Tumgik
vipwrion · 4 years
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strawberry – catradora
Catra não era muito fã de doces. Talvez por já ter sentido a amargura em sua pele, talvez por tê-la visto com os próprios olhos, talvez pela vida cercada pela mesma. Estava simplesmente acomodada, acostumada com a ausência de algo doce no cotidiano. Havia criado certo apreço pelo áspero e pelo azedo, e a mínima presença de algo adocicado fazia com que tudo que havia dentro de si se juntasse em um bolo de desgosto e rejeição
Ou talvez seu paladar simplesmente fosse contra acolher aquele gosto enjoativo, talvez apenas rejeitasse o melado e o excesso de açúcar, porque, bem, de fato era ruim. Mas culpar os traumas e se justificar através deles sempre parecia mais fácil.
E foi andando por aí, exalando seu todo aquele desapreço e desfilando amargura, que Catra conheceu Adora. Com os fios loiros que insistiam em cair sobre o rosto bonito, um sorriso animado demais para quem acordava cedo e abraços muito, muito apertados. E, como para enfatizar a contrariedade, Adora era doce. Completamente adocicada, desde o shampoo que exalava mel ao perfume com um cheiro excessivamente próximo ao de lavandas.
Ela odiou, é claro.
Quando a beijou pela primeira vez, Catra revirou os olhos. É claro que, assim como o resto de seu corpo, os lábios da loira seriam pura doçura. O que a surpreendeu, porém, foi o fato que anormalmente, pelo que seria a primeira vez em seus dezoito anos, Catra não odiou o doce em contato direto consigo. Pelo contrário.
Talvez por culpa de Adora, Catra gostava do gosto de morango. Gostava de sentir o sabor adocicado nos lábios molhados, gostava do toque melado dos lábios finos junto aos seus. Gostava do movimento, de como explorava o território ― não mais ― desconhecido. Gostava, principalmente, de como sentia Adora sorrir ao que, assim como si, sentia o amargo de seus lábios. Amava o contraste da cafeína e da fruta, amava como combinavam e como proporcionavam às garotas uma das melhores sensações do mundo.
Mesmo após conhecer Adora, Catra não passou a gostar de doces. Nunca gostara e assim pretendia continuar. Mas podia abrir uma exceção para a loira e seus lábios de morango. A fruta avermelhada era a única sobremesa que a castanha não ousava recusar. Não quando vinham de Adora.
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vipwrion · 4 years
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patê || marichat
Quando o ponteiro pequeno dos relógios configurados na cidade anunciavam a chegada da meia-noite, muitos em Paris já estavam dormindo. As luzes se apagavam e, ironicamente, a única iluminação da cidade luz vinha dos postes incandescentes e um tanto pitoresco.
Havia uma janela, porém, que não se apagava. E Chat Noir, bom, ele conseguiria reconhecê-la de qualquer telhado. A passos rápidos, acompanhando as doze badaladas dos sinos da cidade, o super herói se camuflava na noite para ir atrás de alguém especial.
Tom e Sabine nunca entendiam por que a vizinhança reclamava das luzes de sua casa acesas. Assim como os outros moradores do bairro pacato, gostavam de se deitar cedo. Não havia modo melhor de se preparar para outro dia corrido na padaria do que com uma boa noite de sono.
Talvez Gennevive, a senhora da casa a lado, só estivesse muito velha. Velha a ponto de ter ilusões, ver miragens ou algo do tipo. Outro dia mesmo jurou por Deus ter visto Marinette conversar com um rato voador vermelho. Pobre senhora.
Tudo estava apagado. Todos estavam dormindo.
Bom, o casal não precisava saber que, ao ouvir a décima segunda badalada, Marinette se arrastava em passos mudos ao terraço pequeno, olhando arteira para as estrelas que estampavam o céu da cidade. O olhar esperançoso a muito tempo não a acompanhava, havia sido substituído pelo arteiro de quem já sabia que ele viria.
Chat Noir sempre vinha.
E, droga, como Marinette gostava de sentir os lábios doces sobre os seus, sempre acompanhados de um suspiro na curva de seu pescoço e um melodioso boa noite, princesa. Ali, sem o uniforme para lhe proporcionar obrigações, ela se permitia ser chamada de princesa. Se houvesse de ser sincera, enquanto estivessem naquela sacada, Chat Noir podia chamá-la do que quisesse. Marinette não faria nada além de aplaudir e concordar.
