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#sáfico
imninahchan · 4 months
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⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀ ning yizhuo interpreta CIRCE
𓂃 ഒ ָ࣪ 𝐀𝐕𝐈𝐒𝐎𝐒: AKRASIA ato I, literatura sáfica, narrativa épica, grécia antiga, fantasia, mitologia grega, misandria, ação, harém, literatura erótica (sexo sem proteção, oral fem, sex pollen?, scissorring, a leitora é mais ativa, EEUSEIQUEVOCÊSSÃOTUDOPASSIVONASMASPFVMEDAUMACHANCEVIDASATIVASIMPORTAM, dirty talk).
Tô muito animada pra essa série, eu sou louca por mitologia grega. Tomei a liberdade de completar os mitos a serem expostos no decorrer dos capítulos com a minha própria interpretação criativa, para poder amarrar o enredo. Porém, não deixo de citar as minhas fontes (para esse ato I) sendo a Odisseia, a obra contemporânea Circe e O livro das Mitologias;
Acho que esse é o texto mais rico que eu já produzi, não só porque me levou tempo e pesquisa. Se você gosta da minha escrita como um todo, leia mesmo que não curta literatura sáfica, é só pular qualquer parte sexual que fica safe.
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⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀ ATO I ⠀⠀ ⠀⠀ o mito de circe
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ESTA CANÇÃO COMEÇA E TERMINA NUMA TEMPESTADE. O raio que corta a imensidão noturna clareia tudo ao redor em vão, pois não há uma porção firme à vista para naufragar os restos do barco.
A trilha incandescente desenha pelo céu, semelhante a uma erva daninha, com seus ramas desaguando de canto em canto, e tomando mais e mais espaço até se perder no horizonte. Gigante, o vazio aberto faz parecer que está presenciando a fúria de um célebre titã, colossal e temido. O clarão que se estabelece pelo momento é capaz de cegar os olhos, construir a fantasia de um eterno vácuo sem cor ou forma.
E o som que sucede o fervor visual te faz tapar os ouvidos, encolhendo a postura. Jura, pelo resto de sanidade que ainda lhe resta, o compasso das ondas chocando-se contra o casco de madeira até muda de curso, como se a frequência reverberante fosse a potência que rege os mares.
O corpo tomba, para o caminho oposto em que a embarcação simplória é jogada. Bate com o peito na borda, os braços são jogados para fora, quase toca a água salgada com a ponta dos dedos. Senta-se sobre o estrado, afogando a pele da cintura para baixo no pequeno oceano que se forma dentro do barco. O supremo do mar não tem motivos para estar te atacando assim, pensa, o irmão dele, sim, pode estar enfurecendo o cosmos para te impedir de atracar em segurança. Quer a sua morte, nenhum rastro do seu cadáver quando a carcaça de madeira despontar em uma ilhota qualquer. Ninguém saberá nem a cor dos seus olhos.
— Nêmesis! — esforça-se para bradar mais alto que o repercutir das ondas quebrando.
Levanta-se num único impulso. Mal se alinha sobre os próprios pés, cambaleia conforme a embarcação nada por cima da maré, até se escorar no mastro. Abaixa o olhar.
— Nêmesis... — o título divino ecoa, agora, com mais fraqueza, tal qual um sussurro em segredo. Cerra os olhos. — Eu louvo a Nêmesis dos olhos brilhantes, filha de Nyx de capa escura...
Ó, grande deusa e rainha, Celebro-vos, a vingadora dos oprimidos, Que observais, que garantis que todo mal seja punido. Imparcial e inflexível, distribuidora da recompensa certa, Escutai meu lamento.
— Injustiça atormenta minhʼalma — confessa. — Sejais o corte da minha lâmina quando eu cruzar o destino de meu inimigo. Não deixeis que o sopro de vida opoente seja mais eterno que o meu. E eu vos prometo: será a minha alma pela dele.
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QUANDO CIRCE NASCEU o nome para o que ela viria a se tornar ainda não existia. Chamaram-na, então, de ninfa, confiando que seria como a mãe, antes de si, e as tias e as centenas primas. Modesto título, cujos poderes são tão singelos que mal podem assegurar-lhes a eternidade. Conversam com peixes e balançam-se em árvores, brincando com as gotas de chuva ou o sal das ondas na palma da mão. “Ninfa”, eles a chamaram, não apenas como em fada, mas em noiva.
Sua mãe Perseis era uma delas, uma náiade, filha do grande titã Oceanos e guardiã das fontes e águas doce. Belíssima, de ofuscar os olhos ao focar em outra coisa senão o brilho de sua pele feérica. Captura a atenção de Hélio, numa de suas visitas aos salões do primogênito dos titãs. Não havia nada igual Perseis.
Oceanos tinha uma aparência abatida, de olhos fundos na cara e uma barba branca beirando o colo. Seu palácio, entretanto, era um exímio refúgio situado nas profundezas das rochas terrestres. A estrutura se levantava em arcos altos, os pisos de pedra reluziam como a derme de bronze no corpo de Hélio. Pelos corredores amplos, era possível ouvir a dança das ondas, liderando a um infinito caminhar em que não se sabia o começo ou fim do leito rochoso. Nas margens, floresciam rosas acinzentadas, em cachoeiras dʼágua onde se banham as ninfas. Rindo, cantando e distribuindo as taças douradas entre si. Ali, se destacava Perseis. Não havia nada igual Perseis.
— E quanto àquela? — Hélio sempre se apaixonava por coisas belas, era seu defeito. Ele acreditava que a ordem natural do mundo era agradá-lo aos olhos.
Oceanos já conhecia o caráter do titã do sol, o brilho dourado em todos os netos que corriam de um canto ao outro pelos salões não o deixava esquecer.
— É minha filha Perseis — responde, num suspiro cansado. — Ela é tua, se desejar.
Hélio a encontrou no outro dia. Perseis sabia que ele viria, era frágil mas astuta, a mente feito uma enguia de dentes pontiagudos. Sabia que a glória não estava nos bastardos mortais e quedas nas margens dos rios. Pois quando estiveram frente a frente negociou, “uma troca?”, ele perguntou, poderia tê-la em seus lençóis apenas através do matrimônio. Teria o encanto de outras flores nos jardins que se espalham pela terra, mas nenhuma delas jamais reinaria em seus salões.
No dia de seu nascimento, Circe foi banhada e envolvida pela tia — uma das centenas.
— Uma menina — anunciou.
Hélio não se importava com as meninas. Suas filhas nasciam doces e brilhantes como o primeiro lagar de azeitonas. E mesmo quando olhou para o bebê emaranhado na colcha, sem reconhecer seu esplendor jovem, manteve sua fé.
Circe não era nada como Perseis.
— Ela terá um casamento digno — o titã acariciou a pele recém-nascida, feito uma bênção.
— O quão digno? — Perseis soou preocupada.
