Sem dúvida o maior aprendizado que Muhammad Ali nos deixou foi viver a plenitude da vida com intensidade , autenticidade, positividade, assertividade, encarando tudo que somos, nas consequências positivas e negativas que isto possa desencadear.
Exemplos não faltam deste lutador ou pugilista, como quando adotou a religião mulçumana, quando se recusou a ir lutar no Vietnã, numa guerra insana, aliás todas guerras o são, quando tomou um caminho diferente de Malcolm X e viu que a luta de um e do outro se diferenciava em distintos tipos de ringues, onde em um, reconhecemos o inimigo, sabemos das regras, podemos, se assim o quisermos, " jogar a toalha", dar dois passos atrás para no futuro dar três passos á frente ou adiante, e aprender com seus próprios erros, e não morrer assassinado covardemente.
Nós somos nossos atos,nossas decisões e nossas consequências, a diferença destes ringues é que em um não controlamos " os outros", a prematura vida pode ser o anunciado da prematura morte!
Mas Muhammad Ali não nasceu para ser:
Cassius Marcellus Clay, Jr., nascido em 17 de janeiro de 1942 em Louisville, Kentucky, Estados Unidos.
O mais velho de dois irmãos,cujo nome era o mesmo do pai, Cassius Marcellus Clay, Sr., que fora nomeado em homenagem ao político abolicionista homônimo e era pintor de outdoors.
Sua mãe, Odessa O'Grady Clay, era empregada doméstica. Cassius Sr. era metodista, mas aceitou que Odessa convertesse Cassius Jr. e seu irmão Rudolph "Rudy" Clay (depois renomeado Rahman Ali) à Igreja Batista.
Ele era descendente de escravos afro-americanos do sul estadunidense e também de irlandeses e ingleses.
Cassius Clay Jr. sucumbiu a Muhammad Ali, esse último era muito maior, maior que um simples apelido, que para mídia americana e establishment da época recusavam-se a aceitar e portanto chamá-lo pelo novo nome, seu nome era sua marca,era sua razão espiritual de SER! Uma visão, seguida de valores, valores humanos, que trazia um comportamento agressivo e desconcertante de entrevistadores experientes, seu grito, sua fala era concisa,simples, objetiva e ao mesmo tempo trágica, uma hemorragia que denunciava uma pátria desconstruída, uma pretensa democracia imperialista, racista, liberal, puritana, protestante, cristã, cínica, hipócrita que não vivia a palavra do Messias, mas, na concepção de Muhammad Ali poderia ser outro o Messias; a solução entre Osama e Obama, nem o terrorismo, nem o partidarismo dos Democratas, de todos a direita do Deus Pai, mais a direita, muito mais, a direita dos Republicanos, e o outro mas a direita a esquerda Democratas, mas fundamentalmente todos inebriados, imbricados, subordinados as Emendas, pior que o Conceito, “pior a emenda que o soneto”de uma Constituição escrita pelos homens, logo falta e falha, logo equivocada, logo imperfeita, logo inclusiva em ser exclusiva, sujeita ao poder econômico, a múltiplos interesses hegemônico onde não permite " determinadas posturas antagônicas, ambivalentes, destoantes, e Muhammad Ali nasceu para SER o que ele quisesse SER e ficou banido do mundo do Boxe por longos três anos, uma quase morte para um atleta medalhista olímpico,logo descobriu uma alternativa de receitas, ele foi falar, falar para um público sedento, uma futura chamada Geração X, insólita, questionadora, contestadora, do chamado slogan : " É proibido- proibir", dos múltiplos de 9, dos 27 anos, do Jim Morrinson, da Janis Lyn Joplin, do James Marshall "Jimi" Hendrix, daqueles do Festival Pop de Monterey. Hendrix,do icônico Festival de Woodstock,do "Star Spangled Banner”, numa versão carregada de feedback, com abuso da alavanca de vibrato, distorção e sustain, para procurar evocar ataques aéreos e as explosões dos bombardeamentos de napalm, numa alusão ao conflito no Vietname, e do Festival da Ilha de Wight, entre 1969 e 1970.
