Você Vai de Limusine, Eu Vou de Trem... | Zhong Chenle
chenle nunca foi de se rebelar, mas ele se meteria em todas as presepadas possiveis só para te reencontrar mais uma vez.
notas. menção a acidente, pp "motoboy", chenle meio bobinho, muitas palavras de baixo calao e MUITAS PALAVRAS NO GERAL ME EMPOLGUEI pode ter algumas inconsistências e furo de roteiro pq eu nunca escrevi algo tao grande. primeira fic da série rapazis, pode nao ta tudo aquilo, mas vida que segue, tem referencias as outras fics ioba
Virada de sexta-feira para sábado, o relógio indicando exatas 23:57 horas com os números digitais, o carro conversível a algumas ruas de distância e a chuva forte do lado de fora agredindo as telhas da delegacia trazia um tchan a mais no cenário desagradável que Zhong Chenle estava.
— Já tentou acionar o seguro, garoto? — o policial, que Chenle havia apelidado de "Mustache", pergunta com uma carranca daquelas por detrás do bigode enorme.
— E-Eu tô tentando falar com meus pais, senhor...
— Então anda logo que eu não tenho todo tempo do mundo.
Um sorrisinho nervoso saiu do rapaz, que se tremia todo de medo.
Chenle nunca fora alguém de se meter em burradas ou em rebeldias impulsivas, na real Chenle gostava da vida tranquila que levava. Três semestres de curso de advocacia na melhor universidade do estado, uma cachorrinha com quem poderia compartilhar sonhos, uns dois ou três amigos com quem saía as sextas-feiras a noite para beber e quem sabe se aventurar com alguma garota que achou bonita no dia.
Tudo em perfeita harmonia, sem necessidade de se meter em encrenca ou de sujar o nome com alguma passagem pela polícia.
Park Jisung, que já era meio revoltado com a família, que o fez cair nessa burrada. Apostar racha? Num dia chuvoso? Puta merda, Jisung, que ideia de girico!
Durante a corrida Chenle se sentiu livre, selvagem. Gostou de sentir a sensação de quebrar regras e deixar o lado bom moço ir embora. A adrenalina passando pelas veias, os pingos de chuvas se acumulando em pequenos fluxos de água no visor assim que acelerava ainda mais o Tesla branco — que havia ganhado assim que fez 20 anos —, sentia a euforia se misturar com as luzes da cidade, quase que literalmente.
Ele bateu num poste.
Não sabia dizer a causa certa do acidente, se era por causa da moto que tentou desviar no meio da corrida ou se era porque foi burro o suficiente para não freiar o carro com antecedência.
Mas sabia dizer que por algum milagre divino não morreu, nem ele e nem o motoqueiro que estava caído a uns 10 metros dele.
Só lembra de ver o corpo magro vir na direção dele, pela rigidez do corpo e a maneira como andava mancando a passos pesados, saberia que o dono da magrela — que agora estava só o pó da rabiola — viria tirar satisfação com ele e, além de bater num poste e perder o carro, levaria uma surra de um cara manco.
— Tá maluco, caralho?! Olha a merda que você fez!
E depois de vários xingamentos voltamos para o cenário atual, um Zhong Chenle tremendo que nem o pinscher da vó dele por causa do medo que subia dos pés a cabeça.
Porra, nunca foi de incomodar os pais por motivos tão fúteis. A única vez que as autoridades ligaram para o pai de Chenle foi quando ele se perdeu no meio do povo na Time Square. Sorte a dele que tinha um guardinha ali por perto e que lembrava de cor o telefone do pai.
Não tinha coragem. Não tinha coragem de avisar para os pais a merda que fez e não tinha coragem de não avisar para os pais a merda que fez.
Nossa, eram tantas opções...
Num pulo, Chenle virou bruscamente para trás ao sentir uma mão pousar sob um de seus ombros.
Mustache o encarava com a mesma carranca que tinha quando estava do outro lado da mesa, agora de frente para ele. O policial aponta em direção ao motoqueiro do outro lado da delegacia, que finalmente tinha conseguido desencaixar o capacete que havia ficado preso durante o acidente.
— Sua amiga ali quer dar uma palavrinha com você, garoto.
Amiga? Não era um homem?
Como se estivesse em um filme, Chenle vê um dos policiais mais parrudos da delegacia puxar com tudo o capacete da cabeça da garota que antes Chenle quase mandou para conhecer Jesus.