— Um príncipe, talvez.
— Um mortal?
— Com o rosto cheio dessa forma... Não sei se podemos pedir por muito.
A decepção estava clara na face de Perseis.
— Ela vai se casar com um filho de Zeus, com certeza — ela ainda insistiu, gostando de imaginar-se em banquetes no Olimpo, sentada à direita da rainha Hera.
Circe cresceu rápido — ou perdeu a noção do tempo enquanto cuidava dos irmãos. Os pés descalços correndo pelos corredores escuros do palácio do pai, sem um nome pelos primeiros quinze anos de vida. “KIRKE”, a chamaram, a princípio, para repreender quando olhavam nos profundos olhos amarelados e o choro estridente como uma águia que se senta ao canto do trono de Zeus.
O palácio de Hélio era vizinho a Oceanos, enterrado nas rochas da terra. As paredes pareciam não ter fim, extraídas de obsidiana polida. O titã do sol escolheu a dedo, gostava como a pedra refletia sua luz, superfícies lisas pegavam fogo quando ele passava. Mas não pensou na escuridão que deixaria assim que partisse.
Circe viveu na noite. As vistas demoram a se acostumar com o clarão que as rodas da carruagem celestial do pai descia dos céus. Bem-vindo de volta, papai, clamava, porém era recebida em silêncio.
Aos poucos, se acostumou a não falar tanto. Não retribuir, não repreender, não se opor. Não questionava por que não reluzia na água feito as outras náiades, ou tinha os cabelos castanhos e sedosos, por mais que os escovasse com os pentes de marfim. Na época de se casar, também não argumentou contra o matrimônio com um príncipe de uma cidade qualquer. Até hoje, ela não se lembra do nome exato.
Para classificá-lo, poderia usar um termo que fosse do horrendo ao desprezível, com tranquilidade. Sua boca tinha gosto salgado, e o som de sua voz martelava profundo na cabeça da jovem toda vez que abria a boca para dizer algo. Circe não se agradou da cama, da casa, das restrições, dos apelidos enfadonhos que recebia nas noites em que o álcool o tomava o juízo. Então, ela o matou.
Rebelde, insensata, má, foram algumas das palavras que ouviu de sua mãe ao ser devolvida nos salões do palácio. Era incompreensível para Perseis como sua filha havia retornado para casa sem uma moeda de ouro ou um herdeiro para recorrer um trono. Os cochichos sobre ervas e misturas de água quente não faziam sentido, de onde a prole de uma náiade saberia dosar veneno no cálice de vinho de alguém?
Hélio não sabia o que fazer, consumido pela decepção que tanto esforçou-se para afugentar, embora tenha visto nos olhos daquele bebê o destino miserável que o aguardava. Não queria ouvir quando os sussurros contavam sobre o terror daquele banquete em que o príncipe fora transformado em um besouro azul e pisoteado pela esposa de olhos amarelos.
Só que escutou quando Zeus murmurou em seu ouvido uma solução.
— Se odiais tanto a presença de um filho sem honra, exilai-o longe de suas preocupações.
O castigo pareceu justo. Sozinha, em exílio, Circe não seria a aberração do palácio do titã do sol. Não sentiria mais o gosto salgado dos beijos, as mãos ásperas que um dia já envolveram seu corpo. Seria somente ela e aquilo a que deu o nome de magia. E todo homem que aportasse em cais teria o mesmo fim que o primeiro.
Mas o corpo que amanheceu em sua praia não pertencia a nenhum homem.
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OS SEUS OLHOS SE ABREM DEVAGAR, a visão turva impede que reconheça perfeitamente o ambiente em que está, mas as curvas sem foco à sua frente não negam que se encontra sobre o teto de alguém, em um cômodo bem iluminado e decorado. Pisca as pálpebras, apetecendo, agora, com a pontada que sente se desprender quase que de dentro do cérebro.
Zonza, sente a cabeça pesada. Recosta na parede atrás de si. Os músculos, inicialmente, dormentes te dão a impressão de que está nas nuvens, flutuando. Até que a realidade bate e mais dores se somam ao desconforto. As pernas latejam, mas a pele está emaranhada em um tecido suave e escorregadio. Os braços doem, formigando, e só se dá conta do porquê de tamanho incômodo quando olha para os lados e percebe os punhos erguidos no ar por um pedaço de pano amarrado ao dossel de madeira da cama.
A primeira reação, claro, é se soltar. Luta contra a própria dor para puxar os punhos em direção ao corpo deitado para afrouxar as amarras, força ao máximo que o estado debilitado permite, ouvindo o estalo da madeira. Porém, é em vão.
Franze o cenho. Não deveria ser tão difícil para você conseguir se libertar assim, até que o ressoar de risadinhas doces ecoam pelo cômodo e levam os seus olhos para a beirada da cama, aos seus pés.
Vê a forma que as cabecinhas formam montanhas com seus cabelos esverdeados. Os olhinhos curiosos se erguendo do “esconderijo” para espiar a movimentação que se dá sobre a cama. Murmuram entre si, sorrindo. Ninfas, você soube na hora. Mas elas servem a alguém, quem era sua senhora?
— Saiam, saiam! — a resposta surge com o chegar de outra mulher ao recinto. Ela balança as mãos, causando um alvoroço entre todas as criaturas que estavam escondidas debaixo dos móveis para descobrir mais sobre o estranho que aportou naquela manhã.
As ninfas choramingam, passando por cima das mesas, jogando as peças de cerâmica no chão, mas não desrespeitam a ordem. Deixam todas o quarto, fechando a porta ao saírem.
— Perdoa pela confusão — a mulher diz, com um sorriso —, elas estão morrendo de curiosidade.
Você a assiste se aproximar mais. Acompanha como caminha em paz ao móvel à sua direita para despejar um pouco do líquido da jarra para o cálice. Se vira com o objeto em mãos, te oferecendo.
— Onde estou? — é o que a pergunta.
— Na minha casa — ela responde. — Bebe.
— Me solte — pede, ignorando completamente a oferta. — Com certeza, não estou no lugar onde deveria estar. — Torna a face para o próprio corpo estirado sobre o tecido e não reconhece a roupa que está vestindo. — O que fizeste com as minhas coisas? Onde estão minhas coisas?
— As ninfas te acomodaram — justifica. — A roupa molhada não te faria bem, e não havia mais nada contigo quando te encontramos na praia. Vamos, bebe.
— Mentira! — roga, virando-se para ela mais uma vez. O cálice está a milímetros dos seus lábios, mas não cede. — Eu trazia uma bolsa comigo, em meu barco, e quero de volta.
A mulher parece se controlar para não perder a paciência, respira fundo. Senta-se no cantinho da cama.
— Escuta — começa —, se estavas em alguma embarcação no caminho para cá, os destroços estão no fundo do oceano. Não havia mais nada além de ti.