Por: Fred Borges
Dedicado a Acelino Freitas, mais conhecido como Popó (Salvador, 21 de setembro de 1975), nosso baiano,pugilista brasileiro, reverenciado internacionalmente no esporte como Super Tetracampeão Mundial Unificado de Boxe, pelas grandes conquistas, recordes e feitos em sua carreira na nobre arte.
Estou assistindo novamente:Good Morning, Vietnam dirigido por Barry Levinson com o saudoso Robin Williams-Vietnã onde 58 mil soldados americanos perderam a vida, onde 1.141.041 de civis pereceram e onde o governo americano nunca aprenderia a lição que esta guerra deixara.
Muhammad era uma gota d' água no oceano de sangue do Estado intervencionista, " grande árbitro internacional"Americano que participaria no século XX e XXI nas guerras de Laos, da invasão da baia dos Porcos,da guerra civil do Camboja, da guerra do Golfo, do Iraque, da Somália, Afeganistão, Iêmen, Líbano, Líbia,tudo contra o terror, num Estado que provoca o terror oficial pela presunção, arrogância, prepotência em governar seus próprios cidadãos dando-lhe ou concedendo-lhe uma liberdade contingenciada,especulativa, neurótica, patológica, contextualizada, customizada ao " American Dream or Nightmare" numa esquizofrenia coletiva predatória de um, dois, três , quatro e cinco "Rambo" de 1982 á 2019.
Muhammad queria a paz, mas no ringue eram outras palavras, estratégias e táticas, inclusive suicidas, quando "em 1974 Ali recuperou o cinturão de campeão mundial, em outro embate histórico: com George Foreman, no então Zaire, hoje República Democrática do Congo.
Ali usou uma tática quase suicida: deixou Foreman bater até ele se cansar. E então liquidou o duelo no oitavo assalto.
Em 1978, ele perdeu, mas logo recuperou novamente o título mundial. Mas já estava apresentando sinais de declínio. Deixou os ringues em 1981 e logo recebeu o diagnóstico: estava com Parkinson.
"Talvez o Parkinson seja um lembrete de Deus sobre o que é importante. Me fez escutar mais do que falar. Agora prestam mais atenção ao que eu digo porque não falo tanto."
Apesar das limitações físicas, viajou pelo mundo em missões humanitárias.
Negociou a libertação de americanos presos por Saddam Hussein no Iraque.
Visitou crianças doentes em Cuba e apresentou truques de mágica para Fidel Castro.
Visitou o líder sul-africano Nelson Mandela, que acabava de sair da prisão. Mandela, que chegou a lutar na juventude, considerava Ali um ídolo.
Em 1996,aconteceu um momento de grande emoção. Não se sabia quem seria o atleta que acenderia a pira olímpica em Atlanta. Quando Ali apareceu, andando com dificuldade, o mundo veio abaixo.
Logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, viajou ao Afeganistão como mensageiro da paz das Nações Unidas.
"Me dói ver muçulmanos envolvidos com ódio e violência. Islã significa paz"
Em 2005, Muhammad Ali recebeu do presidente George W. Bush, na Casa Branca a medalha presidencial da liberdade - a mais importante dada a um civil nos Estados Unidos."
Em evento que ocorreu em 2016, no serviço memorial de Ali em Louisville,seu querido amigo Billy Crystal fez um elogio que exemplifica um mantra nas falas públicas: “conexão, não perfeição”.
A mensagem de Crystal foi autêntica, transmitida com paixão e entusiasmo e, mais do que tudo, conectou-o ao público e ao homem que ele estava homenageando.
Assim transcrevo a sua fala e encerro esse texto com muita emoção, pois apesar de não ter tido o privilégio de conhecer Muhhamed Ali pessoalmente quando estive nos EUA, comungo com as palavras proferidas por Billy Crystal ou como Muhhamed Ali o chamava: " Little brother".
"Thank you, ladies and gentlemen, uh, we’re at the halfway point [crowd laughs]. I was clean-shaven when this started.
Dear Lonnie, family, friends, Mr. President [Clinton], members of the clergy, all of these amazing people here in Louisville. Today, this outpouring of love and respect proves that 35 years after he stopped fighting, he is still the champion of the world.
Last week, when we heard the news, time stopped. There was no war, there were no terrorists, no global catastrophes; the world stopped, took a deep breath and sighed.