O rosto delicado carrancudo, com os cabelos bagunçado caindo aos poucos sob os ombros, a forma como o olhar dela queimava a pele de Chenle.
De repente ele voltou para uma hora atrás, antes de bater com tudo no poste.
Puta merda, se não fosse pela carinha franzida de desgosto e como aquela expressão fazia Chenle ficar com os rabos entre as pernas, Zhong poderia jurar que ouviu a flechada do cupido repartir o coração dele em dois.
Depois do parrudão sair de perto e receber um joinha da garota, ela volta a olhar para o causador de toda a desgraça. Trocam por alguns segundos uns olhares, ela com a iris queimando voracidade tal qual um predador e Chenle com os olhos amassadinhos por causa do sorriso invertido que dava para ela — parecia um coelhinho prestes a ser comido por um lobo muito, muito mal.
A mãozinha dela dá um sinal para Chenle se aproximar, bobo e receoso, ele vai até o lugar onde a cobra dá o bote.
Assim que viu um dos braços dela se erguer, Chenle se encolheu tanto que nem parecia que tinha 1,80.
— Tá todo encolhido por que ein, Playboy? — o tom amargo dela com certeza não combinava com o rosto.
Chenle abriu um dos olhos, vendo ela com a mão esticada em sua direção. Zhong apenas a observou com uma grande e aparente confusão na cara.
— Hã?
— "Hã" o que, bonitinho? Acha que vai me fazer sofrer um acidente, perder minha magrela e minha maior fonte de renda sem sofrer as consequências? Eu quero a minha indenização, porra! — se Chenle tremia que nem a cadelinha da vó dele, ela rosnava igual a cachorrinha.
— Mas...
— Mas o que? — as sobrancelhas dela se juntaram ainda mais uma na outra, Chenle poderia jurar que por uma fração de segundos viu elas se embolarem uma na outra.
— N-Nada...
— Bom saber.
— Ei, crianças. Já pararam de discutir ai? Ou vou ter que ficar mais três horas esperando vocês se resolverem?
— Tá tudo certo aqui. O Playboy disse que vai pagar o concerto da minha magrela.
— Eu vou?
— Sim, você vai.
— Mas-
— Mas o que?
— Nada... — desistiu de novo.
— Que fique bem claro que a indenização ficou em troca de eu ter te tirado do seu carrinho da barbie e por eu ter ficado com a cabeça presa dentro daquele capacete fedorento. — o dedo indicador dela ficou bem posicionado no rosto de Chenle — E nada mais do que justo você pagar o concerto da magrela, já que se não fosse por essas manias de boy de ficar apostando racha eu não 'taria toda lascada.
— Desculpa...
— Só vai ser desculpado depois de arrumar minha moto, bonitinho.
— Garoto, fizesse o que eu te pedi? — Mustache surge novamente, com as mãos na cintura tal qual uma mãe quando vê que o filho não lavou a louça.
— Não, senhor...
— E por que não, rapaz?!
— É que eu tenho que ligar pro meu pai e-
— Puta merda, tá enrolando esse tempo todo por causa de uma ligação. É só ligar, homê! — o policial se retira em completa indignação e volta para o lugar anterior.
Chenle apenas sorri amarelo.
— Ei, florzinha. — ela chama bem baixinho o rapaz que estava quase colapsando — Sei que começamos com o pé esquerdo, mas não precisa ficar tão nervoso assim. Tenho certeza que a poça que tá se formando aqui não é da goteira e sim do seu suor, tu precisa relaxar.
— É mesmo? Não me diga... — um risinho estranho sai dele, ainda com a expressão dura.
— Assim, liga pro seu pai e conta o que aconteceu. Só que omite umas coisinhas aqui e acolá, mas menos a parte do dinheiro da magrela, eu preciso desse dinheiro! — ela diz com firmeza, deixando bem claro o que quer e o que vai cobrar se não for cumprido — Fala pra ele que você tava voltando pra casa, chuva tava forte, deu problema no carro, pá e pum. Você sofreu um acidente, veio parar na delegacia e agora tem que me garantir uma indenização pra eu poder voltar a trabalhar, simples.
Chenle apenas a observou incrédulo.
— Que foi? Prefere dizer que tava apostando racha e quase me matou? Aproveita que eu to sendo boazinha, seu jaguara. Se não eu mesma ligava pro teu pai e falava tudo o que cê fez.
— Bom, não tenho escolha, não é mesmo?
— Não tem.
— Ah... Lá vou eu...
