Tumgik
sea0ftales · 4 years
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Saiu de mim em um dia qualquer. Não houve nenhum sinal de que sairia, nenhuma pista - eu nem me preparei. Só acordei e senti algo diferente: senti que não sentia mais algo. Saiu de mim.
Saiu? Me perguntei se aquilo era mesmo verdade, ou se ele tinha apenas ido dar uma volta. Até esperei voltar, meio sem saber o que fazer com aquele espaço que agora estava vago. Saiu mesmo? Esperei, mas ele não parecia que ia voltar.
Saiu de mim.
Saiu de mim?
Saiu de mim!
“Saiu de mim, e agora?” Pensamento que veio e me deixou surpresa. Por tanto tempo tinha esperado que saísse, ouvindo meus gritos de raiva, de desespero, de tristeza. Implorava pra que ele saísse. Não aguentaria fazer mais nada enquanto ele não saísse!
E agora, saiu. Saiu, e agora?
Sentindo algo que não sentia mais, este espaço agora vazio e que ele ocupou por tanto tempo.
Saiu, e agora?
Procurei outras coisas pra preencher aquele espaço. Vi meus amigos, saí de casa. Embriagada de noite, cantei e dancei com a menta vazia - e quando reparei, ele não estava. Não estava nas entrelinhas de nenhuma música, nem recostado em nenhuma parede, esperando ser visto. Só estava eu. Cantava para mim, dançava para mim. Bebia para viver e lembrar, e não para esquecer, me anestesiar.
Saiu de mim. Saiu de mim!
Olhei meus traços no espelho, os olhos grandes cheios de algo, o brilho do glitter espalhado pelo rosto inteiro. Poderia gostar do que via? Como que se gosta do que olha de volta pra gente no reflexo? Mas olhei, gostei.
Vi meus olhos cheios de Algo: brilho, vida. Cheios de mim, olhando de volta pra eles no reflexo.
Olhando para eles, olhando para mim, sorri.
E preenchi aquele espaço inteiro de mim mesma. Agora que estava ali de volta, não sairia mais.
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sea0ftales · 4 years
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Verde e Azul
Desde aquele dia, ele nunca sentiu que os olhos azuis o olhassem de verdade. É claro que seu verde e aquele azul sempre se encontravam, e neles ele via a profundidade das ondas do mar. Às vezes, perdia-se no azul em suas conversas que duravam para sempre, ou quando percebia neles o reflexo do sol e do céu. E o Azul, quando se encontrava com o Verde, também por ele se derramava nos mais profundos amores, podendo caminhar com o Verde por horas e horas, perdendo-se em palavras e em caminhos. Mas nenhuma daquelas caminhadas e trocas de palavras era a mesma, desde o dia em que ele a tirara dos braços do Mar.
Lembrava-se como se tivesse acabado de acontecer, e vivia o momento de novo e de novo. Nas memórias, conseguia vê-la novamente naquela praia, sentada na areia gelada em frente ao Mar. O céu tão cinzento que, no horizonte, não saberia dizer o que era céu e o que eram ondas, e a brisa fria e salgada balançava os cabelos dela, ainda molhados. Lembrava do jeito que abraçava as desnudas pernas, em um gesto que parecia acolher sua nova forma, seu novo corpo. Não parecia se acostumar com a nova maciez, tomando o lugar onde antes sempre ficaram as escamas. Lembrava de como aqueles olhos azuis tão claros estavam, naquele dia, confundindo-se com o céu. Eles o olharam, e ela sorriu.
E ele também sorriu. Diminuiu rapidamente a distância que os separava na praia, tomou-a nos braços e a beijou. Ela estava gelada e molhada, salgada de mar, e estremecia um pouco em seus braços. Ainda não era capaz de manter um perfeito equilíbrio sobre seu novo par de pernas, e ele amou-a ainda mais por aquilo. Amou-a quando cobriu sua nudez com um casaco velho, largo e surrado, e serviu de apoio para que caminhassem até sua cabana perto da praia. Naquela noite, amou-a ainda mais quando se uniram pela primeira vez.
Não lembrava direito quando que tinha começado a amá-la, já que seus sentimentos pareciam caminhar e esticar-se em seu fluxo de memória. Em todas as lembranças que tinha dela, amava-a. Desde aquele dia em que mar e céu se misturavam, mas não em cinza. Naquele dia, tudo era azul: céu, mar, olhos. Os viu emergir na superfície serena de águas, e tomou um susto enorme. Sempre acreditara estar sozinho a flutuar por aquelas ondas, e aquela foi a primeira vez em tempos que se viu em meio ao contrário.  
No começo, não trocaram palavras. Ela, aparentando estar tão surpresa e confusa quanto ele, rapidamente mergulhou e tornou a desaparecer em meio às ondas, quase tão rapidamente quanto tinha aparecido. Em um piscar de olhos, terminara. Restou-lhe sentar-se de volta no úmido chão de seu barquinho, sentindo o marolar do oceano como a inda e vinda de seus pensamentos, que ainda pareciam duvidar se aquilo tinha mesmo sido real.