Since then my mind has been racing through my relationship with this amazing man, which is now 42 years that I know him. Every moment I can think of is cherished. And while others can tell you of his accomplishments, he wanted me to speak and tell you of some personal moments that we had together.
I met him in 1974, I was just getting started as a stand-up comedian and struggling. But I had one good routine: it was a three-minute conversation between Howard Cosell and Muhammad Ali where I would imitate both of them.
Ali had just defeated George Foreman and regained the heavyweight title. Sport Magazine made him the Man of the Year. Dick Schaap, a wonderful writer and a great man was the editor for Sport, and he hosted a televised dinner, honoring Muhammad Ali. So Dick called my agent looking for a comedian who did some sports material. As fate would have it, that comedian was not available and she wisely said — it’s destiny, man — and she wisely said: “But listen I got this young kid and he does this great imitation of Muhammad Ali and Cosell. He would be perfect for you.” I don’t know why, but Dick said: “O.K., I’ll try him. If he stinks I can cut him out of the show.” I couldn’t believe it. My first time on television and it would be with Ali.
I went to the Plaza Hotel; the event was jammed. I met Mr. Schaap, who would later become a part of my family. And he said: “Well, how should I introduce you? Nobody knows who you are.”
And I said, “Just say I’m one of Ali’s closest and dearest friends.” And my thought was I’ll get right to the microphone, go into my Howard Cosell and I’ll be fine. And then I nervously move into the jammed ballroom and that’s when I saw him for the first time in person. It’s very hard to describe how much he meant to me; you had to live in his time. It’s great to look at clips and it’s amazing to have them, but to live in his time, watching his fights, experiencing the genius of his talent, was absolutely extraordinary. Every one of his fights was an aura of a Super Bowl. He did things nobody would do.
He predicted the round he would knock somebody out in, and the he would do it! He was funny, he was beautiful, the most perfect athlete you ever saw — and those were his own words.
But he was so much more than a fighter as time went on, with Bobby Kennedy gone, Martin Luther King gone, Malcolm X gone, who was there to relate to when Vietnam exploded in our face?
There were millions of young men my age eligible for the draft for a war we didn’t believe in, all of us huddled on the conveyor belt that was rapidly feeding the war machine. But it was Ali who stood up for us by standing up for himself.
And after he was stripped of the title, and the right to fight anywhere in the world, he gave speeches at colleges and on television that totally reached me. He seemed as comfortable talking to kings and queens as the lost and unrequited. He never lost his sense of humor even as he lost everything else. He was always himself: willing to give up everything for what he believed in. And he used amazing rhetoric about the life and plight of black people in our country that resonated strongly in my house.
I grew up in a house that was dedicated to civil rights. My father was a producer of jazz concerts in New York City, and it was one of the first to integrate bands in the ‘40s and ‘50s. Jazz musicians referred to my dad as the Branch Rickey of jazz.
My uncle and my family, Jewish people, produced “Strange Fruit,” Billie Holiday’s classic song describing the lynching of African-Americans in this country. And so I felt him, and now there he was just a few feet from me. I couldn’t stop looking at him and he seemed to, like, glow, and he was like in slow motion, his amazing face smiling and laughing.
I was seated a few seats from him on the dais, and in the room were all the athletes in their individual sports, great ones: Gino Marchetti of the Baltimore Colts, Franco Harris of the Steelers, Archie Griffin who had won the Heisman from Ohio State, literary legends — Neil Simon, George Plimpton — all in a daze fawning over Ali, who then looked at me with an expression that seemed to say, “What is Joel Grey doing here?”
Mr. Schaap introduced me as one of Ali’s closest and dearest friends. Two people clapped: my wife and the agent. I rose, Ali still staring at me. I passed right behind him, got to the podium and went right into the Cosell: “Hello, everyone, Howard Cosell coming to you live from Zaire; some would pronounce it, ‘Zare.’ They’re wrong.” It got big laughs. And then I went into the Ali.
Impersonating Ali: “Everybody’s talking about George Foreman, George Foreman. George Foreman’s ugly, he’s so slow. George was slow, I catch ‘em voo! voo! voo! [swinging fists]. Then I rope-a-dope, I rope-a-dope George and I’m so fast, 33 years of age, but I’m so fast I could turn off the lights and be in my bed before the room gets dark.”