[...]
Depois de resolver algumas papeladas e garantir o seguro do carro, Chenle agora estava do lado de fora da delegacia, esperando o pai finalizar o que tinha para assim poderem ir para casa.
Sente o cheiro amargo de cigarro fazer presença junto do geladinho da recém madrugada de sábado. Reconhecera de cara a roupa da pessoa que estava ao seu lado.
— Espero que não esqueça meu concerto, Playboy. — ela diz o olhando de relance, após soltar a fumaça da tragada que deu anteriormente no fumo — Preciso com urgência da minha moto, se não eu fico sem com o que trabalhar...
— Assim, sem querer ser metido, você trabalha com o que?
A cara dela expressando um "Sério?" fez Chenle se sentir, talvez, um pouquinho estúpido.
— Você não viu a caixa enorme vermelha que eu tava carregando nas costas? — o rapaz apenas nega com a cabeça — Garoto, eu trabalho de motoboy!
— Ah...
— "Ah" o que? — ela o ameaça de novo.
— Nada... — a voz sai bem aguda.
Uma tragada e um silêncio momentâneo.
— Enfim, deixa o teu contato comigo pra gente se falar.
— Ah, é. — procura o celular entre os bolsos da jaqueta e não encontra nada — Puta merda, acho que deixei o celular no carro.
— Oxe e como tu ligou pro teu pai?
— Usei o telefone da delegacia, óbvio.
— Justo. — acenou com a cabeça, tragando o cigarro mais uma vez.
— Você tá com seu celular ai?
— Tô. — entrega o celular para ele.
— Isso é um celular Jellypop*? — Chenle pergunta perplexo.
— Eu sei lá, é? — ela o encara sem entender bulhufas do que ele tá dizendo — Que que tem?
— Garota, esse telefone é da época da minha vó, ultrapassado demais!
— Oxe, problema meu. Vai passar teu número pra mim ou vai ficar se fazendo, barbie girl?
— Nossa eu não faço ideia de como que mexe num treco desses.
— Dá aqui, dá. Tu gosta de dificultar as coisas — puxa com tudo o aparelho da mão dele — Vai ditando que eu vou escrevendo.
Chenle concorda com ela e lhe diz o número de contato.
— E o seu nome?
— Zhong Chenle.
— Saúde.
— Que?
— Nada. — ela suspira — Como que escreve isso?
— "Dá aqui, dá". — ele diz com uma voz mais fininha e a garota o encara indignada pela imitação terrível — Aqui. — devolve o celular.
— Meu senhor, que nome difícil. — ela guarda o telefone novamente, dando mais uma tragada no cigarro barato.
— Pro seu governo, meu nome tem um significado muito-
— Vamos, Lele? — o Zhong mais velho surge no cenário, quebrando na hora o raciocínio do filho.
— Ah, pai... — Chenle varia o olhar entre a fumante, que tinha uma expressão de desdém, e o pai que já estava na porta do carro — Bem, eu já vou. Boa noite.
Chenle se despede de uma maneira desengonçada, correndo até a porta do passageiro do carro caro. Antes de entrar escuta a voz da garota reverberar sobre seus ouvidos, num tom debochado, assim como o sorriso que viu de relance quando o pai deu partida no automóvel.
"Boa noite, Lele."
— Puta que pariu, Chenle.
Algjmas horas depois da grande encrenca que Zhong se meteu, ele se encontrava sábado a tarde na casa do amigo para tirar satisfação do ocorrido. Por que ele sumiu? Onde ele estava quando Chenle sofreu o acidente? Por que ele não retornou as ligações que Chenle fez assim que chegou em casa depois de sair da delegacia?
1.) Park Jisung sumiu para se resolver com a namorada psicótica dele depois de brigarem pelo telefone no meio do racha.
2.) Park Jisung estava se resolvendo com a namorada na casa dela.
3.) Park Jisung estava ocupado demais para atender o telefone, já que estava resolvendo o problema com a namorada dele, na cama dela.
— Não acredito que você fudeu com seu carro todo. Porra aquele Tesla era bonitão.
— Jisung, deixa de ser um mala por pelo menos 5 segundos. EU QUASE MORRI.
— Quem manda ser maria-vai-com-as-outras, se tivesse negado como as outras vezes não teria acabado com seu carro. — um dos amigos inconvenientes de Jisung se junta na roda de conversa sem convite.
Pelo amor...
— O problema não é só meu carro também, né. Fodi com a moto da menina no acidente sem querer e agora tô morrendo de vergonha...