Você escuta, mas claramente não digere.
— E se não queria perder sua bolsa — ela continua —, deveria tê-la segurado com mais força.
Argh, você grunhe, não conformada com o que ouve. Os braços doloridos voltam a ser flexionados, conforme tenta escapar mais uma vez.
— Não gaste tanto esforço — ela te aconselha —, não vai se soltar.
— O quê... — murmura, impaciente. Te aflige a forma com que puxa com o máximo de força que possui e mesmo assim o tecido nem fraqueja. — On... Onde estou? Que lugar é esse? Não te pedi para que me trouxesse para cá!
— Por que é tão ingrata? — levemente se irrita. Hum, resmunga, erguendo-se para largar o cálice de volta no móvel onde estava. — Está me fazendo arrepender de ter sido tão boa...
— Boa?! — repete, incrédula. — Me mantém presa à tua cama!
— Porque não confio em ti.
— Pois eu não confio em ti.
Ela pende a cabeça pro lado, te observando com pouco crédito. Se inclina, de surpresa, apoiando as mãos nos cantos do seu corpo debilitado para estar pertinho do seu rosto quando diz “certo, quer sair?”
— Espero muito que seja uma guerreira habilidosa e não uma filha de pescador qualquer, porque aí pode conseguir caminhar para fora deste palácio antes que os lobos te peguem. — O tom na voz dela é de pura gozação, como se menosprezasse até o ar que você inala nas quatro paredes do domínio dela. — E que os deuses te protejam para que não seja devorada pelos leões no caminho à praia e possa morrer de exaustão nadando sem rumo pelo oceano.
A ameaça em si não te assusta, o que desperta o seu alarde é a descrição singular. Na mente, as pecinhas desse quebra-cabeça vão se unindo para formular uma resposta para as suas perguntas.
Se lembra da fúria que enfrentou naquela tempestade a mar aberto, sem saber se sobreviveria e onde os destroços do naufrágio iriam parar. No entanto, as suas preces parecem ter sido ouvidas, pois Nêmesis te trouxe para a casa de uma das mulheres mais fascinantes da qual já ouviu falar.
Se lembra do eco da canção nas noites de festa, a lira ao fundo acompanhando a voz que recitava os versos sobre a lenda de uma jovem rebelde, insensata e má. Em exílio em uma ilha, à espreita de nobres cavalheiros que aportassem em seu cais. Embebedando cada um em seus banquetes de recepção e transformando-os em criaturas variadas para cultivar seu zoológico pessoal.
É, você a conhece muito bem. Deveria ter se tocado assim que colocou os olhos no olhar profundo e amarelado como uma águia.
— Esta é Eéia — anuncia o nome da ilha. — Tu és Circe — um sorriso ameaça crescer nos lábios da mulher —, a primeira bruxa.
Circe endireita a postura, não sabendo bem como receber esse título.
— Então é assim que me conhecem... Interessante — murmura, de queixo erguido.
— Cantam canções sobre ti, seus feitos.
— Hm, é mesmo?
— Circe dos olhos de águia. Algumas aldeias te veneram.
— Me bajular não vai fazer com que eu te solte.
Você meneia o rosto para o lado contrário, sem graça depois que suas intenções são desmascaradas. Porém, é obrigada a encará-la novamente mais quando ela te segura pelo queixo, “é minha vez de fazer as perguntas agora.”
— Qual teu nome? Da onde vens?
As suas palavras são engolidas, não emite um som em resposta sequer. E Circe espera, de bom grado, olhando no fundo dos seus olhos em busca de uma pista qualquer, mas não encontra nada.
— Além de ingrata, é muito egoísta — te diz —, como pode saber tanto sobre mim quando não sei nada sobre ti? — Sorri, soltando teu rosto. — Se não vai falar, te aconselho a beber — torna a atenção para o cálice cheio —, até que eu me decida o que fazer contigo, não quero que morra desidratada.
Se inclina, com aquele mesmo tom gozador de antes. “Sabe, é a primeira vez que isso me acontece” , ela conta, “normalmente, eu convido os marinheiros para um banquete e os amaldiçoo, eu odeio marinheiros. Mas tu não és um marinheiro como os outros... Então, pode ser que eu demore um tempo até me decidir.”
E ela não tem pressa. Os dias se somam, pela manhã as ninfas adentram o quarto para te alimentar e saem logo em seguida, silenciosas, porém risonhas. Não vê ou escuta a bruxa, como se ela nem existisse ou fosse a dona daquele palácio. O que compõe a sinfonia para os seus ouvidos é o som dos animais de pequeno porte que invadem pela janela, feito os macaquinhos e os pássaros, e o rugido dos leões. À noite, por vezes, o que julga ser uma união das vozes doces das ninfas te mantém acordada. Os gemidos prolongados, longe de choramingar por dor, mas por prazer.
Não demora a compreender que para Circe, você não tem valor algum. Com o tempo, não tem dúvidas, as servas deixaram de te trazer o cálice de kykeon com uma mistura fortificada com cevada e morrerá de fome. E se não tem valor nenhum à bruxa, talvez seja melhor mostrar para a bruxa que ela tem valor para ti.
— Diga a tua senhora que estou pronta para falar com ela — é o que orienta as ninfas numa manhã.
Circe manda organizar um pequeno festim. Você recebe uma túnica nova e um par de sandálias de couro. É banhada, vestida, o cinto lhe molda a cintura. Quando sai do quarto pela primeira vez, a decoração do lado de fora não se diferencia muito do que via no confinamento. Peças de cerâmica espatifadas pelo chão, cortinas rasgadas pelos animais, as formosas ninfas penduradas nas pilastras, olhando-te com sorrisos bobos nos lábios vermelhinhos.
Atravessa o pátio até o grande salão, sentindo-se pequena entre as feras deitadas sobre o mosaico imenso. Circe está deitada num divã, puxando as uvas do cacho e rindo. Traja uma túnica com detalhes em vermelho e dourado, unida no ombro esquerdo pelo broche de cabeça de leão. As tochas e as velas ajudam a lua a iluminar o ambiente. Ao canto, o som da lira se mistura aos demais instrumentos de sopro e o som da ninfa que cantarola com um coelho no colo.
— Ah, aí está ela! — O sorriso de Circe aumenta ao te ver. Apanha a taça na mesinha de apoio cheia de frutas e o ergue no ar, como se brindasse sozinha, antes de beber um gole.
As servas te acomodam à mesinha redonda em frente ao divã, sentada sobre as almofadas e os lençóis estirados. Um cálice te é oferecido, adoçam o vinho com mel para que a bebida forte desça mais facilmente pela garganta seca. Prova do peixe frito, controlando a própria fome para não parecer ingrata pela sopa que recebia todos os dias.
Os aperitivos parecem se multiplicar nas mesinhas espalhadas pela área coberta, chamativos. Mas você precisa manter a cabeça em foco.