Pois é claro que ele já ouvira falar de criaturas que nem ela – lendas e histórias das mais diversas e que lhe eram familiares, desde sempre, – e embora para muitos não passassem de meras superstições, aqueles que vivem para o mar sabem apenas que nunca conheceriam todos os mistérios por debaixo de todas as ondas.  
Considerou-se sortudo o suficiente por encontrá-la daquela vez, e tentou seguir sem pensar muito em como o azul dos olhos dela confundia-se com a cor do Mar.
Ela, é claro, voltou no dia seguinte. Pôs o rosto um pouco mais acima da linha da água, e o olhou por alguns momentos. Ele sorriu, e ela tornou a mergulhar. Antes de sumir, ele viu um esbocinho de sorriso nos lábios que via pela primeira vez.
Os dias sucediam-se como o vem-e-vai do encontro das ondas com a praia, e a cada dia a distância entre sereia e marinheiro diminuía. Quando trocaram a primeira palavra, pareceu que ela nunca sequer estivera lá. Ela usava a voz de maneira roca, tímida, parecendo saborear cada palavra que sua voz era capaz de produzir; ele, sentindo que jamais havia aprendido palavra alguma. E elas desenhavam-se no ar e tornavam-se frases que viravam diálogos, expressavam sentimentos e desejos e inseguranças e medos. Cada vez mais, parecia que se conheciam há anos, sentindo que o oceano profundo que os separava nunca estivera lá.
O oceano, é claro, estava. E por mais que tentassem esconder esses pensamentos, eles continuavam lá, a cada dia tentando se fazer ainda mais presentes. O que poderiam fazer? Como se ama alguém que foi feito para pertencer a outro lugar?
“Talvez eu saiba o que fazer”, ela disse um dia. Deitavam-se em uma rocha que as ondas atingiam, quando os dias já estavam começando a esfriar. Pensava em segredos antigos, mistérios de seu povo que já ouvira falar. Haviam histórias sobre aqueles que mudaram de forma, e ela perguntava-se se seriam reais... Os olhos Verdes esboçaram curiosidade, e não conseguiam esconder um início de alegria, de esperança. Os Azuis estavam nele, mas pareciam também estar em outro lugar, outros lugares. Ela pensava e, de repente, parou. Sorriu. Seu Azul encontrou com o Verde, e ela sorria tanto que ele começou a rir também. “Eu amo tanto você”, ele disse “e tudo o que eu quero é que fiquemos juntos”.
Tudo o que queria era que ficassem juntos, e ficariam. E, naquele dia em que céu e mar confundiam-se no horizonte em tons de cinza e o vento batia salgado, quando a encontrou na areia na frente do oceano que havia sido seu lar, ele soube que havia funcionado. “Eu estou aqui agora” ela disse, enquanto ria e derramava alegria salgada pelos olhos, surpresa por existir um mar também dentro de si. “Estou aqui e estamos juntos, você entende? Sou sua.”
E ele, dela. E os dias passavam e passavam, os sentimentos cresciam e se esticavam. Ela passou a viver em sua cabana, e cada segundo juntos eram um mar de novos sentimentos a transbordar.  Às vezes, conversavam tanto que seria um tolo qualquer um que os tentasse convencer que havia existido um dia em que eles eram estranhos um para o outro.  
Ela gostava de passear, de andar e correr. Gostava de sentir o vento, e a grama e a terra em seus novos pés. Usava-os descalços – não entendia o porquê de se privar do prazer de sentir o mundo abaixo de si. Gostava de correr na frente dele, e depois olhar para trás e ver que ele estava lá, a olhando, rindo. Voltava correndo só para poder pular em seus braços, porque não gostava de ficar muito tempo longe. Gostava de dançar com ele, e amou descobrir que poderia se movimentar ao som de melodias – que também lhe eram novas, excitantes. Gostava de senti-las, e amou descobrir que o som também poderia ser tão belo.
Gostava de fazer amor. Às vezes, eles poderiam passar um dia inteiro perdidos no amor um do outro, adormecer juntos e depois fazer mais amor. Entrelaçavam suas pernas por debaixo das cobertas, isolavam-se do mundo e se aqueciam com o corpo um do outro. Verde e Azul pareciam não se separar por um segundo, até que, um dia, ele percebeu.
Começou com um pressentimento, uma pontada de intuição que fez o possível para ignorar. Aumentou em um dia que estavam na praia, quando a levou para velejar pela primeira vez. No princípio, ela amou o barco e a sensação de flutuar – ela, que sempre fora acostumada com a sensação do mergulho. Passava os dedos pela beira das águas, sentia o seu sal gelado e molhado. Sorriu ao ver um peixinho aparecer quase na superfície, e seus olhos acompanhavam o nadar feliz. E uma sombra de tristeza – se tivesse piscado, Verde nem a teria visto – escureceu seu rosto por menos de um segundo, menos de um momento. Mas ele a viu, e por lá ela tinha passado. Não fingiu que não sabia de onde ela vinha – de alguma forma, alguma parte dela deveria sentir saudades. Não sabia o tamanho daquela parte, mas sabia que ela existia.
