de minha morada, jurou-me não faz muito tempo que a cidade já não existia. Disse-me – talvez com o afã de querer parecer interessante – que somente sobraram ruínas e que todas as repartições oficiais funcionavam em instalações do metrô. Também me garantiu que nossa estação estava exatamente abaixo do Parque das Garças, que agora não era nada mais que um matagal assolado por lobos. Ficamos de subir as escadas assim que tivéssemos tempo para comprovar ou refutar aquela idéia. No entanto, depois esquecemos. Hoje planejamos viver juntos. Um secretário me ofereceu um aluguel numa casa muito ampla que antes foi uma escada rolante. Em nosso tempo livre pintamos com amor os quatro cômodos, sólidos, sucessivos, oblíquos.    Bar del Infierno -  El Bar III - Alejandro Dolina Versão de Rafael Gatuzzo Barbieri    [1] Julgo interessante apontar uma explicação sobe o título “Metrô” dado que em alguns países de língua espanhola esse serviço é conhecido por “subte”. Tal palavra origina-se do termo subterráneo. Outros países como a Venezuela, o Peru, a Bolívia, entre outros, utilizam o termo metro, com a tônica na primeira sílaba, diferentemente do Brasil que apesar de também utilizar tal palavra adotou-a com ares franceses tonalizando-a de forma oxítona: metrô. Visa-se que a origem da palavra metrô advém do termo metropolitano, logo, sua apócope se daria com a mesma pronúncia que nos países latino-americanos hispanofalantes e, embora Portugal adote tantos francofonismos em sua fala quotidiana, vê-se que a pronúncia dessa palavra também se dá de forma paroxítona: metro.      
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agrridoce · 4 years
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OS TRES MARGINAIS E MINHA ESPOSA.
TRES MARGINAIS E MINHA ESPOSA. ANJOS OU DEMONIOS? Estava eu e minha esposa MARINA em nossa casa situada no interior de Guarulhos transando em nossa suíte. Eis que de repente somos surpreendidos por ... Continua source https://www.contoerotico.com/conto/156439/669172/os-tres-marginais-e-minha-esposa.html
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