Ainda bem
que não morri de todas as vezes que
quis morrer – que não saltei da ponte,
nem enchi os pulsos de sangue, nem
me deitei à linha, lá longe.
Ainda bem
que não atei a corda à viga do tecto, nem
comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de sono eterno.
Ainda bem
que tive medo: das facas, das alturas, mas
sobretudo de não morrer completamente
e ficar para aí – ainda mais perdida do que
antes – a olhar sem ver.
Ainda bem
que o tecto foi sempre demasiado alto e
eu ridiculamente pequena para a morte.
Se tivesse morrido de uma dessas vezes,
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema, que pode
não parecer – mas é – um poema de amor
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Faria de teus olhos
luz,
de tua boca
um eco.
Hilda Hilst
In: Presságio (1950)
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"todas as coisas que eu te escreveria se pudesse", Igor Pires.
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Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor. Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Cecília Meireles
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Os fortes não são temidos e respeitados por nunca chorarem ou reclamarem, mas sim porque quando param de chorar ninguém consegue parar eles, só conseguem sair do caminho.
— Jean R. Gattino
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Li em algum lugar que as rachaduras no peito são por onde entram as luzes e gostei da realidade na poesia. É preciso quebrar o coração para passar a ver o que há dentro dele, como se a lama escorresse pelos vãos, derretendo conforme a luz mostra o que habita lá dentro, o que há de belo e de descartável, o antigo, o novo, onde estão os pilares, os altares. Ainda bem que doeu tão fundo.
M.P.
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Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Poesia, Carlos Drummond de Andrade
In: Alguma poesia (1930)
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