Tentou deixar aquilo de lado, tentou esquecer, mas ele veria aquela sombra de novo. Porque a sombra cresceu.
Às vezes, conversavam por horas e horas antes de dormir, e ele nem sabia onde que terminava a conversa e começava o sonho. As brumas da noite envolviam sua visão e as palavras que ela dizia, até tornar-se impossível distinguir quando estava em sonho ou desperto. Era como estar naquele breve momento logo antes de adormecer, em que pensamentos e sonhos se confundem.
Em um desses momentos, a viu olhando pela janela, o rosto sendo tocado pelas brisas noturnas. O cheiro salgado trazido pelo mar parecia envolver o quarto inteiro, mas ela tinha os olhos bem abertos. Fixos naquele horizonte não tão distante, naquele oceano negro como o céu que refletia. Fixos naquele lugar que tinha sido sua casa, e uma lágrima silenciosa percorria o caminho de seu rosto até derrubar-se no parapeito. Silenciosa, ela chorava. E ele viu.
Ela logo tornou a deitar-se, e aninhou-se a ele para voltar a dormir. E Verde perguntou-se se tinha mesmo presenciado aquele momento tão íntimo, ou se teria apenas sonhado. Mas se fosse mesmo sonho, seria por isso menos real?
Não poderia culpá-la por distanciar-se mais e mais, a cada dia que passava. Pois ela ainda estava ali – seu corpo, seu amor estava ali. Ainda riam juntos, dançavam juntos, faziam amor. Ainda vivam juntos, e seu amor um pelo outro ainda crescia. Apaixonavam-se todos os dias um pouco mais, e não sabiam ficar em qualquer outro lugar que não fosse perto um do outro.
Mas a mente dela, a sua alma... ele sabia que não estavam realmente ali. Sabia que dividiam-se entre aqui e lá, entre o antigo lar e o novo. Sabia que ela não queria ir – amava seu novo lar e amava a ele. Mas qual o tamanho de sua parte que queria, realmente, ficar?
Levou-a à praia, e colocaram juntos os pés nas águas do mar. A imensidão do azul de seus olhos encontraram-se com o do mar, e perderam-se nele por um instante. Ela suspirava profundamente, não como que de alegria ou emoção - parecia sentir alívio. Ele pegou em sua mão, entrelaçando os dedos em sua pele fria. Beijou seu rosto, olhou seus olhos e ela olhou seu verde. O silêncio entre os dois parecia dizer mais que qualquer palavra que já trocaram, pareceu durar a infinidade de um oceano.  
“Às vezes”, ela disse, finalmente “eu sinto que não consigo respirar.”
“Eu sei.” respondeu, após outro infinito. Desde o dia em que a tirara dos braços do Mar, ele sabia.
A verdade é que ele passara a vida inteira flutuando sobre aquelas águas, e era isso o que ele sabia fazer: flutuar. Conhecia a superfície e a reconhecia como sua igual; sabia seus temperamentos e sentimentos, quando estava calma ou furiosa.
Mas ela era feita para mergulhar, explorar. Para ela, a superfície nunca seria o suficiente, e quando ele percebeu isso, chorou.
Ele era verde, como a terra, o chão que cobria o mundo sem o penetrar.
Ela, azul como o infinito do céu, como o infinito do mar.
Foram de barco mais longe do que quanto realmente precisavam, as mãos sem se soltar por nenhum momento. Estendiam cada segundo, percorriam cada centímetro de mar adiando o momento do adeus. Não trocavam palavras, porque nem sabiam bem o que dizer. Parecia que tudo já tinha sido dito.
Estavam longe da praia quando decidiram parar. O oceano os rodeava, e todo seu horizonte era preenchido de mar. Nos olhos dela, aquele mesmo Mar – o azul profundo, brilhante, infinito. Não sabia quanto azul vinha dela e quanto era apenas reflexo. Perdeu-se neles pela última vez.
Ela, perdeu-se no seu Verde, o verde da terra que nunca fora seu lar, mas que amava. Perdeu-se no amor que sentia por ele, na intensidade daquele sentimento que não tinha mais lugar para crescer em seus mundos. Às vezes, ama-se quem pertence a outro lugar. Existe lugar em que esse amor pertença?
Beijaram-se, tocaram-se pela última vez. Suas mãos se soltaram, e naquela mesma superfície em que amara os olhos azuis no momento em que os viu emergirem pela primeira vez, ela imergiu. A última coisa que viu foi o mergulhar de sua cauda esverdeada.
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sea0ftales · 4 years
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So I just sit down and listened to every word they said about you, as if each and every one of them wasn't a knife entering my skin and my mind in this silince pray that you wouldn't forget about me and about us and about all the words you said to me when we were on the edge of falling in love. And why do we always find ourselves in this edge, in this cliff, but never letting ourselves fall to the bottom of it? We keep falling and falling, but for other people. You find yourself in this same cliff now but not with me, and somehow I find myself in a cliff to. But when are we going to the bottom of it, together? Are we? Have we ever been an "us"?