— Espero que perdoe meu silêncio — faz com que a voz sobressaia de leve por cima da música, do canto em coral e do som dos passos dançados no pátio.
Circe espia brevemente na sua direção, com um sorriso pequeno.
— No teu lugar, eu também temeria.
Você leva uma unidade do cacho de uvas à boca, sentando-se aos pés do divã.
— Mas não preciso temer-te agora, preciso?
A bruxa lhe oferece mais um olhar, dessa vez com o sorriso mais largo.
— Pareço com alguém que deve temer?
É a sua vez de sorrir, desviando a atenção para o festejo que as ninfas realizam entre si.
— Não estava em meus planos atracar em tuas terras — admite a ela —, mas estou contente que assim o fiz. Tens me alimentado e por isso sou grata.
— Sou benevolente demais, é um defeito meu.
— E muito inteligente, eu suponho. Especialmente porque vai aceitar a minha oferta.
Ela aperta o cenho, não te leva a sério.
— Oh, tem uma oferta pra mim? — o tom divertido não te intimida.
— Estava certa ao duvidar de uma mulher que naufraga sozinha na tua praia — começa, em sua própria defesa. — Eu não sou filha de um pescador, ou de um comerciante qualquer. Eu naufraguei na tua ilha porque estava fugindo.
Agora, ela se interessa, “e do que estava fugindo?”
— Do meu destino — a sua resposta não é a mais precisa de todas, porém é suficiente. — Uma grande tempestade assombrava o mar naquela noite, eu, de fato, pensei que não fosse sobreviver. Mas eu rezei para que aquele não fosse meu último suspiro, e as minhas preces me trouxeram para cá, para que eu possa concluir a minha missão.
— E que tipo de missão é essa?
Você desce o olhar para o cálice em mãos. À medida que o vinha desaparece, a pintura de um guerreiro empunhando a espada surge no fundo da taça. Vingança.
— Irei subir até o topo da morada dos deuses e castigar Zeus por toda tormenta que trouxe à minha vida.
Talvez fosse a ousadia de subir o monte sem ao menos dispor de um veículo de locomoção, e possivelmente o nome sagrado dito com tamanho desprezo, Zeus, que faz Circe rir como se tivesse ouvido a piada mais bem contada no palco de uma peça.
— Quer se vingar de Zeus?! — claramente não leva seus planos a sério. — Ah, querida, não tem nem uma adaga de bolso para a viagem. Eu posso envenenar-te com esse cálice que segura e tu não conseguirias se defender. E fala de matar Zeus?! O Deus dos Deuses?
Você finaliza o vinho, para mostrar que nem a ameaça da boca pra fora dela te faz temer.
— Não tenho uma espada comigo agora, é verdade. — A olha. — Mas você me dará uma.
Circe apoia o cotovelo no descanso do divã, para chegar mais perto de ti.
— Sinto que as canções que cantaram-te eram enganosas — rebate, com a voz afiada —, pois não sou nenhum mestre da forja. Eu não crio coisas, querida, eu as transformo.
E você não se deixa intimidar.
— Não, não terá que criar nada — argumenta. — A espada que empunharei até o Olimpo será feita pelo próprio ferreiro dos deuses.
— Hefesto? — ela duvida mais uma vez. — E ele já está ciente dessa loucura?
— Ele estará, assim que chegarmos ao Submundo.
O som da risada divertida da bruxa se destaca entre a orquestra. Circe joga a cabeça para trás, manejando a taça em mãos. Recupera o fôlego sem pressa, cruelmente debruçada na comicidade para te penetrar o mínimo de juízo.
Para você, entretanto, não existe uma frase racional sequer que possa te fazer desistir do plano que elaborou meticulosamente em todos esses dias de confinamento. Enquanto as ninfas te alimentavam, tratavam as feridas superficiais que o naufrágio deixou, e os animais passeavam pela sua cama, a mente entrelaçava um percurso ousado desde de Eéia até a região da Tessália. Todas as cidades em que iria passar, com quem iria conversar e quem iria matar pelo caminho.
O riso que recebe agora é só um prelúdio para o choro incessante que despertará no panteão.
— Quando Hefesto me construir a espada, eu te entregarei o metal — você prossegue, inabalada —, e caberá a ti transformá-lo.
“Te confiarei o meu sangue, pois somente um deus pode matar outro deus”, fala, “para que abençoe a espada, e faças dela uma matadora de deuses.”
O sorriso de Circe diminui aos poucos, és uma semideusa, murmura, se familiarizando melhor com a situação que lida.
— Oh, entendo agora... — o indicador circula pela beirada da taça. — Este é um impasse familiar? Por isso quer vingança... Mas, se tratando de família, temo que devo me retirar, pois já tenho impasses desse tipo por conta própria.
Você não se dá por vencida facilmente.
— Pense em tudo que conquistará — apela. — Depois que eu matar Zeus, e eu o matarei — frisa —, quem estará sob o comando do Olimpo, uma vez que eu não disponho de nenhum interesse de poder?
— A Rainha, certamente.
— Não quando o rei dela cairá pelas minhas mãos. — Você se apruma de joelhos, mais pertinho do corpo estirado no divã. — Pode ter muito mais do que a Ilha. Uma mulher tão poderosa quanto tu não deveria estar exilada e solitária.
— Não estou sozinha.
— Eles cantam canções sobre ti, Circe. Sobre teu poder, tua grandeza. Não imagina quantas garotas por aí queriam poder gozar dos mesmos encantos que prega para se protegerem dos homens do mundo.
Apoia-se com a palma no descanso do estofado para se posicionar atrás dela. A boca ao pé do ouvido, feito uma tentação. “Poderia ser adorada como uma deusa, e responder às preces que te rogam.”
“Não tem que se contentar com os marinheiros que aportam uma vez a cada lua cheia, ou às vezes nem mesmo atracam... Não nasceste para viver nessa ilha, por mais que tenha se acostumado a chamá-la de lar. Está aqui porque te colocaram aqui. Zeus te colocou aqui.”
— Meu pai me colocou aqui — ela retruca, cuspindo cada palavra após terem tocado em sua ferida ainda aberta.
— Porque ele ouviu Zeus — você corrige mais uma vez. — Hélio teria feito diferente se não fosse pela influência daquele que chamaram de Deus dos Deuses.
— Você não conhece meu pai.
— Mas conheço Zeus.
“Eu sei do que ele é capaz”, completa. “Eu vivi a sua fúria, se eu não tenho mais uma casa para qual retornar é por sua culpa. Ele já nos causou mal demais”, aproxima-se do outro ouvido, para sussurrar: é hora de fazê-lo pagar.
Circe mantém a postura. Os olhos de águia, antes tão caçadores, agora fogem do seu olhar. Beberica do vinho em mãos, murmurando um “vou pensar com misericórdia”, tentando trazer de volta o mesmo tom gozador que já usou previamente contigo.