Still impersonating Ali: “However, I’m announcing tonight that I got new religious beliefs. From now on I want to be known as Izzy Yiskowitz. I am now an Orthodox Jew, Izzy Yiskowitz, “cha-im” [I am] the greatest of all time!”
The audience exploded. See, no one had ever done him before. And here I was a white kid from Long Island imitating the greatest of all time, and he was loving it.
When I was done, he gave me this big bearhug and whispered in my ear, “You’re my little brother,” which is what he always called me until the last time that I saw him.
We were always there for each other, and if he needed me for something, I was there. He came to anything I asked him to do. Most memorable: He was an honorary chairman for a dinner at a very important event where I was being honored by the Hebrew University in Jerusalem. He did all of this promotion for it. He came to the dinner. He sat with my family the entire evening. He took photographs with everybody; the most famous Muslim man in the world honoring his Jewish friend.
Because he was there, we raised a great deal of money, and I was able to use it to endow the university in Jerusalem with something that I told him about. And it was something he loved the theory of and it thrives to this day. It’s called Peace Through the Performing Arts. It’s a theater group where Israeli, Arab and Palestinian actors, writers and directors all work together in peace, creating original works of art. And that doesn’t happen without him.
I had so many, so many funny unusual moments with him. I sat next to him at Howard Cosell’s funeral, a very somber day to be sure. Closed casket was on the stage; Muhammad and I were sitting somewhere over there next to each other, and he quietly whispered to me, “Little brother, do you think he’s wearing his hairpiece?”
So I said, “Uh — I don’t think so.”
[As Ali] “Well then how will God recognize him?” So I said, “Champ, once he opens his mouth, God’ll know.” So he started laughing; it was a muffled laugh at first, but then we couldn’t contain ourselves. There we were at a funeral, me and Muhammad Ali, laughing like two little kids who heard something dirty in church, you know? We’re just laughing and laughing.
And then he looked at me and he whispered, “Howard was a good man.”
One time he asked me if I would like to run with him one morning, do road work. I said: “Well that would be amazing. Where do you run?”
As Ali: “Well, I run at this country club, and I run on the golf course early in the morning. It’s very private. Nobody bothers me. We’ll have a great time.”
I said: “Champ, I can’t run there. The club has a reputation for being restricted.”
As Ali: “What does restricted mean?”
“They don’t allow Jews there; they don’t have any Jewish members.”
He was incensed: “I’m a black Muslim and they let me run there. Little brother, I’m never gonna run there again.” And he didn’t.
My favorite memory perhaps was in 1979. He had just retired and there was a retirement party at The Forum, Los Angeles, for Muhammad and 20,000 of his closest friends in Los Angeles. I performed a piece that I had created, the imitation had grown into a live story called “15 Rounds.” I play him from the age of 18 until he’s 36, ready for the rematch with Leon Spinks. I posted it on the internet last week, footage that nobody had ever seen before of me portraying Ali doing his life for him all those years ago in 1979. There were 20,000 people there, but I was doing it only for him. It’s one of my favorite performances that I’ve ever done in my life; I sort of got lost in him. I didin’t even know where I was at the end of the performance.
And suddenly I’m backstage with another heavyweight champion, Richard Pryor. And Pryor is holding on to me, crying, and then I see Ali coming and he’s got a full head of steam and he’s looking only at me, and he nudged Mr. Pryor aside and he whispered in my ear with a big bearhug, “Little brother, you made my life better than it was.”
But didn’t he make all of our lives a little bit better than they were?
That, my friends, is my history with a man and I have labored to come up with a way to describe the legend. He was a tremendous bolt of lightning created by Mother Nature out of thin air, a fantastic combination of power and beauty. We’ve seen still photographs of lightning bolts, ferocious in its strength, magnificent in its elegance. And at the moment of impact it lights up everything around it so you can see everything clearly. Muhammad Ali struck us in the middle of America’s darkest night, in the heart of its most threatening gathering storm. His power toppled the mighty foes and his intense light shined on America and we were able to see clearly: injustice, inequality, poverty, pride, self-realization, courage, laughter, love, joy and religious freedom for all. Ali forced us to take a look at ourselves, this brash young man who thrilled us, angered us, confused and challenged us, ultimately became a silent messenger of peace, who taught us that life is best when you build bridges between people, not walls.