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sea0ftales · 4 years
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Fênix
Saiu de mim em um dia qualquer. Não houve nenhum sinal de que sairia, nenhuma pista - eu nem me preparei. Só acordei e senti algo diferente: senti que não sentia mais algo. Saiu de mim.
Saiu? Me perguntei se aquilo era mesmo verdade, ou se ele tinha apenas ido dar uma volta. Até esperei voltar, meio sem saber o que fazer com aquele espaço que agora estava vago. Saiu mesmo? Esperei, mas ele não parecia que ia voltar.
Saiu de mim.
Saiu de mim?
Saiu de mim!
“Saiu de mim, e agora?” Pensamento que veio e me deixou surpresa. Por tanto tempo tinha esperado que saísse, ouvindo meus gritos de raiva, de desespero, de tristeza. Implorava pra que ele saísse. Não aguentaria fazer mais nada enquanto ele não saísse!
E agora, saiu. Saiu, e agora?
Sentindo algo que não sentia mais, este espaço agora vazio e que ele ocupou por tanto tempo.
Saiu, e agora?
Procurei outras coisas pra preencher aquele espaço. Vi meus amigos, saí de casa. Embriagada de noite, cantei e dancei com a menta vazia - e quando reparei, ele não estava. Não estava nas entrelinhas de nenhuma música, nem recostado em nenhuma parede, esperando ser visto. Só estava eu. Cantava para mim, dançava para mim. Bebia para viver e lembrar, e não para esquecer, me anestesiar.
Saiu de mim. Saiu de mim!
Olhei meus traços no espelho, os olhos grandes cheios de algo, o brilho do glitter espalhado pelo rosto inteiro. Poderia gostar do que via? Como que se gosta do que olha de volta pra gente no reflexo? Mas olhei, gostei.
Vi meus olhos cheios de Algo: brilho, vida. Cheios de mim, olhando de volta pra eles no reflexo.
Olhando para eles, olhando para mim, sorri.
E preenchi aquele espaço inteiro de mim mesma. Agora que estava ali de volta, não sairia mais.
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sea0ftales · 4 years
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The feeling that it’s our fault, even if we know it’s not
When I was younger we used to watch things like harry potter and think of how horrible it would be to live in a time like that, when the wrong would be considered right and the bad would be the new good.
We live in this era now, when the ignorance is the order. And we have to be the heroes now, and this is so hard, isn’t it? And this is the thing: we always thought of ourselves as heroes, we always wanted to save the world and everything. But now that we are here (and by here I mean literally here, since our world is coming to an end) what do we do? I mean how do we handle it? It’s harder, isnt it? It’s so real that sometimes we just can’t.The feeling of dealing with it. The feeling that it’s not our fault, but it will be if we don’t do nothing.
We thought we would never know what is it like, but we do now. We are like our heroes now, and we are just as terrified as they were.
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sea0ftales · 5 years
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Incerto futuro
Perco-me em linhas de pensamento que são como estradas rumo a lugar nenhum
Por elas planejo uma viagem densa e bonita e tão mística que meu coração acelera, sinto o pulso por todo meu corpo e minha mente envolta em uma aura de doces sonhos que levam-me daqui, põem-me a percorrer as estradas
Por elas eu ando, danço, corro rumo a este futuro que fica lá no final (tão longe, mas fica! sei que fica!)
Fica?
Sinto o corpo pulsar não mais de emoção, talvez agora seja puro cansaço
E minha mente envolta em uma aura de incertezas que tiram-me do real,
Eterno limbo entre aqui-e-lá
O que era prometido pro final não chega
Cansada, busco as forças para seguir percorrendo a estrada
Ela é tão, tão incerta
Rumo a lugar nenhum é esta estrada
(...)
Incerto futuro,
Sinto garras em meu peito arrancando-o de mim
Onde já te senti pulsar de alegria e percorrer meu corpo em eletricidade vibrante
Sinto-te agora tão pesado de dúvidas
Incerto, não me és mais certo
Não sei se te vejo
Eles querem arrancar meus sonhos de mim e eu temo
Temo viver no eterno limbo aqui-e-lá
Sempre presa às mesmas linhas de pensamento,
Estradas que vão rumo a Lugar Nenhum.
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sea0ftales · 5 years
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sea0ftales · 5 years
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Esboço 1
Tudo o que escrevia, arrancava e jogava fora.
Deixava que a tinta da caneta corresse livremente sobre a celulose do papel, conduzida por sua mão que, até então, acreditava ser de uma artista. Sua mente tão colorida de ideias era o maestro por trás daquilo tudo, regendo a ópera, a obra de arte que sempre era o momento em que ela se sentava e dava vida e forma às palavras de dentro de si.
E depois, arrancava o papel do caderno e o jogava fora.