— Levem-na para celebrar! — orienta as servas, com aceno das mãos.
— Eu não celebro — você contradiz, em vão, pois as mãozinhas finas das ninfas te tocam os ombros e guiam para fora da área coberta.
É levada até o pátio, no centro do mosaico. Aos seus pés, o desenho que se forma com pedrinhas coloridas ilustra a cena de uma batalha sanguinária, a lâmina reluzente é erguida à mão de uma mulher. Dizem, nos cânticos, que o mosaico encantado no palácio da primeira bruxa revela aos olhos desatentos dos homens que ela embriaga o futuro que os aguarda.
Guerra, sangue, destruição. As faces assustadas e o mar de cabeças rolando não te aflige.
À sua volta os corpos belos e mal vestidos da ninfas rondam-te como presas. Cabelos extensos, passando da cintura e quase no joelho. O brilho da pele feérica cintila sob o banho da lua, somam-se ao ecoar dos instrumentos de sopro, ao tambor, e as vozes tão melosas quanto o mel que adoçou teu vinho.
Se cobrem com o véu, para valsarem ao seu rodar em sincronia. De repente, está com a visão totalmente monopolizada por elas. Aquilo que dizem sobre as ninfas, sua capacidade de hipnotizar quem quer que almejem, aqui pode provar da procedência. Talvez seja o efeito do álcool que ingeriu, é uma boa explicação senão o misticismo daquelas criaturas da floresta, quando a visão fica turva, perdendo o foco de supetão e voltando ao normal.
Sente o som dos tambores batendo no seu coração, o corpo pesar. Esquenta a pele, como se a temperatura ambiente tivesse ido às alturas em um verão mais árido que o normal. Cambaleia, perde a noção de equilíbrio. As vozes cantam no fundo do seu ouvido, parecem moldar o caminho incorreto que as suas sandálias traçam.
Olha ao redor, em busca de algo que faça sentido, e só enxerga a insanidade. Os sorrisos imorais, o mover depravado de corpo em corpo. Os rostinhos falsamente inocentes abraçados às árvores do jardim. Corpos se eriçando feito bestas, unhas pontiagudas como garras de caça. Olhos brilhando na escuridão que se guarda nos limites do refúgio infame da bruxa.
Mas um olhar se destaca entre o mar de lascividade. Grandes, profundos, amarelados. Estreitos nas pontas como uma águia.
Você pisa em falso, vai de encontro ao chão para ser recebida pelo conforto de almofadas e mantas, e descansa a nuca no pelo de um leão. O par de mãos que sobe pelas suas canelas não se importa com o limite que a sua túnica estabelece. Toque quente, queima junto à sua pele, arrepia até o último fio de cabelo. E aqueles olhos ferventes... Aqueles malditos olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Olhos de quem percebe tudo, tudo sem dizer nada.
— Circe — chama o nome dela, segurando em seus ombros, como se evocasse um demônio. — Não me tente, bruxa.
— É isso que achas que estou fazendo? — O sorriso ladino se espalha pela boca como verme. A ponta do nariz roça na sua, respiração soprando contra o seu rosto.
Ardilosa, ela se acomoda sobre o seu colo, permite que o calor entre as pernas te aqueça o ventre por cima da fina camada de tecido que ainda lhes cobre a nudez. Os longos cabelos negros recaem para o canto, conforme se inclina, “nunca conheci nenhuma mulher além das ninfas”, ela conta, “me deixe experimentar você.”
É o feitiço em efeito, só pode ser, pois se doa sem pensar muito nas consequências. A última vez que vê o rosto dela é quando já está se aproximando no meio das suas pernas, com um sorriso libidinoso e os quadris eriçados, de quatro sobre o chão.
Encara a lua cheia no céu noturno. A imensidão vazia às bordas só não te captura a atenção porque o baixo ventre se remexe em prazer. Sente o carinho dos dedos te circulando, escorregando entre as dobrinhas conforme se molha mais e mais. O nariz se esfrega no seu monte de vênus, sensual, inebriando-se no seu cheiro antes de te provar o sabor. Quando a boca vem, você se agarra aos lençóis ao seu redor.
Pode ouvir os sons das ninfas, jura, uma orquestra erótica se fortificando ao pé do seu ouvido como se quisesse te levar à loucura. Desce as mãos pelo próprio corpo, toca os fios escorridos da moça e os toma na palma. Feito a guiasse, mantém o controle da carícia que recebe. Os olhos se fecham, um suspiro longo deixando o seu peito ao se entregar mais e mais. Desde que saiu de casa, empurrando aquele barco simples pela areia até a praia, de todos os possíveis cenários que protagonizaria em seu futuro, nenhum deles envolvia estar aqui onde está, com quem está, fazendo o que faz agora. E não é como se arrependesse, entenda.
Encontra-se à beira, quase derramando, mas não permite-se entregar ao deleite. A ergue pelos cabelos, bruta na maneira de manejá-la de volta aos teus braços. É fácil romper o broche de cabeça de leão na altura dos ombros alheios, maior ainda é a facilidade para desfazer as amarras da túnica que ela usa.
Num movimento único, a coloca sob ti, tão habilidosa com a arte de mover-se que arranca um daqueles sorrisinhos debochados que ela tem. A separa as pernas e se posiciona de modo que possam ficar bem encaixadinhas. A conexão é tão úmida, o seu desejo se misturando ao dela quando se encontram dessa forma. Deixa que a perna dela descanse no seu ombro, movendo os seus quadris contra o corpo feminino.
Circe leva a mão à sua cintura, aperta. Puxa o seu cinto, desfaz a cobertura que a túnica promove somente para poder arrastar as unhas da sua barriga às costelas. E você grunhe, ardendo não só pelo carinho arisco, mas pela ousadia de quem tecnicamente está sob seu controle.
— Má — a sua voz soa mais baixa, num murmuro como se não quisesse que ninguém além dela escutasse. — Pensei que fosse boa, esse era o seu defeito, não era?
Ela se delicia com as palavras, com o tom aveludado. Eu sou quem eu quero ser.
Amar Circe foi uma das melhores coisas que já fez, não só pela experiência nova e erótica, mas também pela conexão que se estabelece ao fazer dela sua primeira companheira. Deita ao canto dela, ao fim, quase se perde com o olhar pelo desenho do corpo nu, de lado com a cabeça sobre os lençóis macios. Os cabelos negros recaem em cascata, são jogados para trás e limpam o rosto corado, os olhos brilhantes.
Ela encolhe de leve a postura, o ombrinho tocando a bochecha.
— Eu vou contigo — diz.
Você apenas sorri, num suspiro que mistura o cansaço e o alívio.
— Mas, se me trair... — ela ameaça.
— Não vou te trair — garante. — Pareço com alguém que deves temer?