— Ih... Vergonha por que, Zhong? Ela era gatinha? — o cara chato leva um tapão estalado vindo de Jisung.
Coitado ficaria por um mês dolorido naquela região.
— Não fode, Lucas. Não tem o que fazer, não? Tu não tinha marcado de sair com a tua mina ou algo assim?
— Ah, ela tá de boa em casa.
— E por que não trouxe ela, cara? — Jisung pergunta com o cenho franzido estranhando a situação.
— Deixa minha princesinha quietinha na dela. Ela não é do tipo que curte isso. — Lucas diz isso de uma maneira, talvez, esnobe.
Chenle só fez revirar os olhos. Lucas sempre foi assim, um cara inconveniente e fútil pra caralho, nem sabe como um cara desses tinha uma namorada. Ou a lábia era muito boa, ou a coitada era muito estúpida.
— Se eu fosse você abria o olho, se continuar deixando sua mina de lado, algum espertinho rouba ela de você facinho.
— Zhong, faz favor. Fica na sua. — Lucas fala, se retirando com uma garrafinha de cerveja na mão indo para o outro lado da casa de Jisung.
Apesar de Chenle ter ido tirar satisfação com Jisung, ele meio que acabou indo numa péssima hora. Festas na casa de Park sempre fora algo muito comum, mas ultimamente tem sido com muita frequência. Vamos lá, sábado a tarde, de bobeira, por sorte a chuva anterior aliviou-se e o solzão era muito convidativo. Jisung não aguentou, ele precisava fazer uma particular na piscina, só com os amigos mais chegados ou com alguns penetras tipo Lucas, principalmente depois da noite feliz que ele — e somente ele — teve ontem.
— Porra, pior que agora que eu me toquei que eu não tenho o número dela e não faço ideia de qual seja seu nome.
— Mas tu não falou que ela tinha pedido teu contato e tudo mais?
— Sim, ela pediu meu contato. Mas eu esqueci de pedir o dela. Maldita hora que eu esqueci o telefone...
— Você disse que ela trabalha como entregadora, se pá, se você procurar bem você acha ela em algum desses restaurantes.
— Jisung, eu não vou perder meu tempo procurando por uma garota de 20 anos em restaurante e restaurante, isso é loucura.
— E a oficina onde deixaram teu carro e a moto dela? Não tem o contato dela lá?
— Nossa verdade, eu esqueci.
— Po, mas tu também é burro.
— Cala a boca.
[...]
Não, não tinha o contato dela na oficina.
Na real não quiseram passar o contato para Chenle.
Mas o destino parecia querer cruzar o caminho dos dois, já que coincidentemente bem quando Zhong havia desistido de encontrá-la, os dois se tombaram na entrada da oficina.
— Ih, Playboy. Tá fazendo o que aqui?
Tava te procurando.
Foi o que ele pensou.
— Vim dar uma checada no carro...
— Ah, sim.
— E você?
— Vim dar uma checada na minha mosca.
— Mosca?
— É. É o nome da minha moto.
— Que nome horrível.
— Rapaz, você se chama Chenle, fica na sua.
— Olha aqui-
— Seu pai me mandou um recado falando pra mim vim aqui ver como que tava indo, o que tinha pra arrumar e pá.
— Ué, como que ele falou contigo.
— Ontem quando você tava ocupado em depressão do lado de fora da delegacia seu pai me pediu meu número pra ele avisar sobre os procedimentos e tal que a magrela ia passar.
— Tá bom... Mas se você tinha o contato do meu pai por que pediu o meu?
Um sorrisinho sarcástico surge no rosto dela, os olhinhos olhando o rapaz de cima baixo e a aura intensamente sexual que ela emanava fez Chenle se arrepiar pelo corpo inteiro.
— Descubra...
Passado um mês e meio depois do incidente, neste período de tempo Chenle e a "motoboy" haviam trocado alguns momentos um pouco estranhos, se podemos assim dizer.
Sabe, da situação problema que tiveram até uma amizade sólida foi um caminho um tanto engraçado de ser percorrido. Principalmente com os flertes e a lábia malandra da garota para cima de Chenle — que durante o tempo de convivência acabou descobrindo que ela só dava em cima dele para o incomodar.
Chenle chegou a apresentar ela para Jisung em um dia que estavam de bobeira e com um calor infernal pertubando-os a pele. Um sorvete de casquinha, um de potinho e o picolé mais barato da sorveteria rendeu um dos momentos mais engraçados que tiveram juntos durante aquele intervalo de um mês.