My friends, only once in a thousand years or so do we get to hear a Mozart, or see a Picasso, read a Shakespeare. Ali was one of them, and yet at his heart, he was still a kid from Louisville who ran with the gods and walked with the crippled and smiled at the foolishness of it all. He is gone, but he will never die.
He was my big brother.
Thank you.'
Tradução Livre- Pelo autor e tradutor: Fred Borges:
“Obrigado, senhoras e senhores, estamos na metade do caminho [a multidão ri]. Eu estava barbeado quando isso começou.
Caro Lonnie, família, amigos, Sr. Presidente [Clinton], membros do clero, todas essas pessoas incríveis aqui em Louisville. Hoje, essa demonstração de amor e respeito prova que 35 anos depois de parar de lutar, ele ainda é o campeão mundial.
Na semana passada, quando ouvimos a notícia, o tempo parou. Não houve guerra, não houve terroristas, não houve catástrofes globais; o mundo parou, respirou fundo e suspirou.
Desde então, minha mente tem pensado em meu relacionamento com esse homem incrível, que já faz 42 anos que o conheço. Cada momento em que consigo pensar é apreciado. E embora outros possam contar a vocês sobre suas realizações, ele queria que eu falasse e contasse alguns momentos pessoais que tivemos juntos.
Eu o conheci em 1974, estava apenas começando como comediante stand-up e lutando. Mas eu tinha uma boa rotina: era uma conversa de três minutos entre Howard Cosell e Muhammad Ali, onde eu imitava os dois.
Ali tinha acabado de derrotar George Foreman e reconquistou o título dos pesos pesados. A Sport Magazine elegeu-o o Homem do Ano. Dick Schaap, um escritor maravilhoso e um grande homem, foi o editor do Sport e organizou um jantar televisionado em homenagem a Muhammad Ali. Então Dick ligou para meu agente procurando um comediante que fizesse algum material esportivo. Quis o destino que aquele comediante não estivesse disponível e ela disse sabiamente - é o destino, cara - e ela disse sabiamente: “Mas ouça, eu peguei um garoto e ele faz uma grande imitação de Muhammad Ali e Cosell. Ele seria perfeito para você. Não sei por que, mas Dick disse: “Tudo bem, vou tentar com ele. Se ele fede, posso excluí-lo do show. Eu não pude acreditar. Minha primeira vez na televisão e seria com Ali.
Fui ao Hotel Plaza; o evento estava congestionado. Conheci o Sr. Schaap, que mais tarde se tornaria parte da minha família. E ele disse: “Bem, como devo apresentá-lo? Ninguém sabe quem você é.
E eu disse: “Diga apenas que sou um dos amigos mais próximos e queridos de Ali”. E meu pensamento foi ir direto ao microfone, entrar no meu Howard Cosell e ficarei bem. E então entrei nervosamente no salão de baile lotado e foi quando o vi pessoalmente pela primeira vez. É muito difícil descrever o quanto ele significou para mim; você tinha que viver no tempo dele. É ótimo ver clipes e é incrível tê-los, mas viver na época dele, assistir suas lutas, vivenciar a genialidade de seu talento, foi absolutamente extraordinário. Cada uma de suas lutas tinha uma aura de Super Bowl.
Ele fez coisas que ninguém faria.
Ele previu o round em que nocautearia alguém, e ele o faria! Ele era engraçado, era lindo, o atleta mais perfeito que você já viu - e essas foram suas próprias palavras.
Mas ele foi muito mais do que um lutador com o passar do tempo, com a morte de Bobby Kennedy, a morte de Martin Luther King, a morte de Malcolm X, quem estava lá para se relacionar quando o Vietnã explodiu na nossa cara?
Havia milhões de jovens da minha idade elegíveis para o recrutamento para uma guerra em que não acreditávamos, todos nós amontoados na correia transportadora que alimentava rapidamente a máquina de guerra. Mas foi Ali quem nos defendeu, defendendo-se a si mesmo.