Tomam a noite para si, para o ócio. Com o nascer da manhã, porém, devem de partir. Faltam quatro dias para o fim do verão, e se querem uma passagem para o Submundo, estão com o tempo contado.
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nature-antithesis · 3 months
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Welcome to Nature Antithesis!
This is a blog dedicated to my project called Nature Antithesis. I'll share here any updates, drabbles, ideas, WIPs and finished chapters, as well as art related to the project and character designs C:
Genre: Sapphic fantasy. Status: WIP. Started: January 2024. Synopsis: A wandering elven druid arrives to a sacred forest during her travels. Townsfolk tell her the forest has been sick for a while and decides to stay until she can help cure it. And then she'll have a fateful meeting with the keeper of the forest, another elven druid, who has been living there for centuries. She's already been looking for a cure for some time already. Will they manage to fix the problem together?
About page with more info.
The story and all updates will be in both English and Spanish. Different posts will be made for writing centric posts, but art posts will have only one. Feel free to mute the one for the other language.
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Bienvenide a Nature Antithesis!
Este es un blog dedicado a mi proyecto llamado Nature Antithesis. Postearé aqui cualquier actualización, drabbles, ideas, textos en progreso y episodios terminados, además de artes relacionados con el proyecto o diseños de personaje.
Género: Fantasia sáfica. Estado: En proceso. Empezado: Enero 2024. Sinopsis: Una druida elfa ambulante llega a un bosque sagrado durante sus viajes. Los habitantes de un pueblo de los alrededores le cuentan que el bosque lleva enfermo durante un tiempo y decide quedarse hasta que pueda ayudar a curarlo. Y allí tendrá un encuentro predestinado con la guardiana del bosque, otra druida elfa, que ha estado viviendo en el bosque durante siglos. Ha estado buscando una cura durante un tiempo. Conseguirán solucionar el problema juntas?
Pagina about con más info.
Todos los posts de la historia se harán tanto en inglés como en español. Se harán posts diferentes para cada idioma cuando sean con foco en la escritura, pero los de arte tendrán solo uno. Silencia el tag de la otra lengua si lo prefieres.
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🍃 Personal blog: @eirasummers || 🔥 Art blog: @eirasummersart
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towandafried · 11 months
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"(...)
Meu deus, como eu sinto falta de sexo. Puramente... sexo, transar, foder. Como eu sinto falta de sentir uma buceta molhada sob meus dedos, mas não qualquer uma, a sua. De brincar com seu clitóris enquanto te vejo me olhar, implorando pra que eu acabe com a tortura e te foda bem ali. De te ouvir dizer "me fode" e imediatamente introduzir meus dedos em você, olhar pra cima e te ver gemendo, mordendo o travesseiro ou me puxando pra um beijo. Saudade de me lambuzar com o seu gosto, de chupar seus seios como se fosse o maior, melhor e único alimento de que preciso. De sentir você me puxando pra um beijo apressado enquanto te masturbo. Saudades de quando você toma o controle e fica por cima de mim, é a minha visão favorita, sabia? Te ver me olhando enquanto me toca ou quando decide descer e me chupar. Saudade de só te beijar e sentir minha calcinha molhar, ficando pronta pra você. Sabe? Puramente.. sexo. Saudade de te foder, pura e simplesmente."
Texto meu.. Ou desabafo?
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lawayzanaan · 6 days
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"Era um salão de boliche qualquer, dentro de um lugar qualquer, com luzes coloridas iluminando o local e diversos de nossos amigos em nosso entorno, gargalhando, competindo, bebendo e flertando. Estávamos envolvidas naquela competição fazia minutos, e pouco importava se o horário estava passando da meia-noite, ou se os terceiros que estavam ao nosso redor nos consideravam loucos. Estávamos nos divertindo, e eu tinha certeza de que, pra ela, aquela diversão poderia durar horas. Era tão competitiva quanto eu, e essa era uma das características que eu mais amava sobre a carioca. Ela não se deixava levar por provocações, por mais que eu tivesse feito inúmeras, e certamente sabia como deixar o jogo bem acirrado. Era uma adversária à altura, capaz de acelerar os meus batimentos cardíacos e fazer com que o sangue que percorria as minhas veias, corresse ainda mais quente que o possível. Era uma sensação extasiante, pra ser sincera. A adrenalina alucinava o meu corpo inteiro e os meus olhos vibravam de pura emoção, principalmente ao me atentar aos seus movimentos puramente habilidosos e ligeiros. Ela semicerrou os olhos, fixou-os nos pinos em frente, segurou de forma jeitosa a bola de boliche, encaixando os três dedos de forma majestosa no objeto, e então inspirou fundo, fechando os olhos de vez. Um, dois, três segundos se passaram e o mundo ao redor pareceu deixar de existir quando ela reabriu os olhos e jogou a bola pela pista, permitindo com que apenas o barulho da mesma e os murmúrios ao redor pudessem ser escutados. Meus ouvidos zuniram, meu maxilar fora apertado involuntariamente e, então, quando o placar declarou o que já era óbvio, ela pulou feito criança e correu em minha direção, esbanjando sua vitória para mim. Revirei os olhos. Como uma boa competidora, detestava perder mas tinha de aceitar a derrota. Ainda mais quando todos os pinos estavam derrubados. Ainda mais quando ela agarrara a minha cintura e me puxara para si, manhosa feito doce e cínica como nunca se vira igual, encarando-me com seus longos cílios e o seu olhar meio embriagado, meio sóbrio. Meneei com a cabeça, e cedi. A noite ainda estava longe de terminar."
Sob Meu Olhar.
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lufsmensch · 1 year
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Não consigo explicar como tantas coisas nesse livro são perfeitas.
Posso começar dizendo que O amor não é óbvio trás tantas mensagens e citações boas pro contesto lesbico/sáfico que todas nós gostaríamos de ter ouvido elas quando estávamosnos descobrindo o capítulo "Quer chá?" Por exemplo é um deles é tão simples que parece óbvio, mas ainda assim a gente precisa. A trajetória da Iris ao longo do livro se descobrindo é a coisa mais cativante do mundo, é simples, é divertido, é lindo e faz a gente se identificar com ela, toda garota duvidou da sua sexualidade na juventude passou por uma dessas fases.
É disso que toda garota que possivelmente gosta de garotas precisa quando jovem essa representatividade porque as vezes como Iris, foi preciso que um casal sáfico caísse em cima da gente ou que uma garota cortasse o cabelo pra gente perceber. Quando poderia ter sido diferente se o mundo a nossa volta não guiasse a gente pro lado oposto.
Eu amei o livro e a construção dele, a história da Iris é a novela com o frio na barriga, o ciúme, a paixão, a dúvida, o desejo, a curiosidade, a sinceridade de forma natural, intrigante e cativante da forma que deveria ser, para todas a garotas que gostam de garotas.