Quase como um hábito, ela repetia o ritual, zangada, por horas e horas até acertar. Falhava. O maestro parecia-lhe cansado de trabalhar. O pintor que coloria sua mente devia ter ficado sem tintas, como um Van Gogh em um lampejo de depressão.
Abandonada em seu ofício, naquela tarefa sempre tão complexadamente fácil, ela falhava.
Frustrada consigo própria, não entendia como nada lhe saía, como que ficava cada vez mais sem tinta – na caneta e dentro de si. “Dizem que quando todas as cores se misturam, elas se tornam o branco”, pensou. “Talvez todas as minhas cores tenham brigado e se misturado; talvez, todas as minhas cores tenham se juntado. Talvez eu seja tantas em uma que já não sou mais ninguém.”
Sonhou que era um quadro, cheio de cores, mas que não dizia nada. As pinceladas sem rumo e sem foco o coloriam por todos os lados, produzindo um verdadeiro espetáculo vivo e vibrante. Provocava os mais diversos sentimentos: amor, alegria, prazer. Rosa, amarelo, vermelho. Mas também era azul, cinza e preto. Tristeza, angústia, dor. Suas partes belas eram lado a lado com as feias: não havia linha que as dividissem, as pinceladas que a compunham cruzavam-se tanto que era difícil defini-las. Seu vermelho e seu azul tornavam-se os mais diversos tons de púrpura. Em seu caos, o belo florescia.
Ao repetir o ritual tentar-falhar-arrancar na outra manhã, tentou dar forma às suas palavras. “Nada mais é do que dar pinceladas, achar o belo nessas letras confusas”. Em seus esforços buscou não se zangar; quis compreender as falhas como parte do ciclo da Arte, um renascer tão belo quando o vitorioso florescer.
Ao escurecer o dia, novamente sua mente sonhou. Ela era um empilhar de tijolos, em um crescimento cujo único objetivo era atingir os céus. Formava formas amorfas, um aglomerado sem muito sentido. Às vezes, desabava e caía - e então voltava, reconstruía. Das pilhas e pilhas que a formavam, de repente surgiam formatos – colunas e arcos a desenhavam; virava um templo, uma catedral. Como o gótico em seus formatos assimétricos, ousava em seu estilo: sempre para cima, ia rumo ao infinito.
Dessa vez, sentou, escreveu, arrancou, mas não jogou fora. Analisou sua falha, e a percebeu como parte de seu infinito, parte de sua catedral que rumava aos céus. Usou aqueles papeis falhos como tijolos; neles se empilhou, escreveu.
Na terceira noite, não dormiu. Encarava o teto pensando em mil possibilidades, a mente fervendo em ideias que tentava ordenar, tecer algo a partir dos novelos de linha enosados e confusos. De seus pensamentos tumultuados, o ensurdecedor barulho de uma mente em mil notas desordenadas, buscando notas de conforto em meio ao caos. Padrões em suas cores, sentido em seus tijolos. Poderia aquela confusão tender ao belo?  
E então, novamente, sonhou. Viu-se como um conto inacabado naquelas coletâneas de histórias de artistas famosos. Um eterno processo, constante em inconstância; palavras que se criam para se apagarem, trocarem, que se perdem no meio do ofício de Criar. Palavras que enquanto ainda não são nada, são tudo. Possibilidades que se infinitam, gotas de um oceano que ainda não é. E em todo esse eterno vir-a-ser, viu-se.
Olhou-se no espelho, enxergando mil olhos ao invés de um par. Da janela, cacos de garrafas quebradas, resultados de noites de embriagadas inspirações. Lembrou de, uma vez, ver-se refletida em um daqueles cacos, pensando ser como eles: uma garrafa quebrada, vazia em conteúdo. “Não sou garrafa nenhuma” pensa, talvez ainda em meio aos devaneios de sonhos, “sou cada um daqueles caquinhos: ao mesmo tempo que sou partes, sou o todo.”
De volta à escrivaninha, pôs-se a escrever.
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sea0ftales · 5 years
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He is always, always in my memory. Maybe he bewitched me; maybe I’ll never be the same. Perhaps he lives in me now, and someday when he’s ready he’ll see I live in him. Or maybe not. But his memory, his everything is so alive in me right now that he’ll never cease to exist. At least, not in me. He might die, he might never be to anyone else anymore, but he’ll live in me. As long as my soul exists, so will his’. I do not know which matter souls are made, but I know we are the same, him and me.
(based on “Wuthering Heights” by Emily Brontë)
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sea0ftales · 5 years
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{ícara} Quando que foi que prenderam-te as asas Te enclausuraram em dor Transformaram tuas belezas em medo Anseios e sonhos são teu pavor E o que antes era estímulo Agora alimenta teus pesadelos secretos O terror contínuo Essa perseguição que não cessa Ceparam-lhe os sonhos Das esperanças castraram-te E tuas asas Com as quais sempre tão longe voastes Queres agora enjaular Por medo de onde elas possam levar Apesar de que amavas a vista Hoje ela a causa terror E temes voar tão alto Que de Ícaro serias ator
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sea0ftales · 5 years
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mundos
“Mas vivemos com amor.” Ela disse, tão baixo que não sei nem se ela mesma escutou.