Com o passar dos dias, virou rotina os dois passarem a tarde na oficina ou na praça perto dela conversando sobre automóveis ou sobre qualquer outra baboseira da vida.
A rotina de Zhong havia se retransformado: era faculdade durante as manhãs, ir a oficina de tarde e os fins de semana inventava uma desculpinha ou outra para passar junto com a garota da moto de nome estranho, seja irem em algum fastfood ou trailer de lanche duvidoso que ela conhecia.
Quem visse ao longe iriam os confundir com um casal, algo que com certeza deixava Chenle muito feliz.
Todavia, chega um momento que ciclos se finalizam.
Assim que se foi cumprido o combinado, todo o tempo que passaram juntos pareceu sumir num piscar de olhos, se tornando um só com o passado, se desmanchando em lembranças.
Com uma última piada engraçada vinda da garota e os cabelos esvoaçantes dela indo embora assim que ela subiu na moto agora arrumada e deu partida, a despedida se fez silenciosa.
Chenle não sabia, mas depois daquele dia, seria a última vez que veria o sorriso dela.
Seria a última vez que sentiria seu perfume.
Até o destino fazer eles se reencontrarem de novo.
— Vamos, Chenle. Deixa de corpo mole.
Haviam se passado vários meses desde a última vez que Zhong e a garota da moto se viram, desde então a menção da garota se tornou um tabu entre Chenle e os amigos, já que ela conseguiu se tornar um assunto muito delicado para o pobre rapaz.
Chenle notou que os sentimentos que estavam começando a florescer nele sobre a garota eram muito mais complexos do que uma simples atração. Ficou tão óbvio para ele que as desculpas de sempre vê-la, ou dar um jeito de colocá-la como prioridade na agenda quase ocupada dele, era uma forma de suprimir toda aquele desejo de poder tê-la por perto.
A primeira semana para ele foi muito dolorosa. As mensagens que enviava não recebiam respostas. As ligações não eram atendidas.
E as tentativas falhas de encontros, se transformavam em desencontros.
Chenle sentiu raiva como reação a situação frustrante.
Depois sentiu tristeza, mas não conseguia chorar, só sentir como se os pulmões fossem prensados um no outro, causando uma agonia sem igual.
Chenle sentiu saudade.
E depois da saudade ele simplesmente pegou ranço a qualquer coisa relacionada a ela.
Mas lá no fundo ele ainda queria reencontrá-la, queria perguntar o porquê das coisas terem seguido esse rumo. O que ela havia feito, como estava.
Se os sonhos que tinha compartilhado com ele haviam se realizado.
Por isso Chenle agora se via na sua atual situação.
Trajado de roupas caras e fresquinhas, sentado no sofá da sala de Jisung — enquanto o mais novo o puxava para saírem —, a espera do tal luau que Park havia o convidado para espairecer as ideias, mudar os horizontes.
Esquecer dela.
— Eu já to indo, Jisung... — respondeu arrastando a frase num resmungo.
— Levanta logo a bunda daí, Mark disse que Jeno e Jaemin já tão lá. Só tá esperando a gente e o rabugento do Renjun.
— O Renjun vai? Que milagre.
— Tive a mesma reação.
— Pensei que ele tava ocupado passando raiva atoa com aquela mina lá.
— Ta, ta. Levanta logo. — o mais alto joga uma almofada contra Zhong.
Depois de vários murmurinhos mal humorados e xingamentos, os dois amigos haviam finalmente chegado ao festival/luau/resenha na praia.
O céu se esfriava de pouquinho à pouquinho, o azul e o amarelo da tarde de sol movimentada da sexta-feira era substituído lentamente por um lilás clarinho. As ondas do mar, a juventude local entre risadas e sorrisos e a areia fofinha entre os dedos dos pés fez Chenle esquecer de tudo por um momento.
Se permitiu ter a serenidade de ser jovem acariciar a pele e a alma.
Chenle cumprimentou os amigos, algumas pessoas desconhecidas e, após uma cerveja e outra, decidiu ir assistir o mar.
As ondas da praia junto da luz da lua era uma das coisas que Chenle mais amava. A melodia que ressoava e o balanço das águas.
Ah, aquilo era como assistir uma dança apaixonada.
— Playboy? É você?