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Porque amar outra mulher é poético.
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ateie · 4 months
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redfieldfeer · 1 year
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"There will always be time..."
New developments are on the horizon!
I still can't reveal the synopsis or the cover of my book (yes! A book!), but I can give you a preview of what's to come. This is a fantasy with a sapphic couple. In short: sorceresses find each other through a curse and need to break it to stay together. Interested? It will be out on Amazon soon, stay tuned!
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lizainthegarden · 8 months
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— A morte do amor é a indiferença — completa a minha frase. — O ódio é o meu jeito de não assumir o vazio que ficou e preenche meus dias.
Apenas para garotas
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comeceialer · 9 months
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Comecei a ler: "Delilah Green não está nem aí"
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Simplesmente incrivel! Talvez o melhor romance sáfico?!
O livro tem uma escrita fluida, fazendo você imaginar perfeitamente cada local e esquecer que está de fato lendo algo, o livro em si parece um filme passando na sua cabeça.
Delilah é uma mulher independente que mora sozinha em Nova Iorque desde os 18 anos trabalhando com fotografia e se virando como pode pra pagar suas contas. Apesar de ter uma vida solitária, ela dorme com uma mulher a cada noite. A personagem é descrita como, com todo respeito, uma grande gostosa, com braços tatuados, cabelos pretos cacheados e olhos castanhos escuros.
O inicio do livro já se passa com Delilah acordando ao lado de uma mulher a qual ela mal sabe o nome, confusa com a situação ela nota que o seu celular está tocando, conferindo a tela, um nome que lhe traz traumas do passado aparece Astrid Parker, sua meia irmã postiça que está prestes a se casar e que contratou Delilah como fotografa de seu casamento.
Delilah então se vê tendo que ir para a cidade pequena em que passou sua infância triste e solitária, tendo que aturar sua meia irmã chata preocupada apenas com seu próprio casamento.
Em contra partida, na cidade pequena conhecemos Claire, uma mulher também independente que cuida da livraria da familia. Logo na sua primeira aparição ela está em um bar com sua melhor amiga Iris, apenas tomando uns drinks e conversando. Uma informação importante é que Claire foi mãe muito jovem, por volta dos 19 anos, então ela cuida de sua filha quase adolescente Ruby de 12 anos.
Claire está passando por uma situação complicada, seu ex namorado Josh, pai de Ruby, retornou a cidade com a promessa de se aproximar da filha pela terceira vez desde de que foi embora a 2 anos atrás. Com isso, Claire tem medo de que veja mais uma vez o coração da filha em pedaços, caso Josh a resolva abandonar mais uma vez.
Mas por um momento, tudo isso fica de lado quando Delilah Green chega na cidade e entra no mesmo bar em que Claire está.
Com o desenrolar do enredo, descobrimos medos, inseguranças e problemas mal resolvidos tanto na fase adulta, quanto na época em que as personagens ainda eram adolescentes.
É IMPOSSÍVEL não se apaixonar por esse livro, principalmente porque a autora nos mostra problemas reais, de pessoas adultas e suas preocupações com filhos, aluguel, casamentos e a busca pelo amor.
Eu simplesmente amei, é com certeza o meu livro sáfico favorito da vida, valeu cada centavo, fiquei de coração quentinho com a história das duas e espero que você também.
Avaliação:
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ - 5/5
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existo-por-resistir · 2 years
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"Meus olhos estão viciados em olhar pra cada detalhe dela" me peguei digitando essa frase e me senti estranha. Percebi que talvez eu pudesse passar 24horas por dia assistindo a cada pequena ação dela e ainda sim não seria o suficiente, me sinto estranha. Percebi como parece que conheço ela à anos, mas faz um dia. É estranho, soa como familiar, mas é novo. Talvez eu só seja muito clichê e tenha conhecido uma mulher foda, ou talvez só seja uma paixão nascendo, mas tenho certeza de que ela se parece com o Damen Auguste da minha historia clichê(risos). Lembro de pensar "caramba, que bobagem Ever, ele é só um garoto", mas caramba realmente é muito bom ter alguém por perto que faz parecer que todo o resto não existe, que faz eletricidade percorrer por todo o seu corpo e todas essas coisinhas bobinhas de livro adolescente. Isso é estranho pra caralho! Mas tudo bem, acho que a adolescente dentro de mim, não vai morrer tão cedo pois já estou ansiosa para ver ela de novo, sim a garota dos olhinhos puxados e longos cílios e então completar mais dias ao lado dela. 
Ass: uma autora completamente chapada e apaixonada. 
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pisca-pisca · 11 months
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última parada
o livro que terminei hoje me deu vontade de começar minha vida do zero em outro país...trabalhar com qualquer coisa só para poder sobreviver e fazer amigos que viram família.
...ter uma pessoa como Jane...
acho que é sobre equilíbrio, do mesmo jeito que August é o oposto de Jane e elas se completam. August levando tudo muito a sério, se levando muito a sério enquanto Jane está sempre com aquele sorriso malandro nos lábios e os ombros relaxados. Não sei, as vezes o amor me parece uma coisa de outro planeta.
ao mesmo tempo que ao ler a história eu sorria como uma boba, eu me perguntava se esse tipo de relação existe mesmo. é tão estranho "ver" isso de perto, através de uma ficção claro, mesmo assim parece longe da minha realidade.
mas algo que me pegou mesmo foi essa questão das pessoas irem embora ou de insistirmos muito no nosso orgulho. Augie saiu de casa pois não podia ser ele mesmo ali, não cabia naquele espaço, Jane também, Wes também e como a autora diz nos Agradecimentos, é um romance no qual pessoas queer renascem e não morrem, elas brilham, elas cuidam umas das outras, formam uma família. e é isso: estreitar laços é abaixar a guarda, ficar vulnerável , mas também é ser você mesmo, não importa a situação e ser amado por isso.
eu poderia apontar milhares coisas sobre a relação entre as protagonistas, talvez um dia eu faça, mas cada vez mais eu acredito que o amor não é só isso, eu acho que parte dele é admiração, outra é confiança e por ai vai.
eu odeio ter que colocar uma lição de moral dos livros que leio, prefiro só ir lendo o que me apetece e enquanto a vida acontece eu certamente me lembrarei algo que li em alguma página de algum livro que está em alguma outra estante por ai. e me ocorre nostalgia.
a história de August e Jane terá um lugarzinho comigo por bastante tempo. acho que nós lgbtap+ temos essa carência de um romance em que tudo fique bem, apesar de neste caso, antes do "final feliz" foi preciso abrir uma fenda no espaço-tempo. Enfim, espero que este casal, elas existam de verdade, com outros nomes, outros rostos, outras singularidades, vivendo por aí.
então eu acredito, quero acreditar e sempre vou insistir na ideia de que a Comunidade lgbtqiap+ é um ambiente seguro, onde as pessoas se curam, se apoiam, conversam tranquilamente sobre aquilo que não compreendem e tudo mais o que era para termos em nossos lares, mas fomos privados. Acima de tudo, fraternidade, liberdade, empatia e amor.