Foi praticamente um sussurro, um pensamento alto demais. Logo me senti uma invasora daquele espaço, como se estivesse forçando-me a ouvir os ruídos que se passavam dentro de sua cabecinha. Seu olhos vagavam tão perdidamente no cenário do outro lado da janela, o rosto tão sonhadoramente apoiado nas mãos que, de súbito, ela nem parecia saber que estava ali.
Talvez, ela não quisesse estar ali.
Acho que queria fugir deste mundo, por isso vagasse. Talvez por isso, ela não tirasse o olhar da janela. Estaria ela vendo o mundo que se debruçava sobre ela lá fora, em seu selvagem caos, em seu feroz ..... ? Ou estariam seus olhos tão alheios a tudo isso, estaria seu espírito tão intacto pelas atrocidades desse mundo, que nem os percebiam?
Deparei-me pensando naquele dado médico, que devia ter tomado conhecimento tantos anos atrás, quando essa realidade não passava de um distante projeto de alguns. Deparei-me pensando naquele ponto em que a mente humana chega, quando a tristeza e a dor tornam-se tão agudas, tão insuportáveis em sua existência, que param de ser sentidas. Em sua constante luta pela sobrevivência, o corpo reage, os sentimentos desligam. A dor não é sentida, está lá: vive.  
(Mas não seria a razão de existência da dor ela ser sentida? Seria ela uma parasita, dependente de nós para sua sobrevivência?)
E deparei-me pensando nisso tudo, ao olhá-la vagando na janela. Aqui dentro, mas lá fora ao mesmo tempo. Lá fora ou mais além, em um mundo só dela, em um mundo-além. Mas talvez, sua mente tivesse desligado. Em sua delicadeza de menina, eu me perguntava como que ela aguentaria. Toda a morte, toda a dor. A violência em atos e palavras, atos legitimados por palavras. A intolerância, o ódio. O horror. Nosso horror.
Nosso mundo-horror.
Para ela, um mundo-além.
“Mas vivemos com amor”, ela disse, quase sussurrando. Vivemos? Dentro das paredes, em nosso pseudo conforto quotidiano, resistimos. Re-existimos.  
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sea0ftales · 6 years
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Banho-me na luz de teu Sol
E de teus rios, faço minha morada.
Encontro-te em risos de festejo,
nos gozos, na alegria
nas lágrimas que, de emoção, caem
por transbordar-me de sentimentos.
Em um hesitante momento,
um prender de respiração,
te toco, te sinto,
adentras em mim sem dificultação.
De Amor sou feita
te vejo e te fiz Amor.
Encontro-te em um lar festejante,
onde te tenho amigo, te tenho Amor.
É na luz de teu Sol que me banho,
é de teus rios, que faço morada.
É no lar de teu peito em que suspiro,
neste breve instante, arrebatada.
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sea0ftales · 6 years
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Te encontro em um ponto em meio a estradas opostas. Em caminhos cruzados, de rumos distantes, diferentes. Uma efemeridade do tempo que, se piscasse, perderia. Se fosse o que o destino reservasse, não existiria. Mas existe. Nesse ponto, controverso ponto, é onde te percebo sorrir. Neste lugar além do tempo, além do espaço - nas diversas dimensões em que te encontro, passas a existir em mim. Aqui, te vejo, te toco, te vivo, te encontro. Neste ponto, te fiz Amor. O céu se amplia sobre nós; nos cobre. Para nós dois, ele significa o mesmo. É sob este cobertor de estrelas que nos deitamos juntos, lado a lado em uma proximidade não-física. Em uma proximidade dimensional, onde te vejo por camadas e mais camadas de sentimentos; onde te vejo sendo Tu, onde tu me vês sendo Eu. No íntimo da essência, no encontrar de nossas Estrelas. Neste ponto, é onde te encontro.
e passo a existir para ti, como tu existes para e em mim.
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sea0ftales · 6 years
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Perco-me em ti como se dançasse em verdes bosques primaveris, saboreando a aura de um doce sonho. Tu me embebedas com tua presença alegre, com tua companhia constante. Em tua presença, passeio por mágicos reinos, que tu me conduzes pela mão. Dois amigos que se encontram após muito tempo; duas almas uma vez distantes, e que hoje, reúnem-se.
sou grata por te encontrar, grata por dançar contigo.
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sea0ftales · 6 years
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Encontro-te em um sonho estelar, bêbada em tua gravitacional atração. Tu me levas até teu cósmico corpo, e dançaremos nos céus a cósmica valsa dos astros. Em lágrimas, risos e gozos, orbitarei em tua volta, suspensa por meus próprios devaneios. Eu, tu, nós. Plenos em um enorme macrocosmos, que penetra-nos por nossos poros e eleva-nos rumo ao Uno.
eu sou um universo, e tu és outro.