A adolescente estudava cedo, e supunha que o gato também. Se preocupava em mantê-lo em sua casa além da conta e seu coração pesava ao ver os olhinhos semiabertos, fazendo um esforço descomunal para continuar acordado.
Era aí que o convidava para entrar, o coração batendo mais forte ao se espremer contra o corpo deveras maior que o seu no colchão pequeno, as mãos delicadas contornando o couro do uniforme até alcançar os fios loiros, brincando de enrolá-los até que se rendessem ao sono.
A parte que Marinette menos gostava era de acordar sem Chat Noir. É claro que ao ser surpreendida pelo despertador, já atrasada, ele não estaria ali. Infelizmente o herói não podia passar o dia inteiro ao seu lado e, bom, por mais que aquilo a desanimasse, não era motivo para se dar o prazer de nunca mais se levantar.
Naquele dia, porém, a mestiça estranhou ao dedilhar a cama e não sentir o vazio dos lençóis. Os olhos se arregalaram ao que tocou o couro do uniforme alheio, levantando-se abruptamente ao ouvir o tilintar do sininho que se pendurava no pescoço do super-herói. O relógio em seu celular marcava oito em ponto, ela tinha vinte minutos para correr até Françoise Dupont e−
E, droga, Chat Noir estava dormindo em sua cama.
Sereno como um anjo, as bochechas macias apertadas contra a fronha cor-de-rosa e um filete de baba saindo da boca aberta. Marinette podia jurar que ele estava ronronando. Adorável.
Sentiu-se como um monstro tendo que acordá-lo, mas era por um bem maior. Seu gatinho definitivamente não queria dar de cara com Tom enquanto estivesse ali.
— Quando foi que você perdeu a postura assim, Marinette? — falou para si mesma, cruzando os braços — Chat, acorda.
E ela podia fazer o que quisesse: sacudiu, gritou, chacoalhou o gato e nada. Ainda dormindo e, de repente, ela só tinha dez minutos. Optou por vestir sua roupa e se arrumar — ou tentar. O atraso já era certeza, mas diminui-lo era sempre uma boa opção.
Já pronta, cogitou deixar o gato por lá, nada o acordava e ele parecia muito precisar de descanso. Resolveu, então, se render a uma nova tentativa: se não desse certo, o gatinho acabaria por ter uma bela surpresa assim que acordasse.
— Chat... Chat Noir.
Cinco minutos restantes. Nada.
— Chat, droga, anda logo!
— Merda, Chat Noir, vamos lá!
A mestiça fechou a cara, desgostosa. E foi aí que a ideia viera em sua mente, pulando em sua cabeça num dos momentos que gostava de chamar de genialidade Ladybug. Sorrindo travesse, se aproximou do gato, mordendo os lábios ao acariciar as madeixas douradas. Rindo como criança, um leve selar bastou como pedido de desculpas antes de gritar a plenos pulmões:
— Sim, papai, pode entrar!
E foi aí que, como se houvesse recebido um balde de água fria, Chat Noir pulou da cama. Teria de agradecer a Plagg pelos reflexos a si concedidos, caso contrário o tombo seria certeza.
O par de esmeraldas estava arregalado e a respiração era pesada, o felino dava sinais de estar atento ao perigo. De repente, um olhar insatisfeito se direcionou à Marinette, que não evitava gargalhar diante da cena.
— Por que fez isso? Você me odeia?
— Fiz porque estou atrasada, gatinho. — falou, mostrando o relógio ao companheiro.
— Oito e quinze? Puta merda, eu tô−
— É, nós estamos. — ela riu, caminhando ao abraço do loiro — E você vai me dar uma carona.
— Tá. — riu. Ele estava atrasado para caralho, teria de se destransformar no telhado do colégio e se virar daquele jeito — Mas não chame seu pai novamente.
— Você é exagerado demais, gatinho. — riu, já na sacada.
— Da última vez que ele me viu, você ficou presa numa torre de espinhos e ele tentou me matar. Quer que eu vire patê de gato, princesa?
Abraçou o herói, selando os lábios e sorrindo ao sentir o de Chat no seu. Voltando à postura mandona, serrou os olhos, encarando o loiro novamente.
— Escola, Chat. Vamos.
— Você não respondeu minha pergunta.
Um revirar de olhos pareceu bastar para que saíssem da residência dos Dupain-Cheng. Não, ela não queria.
Mas não era como se ele não soubesse.
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