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autodestrutivaeu · 2 years
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Aqui estou eu sendo tola
Mais uma vez, idiota
Acho que você gosta
Que eu seja todas essas coisas
Que te façam sentir domadora
Do todos os meus sentimentos
De todos os meus olhares
De tudo que há em mim
Esperas o dia em que irá me roubar
O restinho do meu livre-arbítrio
Céus, e você sabe que eu gosto disso
Excita-me saber que sou sua
Deixa-me vulnerável
Deixa-me nua
E continuo sendo tola
E, mais uma vez, idiota
– Rayanne
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henriquehasen · 1 year
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Orpheus Girl - PDF
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(O PDF ESTÁ NO FIM DA LISTA)
SINOPSE: Abandonada por uma mãe solteira que ela nunca conheceu, Raya, de 16 anos – obcecada por mitos antigos – vive com sua avó em uma pequena cidade conservadora do Texas. Durante anos, Raya foi forçada a esconder seus sentimentos por sua melhor amiga e amor verdadeiro, Sarah. Quando os dois são expostos, eles são enviados para Salvadores Amigos: um campo de reeducação destinado a "consertá-los" e torná-los heterossexuais. Ao chegar, Raya promete assumir o papel mítico de Orfeu para escapar dos Salvadores Amigáveis e retornar ao mundo dos vivos com seu amor – só se tornando mais determinada depois que ela, Sarah e os outros residentes adolescentes dos Salvadores Amigáveis são submetidos a "tratamentos" abusivos pela equipe.
Minha opinião sobre o livro: -
Começo dizendo que o livro é PERFEITO, exceto por uns gatilhos.
⚠️ Alerta de spoiler ⚠️
Então, esse livro simplesmente me quebrou! Ele é sobre uma garota (Raya), que vive se escondendo dentro de si mesma por gostar de outra garota (Sarah). Como eu gosto de ser breve, vou direto a minha opinião. Ele fala sobre "terapia de conversão" e essa foi a parte que mais mexeu comigo. Fala tudo aquilo que nós já ouvimos alguma vez, em algum lugar: que somos abomináveis, que nossas "práticas" vão nos levar para o inferno, que Deus não nos aprova e não nos ama, etc. Aqui tem a maioria dos gatilhos que nós (querendo ou não) sentimos dor ao ver, ao passar e ao ler. A terapia de choque me atingiu, mesmo estando longe, mesmo sendo fictício, eu senti todas as dores físicas e emocionais que esse livro oferece.
Mas no final, tem uma pontadinha de esperança. Recomendo muito, leiam.
ORPHEUS GIRL
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holgafishdianaf · 1 year
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Até Logo, Violeta
📚 Livro - Até Logo, Violeta
Sobre o livro
Violeta era uma jovem cheia de medos até reencontrar Liz, uma amiga de infância. Com ela, aprendeu que o amor pode ser sorrisos e lágrimas, e que perdê-lo é um arrependimento que nunca vai embora.
Cinquenta anos depois, quando Liz é apenas uma lembrança guardada no pingente de um medalhão, Violeta encontra uma viajante do tempo em seu quintal. Porque, às vezes, uma segunda chance chega quando a gente menos espera, e talvez o tempo abra exceções para algumas histórias de amor. 
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O livro tem:
Protagonismo não binário;
Romance sáfico;
Viagem no tempo;
Representatividade +30 anos;
Cenas de hot;
Carta esquecida.
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Os gatilhos são:
Situações de LGBTfobia;
Relação familiar conturbada;
Luto;
Morte;
Depressão.
Descrição de:
Sexo;
Sangue.
Recomendação: +16 anos.
COMPRE AQUI O SEU EBOOK!
Para maiores informações e assistir AO TRAILER do livro, acesso a página do livro: ATÉ LOGO, VIOLETA.
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Sobre quem escreveu
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Olá, eu sou a Maria
Sou nerd, mineira do interior e fã de qualquer coisa que tenha música, ficção científica e muito drama. Também sou emo, não-binária, bi e demissexual. 
Escrevi alguns livros LGBTQIAP+, como Emma, Cobra e a garota de outra dimensão, Cartas para Luísa, livro vencedor do prêmio Mix Literário em 2020, e a coleção de contos com protagonismo bissexual Clichês em rosa, roxo e azul.
Juntos, meus livros já foram baixados 200 mil vezes e acumulam mais 2,5 milhões de páginas lidas na Amazon.
Atualmente moro em São João do Manteninha com minha noiva e estou escrevendo sobre amores impossíveis, alienígenas, viajantes no tempo, robôs e cantores sertanejos.
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Tem tanto de ti em mim
Em cada mínima coisa, te lembro
Em cada visão, cada pensamento
Em cada foto, cada entretenimento
.
Ah, o tanto que mudei com sua consciência
O tanto que sua existência me acrescentou
.
Então, apesar da tristeza e saudade,
O que me reina por dentro é gratidão
E o relembrar gostoso de nossas trocas
E me dói não poder mais tê-las contigo
Nem compartilhar o que curtíamos
Mas quando você disse que estaria sempre aqui, não mentiu
Porque tudo o que hoje enxergo como meu
Sempre será um pouquinho seu
.
O que você foi capaz de gerar em uma vida
Talvez seja a missão mais bonita que você não sabia que cumpria
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sapphictwt · 2 years
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[Respeito]
Pede respeito e não me respeita.
Quer que eu respeite e não me respeita.
Não respeita minha identidade.
Não respeita meu eu.
Não respeita quem sou.
Se quem sou não fere ninguém,
Por que estou sendo ferida?
Por que cada micro agressão sofrida?
Por que sou agredida por quem eu espelhava?
Por que minhas companheiras estão apanhando na rua?
Morrendo em nossa luta diária de existência.
Então pergunto: "quem tá faltando com respeito?"
Quem não tá sendo respeitada?
Respeito pelo o quê devo a você?
Por que eu não sou respeitada?
Cadê O meu respeito?
Meu respeito pelo que acredito;
Respeito pra existir;
Respeito pra ser somente eu;
Respeito pela minha luta;
Respeito por nossa luta coletiva;
Respeito por todas nós;
Desde casa sofrendo violências.
Expulsas de casas.
Ingrata somos nós por existir.
Respeito por àquelas que não suportaram tanta violência.
Nossos corpos, gostos e identidade tão poucos respeitados.
Se é que já fomos alguma vez minimamente respeitadas.
[Respeito].
Note: Desabafo lésbico. de umA garotA lésbica. sofrendo por ser lésbica não feminilizada. num mundo que nos odeia. Implorando por respeito. E um beijo a minha mãe.
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