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sea0ftales · 6 years
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Terra
Não havia muito mais gente por lá. As ruas careciam em certa vivacidade; pouquíssimos ruídos eram ouvidos. Em cada esquina, um pequeno silêncio.
Os poucos que restavam andavam com seus passos leves, cautelosos, breves. Seus olhos buscavam o verde, os ouvidos na expectativa de escutar um farfalhar de folhas. Ansiavam por ser verdade os boatos que seus antepassados tanto lhes contaram, e neles apoiavam-se com um apelo vital.
Todos haviam partido, mas eles eram os que ficaram. Um apego dramático a um passado mal contado, mitológico. A necessidade visceral de se ter esperança, quando tudo parecia perdido. O medo de não obterem o sucesso perseguindo-os como uma sombra vacilante, atormentando-os com sua existência. Tudo dependia de seu triunfo.
Alguns juravam poder ouvir os ecos de almas de outrora, implorando-os para salvar seu lar. “Perdoem-nos”, elas diziam “não sejam como nós. Não façam o que fizemos”. Escutavam também seus irmãos, agora em planetas tão distantes, suplicando para que tivessem a coragem que eles falharam em ter. Mandavam sua força de onde quer que estivessem, esperando que, algum dia, pudessem voltar para casa.
Casa. Poucos entendiam o significado dessa palavra. Todos os que hoje vivem, a conheceram já neste estado peculiar, beirando a vida e a morte. A deficiência do planeta natal era cada vez mais evidente; em todo o canto, Caos vencia sua eterna batalha contra o Cosmo. Um cenário amedrontador, mas também acusador. Descendentes dos culpados, os humanos de hoje buscam sua redenção.
Muitos a abandonaram; bravos foram os que ficaram. O peso sufocante da responsabilidade levou à partida de tantos, guiados pela promessa de mundos e terras novas para se habitar – promessa que não foi o suficiente para impedir tantas lágrimas de caírem sobre os solos tão deteriorados, choros tristes ao se deixar o lar. Angústia os acompanhava em sua jornada incerta, orando para que os demais – os que ficavam – obtivessem seu êxito.
Pois escolher ficar era ainda mais angustiante.
“Missionários”, “militantes”, “honrosos”, “tolos” – referiam-se a eles das mais diversas formas. Era inegável, porém, a essencialidade de sua existência. Se eles conseguissem, se salvassem o lar, todos poderiam retornar. O equilíbrio seria restabelecido.
É claro que vários eram os que consideravam a tarefa inútil, impossível por excelência. A causa já por si só perdida, e uma certeza pautada na razão. Contrapondo-se a eterna esperança destes tolos que ficavam, este sentimento talvez fosse intrinsecamente compartilhado por todos. Talvez por isso, seu choro de despedida fosse tão dolorido.
Apesar disso tudo, eles ficavam. Esperança, apego, carinho. Amor. Ficavam porque a amavam, e queriam cuidá-la, protege-la, adorá-la. Redimir-se do recente passado de sua destruição, voltando para um mais remoto: a época, inexistente para muitos, do verde e do riso; do cristalino azul. Dizem que havia beleza em tudo, pluralidades de seres e cores. Sons, ruídos, sabores, odores. O lar fornecia tudo o que eles precisavam, mantendo um ciclo harmonioso.
Por algum motivo, decidiram que precisavam de mais. E não agiram com gratidão para com o lar: sua ganância levou ao massivo, inevitável, imperdoável, traidor extermínio.
E então, eles vagavam. Um bando de românticos, andarilhos guiados por incessante esperança. Procuravam qualquer indício da possibilidade de resquícios desse passado, ou formas de se criar algo novo. Em cada local inexplorado, uma potencialidade. Observadores exímios, experimentadores. Os poucos acadêmicos e cientistas pesquisavam todas as eventuais promessas de seres sobreviventes, tanto animal quanto vegetal. Tentavam encontrar alguma fertilidade nos solos majoritariamente secos e arenosos; florestas não corroídas pela voraz desertificação. Racionavam a pouca água potável, procurando desenvolver os ainda deficientes processos de limpeza de fontes. Buscavam formas de proteger humanos da constante radiação causada pelo escaldante calor solar. (Os que ficavam sabiam, é claro, das altíssimas probabilidades de contraírem as mais diversas enfermidades. Mas, novamente, seu amor pelo lar os atraía a ele como uma força gravitacional.)
E o tempo, sempre inalienável, continuava passando. Pessoas nasciam e morriam, e sem ver o florescer do mundo. O contato com os que partiram tornava-se cada vez mais escasso. Pouquíssimas eram as ondas de rádio recebidas pelas diminutas estações de comunicação presentes no planeta, até que esta conexão cessou. Estavam, agora, completamente sozinhos.