Como num piscar de olhos, Zhong sentiu toda a calmaria de seu ser ser destruída. Aquela voz, rasgando a pintura que Chenle tinha em mente, causando o caos, destruindo sua paz de espírito, foi o suficiente para ele virar o rosto em direção a ela.
Estava diferente, muito diferente. Os cabelos antes compridos, enrolados e selvagens, estavam agora curtos. O sorriso continuava o mesmo, a aura diferente — Chenle não sabia se era no sentido bom ou ruim.
O visual animalesco, revoltado. A postura de uma mulher madura, independente e sarcástica, todavia carismática e gentil.
Tudo era igual, com uma pitada de mudança, que fazia Chenle a desconhecer — isso se um dia a conheceu de verdade.
— Você... Eu...
— Como sempre muito expressivo, Lele. — ela riu para ele, bebericando de uma bebida duvidosa que conseguiu entre a pequena manada de jovens bêbados.
— O que você está fazendo aqui? — o cenho franze, ele a analisa de cima a baixo para ter certeza se era ela mesmo.
— Jisung me convidou.
— Que? — como assim Jisung a convidou? — Não to entendendo...
Sério isso? Cortou totalmente o contato com ele, mas com Park Jisung não? O garoto que ela mal conhecia e que a única vez que esteve no mesmo espaço que ele foi quando os três saíram juntos? Really?!
— Se encontramos por acaso no meu trampo hoje de manhã-
— O lugar onde você trabalha de motoboy? — Chenle a interrompe, sentindo um pouquinho de amargor no âmago, que com certeza não era do álcool.
Chenle não ficava bêbado facilmente.
— Ih, nem. — ela nega rindo, entre goles — Pedi demissão dessa lanchonete faz um tempão já.
— Ah... — cínico, ele responde.
E por que sumiu? Era a pergunta que estava entalada na garganta.
— Jisung me viu por lá, conversamos um pouco e ele me falou sobre o luau. Daí veio o convite. — disse simplista, com um sorriso meigo no rosto.
— Hum... — Chenle desvia o olhar da figura feminina para as ondas escuras, concluindo o diálogo de uma maneira desconfortável.
E se fez presente o silêncio.
Um silêncio muito alto e agoniante.
— Eu parei de fumar, sabia? — ela fala num murmuro, com o indicador circulando o topo do copo demonstrando incerteza.
— Sério? Parabéns. — Zhong realmente não queria conversar agora.
— Naquele dia, quando a gente recebeu de volta o carro e a moto, quando eu cheguei em casa encontrei meu vô doente no chão. — um suspiro pesado sai dela — Encontrei ele desmaiado no chão por falta de ar e outros problemas que deram nele. Ele ficou uma semana no hospital até ser diagnosticado com câncer.
Chenle volta a prestar atenção nela, agora com uma expressão preocupada.
— Foi uma correria que só, aquele velho me deu trabalho. — ela ri de uma maneira triste, olhando para baixo e depois voltando a fitar o horizonte — Hoje faz um mês que ele se foi, Lele. Por isso eu parei de fumar e por-
— Por isso que você sumiu? — ele afirma, com a frase soando mais como uma pergunta.
— Foi por isso e também porque aquele meu celular jurássico tinha virado camiseta de saudade.
— Boba, para de fazer piada era pra ser um momento triste. — ele dá um soquinho de leve no ombro dela, que ri gentilmente.
— Desculpa. — a garota pede, o observando serena.
— Pelo o que? — Chenle a questiona, sentindo os olhos arderem.
— Por sumir. Por não ter te procurado. E mesmo que eu estivesse ocupada com meu vô, eu sei que não é desculpa pra ter desfeito nossa amizade, Le. — chuta a areia meio decepcionada consigo mesma — Eu tive vergonha, medo do que sentia e ainda sinto. Tive receio de sermos muito diferentes, vivermos em mundo diferentes.
— Não diz isso...
— Tive medo de eu ser a única a sentir alguma coisa, principalmente por você ser realmente o primeiro amor que eu já tive, Chenle.
E é calada pelas mãos do rapaz tocando sua carne.
Os lábios rosados prensados contra os dela, a noite beijando suas figuras sob a luz do luar.
A canção das ondas tocando a sinfonia deles.
Os olhares confusos dela cruzando os olhares de paixão dele.
— Nunca mais some desse jeito, por favor. — leva as pequenas mãos dela para o rosto, afundando-o entre os dedos quentinhos — Por favor...
— Eu prometo.
"Prometo nunca mais te deixar, Lele".
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