E depois que lhe foi destituído o título e o direito de lutar em qualquer lugar do mundo, ele fez palestras em faculdades e na televisão que me atingiram totalmente. Ele parecia tão confortável conversando com reis e rainhas quanto com os perdidos e não correspondidos. Ele nunca perdeu o senso de humor, mesmo quando perdeu todo o resto. Ele sempre foi ele mesmo: disposto a desistir de tudo por aquilo em que acreditava. E usou uma retórica incrível sobre a vida e a situação dos negros em nosso país que ressoou fortemente em minha casa.
Cresci em uma casa dedicada aos direitos civis. O meu pai era produtor de concertos de jazz em Nova Iorque e foi um dos primeiros a integrar bandas nas décadas de 40 e 50. Os músicos de jazz referiam-se ao meu pai como o Ramo Rickey do jazz.
O meu tio e a minha família, judeus, produziram “Strange Fruit”, a canção clássica de Billie Holiday que descreve o linchamento de afro-americanos neste país. E então eu o senti, e agora ele estava a poucos metros de mim. Eu não conseguia parar de olhar para ele e ele parecia brilhar, e ele estava em câmera lenta, seu rosto incrível sorrindo e rindo.
Eu estava sentado a alguns lugares dele no estrado, e na sala estavam todos os atletas de seus esportes individuais, grandes atletas: Gino Marchetti, do Baltimore Colts, Franco Harris, do Steelers, Archie Griffin, que havia vencido o Heisman em Ohio. Lendas literárias estaduais - Neil Simon, George Plimpton - todos atordoados bajulando Ali, que então olhou para mim com uma expressão que parecia dizer: “O que Joel Gray está fazendo aqui?”
Schaap me apresentou como um dos amigos mais próximos e queridos de Ali. Duas pessoas aplaudiram: minha esposa e o agente. Levantei-me, Ali ainda olhando para mim. Passei logo atrás dele, subi ao pódio e entrei direto no Cosell: “Olá a todos, Howard Cosell vindo até vocês ao vivo do Zaire; alguns diriam ‘Zare’. Eles estão errados.” Deu muitas risadas. E então entrei no Ali.
Personificando Ali: “Todo mundo está falando sobre George Foreman, George Foreman. George Foreman é feio, ele é tão lento. George foi lento, eu os peguei voo! voô! voô! [balançando os punhos]. Então eu enrolo, eu enrolo George e sou tão rápido, 33 anos de idade, mas sou tão rápido que poderia apagar as luzes e estar na minha cama antes que o quarto escurecesse. ”
Ainda se passando por Ali: “No entanto, estou anunciando esta noite que adquiri novas crenças religiosas. De agora em diante quero ser conhecido como Izzy Yiskowitz. Agora sou um judeu ortodoxo, Izzy Yiskowitz, “cha-im” [eu sou] o maior de todos os tempos!”
O público explodiu. Veja, ninguém nunca tinha feito isso antes. E aqui estava eu, um garoto branco de Long Island imitando o maior de todos os tempos, e ele estava adorando.
Quando terminei, ele me deu um grande abraço de urso e sussurrou em meu ouvido: “Você é meu irmão mais novo”, que foi como ele sempre me chamou até a última vez que o vi.
Estávamos sempre presentes um para o outro e se ele precisasse de mim para alguma coisa, eu estava lá. Ele veio para qualquer coisa que eu pedi para ele fazer. O mais memorável: ele foi presidente honorário de um jantar em um evento muito importante, onde fui homenageado pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele fez toda essa promoção por isso. Ele veio para o jantar. Ele ficou sentado com minha família a noite toda. Ele tirou fotos com todo mundo; o homem muçulmano mais famoso do mundo homenageando seu amigo judeu.
Como ele estava lá, arrecadamos muito dinheiro e pude usá-lo para dotar a universidade em Jerusalém com algo que contei a ele. E era algo que ele amava a teoria e que prospera até hoje. Chama-se Paz através das Artes Cênicas. É um grupo de teatro onde atores, escritores e diretores israelenses, árabes e palestinos trabalham juntos em paz, criando obras de arte originais. E isso não acontece sem ele.
Tive tantos, tantos momentos engraçados e incomuns com ele. Sentei-me ao lado dele no funeral de Howard Cosell, um dia muito sombrio, com certeza. O caixão fechado estava no palco; Muhammad e eu estávamos sentados em algum lugar ali, um ao lado do outro, e ele sussurrou baixinho para mim: “Irmãozinho, você acha que ele está usando sua peruca?”