“Devem achar que não conseguimos. ” “Perderam as esperanças.” “Cansaram de esperar”. “Acham que morremos.” – todos pensavam tais coisas, mas verbaliza-las causava-lhes um medo assolador: tornaria estes pensamentos quase realidades. Sentiriam eles falta do lar, ou já acostumaram-se com sua nova vida em novos planetas, distantíssimos? Teriam já se esquecido do local que antes tanto lhes tinha a oferecer? Educariam seus filhos a respeito do mundo de onde todos descendiam, ou teriam eles de certa forma se acostumado com seu novo lar, não fazendo mais sentido originarem-se de outro lugar? Será que à noite, quando mais ninguém os podia ver ou ouvir, chorariam de saudade de seu planeta outrora azul?
As novas gerações apegavam-se, então, ao ideal de passado de seus pais e avós. Cada vez menos histórico que lendário; para a maioria, um mito. Uma realidade que não haviam vivido, uma história que perdia-se no tempo. E impulsionados por algo longínquo, uma esperança praticamente sem razão de ser, eles continuavam vagando.
E procurando.
E pesquisando.
Ouvindo narrações incessantes dos mais velhos, buscando entender o porquê de se continuar. Desconfiando do belo verde-azul de outrora. Sabendo que não deveriam parar lutar pela salvação do lar, mas não compreendendo mais de onde vinha tal saber. Amando sim o planeta, mas ao mesmo tempo, sem entender... o porquê? A racionalidade invadindo-os, vencendo o sentimento. A esperança era a guia de seus antepassados. Ao esmaecer, eles vagavam perdidamente.
(continua)
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sea0ftales · 7 years
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Fronteiras
Era um sorrisinho de canto de boca, daqueles tão discretos que mal se vê. Um sorriso tímido, bobinho. Quase infantil. Muitos não reparariam naquela gracinha, quase escondida no rosto dela. Mas Ana, é claro, o enxergava completamente. Perdia-se nele, por vezes. Ria junto com o ele.
Quando Maya falava, Sorrisinho continuava lá. Comia, dormia. Lá estava ele, que parecia brilhar. Sua face estava presenteada com uma luz constante. Era como se ela estivesse sempre feliz.
Seus olhos acendiam como velas, irradiando por todo o espaço. Um ar indagador, que por pouco não intimidava. Com todo aquele peito, a segurança que sabia ser sua marca, ela perguntou:
“Do que você tem medo? ”
Por uns instantes, sua voz fazia um ecoar.
Ana, surpresa, nada respondeu.
O sorrisinho continuava lá, intacto. O olhar a penetrava profundamente.
O que diria a ela? Ana temia e temia, mas não sabia formular. Sabia que a outra a encarava; sabia que seus olhos transmitiam um raio de luz que cortava o quarto em sua direção e que queria perpassá-la, perdendo-se dentro dela no caminho. Nem que fosse só um pouquinho. Por um instante, por um breve momento.
E Ana queria isso. Na verdade, ansiava por este momento.
Queria deixar que ela entrasse, e queria perder-se em Maya ao mesmo tempo que Maya perdia-se nela, como se suas essências dançassem juntas. Como se seus Universos, agora tão distintos, unissem-se em um mesmo Cosmo, formando Algo Maior. Um simples dar de mãos seria o encontro de duas estrelas; cada beijo formaria uma nova galáxia.
O Universo de Ana queria dançar com o de Maya. o Universo de Maya queria fundir-se ao de Ana. Mas agora, estavam distantes. As palavras ecoavam pelo ar. “Do que você tem medo?”, ela perguntara. E ouvindo as palavras, Ana pensava. Temia e temia, mas temia o quê?
Se nadasse nas águas de Maya, conseguiria encontrar seu caminho de volta. E Maya, vívida como era, não contentaria-se em apenas nadar por Ana. Não, Maya, profunda Maya, poetisa Maya, mergulharia. E, ao mergulhar, Ana transbordaria.
“Tenho medo de transbordar”, Ana pensou, talvez alto demais. Teria Maya a escutado? Seus olhos tentavam perfura-la, sorridentes.
É que se transbordasse, perderia o controle. Se abriria demais, e talvez não houvesse volta. Maya a convidava a mergulhar; muito além de apenas nadar, e havia um risco. Ana talvez não voltasse.
Maya estava do outro lado da sala. Sentava-se no chão, as pernas cruzadas, os olhos na altura dos de Ana. Ela não a forçava; fazia um mudo convite. Ana queria aceita-lo; pensando sobre o momento em que seus Universos tornariam-se Um, ansiava. Enxergava a tênue linha de seu medo. Queria deixa-la para trás, distante das duas. Queria viver, amar, mergulhar.
Por um momento, pensou na beleza que seria transbordar. Deixar que todos os sentimentos a invadissem de súbito, perder-se neles e, assim, encontrar-se. Aventurar-se em seu Eu mais profundo, redescobrir seu lado mais íntimo. Descobrir que a essência humana é Amar.
O Sorrisinho continuava lá. Ana aspirou a confiança que ele lhe passava. Retribuiu.
A sua frente, um Universo a se conhecer. Atrás de si, o Medo.
Escolheu viver; transbordar. Em Maya, ela mergulhou.
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