Então eu disse: “Uh – acho que não”.
[Como Ali] “Bem, então como Deus o reconhecerá?” Então eu disse: “Campeão, quando ele abrir a boca, Deus saberá”. Então ele começou a rir; foi uma risada abafada no início, mas depois não conseguimos nos conter. Lá estávamos nós em um funeral, eu e Muhammad Ali, rindo como duas crianças que ouviram algo sujo na igreja, sabe? Estamos apenas rindo e rindo.
E então ele olhou para mim e sussurrou: “Howard era um bom homem”.
Uma vez ele me perguntou se eu gostaria de correr com ele uma manhã, fazer trabalhos na estrada. Eu disse: “Bem, isso seria incrível. Para onde você corre?
Como Ali: “Bem, eu corro neste clube de campo e corro no campo de golfe de manhã cedo. É muito particular. Ninguém me incomoda. Vamos nos divertir muito.
Eu falei: “Campeão, não posso correr aí. O clube tem a reputação de ser restrito.”
Como Ali: “O que significa restrito?”
“Eles não permitem judeus lá; eles não têm nenhum membro judeu.”
Ele ficou furioso: “Sou um muçulmano negro e eles me deixaram correr para lá. Irmãozinho, nunca mais vou correr para lá. E ele não fez isso.
Minha lembrança favorita talvez seja de 1979. Ele tinha acabado de se aposentar e houve uma festa de aposentadoria no The Forum, em Los Angeles, para Muhammad e 20 mil de seus amigos mais próximos em Los Angeles. Executei uma peça que criei, a imitação se transformou em uma história ao vivo chamada “15 Rounds”. Jogo com ele dos 18 aos 36 anos, pronto para a revanche contra o Leon Spinks. Publiquei na internet na semana passada, uma filmagem que ninguém nunca tinha visto antes, de mim retratando Ali fazendo a vida por ele, tantos anos atrás, em 1979. Havia 20 mil pessoas lá, mas eu estava fazendo isso apenas por ele. É uma das minhas performances favoritas que já fiz na vida; Eu meio que me perdi nele. Eu nem sabia onde estava no final da apresentação.
E de repente estou nos bastidores com outro campeão dos pesos pesados, Richard Pryor. E Pryor está me segurando, chorando, e então eu vejo Ali chegando e ele está com toda a força e está olhando apenas para mim, e ele cutucou o Sr. Pryor de lado e sussurrou em meu ouvido com um grande abraço de urso: “ Irmãozinho, você tornou minha vida melhor do que era.”
Mas ele não tornou todas as nossas vidas um pouco melhores do que eram?
Essa, meus amigos, é a minha história com um homem e tenho trabalhado para encontrar uma maneira de descrever a lenda. Ele era um tremendo raio criado pela Mãe Natureza do nada, uma combinação fantástica de poder e beleza. Vimos fotografias de relâmpagos, ferozes na sua força, magníficos na sua elegância. E no momento do impacto ilumina tudo ao seu redor para que você possa ver tudo com clareza. Muhammad Ali atingiu-nos no meio da noite mais escura da América, no coração da sua tempestade mais ameaçadora. Seu poder derrubou os poderosos inimigos e seu poder,inimigos e a sua luz intensa brilhou sobre a América e pudemos ver claramente: injustiça, desigualdade, pobreza, orgulho, autorrealização, coragem, riso, amor, alegria e liberdade religiosa para todos.
Ali nos forçou a olhar para nós mesmos, esse jovem impetuoso que nos emocionou, irritou, confundiu e nos desafiou, acabou se tornando um mensageiro silencioso da paz, que nos ensinou que a vida é melhor quando você constrói pontes entre as pessoas, não muros.
Meus amigos, apenas uma vez em mil anos ouvimos um Mozart, ou vemos um Picasso, ou lemos um Shakespeare.
Ali era um deles, mas no fundo ainda era um garoto de Louisville que corria com os deuses e andava com os aleijados e sorria da tolice de tudo isso.
Ele se foi, mas nunca morrerá.
Ele era meu irmão mais velho.
Obrigado!"
Obrigado Ali!
Obrigado Popó!
Obrigado por não terem deixado " pedra sobre pedra"!
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